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Saúde

O adolescente Cauã e o autismo no Acre

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Cauã atendeu ao chamado da avó. Foto: Danna Anute

Por Bruna Giovanna e Danna Anute

As histórias relacionadas ao autismo geralmente trazem uma porção de crueldade, seja por falta de conhecimento e daí surgir enganos, seja pelo seu teor de tristeza, dor ou indiferença. Há aproximadamente três anos, o adolescente Cauã Victor Silva, de 13 anos, foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Risonho, observador e degustador fiel de peito de frango, o menino faz parte de uma estatística que cresceu com nuances a partir de 2007 e teve um boom em 2013. Estima-se que há 2 milhões de pessoas com autismo no Brasil, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, mas não existem dados precisos sobre as pessoas diagnosticadas, que, por lei, serão incluídos no próximo censo populacional realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Cauã anda nas pontas dos pés desde pequeno e desenvolveu uma lesão nos tendões por isso. O adolescente fala pouco, essencialmente com a avó, Francisca Selma da Silva, funcionária da Saúde há 35 anos. Quando o Cauã ainda era bebê, Selma notava “problemas” no modo de ser do neto, mas a mãe não compartilhava da mesma ideia. Apesar disso, a cozinheira da Saúde continuou a busca para saber o motivo do neto ser diferente das outras crianças que ela estava acostumada a ver.

Cauã tem medo de cachorros, talvez porque quando eles latem, a maioria emite um som agudo ou muito grave, isso gera uma sonoridade que causa medo, irritabilidade ou sofrimento para muitas pessoas com esse transtorno. As reações e  preferências sobre alimentos ou animais podem variar conforme a pessoa, a idade ou estar relacionadas aos estímulos, dados pela família, escola ou serviços de saúde.

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Servidora da saúde relata sua história | Foto: Bruna Giovanna

Francisca Selma Silva completará 60 anos em outubro. A avó, ao insistir na percepção de que havia algo diferente em Cauã, teve sua sanidade questionada… “Minha família achava que eu estava ‘caduca’. Não me importei com as falas das pessoas, fui buscar ajuda e o Cauã foi consultado pela primeira vez com a  Cholen Werklaenhg, que pediu uma ressonância para concluir o diagnóstico de TEA” relatou, se referindo à médica neuropediatra da Fundação Hospitalar do Acre.

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Francisca Selma Silva, avó de Cauã | Foto: Danna Anute

Como diria o acreano do “pé rachado”, dona Selma pelejou para conseguir o diagnóstico do neto, definido aos dez anos de idade. É considerado um diagnóstico tardio, assim como acontece com outros Cauãs, mundo afora. Essa demora pode afetar a qualidade de vida, pois existem intervenções e tratamentos que se iniciados na primeira infância ajudam a desenvolver habilidades e aprendizado. Apesar de ter ocorrido uma mudança a partir de 2013 no Brasil, na região Norte ainda há poucos profissionais qualificados e centros especializados.

Nenhuma criança é igual a outra e isso fica evidente também ao considerar que o autismo não é um transtorno específico, mas sim o espectro de transtornos que variam em cada indivíduo. Em boa parte das vezes, o autismo apresenta dificuldades em relação a comunicação ou interação social, além da repetição de comportamento. Olhar nos olhos e abraçar são tipos de interação que constituem algumas das dificuldades aparentes para alguns autistas.

Separar mitos e verdades sobre o TEA é fundamental para não disseminar preconceitos sobre o transtorno, como a história de que vacinas poderiam estar associadas ao autismo. Isso foi divulgado em larga escala nos Estados Unidos, mas é uma informação falsa. Outra mentira: o mercúrio não causa o transtorno. 

Assim, para não passar por erros ou equívocos, é crucial procurar ajuda médica de pediatras, psicólogos, neuropediatras, neurologistas, psiquiatras e demais profissionais que podem trabalhar em conjunto. Com base em estudos, existem terapias que associadas ao cuidado, carinho e atenção podem elevar os estímulos que busquem melhor qualidade de vida das crianças, adolescentes e adultos com o transtorno.

