Olhares
Mulheres mais velhas no relacionamento: ainda é um tabu?
Publicado há
2 anos atrásem
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RedaçãoPor Gisele Almeida e Lucas Thadeu
O relacionamento entre uma mulher mais velha e um homem mais novo ainda carrega um grande preconceito na sociedade brasileira. Dessa forma, é muito comum mulheres mais velhas passarem por constrangimentos pelo simples fato de se relacionarem com homens mais novos. Contudo, quando o fato ocorre ao contrário, em que o homem é mais velho, as reações das pessoas são alternadas, mas há uma maior aceitação.
A reportagem realizou uma enquete com 33 pessoas, por meio de um formulário compartilhado nas redes sociais para saber mais sobre a opinião das pessoas a respeito desse tabu. No questionário, 90,9% já presenciaram algum tipo de preconceito com mulheres mais velhas no relacionamento conjugal.
Outro dado que chama atenção é a aceitação, pois 81,8% acham normal quando o homem tem de 7 a 10 anos de diferença de idade entre a namorada ou esposa. Contudo, quando perguntado ao contrário, se é normal que uma mulher tenha essa diferença de idade, 51,5% não acham que seja normal. Por fim, 66,7% dos internautas acham que a mulher mais velha sofre mais preconceito que os homens quando o assunto é idade.
Alcimar Souza, caseiro, de 47 anos, manteve um relacionamento com uma mulher que era 12 anos mais velha que ele por quase 10 anos. Ele relata que o preconceito esteve muito presente: “às vezes a gente ia em alguns lugares, e quando chegávamos lá perguntavam se era a minha mãe ou porque estava casado com ela. Eu ficava triste com aquela situação, pois era muito preconceito em quase todos os lugares que eu ia”, relembra.
No atual momento, ele está com outra companheira e é 7 anos mais velho. Souza afirma que a reação das pessoas com esse relacionamento é totalmente contrária ao de antes. “Ninguém nunca comentou nada relacionado à idade, é bem tranquilo”, conclui.
Quem também passou pela mesma situação foi a Luciana Azevedo, de 43 anos, conferente de depósito, que vive uma união estável há 10 anos e é 10 anos mais velha que o companheiro. Ela afirma que no início conseguiu o apoio da família e pessoas próximas, mas foi no trabalho que ela passou por uma situação desconfortante. “Uma vez, uma pessoa que trabalhava comigo falou assim: teu filho veio aqui. Aí eu falei: que bom, quando eu estava nascendo, eu já estava grávida dele”, relembra.
Além das mulheres passarem por situações como essas citadas anteriormente, elas também podem sofrer com a não aceitação dos familiares e amigos. Diferente de Azevedo, a engenheira agrônoma Leilane Benício (28 anos), diz que sofreu com a falta de apoio no início de seu relacionamento. Ela é 9 anos mais velha que seu marido Dhomini (19 anos). “Logo no início do relacionamento foi bastante o número de pessoas que não apoiavam.”
Ela também afirmou que as pessoas sempre ficam surpresas quando descobrem a diferença de idades e que a reação muitas vezes vem em conjunto com comentários e indagações preconceituosas. “A mulher é muito julgada quando é vista com um homem mais jovem que ela. Logo de cara já falam: está querendo terminar de criar? Ou está bancando tudo?”
Voz dos especialistas
A psicóloga e psicoterapeuta reichiana Patrícia Coube explica porque casos como esses acontecem. “Esse estranhamento, o próprio tabu, é resultado de uma educação/cultura que permanece propagando a “naturalização” de uma condição: homens mais velhos mais meninas mais novas = natural/normal, em detrimento e até ridicularização do inverso. O tabu permanece enquanto há consentimento da sociedade em manter tais padrões”, explica.
Além disso, ela também salienta que o Estado do Acre é um local bastante conservador, pois impera a normalização de atos que não eram para ser considerados normais. “Adultério, pedofilia, homofobia… entre outros desvios de conduta… muitas destas situações passam uma falsa ideia de um estado com mais liberdade. Aqui, ainda nos deparamos com expressões do tipo: essa é para casar, essa é para curtir. O fato de existir mulheres que se relacionam com homens mais jovens, não significa que não haja preconceito”, conclui Coube.
