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Saúde

Histórias de heróis

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Profissionais de saúde se destacam no atendimento de pacientes com covid-19. Durante a pandemia, abandonaram suas famílias, mudaram rotinas, passaram por longas jornadas de trabalho, tudo para prestar o melhor atendimento e salvar vidas

Entre a fé e a ciência: a médica do 4º piso que viu milagres

Por Maria Fernanda Arival, Juilyane Abdeeli e Gustavo Almeida de Sousa

No quarto andar do prédio do Pronto Socorro de Rio Branco, no Acre, a médica endocrinologista Fabíola Helena de Souza atua desde a chegada do primeiro paciente contaminado com Covid-19 em meados de março de 2020. Os três andares superiores do prédio foram destinados às enfermarias Covid e Fabíola tira seus plantões no quarto andar, onde exerce a medicina sem medo e com muita fé.

“Confirmei que nasci para ser médica. Para mim é uma satisfação atender um paciente covid – como são chamados os pacientes contaminados com o vírus -. Com eles, eu assisti milagres, ouvi e vi o renascimento deles e o meu a cada alta hospitalar. Entrei em luto junto das famílias daqueles que eu não consegui ajudar”, diz.

Casada e mãe de duas meninas, Fabíola jamais se viu amedrontada pelo vírus. Cumpria seus plantões fazendo uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI),  mas sem as luvas e acabou por deixar uma marca registrada entre seus pacientes: as unhas com alongamento de fibra de vidro. 

Cada paciente que recebia a visita da Dra. Fabíola do 4º piso via suas unhas sempre bem feitas e com manutenção em dia, além dos cílios que também são alongados fio a fio e estão sempre acompanhados de um olhar que transmite aconchego e força.

Um presente enviado por familiares de paciente como forma de gratidão. As unhas de vidro da médica também estão sempre presentes/ Arquivo Pessoal

“Eu passei a tirar as minhas luvas para que na hora que eu passasse minha visita pegasse na mão deles e olhasse para dizer que eles tenham fé. O paciente precisava sentir um calor humano e precisava saber que eu estaria ali com ele até o final. Não é por acaso que meus pacientes me conheciam pelas minhas unhas de vidro. Eu nunca tirei minhas unhas de vidro, meus cílios eram tirados pelas lágrimas quando a gente perdia um paciente. Eu sempre chegava de bom humor, mesmo que ele estivesse muito cansado eu sentava ao lado e ficava lá até encorajá-lo a fazer o uso novamente do tratamento da Ventilação Não Invasiva (VNI)”, relata a médica com orgulho.

“Essa foi minha pior experiência com Covid: atender os meus”

Apesar de não mostrar medo em suas falas e no tom de voz, Fabíola conta que o único medo que ela tinha era de contaminar os familiares, mas mesmo se cuidando por diversas vezes precisou cuidar da família até dentro do hospital. Em junho de 2020, Fabíola recebe a ex cunhada com 10% do pulmão comprometido, mas o quadro se agravou muito e chegou a quase 80% de comprometimento pulmonar, e ali estava um dos maiores desafios: evitar a intubação daquela paciente que é também mãe da sua sobrinha. Outro desafio em 2020: receber o irmão também em estado grave na enfermaria que trabalha.

“Minha ex cunhada foi muito grave, fiz do medo uma questão de honra para devolvê-la às filhas. Com ela conseguimos escapar, nasceu de novo, foi uma das pacientes mais graves que eu tive para não deixar intubar. Eu sempre fui contra a intubação, nós tínhamos que investir no paciente até onde ele e Deus nos permitisse”, diz.

Aquele medo que Fabíola tinha de contaminar os familiares e não conseguir salvá-los a tempo se concretizou: no pico da segunda onda de Covid-19 no Acre, a médica recebe o tio e faz todos os procedimentos possíveis para evitar a intubação. “Quando meu tio chegou eu falei: ‘vai dar’, mas chegou um momento que ele precisava ser intubado, já estava muito exausto. No dia em que me ligaram pedindo permissão para inturbar, eu me senti a pior pessoa e soube que tinha perdido uma batalha. No momento da intubação, eu vi meu tio com o coração parado por 12 minutos e eu não pude fazer nada, não era meu plantão naquele setor”, diz emocionada.