Serviço público de saúde em Rio Branco

Em Rio Branco, a instituição responsável pelos acompanhamentos dos distúrbios e transtornos do desenvolvimento da aprendizagem é a Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre) | Foto: Danna Anute

Após uma manhã com vários atendimentos e avaliações na Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), a neuropediatra Bruna Beyruth explica sobre o TEA. “O Transtorno do Espectro Autista é uma dificuldade de socialização e comunicação associada a comportamentos estereotipados, repetitivos e rigidez comportamental”.

Pré-consulta para a especialidade de Neuropediatra | Foto: Danna Anute

O autismo precisa ser tratado e acompanhado. Para isso, o ideal é que o diagnóstico ocorra cedo, já que pode prevenir prejuízos de ordem social e cognitiva (no aprendizado).

Em Rio Branco-Acre, O Mundo Azul é um centro especializado direcionado ao tratamento de crianças de 2 até 12 anos. Funciona diariamente, de segunda a sexta-feira, localizado na Travessa São Lázaro, s/n – Conj. Tangará. O espaço tem como objetivo contribuir com o desenvolvimento da criança por meio dos espaços familiar, educacional e social. 

O espaço fica anexado ao Centro de Saúde Barral y Barral | Foto: Reprodução/ A Gazeta do Acre

No centro são realizados atendimentos terapêuticos com uma equipe multiprofissional formada por psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e assistentes sociais. Devido à alta procura, o espaço está com uma extensa fila de espera.

Espaço em que é realizado alguns dos tratamentos | Foto: Tattiana Jiménez/ Internet
Espaço em que é realizado alguns dos tratamentos | Foto: Tattiana Jiménez/ Internet

A psicóloga Édila Sousa, coordenadora do Mundo Azul, destaca que o autismo tem crescido muito e até pessoas com plano de saúde têm dificuldades para conseguir uma consulta com especialista. “O TEA não pode ser fechado em uma única avaliação, é preciso ser feito um rastreio, é necessário o auxílio de outros profissionais, são fonoaudiólogos, neuropsicólogos, fisioterapeutas ocupacionais e demais especialistas”.

Rodas de conversa

Quando a criança recebe o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) os cuidadores, sobretudo a mãe, tendem a focar a atenção para aquela criança. Muitas vezes resulta em um isolamento, em que eles acabam se afastando dos familiares que demonstram preconceito e, consequentemente, da sociedade. Por não aceitarem a realidade do diagnóstico, alguns pais decidem dar um ponto final no casamento. Algumas mães, sozinhas, vão ter que criar essa criança com todas as dificuldades que são adicionadas ao diagnóstico.

A partir desta realidade, a Coordenadora do Mundo Azul, junto à sua equipe, tiveram a iniciativa de criar rodas de conversa com o objetivo de diminuir o sofrimento dos pais. “O tema da nossa roda de conversa piloto foi ‘Vivendo o infinito Azul’, realizado com o primeiro grupo de pais, que nos rendeu bons frutos e feedbacks positivos das mães participantes”, contou a coordenadora.

Cartaz de divulgação | Foto: Reprodução/ Internet

A terapeuta ocupacional Rosimara Werner explica que eles buscam a cada roda de conversa dar oportunidade para os outros pais que estão na fila de espera por uma vaga para o tratamento no espaço. “A partir de um diálogo com as mães, identificamos quais eram os temas mais pertinentes. Então, criamos os grupos e a partir disso vamos abrindo para outros pais que ainda não participaram da roda”, explicou a especialista.

A coordenadora Édila Sousa explica que muitas questões devem ser trabalhadas após o diagnóstico e que é necessário não apenas o tratamento com a criança, mas também com toda família. As rodas de conversa contam com a participação de profissionais do espaço como fonoaudiólogos, assistentes sociais, psicoterapeutas, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.

Nessas rodas, os pais encontram temáticas que tem como objetivo auxiliar com dicas de como lidar com a criança em casa, fortalecer as emoções e até mesmo a parte nutricional, pois muitas mães relatam que seus filhos não comem certos alimentos. “Fomos atrás de uma profissional da nutrição que trabalhe com crianças autistas pois não temos esse serviço. E conseguimos uma parceira que está disposta a sempre estar conosco”, completou a coordenadora, acrescentando que buscam ajudar no relacionamento com a família que não está aceitando o diagnóstico.