Administradora e especialista em gerontologia, que é o estudo dos fenômenos fisiológicos, psicológicos e sociais relacionados ao envelhecimento do ser humano, Marizete Melo destaca outro fato que pode agregar nesse tabu. “As mulheres sofrem mais por conta de uma visão estereotipada das pessoas, a causa disso é o machismo.”
Outro aspecto ressaltado é a supervalorização da juventude associada à beleza presente na sociedade, o que afeta as mulheres maduras. “Além das alterações no corpo feminino em seu envelhecimento, também contribuem para o fator da insegurança e baixa estima. A mulher se sente com uma estima um pouco abalada por conta de seu corpo não ser o mesmo”, explica.
Mulher mais nova no relacionamento
E quando a situação ocorre com a mulher sendo mais jovem? Então, a psicóloga Coube afirma que não é porque a mulher é mais nova que não irá sofrer algum tipo de preconceito. Como a jornalista, Camila Holsbach, de 33 anos, que é 16 anos mais nova que o marido, Márcio Bleiner, de 49. Eles estão juntos há quase 15 anos, se conheceram por meio da rádio em que ele trabalhava, era radialista, e ela o ouvia todos os dias.
A jornalista relembra que no início do relacionamento as pessoas ficavam criticando-a, por ela ter 19 anos e ele 35. “Tinha gente que falava pro Bleiner que ele precisa de uma mulher de verdade, não de uma “menina”. Diziam que eu não ia dar conta, que quando ele precisasse de verdade de uma companheira eu sairia fora. Bem… todos equivocados! Estamos, há quase 15 anos, firmes e fortes – e vencendo”, destaca.
O casal tem quatros filhos, um do relacionamento deles e os outros três são do relacionamento anterior do seu marido. Apesar da diferença de idade, isso nunca foi um empecilho para Holsbach.
“Acho que a diferença de idade foi uma das principais coisas que me fez gostar ainda mais dele. Nunca gostei de me relacionar com pessoas da minha faixa etária, então, pra mim, foi tranquilo. Mas havia os “olhares tortos”.” Ela conta, rindo, que algumas vezes se considera “mais velha” do que ele. “Continuamos nos dando muito bem e achando que a diferença de idade nunca foi um empecilho, mas um fator que contribuiu muito para termos dado tão certo”, concluiu.
Pontas de esperança
Apesar das evidências de um preconceito estrutural em muitas sociedades, existem casais que podem contar uma história diferente, como é o caso do jornalista Márcio Souza, que é 6 anos mais jovem que a esposa Emanuele Souza. Eles não relataram vivências de preconceito em relação à diferença de idade, e consideram que boa parte dos preconceitos sociais decorre de uma estrutura educacional familiar, pois a educação e respeito ao próximo vêm de casa.
“Acreditamos que depende muito da criação. Parafraseando um velho ditado: comentários de casa vão à rua. Se existe preconceito, machismo, homofobia, racismo no dia a dia da família (breves comentários, frases, palavras cheias de estereótipos, por exemplo) sem dúvida isso vai refletir no comportamento fora. Por isso, tentamos ser o mais didáticos possível e libertos desses estereótipos ao responder uma pergunta para nossa filha,” diz Souza.
Eles contam que a idade em nenhum momento foi um tabu, seus amigos e familiares nunca os criticaram por isso. “Não sofremos ou enfrentamos preconceito de ninguém do nosso ciclo de amizade. Os familiares, no entanto, pensaram que a Manu estava grávida, por causa da rapidez”, diz ele sobre o namoro rápido antes do casamento. “No mais, só comentários como “o leite tá caro” ou “melhor comprar leite do que remédio”.”
No caso da professora Katianny Andrade (14 anos mais velha que seu parceiro), ela conta que não encontrou problema de opinião preconceituosa das pessoas, mas que ela em si teve receios. “De início eu fui bem sincera de que eu não queria me relacionar com ele. Eu que tinha preconceito… Nós mulheres ligamos muito pra vaidade”, concluiu.