O tio de Fabíola esteve na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por 12 dias e não resistiu, vindo a óbito no plantão dela. Cinco dias depois, a confirmação da mãe da médica e da cunhada contaminadas pelo Coronavírus. “Depois de 15 dias do tratamento delas, eu soube que estava com o vírus junto com meu marido e minha filha mais velha. Com meu marido foi outra experiência muito ruim. Ele chegou a 100% de comprometimento pulmonar, mas com toda fé e orações que as pessoas fizeram e com o tratamento convencional daquilo que eu acredito, ele aguentou firme”, recorda Fabíola.

Gratidão

Desde o início da pandemia, os pacientes que recebiam alta hospitalar exalavam gratidão a toda equipe e a Dra. Fabíola. “Todos os pacientes têm minha rede social e meu número, todos que ficaram internados na enfermaria do 4º piso tiveram um contato muito grande com a equipe, parecia que éramos família, e saber que em algum lugar eu estou nas orações de alguém que eu ajudei e hoje conta que sobreviveu a Covid, para mim não tem preço”, fala Fabíola ao ser questionada como se sente recebendo presentes e visitas de ex pacientes sempre que pode.

Registro do momento da alta hospitalar de um paciente/ Reprodução Facebook

A senhora da janela e o filho que ficou sozinho

“Eu jamais vou ter outra experiência como essa. Eu vi histórias marcantes como a da senhora da janela. Ela olhava a casa dela do prédio da enfermaria onde ficou internada por 33 dias. A senhora dormia e acordava olhando para a casa dela. Uma senhora muito educada, passiva, semi analfabeta, mas de uma educação de três vidas, precisaria disso para ter essa educação. Uma generosidade e fé que poucas vezes eu vi antes da Covid”, a médica fala quando indagada sobre histórias e experiências que marcaram a vida dela como pessoa e como profissional durante a pandemia.

Fabíola também conta a história de um paciente do interior que perdeu a mãe, o pai, dois irmãos e a esposa e questionou diversas vezes o motivo de Deus ter escolhido ele para ficar. “A partir daquele dia, eu fui para casa e pedi em orações que me mostrasse o caminho, pois tinha que ter um”,  fala.

O amor e o cuidado não acabam

Por Juilyane Abdeeli

Edvan Ferreira de Meneses, enfermeiro do Pronto Socorro de Rio Branco, lotado na UTI Covid e Observação Adulto, se viu sem saída quando foi escalado para fazer parte da linha de frente da Covid-19 no início da pandemia. Enquanto a segurança de seus familiares estava ameaçada, Edvan teve que se afastar de todos com medo de infectar aqueles que ama. 

O enfermeiro conta o sentimento que teve ao receber o primeiro paciente infectado. “Foi um plantão extremamente estressante, pois passei horas sem ir ao banheiro e sem beber água. Tinha muito medo de tirar a roupa e acabar me contaminando”, recorda.

Casado há 5 anos, Edvan relata o quanto foi difícil ficar longe do esposo que tem um quadro de Anemia Talassêmica Crônica. Por medo de contaminá-lo, passou a morar sozinho por três meses, trabalhando em uma escala dobrada de plantões, enquanto o esposo ficou com a família que mora no interior do Acre.

O primeiro plantão da SEC COVID onde foi recebido o primeiro paciente no dia 8 de abril de 2020/ Arquivo Pessoal

Mesmo a angústia em ficar longe de quem ama, a satisfação em saber que ele se encontrava seguro era maior. Após esses meses separados, o enfermeiro já estava se familiarizando com os riscos e conhecendo mais sobre a Covid-19 e o esposo voltou para casa.

Edvan, quando sentia os sintomas, dormia em quartos separados até ter a certeza que não estava com a doença. “Mesmo com todos os cuidados, tinham dias que eu imaginava ter sido contaminado, pois sentia alguns sintomas que estavam correlacionados com a sobrecarga de trabalho.’’

“A pressão, o medo e a desconfiança dos vizinhos construíram momentos intensos e muito difíceis para mim e meu esposo”, relembra o enfermeiro as situações difíceis que passou. No início da pandemia, os vizinhos evitavam cruzar com ele no prédio em que mora. “Muitas pessoas têm a ideia de que os profissionais da saúde são os principais vetores da doença, mas não é verdade. O que poucos sabem é que os profissionais seguem corretamente os protocolos exigidos, ou seja, não há o que temer”, diz.