Outro tema da roda de conversa foi o autocuidado, pois essas mães tinham dificuldades de falar sobre si, elas só queriam falar sobre o filho. Segundo a terapeuta ocupacional Rosimara Werner, nessa roda o primeiro cuidado foi a atividade do espelho: olhar para ela mesma, falar sobre si e se cuidar, com o objetivo de resgatar essa vivência que elas perdem de si mesmas em prol da vivência voltada apenas do filho. 

Tendo em vista o retorno positivo que as rodas de conversas estão tendo, a equipe decidiu continuar com a iniciativa. Quando uma mãe chega em busca do tratamento, eles falam sobre não terem vagas disponíveis no momento, mas recomendam a sua inscrição na roda de conversa, que pode confortar de alguma forma. 

Alguns sinais de autismo 

De acordo com o neurologista Matheus Trilico, referência na área de Neurologia em Curitiba e região, os sintomas de autismo, geralmente, são percebidos durante os três primeiros anos. Mas eles também podem demorar para serem percebidos, principalmente para os indivíduos que apresentam um espectro leve, como os diagnosticados com a Síndrome de Asperger.

É importante dizer que não existe um exame específico que possa identificar o TEA. O diagnóstico para autismo é feito com base no acompanhamento e análise de vários profissionais como psicólogos, pediatras, psiquiatras e neurologistas. No caso de crianças, é imprescindível a avaliação de um neuropediatra. 

Para Matheus Trilico é importante observar qualquer sintoma associado ao transtorno. “Perceber os sintomas do autismo é fundamental em qualquer idade, para que seja realizado o acompanhamento neurológico e o indivíduo consiga se compreender melhor”. E finaliza explicando como esse acompanhamento é essencial para melhorar a sociabilização, obter uma qualidade de vida e bem-estar.   

Flyer produzido por Bruna Giovanna e Danna Anute com dados da Salz Clínica e Paho Org.

TEA nas Américas

O conceito de autismo surgiu em meados de 1943. Os estudos sobre o transtorno tiveram maior envolvimento dos psiquiatras dos Estados Unidos da América.

Após o lançamento da quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) em 2013, o autismo recebeu uma nova nomenclatura, o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A partir disso, os especialistas passam a poder avaliar melhor o grau de autismo com base nos espectros e o diagnóstico pode variar de pessoa para pessoa. Dependendo do espectro, o autismo pode ser mais leve ou mais disfuncional.

O TEA pode estar associado a outras deficiências e déficits de aprendizagem. Desta forma, há muitos preconceitos, mitos e vulnerabilidades em torno das sociabilidades entre pais, responsáveis e a sociedade, pois a maioria olha com estranheza as particularidades de uma pessoa autista. 

Autismo no Brasil

No dia 2 de abril é comemorado O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no ano de 2007. A data foi escolhida com a intenção de levar informação à população com o objetivo de diminuir a discriminação e o preconceito contra os indivíduos que possuem Transtorno do Espectro Autista (TEA). 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), acredita-se que, em todo o mundo, há um autista para cada 160 crianças. No Brasil, os dados continuam bem limitados, porém as informações do Censo Escolar apontam que o número de autistas matriculados em classes comuns no Brasil teve um aumento de 37,27% entre os anos de 2017 (77.102) e 2018 (105.842).

Número de autistas matriculados em classes comuns no Brasil teve um aumento de 37,27%. | Gráfico produzido por Bruna Giovanna com dados do Censo Escolar de 2018

De acordo com a neuropsicóloga Joana Portolese, coordenadora do Ambulatório de Autismo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP), não há um remédio para o autismo, porém, algumas comorbidades associadas podem ser tratadas com o uso de medicamentos. Existem também algumas terapias e intervenções que podem auxiliar.

Algumas conquistas importantes para os autistas ocorreram no Brasil, como a Lei Berenice Piana (12.764/12), que oficializou os autistas como pessoas com deficiência instituindo a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtornos do Espectro Autista. E a Lei Romeo Mion (13.977/20), que cria a Ciptea, Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, com o objetivo de identificar pessoas com autismo nos serviços públicos e privados, tendo em vista que não possível identificar se a pessoa é autista apenas pelo olhar.

O professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, Estevão Vadasz, ressalta as dificuldades dos autistas, sobretudo relacionadas à falta de profissionais preparados para lidar com o TEA. Para ele, o problema parece começar durante a formação médica: “temos centenas de escolas de Medicina e todas deveriam colocar na graduação o ensino de autismo para pediatras”, reforça.