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Olhares
Para além da grade curricular: educação literária como janela para o aprendizado
Publicado há
1 ano atrásem
23 de agosto de 2023por
RedaçãoBiblioteca Pública do Estado do Acre recebe centenas de alunos diariamente – Foto: Inayme Lobo
Por Inayme Lobo, Luanna Lins, Maxmone Dias e Tiago Soares
Um recente estudo realizado pela Associação Internacional para Avaliação de Conquistas Internacionais (IEA) revelou que o Brasil ocupa a 52ª posição em habilidades de leitura, entre crianças do 4º ano do ensino fundamental, em um ranking com 57 países. Ainda de acordo com a pesquisa, 52% dos brasileiros mantêm o hábito de leitura, mas o país perdeu aproximadamente 4,6 milhões de leitores nos últimos anos. Enquanto um brasileiro lê, em média, quatro livros por ano, um canadense lê doze, por exemplo.
Uma análise do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avaliou estudantes entre 15 e 16 anos em 77 países, apontou que em 2019 metade dos alunos brasileiros alcançaram apenas o nível 2 de leitura, em uma escala de 1 a 6.
Segundo o programa, esses alunos são capazes de identificar a ideia principal de textos de tamanho moderado, mas enfrentam dificuldades em compreender conceitos abstratos e estabelecer distinções entre fatos e opiniões. Apenas 2% obtiveram as melhores notas em leitura, demonstrando habilidades mais avançadas de compreensão e análise de textos longos.
Diante desse cenário, a educação literária surge como uma ferramenta essencial para fomentar o desenvolvimento dos alunos e ampliar a grade curricular tradicional. Porém ainda existem entraves no contexto educacional, conforme explica o docente de Políticas Educacionais, da Universidade Federal do Acre (Ufac), Pelegrino Verçosa. Para ele, ainda contamos com motivos para que o desenvolvimento da leitura não seja dos melhores.
“Como é que estamos desenvolvendo as práticas de leitura, se a leitura ocorre pela via mais traumática que é a da imposição curricular, pela lógica de que os estudantes não possuem escolhas? Nós temos uma narrativa de que os estudantes podem escolher percursos formativos. Entretanto, isso não é verdadeiro, porque os estudantes não podem escolher. Eles leem aquilo que é oferecido para eles”, destaca o professor.
Alunos se reúnem para um momento literário na ala de HQs da Biblioteca Pública – Foto: Inayme Lobo
A leitura literária permite que os estudantes acessem diferentes mundos, ampliem sua capacidade imaginativa, desenvolvam empatia e construam repertórios culturais mais abrangentes. No entanto, é necessário um esforço conjunto para promover essa prática de maneira efetiva.
Segundo Pelegrino Verçosa, a gestão escolar também desempenha um papel fundamental ao criar um ambiente propício para a formação de leitores. É preciso considerar a realidade dos alunos, suas necessidades e características individuais, e oferecer literaturas diversificadas, incluindo obras clássicas e contemporâneas que dialoguem com suas experiências de vida.
Clubes de leitura
Dados apresentados em 2021 pela empresa Betalabs, plataforma de e-commerce e clubes de assinaturas, aponta que os clubes literários alcançaram 27% do mercado de clubes por assinatura, o que representou um aumento de 60% em relação ao ano de 2019.
A educação literária desempenha um papel crucial no desenvolvimento dos estudantes, indo além da grade curricular. É possível promover novos conhecimentos e o gosto pela leitura, por meio de projetos que ultrapassam os muros das escolas. Exemplo disso é o Clube de Leitores, criado em 2015 e gerenciado pela professora Maria da Conceição Silva, na Escola União e Progresso.
Nele, os membros do clube leem os livros de diversos gêneros indicados pela docente e no fim do mês se reúnem para falar sobre a obra escolhida, indicando-a para mais leitores. Ex-alunos da escola e outras pessoas da comunidade também participam da iniciativa.