Equipe do Pronto Socorro preparando-se para a recepção dos primeiros contaminados da Covid-19/ Arquivo Pessoal

Para o enfermeiro, a pandemia está sendo um período de aprendizados. “Trouxe também a humanização e um olhar completo para o paciente e suas necessidades. Nos fez lembrar do uso adequado de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), lavagem adequada das mãos e o cuidado redobrado com as contaminações cruzadas que existem dentro do hospital”

O enfermeiro conta que só existem arrependimentos na escolha da profissão quando perde confraternizações familiares e datas comemorativas, pois sempre está de plantão, mas o amor que tem pela profissão e por cuidar dos pacientes chega a suprir qualquer outro descontentamento que possa vir a ter. “A enfermagem é uma das profissões que atua diretamente na devolução da dignidade das pessoas, na devolução da autonomia, do autocuidado, da saúde, da vida”, finaliza.

Enfermeiros a postos para ajudar no combate ao Coronavírus/ Arquivo Pessoal

A fisioterapeuta que encontra apoio na família

Por Gustavo Sousa

“Sou mãe de um casal de filhos. Fiquei muito tempo longe deles porque tínhamos muitos casos acontecendo e poucos profissionais dispostos a ficarem na linha de frente por medo do desconhecido, por medo de ficarem doentes e passarem para as suas famílias”. O isolamento da família foi uma das decisões mais difíceis para a profissional de saúde Helen Freitas, 50 anos, que atua na Unidade de Terapia Intensiva do Pronto Socorro de Rio Branco.

Apesar do medo da contaminação, foi com o apoio da família que ela encontrou forças para transformar o medo em determinação. Helen e o marido conversaram bastante antes do vírus chegar ao Brasil e, por conta disso, ela decidiu optar por ficar isolada devido ao que estava acontecendo no mundo.

A fisioterapeuta segurando uma dose da vacina contra Covid-19/ Arquivo Pessoal

Área de atuação

O fisioterapeuta com título em terapia intensiva é o especialista que conduz a ventilação mecânica tanto invasiva como a não invasiva, ou seja, o fisioterapeuta que mantém o quadro pulmonar do paciente juntamente com a equipe médica.

“O nosso papel é melhorar as trocas gasosas e expandir os pulmões para que eles se reestabeleçam e os pacientes possam ser extubados (sair da intubação). Inicialmente a função dos profissionais dessa área é evitar que o paciente seja entubado, mantendo-o em oxigenoterapia (terapia feita com a utilização de oxigênio) e Ventilação Não Invasiva (VNI) método para ajudar na respiração por meio de aparelhos que não são introduzidos no sistema respiratório. Nos casos mais graves, em que a intubação seja inevitável, administramos a ventilação mecânica conduzindo o funcionamento dos pulmões para que o paciente possa se recuperar.

Helen e parte da sua equipe de fisioterapeutas/ Arquivo Pessoal

Dificuldades 

A pandemia de Covid-19 não é a primeira que a fisioterapeuta enfrenta. “Já tive experiência com outra pandemia. A do H1N1 foi mais branda, porém eu já imaginava que essa que estava por vir seria de uma maior proporção”, diz. Helen menciona algumas dificuldades que enfrentou ao longo dos últimos meses intensos de trabalho. O seu psicológico estava ficando afetado pela distância da família e a falta de um carinho ao chegar do trabalho e a mudança repentina na sua rotina acabou impactando bastante, apesar da família ter se acostumado com a rotina de plantões diários. Outra complicação é a exaustão física que vinha por conta da nova rotina de plantões cada vez mais prolongados.

Caso Marcante 

Dentre tantos casos, um especificamente a marcou pois era um desafio. Eles estavam no início do processo para conhecer a doença  “Foi em um momento que ainda estávamos começando a conhecer a doença, o Estado ainda estava se equipando e ainda tínhamos muito medo de fazer VNI. Alguns estudos da época afirmavam que a VNI contaminava os profissionais”, recorda. Como o paciente ainda respirava, a equipe com a qual Helen trabalha tomou a decisão de fazer de tudo para salvar o paciente e usar a VNI. “Ele está vivo hoje, graças a Deus, e valeu muito a pena os nossos esforços”

 Helen explica que essa técnica era usada em outras doenças e ao usarem nesses casos do covid e notarem os resultados positivos não pararam mais de usar esse método. A profissional ressalta que no Brasil todos estão usando a técnica o que vem evitando muitas intubações.