Redação

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Saúde

Quem cuida de quem cuida? 

A realidade invisível dos cuidadores de idosos no Acre

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Por Raquel de Paula, Elis Caetano e Tales Gabriel

O envelhecimento da população já é uma realidade que impacta a rotina das famílias e a estrutura social brasileira. No Acre, segundo dados do Censo Demográfico 2022 do IBGE, entre 2010 e 2022 o número de pessoas com 65 anos ou mais no estado cresceu 64,9%, passando de 31.706 (4,3% da população) para 52.297 idosos, que hoje representam 6,3% dos acreanos. 

No mesmo período, a proporção de crianças até 14 anos recuou de 33,7% para 26,6%,com isso, o índice de envelhecimento, que mede o número de idosos para cada 100 crianças, chegou a 23,8 em 2022, quase o dobro do registrado em 2010.

Esse crescimento no número de idosos, embora menos acelerado que em outras regiões do país, indica um aumento na demanda por cuidados e uma redução no número de jovens disponíveis para desempenhar essa função, o que amplia a sobrecarga de quem exerce essa atividade.

Nesse cenário, está a história de Juliette Silva, cuidadora formada em um curso de três meses, que deixou Rio Branco há dois anos e se mudou para Goiânia em busca de melhores condições de trabalho. 

“A minha rotina diária como cuidadora hoje é uma carga horária 12/36 diurno, trabalho autônomo para uma agência de cuidadores aqui em Goiânia. Vim em busca de ganhar um valor melhor, pois em Rio Branco a profissão é mais desvalorizada”, afirma. 

Suas atividades diárias incluem administrar medicações via oral, dar banho, cuidar da higiene, trocar fraldas, fornecer alimentação e garantir o banho de sol. Mesmo com formação técnica, ela avalia que “mudaria nossa vida a valorização do nosso trabalho. Que pudéssemos ter nossos direitos trabalhistas reconhecidos como profissionais que somos. Infelizmente, nossa profissão é registrada em carteira como uma função doméstica. Isso é muito injusto.”

Juliette considera o cuidado com idosos uma missão, mas destaca o custo emocional envolvido, que afeta diretamente a saúde física e mental de quem cuida. “Nossa profissão é linda, vai além de uma profissão. Eu costumo dizer que é uma missão. Mas, infelizmente, existem muitos cuidadores que são explorados por famílias, que desviam as funções e sobrecarregam o cuidador, pedindo para fazer outras tarefas além de cuidar do idoso.”.

O relato de Juliette reflete a rotina de muitos cuidadores, marcada por jornadas extensas, múltiplas responsabilidades, baixa segurança trabalhista e vulnerabilidade emocional. Grande parte atua como autônomo ou é formalmente enquadrada como empregado doméstico, o que reduz direitos como jornada regulamentada, descanso remunerado, FGTS e contribuição para aposentadoria.

Embora o Estatuto da Pessoa Idosa estabeleça direitos como assistência à saúde e à dignidade, o cuidador, figura essencial nesse processo, ainda carece de políticas públicas específicas. O Ministério da Saúde oferece cursos e capacitações por meio da UNA-SUS, mas a abrangência dessas ações para cuidadores familiares ou autônomos, especialmente no interior do Acre, é limitada.

Sobrecarga

A ausência de uma rede de apoio estruturada tem reflexos diretos na saúde física e emocional de quem cuida. A psicóloga e psicanalista Sara Saraiva destaca que os impactos sobre a saúde mental dos cuidadores já estão implícitos na própria pergunta que norteia este trabalho: “Quem cuida de quem cuida?”. Segundo ela, é comum que esses profissionais, e também familiares que assumem a função, acabem esquecendo de cuidar de si mesmos.

“Surge aquela sensação de: Se eu não fizer, quem vai fazer? Mas também é preciso pensar: E quem faz por mim?”, afirma.

Essa dedicação exclusiva, explica Saraiva, pode gerar estresse e um sentimento de culpa excessiva por não se permitir descansar, por sentir-se cansado ou, até mesmo, por não querer cuidar em determinados momentos.