Estudantes se reúnem na Escola União e Progresso para debater sobre os livros – Foto: Inayme Lobo
Outras instituições de ensino também têm implementado esse tipo de atividade, como é o caso da Escola Estadual Senador Adalberto Sena. O aluno Paulo Eduardo, de 18 anos, que também é diretor social do grêmio estudantil e integrante do clube da leitura da unidade, fala sobre a variedade de gêneros textuais que são abordados pelo grupo.
Ouça a experiência do estudante Paulo Eduardo no clube de leitura escolar
Os estudantes Paulo Eduardo, Kayky e Thavyne integram o clube do livro da escola estadual Senador Adalberto Sena. Foto: Inayme Lobo
Além dos clubes de leitura em ambientes escolares, o Acre também conta com iniciativas que abarcam a comunidade. Exemplo disso é o Prateleira, considerado primeiro clube do livro no Acre. Há pouco mais de um ano, o projeto tem incentivado o gosto pela leitura e, principalmente, ampliado a comunidade a conhecer mais sobre as obras e autores acreanos.
A jornalista Karolini Oliveira, que é coordenadora do projeto, conta que a iniciativa surgiu devido ao seu interesse em compartilhar leituras sobre a literatura acreana com a comunidade e não apenas no meio acadêmico. Foi a partir daí que a jovem inscreveu o Prateleira em um edital da Fundação Garibaldi Brasil. Na época, o projeto foi contemplado e recebeu apoio da instituição, porém hoje segue de forma independente.
“Quando começamos como Clube de Leitura, em 2022, jamais imaginávamos o alcance que teríamos em tão pouco tempo. Foram mais de seis mil pessoas atingidas com apenas uma publicação nas redes sociais. Todo mês recebemos sugestões de leitores sobre qual livro acreano será o escolhido, então é feita uma votação online, pelo instagram do clube do livro Prateleira”, explica a jornalista.
A jovem ainda destaca que o clube está sempre aberto para receber novos membros. Segundo ela, os interessados podem se inscrever de forma online, por meio de formulário.
Olhares
Acre: um Estado sexagenário com muitas histórias para contar
Publicado há
3 anos atrásem
16 de maio de 2022por
RedaçãoPor Marcos Jorge Dias
Não há como escrever sobre o Estado do Acre sem pensar nas estórias que minha avó contava nas noites iluminadas por lamparinas. Seu olhar lacrimoso e distante, refletido nas chamas bruxuleantes, nos conduzia ao passado com os nossos ancestrais. Os homens mortos nas “correrias” e as mulheres caçadas a dente de cachorro, amansadas e estupradas, para procriar mão de obra para os seringais. Lembranças que a cada dia se diluem na fumaça das queimadas.
O Território se fez Estado… com muita luta!
O Acre era um pedaço esquecido e isolado do Brasil. O Tratado de Petrópolis, aprovado por Lei federal de 25 de fevereiro de 1904 e regulamentada por decreto presidencial de 7 de abril de 1904, incorporou o Acre como território brasileiro. “O Movimento Autonomista começou imediatamente com a criação do Território do Acre. O próprio assassinato do Plácido de Castro foi um resultado dessa disputa”, conta o historiador Marcos Vinícius das Neves. As insatisfações geradas contra a União fizeram com que os acreanos se revoltassem, dando início a insurreições. A luta pela autonomia acreana não se deu só por conquista dos direitos políticos de seus cidadãos, mas também, pela possibilidade do desenvolvimento econômico e qualidade de vida dos acreanos. Até que em 15 de Junho de 1962 foi sancionada pelo Presidente da República João Goulart a Lei 4.070, que elevou o Acre à categoria de Estado. Em outubro de 1962 foi eleito o primeiro governador do Estado do Acre, José Augusto de Araújo.
E aí chegaram os “paulistas”
Nas décadas de 70 e 80 do século passado a região foi cenário das grandes disputas pela posse da terra entre seringueiros e os chamados “paulistas”. Hoje, nas margens da Rodovia, que requer constante manutenção pelo DNIT, estão consolidadas as grandes fazendas de gado, plantios de milho e de cana-de açúcar, que já estão sendo substituídas pela soja.