Superação

Mesmo com tantas dificuldades em torno dessa nova pandemia, Helen encontra forças e compreensão na família. Os encontros com o marido e os filhos retornaram quando os casos tiveram uma baixa considerável.

“Passado um ano de pandemia, posso dizer que é impossível presenciar esse acontecimento com tantos óbitos e tanto sofrimento não mudar a sua essência”. A força que precisa para seguir em frente encontra na religião e no sorriso dos seus pacientes  recuperados. “Essas pequenas vitórias do dia a dia impulsionam a nossa jornada”, fala.

Freitas recebendo a primeira dose da vacina contra a Covid-19/ Arquivo Pessoal

Redação

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Saúde

Quem cuida de quem cuida? 

A realidade invisível dos cuidadores de idosos no Acre

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Por Raquel de Paula, Elis Caetano e Tales Gabriel

O envelhecimento da população já é uma realidade que impacta a rotina das famílias e a estrutura social brasileira. No Acre, segundo dados do Censo Demográfico 2022 do IBGE, entre 2010 e 2022 o número de pessoas com 65 anos ou mais no estado cresceu 64,9%, passando de 31.706 (4,3% da população) para 52.297 idosos, que hoje representam 6,3% dos acreanos. 

No mesmo período, a proporção de crianças até 14 anos recuou de 33,7% para 26,6%,com isso, o índice de envelhecimento, que mede o número de idosos para cada 100 crianças, chegou a 23,8 em 2022, quase o dobro do registrado em 2010.

Esse crescimento no número de idosos, embora menos acelerado que em outras regiões do país, indica um aumento na demanda por cuidados e uma redução no número de jovens disponíveis para desempenhar essa função, o que amplia a sobrecarga de quem exerce essa atividade.

Nesse cenário, está a história de Juliette Silva, cuidadora formada em um curso de três meses, que deixou Rio Branco há dois anos e se mudou para Goiânia em busca de melhores condições de trabalho. 

“A minha rotina diária como cuidadora hoje é uma carga horária 12/36 diurno, trabalho autônomo para uma agência de cuidadores aqui em Goiânia. Vim em busca de ganhar um valor melhor, pois em Rio Branco a profissão é mais desvalorizada”, afirma. 

Suas atividades diárias incluem administrar medicações via oral, dar banho, cuidar da higiene, trocar fraldas, fornecer alimentação e garantir o banho de sol. Mesmo com formação técnica, ela avalia que “mudaria nossa vida a valorização do nosso trabalho. Que pudéssemos ter nossos direitos trabalhistas reconhecidos como profissionais que somos. Infelizmente, nossa profissão é registrada em carteira como uma função doméstica. Isso é muito injusto.”

Juliette considera o cuidado com idosos uma missão, mas destaca o custo emocional envolvido, que afeta diretamente a saúde física e mental de quem cuida. “Nossa profissão é linda, vai além de uma profissão. Eu costumo dizer que é uma missão. Mas, infelizmente, existem muitos cuidadores que são explorados por famílias, que desviam as funções e sobrecarregam o cuidador, pedindo para fazer outras tarefas além de cuidar do idoso.”.

O relato de Juliette reflete a rotina de muitos cuidadores, marcada por jornadas extensas, múltiplas responsabilidades, baixa segurança trabalhista e vulnerabilidade emocional. Grande parte atua como autônomo ou é formalmente enquadrada como empregado doméstico, o que reduz direitos como jornada regulamentada, descanso remunerado, FGTS e contribuição para aposentadoria.

Embora o Estatuto da Pessoa Idosa estabeleça direitos como assistência à saúde e à dignidade, o cuidador, figura essencial nesse processo, ainda carece de políticas públicas específicas. O Ministério da Saúde oferece cursos e capacitações por meio da UNA-SUS, mas a abrangência dessas ações para cuidadores familiares ou autônomos, especialmente no interior do Acre, é limitada.

Sobrecarga

A ausência de uma rede de apoio estruturada tem reflexos diretos na saúde física e emocional de quem cuida. A psicóloga e psicanalista Sara Saraiva destaca que os impactos sobre a saúde mental dos cuidadores já estão implícitos na própria pergunta que norteia este trabalho: “Quem cuida de quem cuida?”. Segundo ela, é comum que esses profissionais, e também familiares que assumem a função, acabem esquecendo de cuidar de si mesmos.

“Surge aquela sensação de: Se eu não fizer, quem vai fazer? Mas também é preciso pensar: E quem faz por mim?”, afirma.