“Muitos acabam se perdendo de si e passam a viver quase que integralmente a vida da pessoa assistida”, acrescenta.

De acordo com a psicanalista, essa sobrecarga emocional e física, quando acumulada, pode desencadear crises de estresse intenso, quadros de ansiedade e até depressão. Para ela, prevenir o adoecimento exige a atuação conjunta da família, da sociedade e do poder público.

“No caso de cuidadores familiares, é fundamental dividir tarefas e responsabilidades. Também é necessário oferecer suporte psicológico e acompanhamento dentro da rede pública de saúde. A prevenção começa com a conscientização: entender que, embora cuide do outro, essa pessoa também precisa de cuidado, acolhimento e de olhar para si, lembrando que sua vida não se resume àquele que ela assiste”, conclui.

Rede de apoio

Além de profissionais autônomos, o Acre também conta com iniciativas coletivas que tentam suprir a carência de apoio. É o caso do Anjos do Cuidado, grupo fundado por Benedita do Anjos Silva, que hoje reúne mais de 200 cuidadoras e técnicos. Ela conta que a ideia nasceu de forma espontânea e cresceu rapidamente.

“Eu criei esse grupo porque, depois que me formei como técnica, fui trabalhar em uma família e, com o tempo, as pessoas foram conhecendo meu trabalho e me chamando para cuidar de outros pacientes. Chegou um momento em que eu não conseguia dar conta sozinha, então comecei a convidar colegas”, explica. 

No início, era um grupo de WhatsApp com três ou quatro pessoas, atualmente são 232 profissionais prestando serviços em hospitais e domicílios. São atendidos pacientes que precisam de ajuda para se locomover, acompanhar consultas ou até viajar. “Tudo começou pequeno, mas virou uma rede de apoio muito importante”, afirma a técnica.

Para Benedita dos Anjos, um dos maiores desafios é a falta de planejamento das famílias.“Muitos só pensam em contratar um cuidador quando o idoso já está debilitado ou quando a família já está emocionalmente sobrecarregada. Se houvesse essa contratação preventiva, o cuidado seria melhor para todos”.

Apesar da rotina intensa e da pouca valorização profissional, cuidadores também precisam de atenção e cuidado, como mostram as iniciativas que apostam em solidariedade e compreensão.

Redação

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Saúde

Aumento da busca por dietas radicais levanta alertas sobre os riscos à saúde

Nos últimos anos, a busca por dietas radicais para emagrecimento rápido tem se intensificado, principalmente com o impacto das redes sociais, onde promessas de perda de peso acelerada ganham visibilidade. Essas dietas, muitas vezes extremamente restritivas, podem levar a resultados imediatos, mas, segundo especialistas, podem acarretar sérios riscos à saúde. Em busca de um corpo magro em um curto espaço de tempo, muitas pessoas optam por eliminar tipos de alimentos ou reduzir drasticamente a ingestão calórica, sem considerar as consequências a longo prazo.

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Por Raquel de Paula e Antônia Liz 

Nos últimos anos, a busca por dietas radicais para emagrecimento rápido tem se intensificado, principalmente com o impacto das redes sociais, onde promessas de perda de peso acelerada ganham visibilidade. Essas dietas, muitas vezes extremamente restritivas, podem levar a resultados imediatos, mas, segundo especialistas, podem acarretar sérios riscos à saúde. Em busca de um corpo magro em um curto espaço de tempo, muitas pessoas optam por eliminar tipos de alimentos ou reduzir drasticamente a ingestão calórica, sem considerar as consequências a longo prazo.

O nutricionista Ítalo Oliveira alerta que as dietas radicais podem causar uma série de efeitos colaterais negativos. “O indivíduo pode apresentar fraqueza, tontura, dores de cabeça, cansaço, mau humor, indisposição, dificuldade de concentração e até desmaios. Além disso, essas dietas sobrecarregam órgãos como fígado e rins e podem resultar em carências nutricionais graves, como anemia”, afirma. 

As dietas radicais representam um perigo cada vez maior. Foto: Reprodução

O especialista destaca ainda que a redução drástica de calorias desacelera o metabolismo, prejudicando a produção de hormônios essenciais, como T3 e leptina, que regulam o controle do peso e a sensação de fome. “Isso pode levar à perda de massa muscular e, consequentemente, ao efeito sanfona, no qual o peso perdido é rapidamente recuperado, muitas vezes com aumento de gordura corporal maior”, completa o nutricionista.