Durante os 20 anos (1999-2019) em que o Partido do Trabalhadores governou o Acre, foram feitos grandes investimentos estruturais na região: Zona de Processamento de Exportação-ZPE (Senador Guiomard); Usina Álcool Verde (Capixaba); Fábrica de preservativos NATEX, indústria de beneficiamento de madeiras e polo moveleiro (Xapuri); polo moveleiro de Epitaciolândia; Fábrica de ração, frigorífico Dom Porquito, abatedouro Acreaves e pousada Ecológica (Brasiléia), entre outros investimentos na área de produção, conservação ambiental e desenvolvimento sustentável na Reserva Extrativista Chico Mendes que abrange 4 municípios da região. Há época foi construído um projeto político que deu base ao sonhado desenvolvimento sustentável.
Contudo, vários problemas de gerenciamento nos complexos projetos que envolviam: estrutura, gestão de pessoal, administração financeira e etc., acrescidos com a arrogância e vaidade de alguns “reis e faraós” que assumiram as chefias do governo e do partido, contribuíram para o fracasso das iniciativas que consumiram milhões em recursos humanos e financeiros, nacionais e estrangeiros.
Atualmente, passados 60 anos de elevação à condição de Estado, o Acre vive momentos de profundas incertezas e continua na busca de um modelo de desenvolvimento econômico que atenda as demandas das suas diferentes camadas sociais. Enquanto isso… a boiada vai passando!
No começo… Havia o cantar dos pássaros, o assobio do vento, o piar das corujas, o estalar das sementes, o gotejar da chuva nas folhas, o barulho da água correndo por meio dos grotões. O vento trazia da floresta os sons dos invisíveis. Quando a tarde ia caindo – levando o sol no rumo do oriente – tinha o banho no rio, a lua nascendo brilhante. E começava a noite. Passava a rasga mortalha, gritava o gogó de sola na beira da mata. E na roda em volta da fogueira, sob a luz azulada da lua, as estórias eram contadas.
Foi no tempo em que a terra não tinha dono, não tinha fronteiras e os rios corriam cheios na época das chuvas e fazia praia no tempo da friagem. O povo que vivia na mata não tinha doença e não brigava entre si. Os papagaios comiam no mesmo barreiro que o caititu. Os brabos vinham em bandos. Subindo a correnteza em ubá grande que roncava sem parar. Espantavam as araras das ingazeiras da beira do rio e matavam tudo que viam. Socó, quatipuru e jaçanã quem nem serve para comer, virava embiara. E assim começou o fim.
Numa noite em que a lua não veio e o povo dormia na sacupema da grande samaúma ouviu-se um espoco e depois o clarão na mata escura. Depois as cargas quentes de chumbo, entrando nas carnes dos que dormiam sem saber o que estava acontecendo.
Os brabos naquela noite mataram todos os guerreiros, velhos, curumins, e as mulheres que não conseguiram amarrar. O cheiro de sangue misturado com pólvora correu a mata. Os que puderam correram para o centro e se esconderam. Mas os brabos tinham pau de fogo que matava de longe. Tinham sede de sangue e do leite que descia da seringueira quando era cortada. Mas isso foi num tempo que ficou pra trás. Dias, Marcos Jorge. “Estórias do Aquiry & Outros Mundos”, Editora Xapuri, 2017. Literatura, Mitos e Lendas
Notícias
Monografia na pandemia: os desafios impostos pela Covid-19 para quem deseja concluir a graduação
Publicado há
3 anos atrásem
2 de julho de 2021por
RedaçãoIsolamento social fez com que orientandos, orientadores e gestores buscassem alternativas para garantir que estudantes realizassem o sonho de colar grau / Foto: Arquivo pessoal / Pâmela Freitas
Por Gabriel Vercoza Alves e Renato Menezes
Com o objetivo de reduzir os impactos da pandemia de Covid-19 na rotina universitária a comunidade acadêmica precisou se ajustar para continuar, mesmo de forma virtual, o preparo para a defesa do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). No entanto, as dificuldades para com a nova modalidade de estudo ainda causam insegurança em quem está esperando ansiosamente pelo diploma universitário.