Essa dedicação exclusiva, explica Saraiva, pode gerar estresse e um sentimento de culpa excessiva por não se permitir descansar, por sentir-se cansado ou, até mesmo, por não querer cuidar em determinados momentos.

“Muitos acabam se perdendo de si e passam a viver quase que integralmente a vida da pessoa assistida”, acrescenta.

De acordo com a psicanalista, essa sobrecarga emocional e física, quando acumulada, pode desencadear crises de estresse intenso, quadros de ansiedade e até depressão. Para ela, prevenir o adoecimento exige a atuação conjunta da família, da sociedade e do poder público.

“No caso de cuidadores familiares, é fundamental dividir tarefas e responsabilidades. Também é necessário oferecer suporte psicológico e acompanhamento dentro da rede pública de saúde. A prevenção começa com a conscientização: entender que, embora cuide do outro, essa pessoa também precisa de cuidado, acolhimento e de olhar para si, lembrando que sua vida não se resume àquele que ela assiste”, conclui.

Rede de apoio

Além de profissionais autônomos, o Acre também conta com iniciativas coletivas que tentam suprir a carência de apoio. É o caso do Anjos do Cuidado, grupo fundado por Benedita do Anjos Silva, que hoje reúne mais de 200 cuidadoras e técnicos. Ela conta que a ideia nasceu de forma espontânea e cresceu rapidamente.

“Eu criei esse grupo porque, depois que me formei como técnica, fui trabalhar em uma família e, com o tempo, as pessoas foram conhecendo meu trabalho e me chamando para cuidar de outros pacientes. Chegou um momento em que eu não conseguia dar conta sozinha, então comecei a convidar colegas”, explica. 

No início, era um grupo de WhatsApp com três ou quatro pessoas, atualmente são 232 profissionais prestando serviços em hospitais e domicílios. São atendidos pacientes que precisam de ajuda para se locomover, acompanhar consultas ou até viajar. “Tudo começou pequeno, mas virou uma rede de apoio muito importante”, afirma a técnica.

Para Benedita dos Anjos, um dos maiores desafios é a falta de planejamento das famílias.“Muitos só pensam em contratar um cuidador quando o idoso já está debilitado ou quando a família já está emocionalmente sobrecarregada. Se houvesse essa contratação preventiva, o cuidado seria melhor para todos”.

Apesar da rotina intensa e da pouca valorização profissional, cuidadores também precisam de atenção e cuidado, como mostram as iniciativas que apostam em solidariedade e compreensão.

Redação

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Saúde

Aumento da busca por dietas radicais levanta alertas sobre os riscos à saúde

Nos últimos anos, a busca por dietas radicais para emagrecimento rápido tem se intensificado, principalmente com o impacto das redes sociais, onde promessas de perda de peso acelerada ganham visibilidade. Essas dietas, muitas vezes extremamente restritivas, podem levar a resultados imediatos, mas, segundo especialistas, podem acarretar sérios riscos à saúde. Em busca de um corpo magro em um curto espaço de tempo, muitas pessoas optam por eliminar tipos de alimentos ou reduzir drasticamente a ingestão calórica, sem considerar as consequências a longo prazo.

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Por Raquel de Paula e Antônia Liz 

Nos últimos anos, a busca por dietas radicais para emagrecimento rápido tem se intensificado, principalmente com o impacto das redes sociais, onde promessas de perda de peso acelerada ganham visibilidade. Essas dietas, muitas vezes extremamente restritivas, podem levar a resultados imediatos, mas, segundo especialistas, podem acarretar sérios riscos à saúde. Em busca de um corpo magro em um curto espaço de tempo, muitas pessoas optam por eliminar tipos de alimentos ou reduzir drasticamente a ingestão calórica, sem considerar as consequências a longo prazo.

O nutricionista Ítalo Oliveira alerta que as dietas radicais podem causar uma série de efeitos colaterais negativos. “O indivíduo pode apresentar fraqueza, tontura, dores de cabeça, cansaço, mau humor, indisposição, dificuldade de concentração e até desmaios. Além disso, essas dietas sobrecarregam órgãos como fígado e rins e podem resultar em carências nutricionais graves, como anemia”, afirma. 

