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Curso de Jornalismo da Ufac comemora 20 anos

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História do curso é marcada pelo empenho, carinho e dedicação dos professores e alunos

Por Pâmela Celina e Marcus V. Almeida

O curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre (Ufac) comemora 20 anos em 2021. A pandemia modificou a maneira de se festejar datas especiais, mas relembrar a história e a trajetória do curso é essencial para conhecer as conquistas que ele alcançou. Os laboratórios, equipamentos, premiações e eventos são somente alguns dos elementos que fazem parte da rotina dos estudantes de comunicação da Ufac. 

A ideia de criar e trazer o curso para a instituição foi do professor Jacó Piccoli. Fundado em 2001, ele foi o primeiro curso do Acre voltado para a área de Comunicação. Em 2013, foi iniciada a reformulação do curso, na qual o nome e a grade curricular são mudados. O curso deixa de ser Bacharelado em Comunicação Social e passa a se chamar Bacharelado em Jornalismo. Em 2015, ingressa a primeira turma da nova grade.

A professora mais antiga do curso, Juliana Lofêgo, tem muita história para relembrar. “Realmente eu fui a primeira professora contratada do curso, só que ele começou em 2001 e eu só fui contratada em 2002”. Lofêgo conta que outra professora também foi contratada no mesmo concurso, a Mara Vidal, mas ela retornou para sua terra natal. 

A vivência da professora no curso acompanha todas as transformações e evoluções que ele passou. O upgrade dos laboratórios, como a professora chama, é um exemplo de conquista por parte dos alunos, que se manifestaram ao bater panelas na reitoria. Os resultados da manifestação foram a instalação dos atuais laboratórios e a compra de equipamentos melhores, já que os antigos não eram bons.

Com o tempo, Lofêgo se tornou a primeira coordenadora e também viu novos professores sendo contratados, já que no começo eram de outras áreas.  “Era eu e mais uma professora, os outros professores eram de Letras e Ciências Sociais e eu fui a segunda coordenadora. Era eu com o secretário numa sala que só tinha um computador e com tudo para fazer. Eu vi os professores chegando, mas no começo eu ficava muito isolada”, relembra a professora.

O curso foi criado do zero e contou com passagens de diversos professores, principalmente da área de Ciências Sociais, que não tinham interesse em permanecer no curso. “Teve muita reclamação de alunos, porque o curso deixava a desejar, os professores não eram adequados à área, faltava livros, faltava equipamentos, essas coisas todas. Então, os primeiros anos foram difíceis, mas a gente ainda sabe que precisa de muita coisa pra melhorar”, conta Lofêgo.

Passadas duas décadas, Lofêgo vê que o curso é estruturado e possui diversas conquistas e prêmios ganhos em congressos de comunicação. Além das premiações, alguns alunos também demonstram interesse em seguir carreira acadêmica. “Todos os alunos que saíram para um mestrado voltam e falam do reconhecimento que eles têm dos professores e dos colegas porque eles fizeram leituras importantes e necessárias”.

A professora enfatiza que além de preparar os alunos para o mercado de trabalho, os professores buscam também auxiliar no desenvolvimento do pensamento crítico. Saberem olhar as coisas e identificarem o tipo de produto. Entenderem que os processos de comunicação estão além dos meios, como eles são pensados e o tipo de poder que atravessam eles. Os alunos aprendem a refletir sobre como eles mesmos estão fazendo as coisas.

O perfil de aluno que ingressa no curso também mudou. Lofêgo descreve que hoje os novos ingressantes têm interesse genuíno no Jornalismo. “Hoje em dia os alunos têm mais foco do que é o jornalismo, do que eles querem. Antes vinham muitos só porque era a noite ou queriam fazer outras coisas, acho que isso mudou com relação aos alunos. Os alunos têm chegado mais novos, anteriormente tinha pessoas que já estavam no mercado de trabalho e queriam um diploma”.

Além dos novos tipos de alunos, algo que é sempre enfatizado pela professora é a importância e o crescimento dos laboratórios do curso, assim como o auxílio que os técnicos oferecem aos alunos. “Os laboratórios cresceram muito, os nossos técnicos foram um avanço, porque no começo a gente tinha laboratório, mas não tinha técnico. Então eles ajudam no processo de formação e são essenciais”, conta.

Os professores possuem uma boa relação e o ambiente entre eles é de aprendizado, Lofêgo descreve que eles conseguem avançar como um conjunto. Segundo a professora, as atividades de extensão como a Semana Acadêmica de Comunicação (Seacom), que é realizada todos os anos, contam com a participação de diversos alunos. “Eu acho que os saraus foram muito interessantes também. A gente teve uma cena cultural, musical e autoral forte nos saraus das Seacoms, muita banda boa, muito som legal. Os alunos também fizeram parte dessa cena na cidade”

O ensino de maneira remota é uma realidade no ano de 2021. No aniversário de 20 anos do curso, as aulas acontecem por meio de computadores ou celulares, pois com a pandemia da Covid-19, doença causada pelo coronavírus Sars-Cov-2, o distanciamento social é uma medida de proteção básica contra a doença.