Além dos danos físicos, a saúde mental também pode ser severamente afetada pelas dietas restritivas. Ítalo Oliveira ressalta que a falta de carboidratos, por exemplo, impacta a serotonina, o hormônio responsável pelo bem-estar, gerando mudanças de humor, ansiedade e até transtornos alimentares. 

“Dietas radicais aumentam os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, o que pode causar compulsões alimentares, irritabilidade e perda de foco, prejudicando também o desempenho físico, principalmente no esporte”, explica.

Magreza extrema é tema de debates na atualidade. Foto: Reprodução

O especialista alerta que a solução para uma perda de peso saudável deve ser baseada na reeducação alimentar aliada à prática regular de exercícios físicos, evitando métodos extremos. A chave é adotar um déficit calórico moderado e ajustável, sem eliminar grupos alimentares essenciais.

 “A ingestão de proteínas deve ser priorizada para preservar a massa muscular, enquanto carboidratos e gorduras precisam ser distribuídos estrategicamente para garantir energia e equilíbrio hormonal. O treinamento de força, combinado com atividades aeróbicas, deve ser ajustado de acordo com as necessidades individuais”, conclui. 

Redação

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Saúde

Tripanofobia: Como o medo de agulhas afeta a saúde pública e pessoal

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Por Raquel de Paula e Liz Melo

Muitas pessoas sentem ansiedade ao tomar vacinas ou injeções, para algumas esse medo pode se tornar um verdadeiro desafio para manter a imunização em dia. Esse medo, conhecido como “tripanofobia”, pode ter diversas origens, desde experiências traumáticas na infância até a associação com dor ou desespero. Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou a hesitação vacinal como uma das dez principais ameaças à saúde pública, e o medo de agulhas pode prejudicar a adesão a campanhas de imunização.

De acordo com a psicóloga Nuriá Oliveira, o medo de injeções pode estar ligado a causas psicológicas variadas como traumas passados ou predisposições biológicas. “Experiências negativas com agulhas, especialmente na infância, podem criar associações duradouras com dor ou desconforto. Além disso, a sensação de vulnerabilidade e perda de controle ao tomar uma injeção pode intensificar esse medo”, explica. A forma como cada pessoa lida com o medo também influencia a intensidade e persistência desse sentimento, que pode evoluir de um receio comum para uma fobia.

Elis Caetano compartilha seu trauma pessoal relacionado a vacinas. “Eu tenho um trauma desde que eu era criança. Minha mãe me segurava, e eu não sei dizer bem o porquê desse medo, apenas tenho pavor”, conta. Ela relata que, por conta desse medo, deixou de tomar diversas vacinas na adolescência, incluindo as da COVID-19. “A vacina contra o COVID, por exemplo, tomei apenas duas doses, pois tive muito medo. Não tenho medo dos efeitos colaterais, mas da situação em si, de tomar a injeção.”

 Ela ainda revela que as dificuldades para encontrar sua veia durante exames intensificaram a aversão ao procedimento. “É torturante aquela agulha ficar dentro de mim procurando minha veia. O braço fica roxo e sou furada mais de três vezes até dar certo”, desabafa. Elis admite que o medo a impede de completar seu ciclo vacinal e não se sente confortável com a situação.

A especialista Nuriá Oliveira alerta que, quando o medo se torna excessivo e prejudica o acesso a cuidados médicos, é necessário buscar ajuda profissional. “Se o medo de agulhas impede tratamentos importantes, é hora de buscar estratégias para lidar com ele, como a exposição gradual e técnicas de respiração”, sugere. Ela também destaca que o medo de injeções pode estar relacionado a outros transtornos, como a ansiedade generalizada, e é importante tratar essas questões de forma integrada.

Para quem enfrenta esse desafio, a psicóloga recomenda diversas abordagens, como a psicoeducação, o foco no propósito da vacina e a presença de um acompanhante de confiança. “Desenvolver uma relação saudável com o medo é essencial para superá-lo e continuar a cuidar da saúde. Não se trata de nunca sentir medo, mas de aprender a lidar com ele de forma construtiva”, conclui Nuriá.

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