Com a estudante do curso de Licenciatura em História, Alice Leão, não está sendo diferente. A acadêmica cursa o sétimo período da graduação na Universidade Federal do Acre (Ufac) e está tendo que lidar com ruídos externos e internos em casa que acabam atrapalhando a concentração que deseja para escrever e elaborar o TCC. “O ambiente não é propício aos estudos, tenho dificuldade de concentração e tudo acaba influenciando e dificultando ainda mais”, comenta.
Por conta da impossibilidade de ir à Ufac, ela teve que fazer pesquisas bibliográficas de forma on-line, como na Biblioteca Nacional Digital, e seguir as dicas do seu orientador Airton Chaves. Um dos medos da estudante na reta final diz respeito a instabilidade da internet que pode ser um contratempo na hora de apresentar o trabalho já que o Acre tem problemas constantes com rompimentos de fibra. “Tenho medo de não ter conexão de internet no dia da apresentação, ou até mesmo que a internet caia. Fico insegura”, diz.
SOBRECARGA
A acadêmica do 7º período do curso de Licenciatura em Letras/Libras, Katriny Almeida, também teme que problemas de instabilidade com internet seja o fator de dificuldade ao defender o TCC. O tema do trabalho dela, feito em conjunto com a estudante Adriele Costa e orientado pela professora Ivanete Cerqueira, é “A iconicidade da língua de sinais caseira de surdos do município de Porto Walter – AC”.
“Acredito que uma das maiores dificuldades tenha sido a sobrecarga com relação a outras disciplinas, assim como dificuldade de algumas vezes encontrar o momento em que a orientadora tivesse disponível e minha dupla também. Agora a preocupação é com relação a tecnologia pois sabemos que elas falham, então temos receio de faltar energia, internet ou ter algum problema técnico que prejudique a apresentação”, fala.
“FIQUEI NESSE SENTIMENTO POR MESES”
A estudante do 8º período de Jornalismo da Ufac, Pâmela Rocha de Freitas, precisou aprender a estudar no ensino remoto justamente no momento em que teve que fazer o TCC. Além disso, por diversas vezes se sentiu desanimada em ver que atrasaria seus estudos.
“No começo da pandemia eu achava que duraria um mês, estava super empolgada em formar e terminar no tempo correto. Conforme o tempo foi passando e as coisas pioraram eu entrei em uma tristeza e desânimo enormes. Não sabia quando iria me formar, não queria mais estudar. A pandemia ia me atrasar toda na faculdade – me atrasou um ano. Fiquei nesse sentimento por meses”, comenta.
Sobre as orientações, a acadêmica disse que elas foram cruciais para que a pesquisa desse prosseguimento. Orientada pela professora Francielle Modesto, seguiu um cronograma semanal que envolvia prazos. Isto, juntamente com a troca frequente de e-mails e de encontros virtuais, contribuíram para que Pâmela voltasse ao ritmo de escrita a que estava habituada antes da pandemia e desse continuidade ao TCC de tema “A ética jornalística na cobertura de um linchamento em Capixaba: um estudo sobre as notícias de caso publicadas na ContilNet Notícias e G1 Acre”, apresentado no dia 10 de junho e aprovado com média 10.
“Conversávamos por e-mail, às vezes, mais de uma vez por dia. Na verdade, tinha dias que trocávamos mais e-mails do que eu troco mensagens com minhas amigas. Sempre que surgia uma dúvida, algo que eu queria mudar, acrescentar, ou tinha visto, eu mandava para ela. E ela igualmente me mandava as coisas que ela encontrava para poder me ajudar na pesquisa. Marcamos reuniões on-line para eu apresentar o andamento da pesquisa para ela e até para ensaiar minha apresentação para a banca”, pontua.