A forma de ensino no pós-pandemia também é pensado pela professora.  “O presencial é essencial, o olho no olho, a conversa, tem outra dinâmica. Mas eu acho que para o futuro o ensino vai ser híbrido. Temos que conversar, ver o que deu certo, a gente vai ter que sentar depois da pandemia para ver o que vai permanecer. Eu acho que os alunos são os principais nessa discussão”, comenta Lofêgo.

A professora conta que, além de tudo o que já foi dito, uma outra mudança positiva com as novas turmas é a inclusão dos alunos. Questões como raça e classe social tornam o curso mais rico, mais plural. 

“Eu acho que é uma marca do nosso curso também, esse acolhimento das pessoas . Da forma como ela vier, ela é muito bem vinda. Independente de qualquer questão, seja religiosa, de classe, gênero, condição, orientação… Então, eu acho que o nosso curso tem essa questão do respeito muito forte”, finaliza a professora.

Valor do aprendizado

Há 14 anos no jornalismo acreano, Chrisna Lima foi a primeira mulher a se formar no curso de Jornalismo da Ufac. Editora e apresentadora na TV Gazeta, ela conta que passou por diversos setores dentro do telejornalismo, desde a produção de uma pauta até os atuais cargos que desempenha. “Quando olho para trás vejo o valor do aprendizado que me levou a estar onde estou agora”, conta a apresentadora. 

Entrando na Ufac em 2002 e se formando em 2007, Chrisna relembra das limitações que o curso tinha e como os estágios supervisionados serviram para aprender sobre a rotina de um jornalista em uma redação. “Como o curso de jornalismo era novo dentro da Ufac então engatinhamos em muitas atividades. Os laboratórios eram bem limitados e eventos com foco no jornalismo também. Aprendemos bastante em nossos estágios supervisionados. Foi justamente aí que começamos a ver o dia a dia e a realidade de um jornalista dentro de uma redação. Podemos perceber que muitas coisas eram bem diferentes da teoria dentro da sala de aula para a prática na rua no dia a dia”.

Vivência e coordenação

A professora Aleta Dreves é a atual vice-coordenadora do curso. Atualmente, ela divide a tarefa de cuidar da coordenação em parceria com a professora Luci Teston. Aleta foi efetivada em 2006 e conta que sempre quis ser professora e que dar aulas na Ufac ajudou no amadurecimento profissional dela. 

A possibilidade de realizar um evento regional na Ufac, trouxe mudanças positivas para o curso.  O Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte (Intercom Norte) de 2010 foi um marco para a história da professora Aleta no curso. Além de ser uma realização pessoal por conseguir colocar o curso de Jornalismo da Ufac no cenário nacional, o Intercom Norte trouxe mais dinamismo para ele.

Outro marco para a vivência de Aleta como professora de Jornalismo foi presenciar a formação dos primeiros alunos do curso e ver a transformação da imprensa acreana, o antes e depois de todas as turmas formadas. “Obviamente que a gente não está desmerecendo o trabalho de ninguém, muito menos de todos os jornalistas que são de tempo de carreira, mas houve uma mudança significativa de pensamento”.

“De volta ao lar”

Os alunos do curso têm diferentes trajetórias, seja atuando no rádio, na televisão, em sites de notícias e até mesmo se tornando professores universitários. O professor Aquinei Timóteo é um exemplo de aluno que retorna ao curso como professor. Ele conta que entrou como aluno em 2003, se formou em 2007 e desde muito jovem queria ser professor. “Não sabia como seria ou de que forma seria, só sabia que queria ser professor. Trabalhei em jornal impresso e em assessoria de comunicação, porém minha inclinação sempre foi para a docência”.

Após se formar em 2007, Aquinei fez especialização com o objetivo de se qualificar para quando surgisse a oportunidade de concorrer a um concurso. “O certame para professor do curso de Jornalismo da Ufac ocorreu em 2008. Felizmente passei em todas as etapas. Um ano depois de formado, eu voltava na condição de professor. Curiosamente, eu orientei e dei aulas para alguns colegas da minha turma. Foi uma situação peculiar”, relembra Aquinei.

Complexificar o jornalismo possibilita a abertura do olhar

A vivência acadêmica como aluno possibilitou experiências marcantes para Aquinei que pôde trabalhar, na disciplina de Jornal Laboratório, o tipo de jornalismo que atraía e chamava a atenção dele. “Fiz dois perfis. O primeiro sobre o senhor Domingues, que vivia no Lar dos Vicentinos. O segundo, sobre a prostituta Vanessa. Nesses dois textos pude abandonar um pouco das amarras e do estilo sacralizado que determinam nossas práticas e direcionar a minha escrita para outra dimensão, uma dimensão que possibilita a compreensão das personagens retratadas, dos seus temores e de suas aflições”.