As dietas radicais representam um perigo cada vez maior. Foto: Reprodução

O especialista destaca ainda que a redução drástica de calorias desacelera o metabolismo, prejudicando a produção de hormônios essenciais, como T3 e leptina, que regulam o controle do peso e a sensação de fome. “Isso pode levar à perda de massa muscular e, consequentemente, ao efeito sanfona, no qual o peso perdido é rapidamente recuperado, muitas vezes com aumento de gordura corporal maior”, completa o nutricionista.

Além dos danos físicos, a saúde mental também pode ser severamente afetada pelas dietas restritivas. Ítalo Oliveira ressalta que a falta de carboidratos, por exemplo, impacta a serotonina, o hormônio responsável pelo bem-estar, gerando mudanças de humor, ansiedade e até transtornos alimentares. 

“Dietas radicais aumentam os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, o que pode causar compulsões alimentares, irritabilidade e perda de foco, prejudicando também o desempenho físico, principalmente no esporte”, explica.

Magreza extrema é tema de debates na atualidade. Foto: Reprodução

O especialista alerta que a solução para uma perda de peso saudável deve ser baseada na reeducação alimentar aliada à prática regular de exercícios físicos, evitando métodos extremos. A chave é adotar um déficit calórico moderado e ajustável, sem eliminar grupos alimentares essenciais.

 “A ingestão de proteínas deve ser priorizada para preservar a massa muscular, enquanto carboidratos e gorduras precisam ser distribuídos estrategicamente para garantir energia e equilíbrio hormonal. O treinamento de força, combinado com atividades aeróbicas, deve ser ajustado de acordo com as necessidades individuais”, conclui. 

Redação

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Saúde

Tripanofobia: Como o medo de agulhas afeta a saúde pública e pessoal

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Por Raquel de Paula e Liz Melo

Muitas pessoas sentem ansiedade ao tomar vacinas ou injeções, para algumas esse medo pode se tornar um verdadeiro desafio para manter a imunização em dia. Esse medo, conhecido como “tripanofobia”, pode ter diversas origens, desde experiências traumáticas na infância até a associação com dor ou desespero. Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou a hesitação vacinal como uma das dez principais ameaças à saúde pública, e o medo de agulhas pode prejudicar a adesão a campanhas de imunização.

De acordo com a psicóloga Nuriá Oliveira, o medo de injeções pode estar ligado a causas psicológicas variadas como traumas passados ou predisposições biológicas. “Experiências negativas com agulhas, especialmente na infância, podem criar associações duradouras com dor ou desconforto. Além disso, a sensação de vulnerabilidade e perda de controle ao tomar uma injeção pode intensificar esse medo”, explica. A forma como cada pessoa lida com o medo também influencia a intensidade e persistência desse sentimento, que pode evoluir de um receio comum para uma fobia.

Elis Caetano compartilha seu trauma pessoal relacionado a vacinas. “Eu tenho um trauma desde que eu era criança. Minha mãe me segurava, e eu não sei dizer bem o porquê desse medo, apenas tenho pavor”, conta. Ela relata que, por conta desse medo, deixou de tomar diversas vacinas na adolescência, incluindo as da COVID-19. “A vacina contra o COVID, por exemplo, tomei apenas duas doses, pois tive muito medo. Não tenho medo dos efeitos colaterais, mas da situação em si, de tomar a injeção.”

 Ela ainda revela que as dificuldades para encontrar sua veia durante exames intensificaram a aversão ao procedimento. “É torturante aquela agulha ficar dentro de mim procurando minha veia. O braço fica roxo e sou furada mais de três vezes até dar certo”, desabafa. Elis admite que o medo a impede de completar seu ciclo vacinal e não se sente confortável com a situação.

A especialista Nuriá Oliveira alerta que, quando o medo se torna excessivo e prejudica o acesso a cuidados médicos, é necessário buscar ajuda profissional. “Se o medo de agulhas impede tratamentos importantes, é hora de buscar estratégias para lidar com ele, como a exposição gradual e técnicas de respiração”, sugere. Ela também destaca que o medo de injeções pode estar relacionado a outros transtornos, como a ansiedade generalizada, e é importante tratar essas questões de forma integrada.

Para quem enfrenta esse desafio, a psicóloga recomenda diversas abordagens, como a psicoeducação, o foco no propósito da vacina e a presença de um acompanhante de confiança. “Desenvolver uma relação saudável com o medo é essencial para superá-lo e continuar a cuidar da saúde. Não se trata de nunca sentir medo, mas de aprender a lidar com ele de forma construtiva”, conclui Nuriá.

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