CADA ALUNO NO PRÓPRIO RITMO
A professora Francielle Modesto foi orientadora de Pâmela e de mais dois alunos do curso de Jornalismo e disse que cada orientando escreve no próprio ritmo, principalmente durante este período onde alguns adoeceram ou tiveram parentes que foram contaminados. No entanto, organiza um plano de atividades para que a produção flua.
“Foi possível manter o suporte aos alunos e garantir o distanciamento social necessário para nos protegermos da Covid-19. Para resolver a questão da falta da biblioteca, por exemplo, eu procurei e-books, artigos, dissertações e teses, e enviei por e-mail aos alunos para que eles não ficassem sem o conteúdo necessário para pesquisar”, complementa.
ESFORÇOS
Sobre os métodos que a Ufac tem buscado para que as produções não parassem, a Pró-Reitoria de Graduação, Ednaceli Damasceno, diz que a instituição vem promovendo, desde setembro de 2020, capacitações e formações para docentes e coordenadores de curso por meio da Escola de Formação da Docência Universitária para que as atividades migrassem para o ambiente virtual, tais como reuniões de colegiado e bancas de TCC.
“Desde a suspensão das atividades presenciais, as defesas dos trabalhos de conclusão de curso estão ocorrendo de forma virtual, e nós capacitamos, junto com o Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI), os coordenadores e alguns docentes para usar as plataformas digitais, e aí desde então esta defesa vem sendo autorizada a ocorrer de forma virtual. A Prograd também tem uma instrução normativa de nº 01, de 13 de abril de 2020, em que ela também recomenda que algumas atividades ocorram de forma virtual, e uma destas é o TCC”, diz.
A pró-reitora também ressalta que o ambiente presencial é o mais propício para desenvolver as atividades. Contudo, pontua que o momento é de cautela e de importância do resguardo da saúde dos técnicos-administrativos, docentes e alunos.
“É claro que a gente não vê o momento de retornar às atividades presenciais que é a forma como, historicamente e predominantemente, as instituições públicas de ensino utilizam em termos de modalidade de ensino. Enquanto não for possível, vamos continuar a seguir usando os meios digitais necessários para defender a saúde e a vida de toda a comunidade acadêmica”.
EM OUTROS ESTADOS
A jornalista Ariel Bentes, recém-formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), foi uma das muitas estudantes brasileiras que passaram por este processo de forma totalmente remota. Intitulado “Mídia e violência contra a mulher: a abordagem jornalística do feminicídio no Portal do Holanda” o trabalho da jornalista foi estruturado, apresentado e aprovado pela banca examinadora no final de 2020 de maneira totalmente online.
Ela conta que tinha data marcada para a primeira apresentação do TCC em março de 2020, quando surgiram os primeiros casos de contaminados por Covid-19 em Manaus e a Ufam teve que suspender o semestre. Isto fez com que a jornalista tivesse mais um atraso na escrita do material que deveria ter sido entregue no segundo semestre de 2019, mas foi impossibilitada por questões pessoais.
“TRIPLA PRESSÃO”
A preparação de Ariel se tornou ainda mais difícil por alguns problemas envolvendo tecnologia, pressão psicológica, saúde mental e produtividade em um momento atípico. “O processo de produzir um trabalho de conclusão de curso já é muito complicado, já existe uma pressão no meio disso e para mim houve ainda mais pois tinha tentado fazer essa entrega em 2019, não consegui finalizar e estava fazendo essa segunda tentativa em 2020. Me sentia com uma tripla pressão”.
Para se preparar da forma como gostaria, ela pediu demissão do emprego, passou a fazer trabalhos freelancers na área e começou uma rotina de estudos que demandava tempo de pesquisa e inúmeras trocas de mensagens e e-mails com a orientadora Ivânia Vieira.
Apesar do nervosismo, o fato de ter apresentado o TCC de forma online a deixou mais tranquila no sentido de não ter que ficar “cara a cara” com a banca. Porém, não considerou fácil a experiência de ter que produzir em plena pandemia. “Uns três dias antes de fazer a defesa houve um falecimento na família de um tio meu por infarto fulminante, então fiquei bem abalada, mas fui bem instruída pela minha orientadora de como fazê-la online”.
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