Como professor, Aquinei conta que foi uma alegria ministrar a disciplina de Jornalismo Literário. Para o professor, ao falar de Jornalismo nunca se deve esquecer que a prática da área vem atravessada por fatores sociais, culturais, econômicos e políticos. Dessa forma, não é possível falar em “jornalismo”, no singular, mas em “jornalismos”, no plural.

“Compreendo que possibilitar ao aluno o entendimento e o acesso a diferentes formatos e práticas jornalísticas, abre um leque para assimilar a realidade a partir das suas problemáticas, saberes e circulação de conhecimentos. Complexificar o jornalismo possibilita a abertura do olhar para compreender as problemáticas que atravessam o social”, afirma o professor.

A transição de aluno para professor foi rápida. Aquinei conta que no dia que assumiu como docente, a Aleta (que na época era coordenadora do curso) estava na porta esperando para recepcionar ele e disse: “ Tu tem duas DPLE’S. Começa na próxima semana”. 

Além destas disciplinas, que são ofertadas no período das férias de fim de ano, no primeiro semestre como professor da Ufac deu aula em cinco disciplinas: três em Rio Branco e duas em Cruzeiro do Sul (que tinha o curso de Jornalismo na época). 

“É muito bom trabalhar com os meus antigos professores. Acredito que a forma particular como cada um observa a prática, complementa o pensamento sobre o campo do Jornalismo no Acre”, finaliza o professor.

Novas gerações

Com a mudança no perfil de alunos que ingressam no curso, começam a aparecer pessoas que têm interesse na área. Jornalismo literário, investigativo, cultural, assessoria de imprensa, radiojornalismo, telejornalismo e jornalismo online são somente alguns segmentos que um futuro jornalista pode seguir. 

A aluna do quinto período, Bruna Giovanna, disse que um dos motivos de ter escolhido cursar jornalismo foi a possibilidade de poder se comunicar por meio de diferentes canais. “[…] A comunicação sempre me despertou muito interesse. E após a graduação, pretendo seguir os estudos na área”.

Já o aluno do terceiro período, Samuel Cruz, tem interesse por investigação criminal e até chegou a cursar Farmácia em outra instituição. Contudo, como ele não tem afinidade com a área, decidiu trancar o curso e migrar para o Jornalismo. “ A minha ideia é que eu poderia ser um jornalista criminal, investigativo que escrevesse reportagem e tudo mais.[…] Sempre fui apaixonado por jornalismo. […] Quando eu entrei na faculdade, o ar era diferente, como se eu tivesse me encontrado e me fez ficar 100% apaixonado por jornalismo”.

O exercício e formação jornalística envolve a associação da teoria com a prática. Os alunos ingressantes e os que já estão há algum tempo no curso reconhecem a importância que ele tem para a prática e o desenvolvimento profissional.

“A formação é imprescindível para que nos tornemos jornalistas éticos e profissionais, pois tudo que aprendemos na academia também colocamos em prática com produções textuais, podcasts, vídeos, diagramações e outros. Então quando eu chego no estágio, além da teoria eu também já presenciei a prática no curso”, afirma Bruna. 

Para Samuel, o curso é fundamental para o seu desenvolvimento profissional. Ele conta que tinha um programa de TV, em uma pequena emissora da igreja que e frequenta, que ele desenvolvia com um amigo. “Depois que eu fiz jornalismo, muita coisa que eu vi em aula, que eu vi no sistema emergencial de ensino, eu percebi que eu fazia errado quando estava numa TV. E quando eu passei a trabalhar em um site de notícias, essas mudanças foram ficando cada vez mais aparentes e eu comecei a me desenvolver mais”.

A pandemia não afetou somente a rotina dos professores, os estudantes também lidam com a “migração” para os trabalhos e estudos no mundo digital. A interatividade entre aluno e professor não é a mesma da que seria no ensino presencial. 

“O sistema EAD, o Sistema Emergencial de Ensino, eles não possibilitam a livre troca de conhecimento entre aluno e professor. Claro que a gente tem o e-mail do professor, às vezes alguns até passam o whatsapp para a gente conversar. Mas não é a mesma coisa que o presencial, não é a mesma coisa que a gente estar ali escrevendo no papel, mostrando para o professor. Não é a mesma coisa que visitar o laboratório de jornalismo. Então tudo isso interfere demais na nossa aprendizagem”, desabafa Samuel.

Além do distanciamento social e das aulas retornarem no formato online, outras preocupações válidas envolvem a questão da saúde mental e o receio de contrair a Covid-19. “Eu vivia na Ufac por conta das aulas e do estágio. Nesse cenário de isolamento social e sem as aulas, comecei a sentir um forte desânimo por não saber quando voltaríamos a estudar e se eu teria alguma queda no rendimento por ter perdido o ritmo da minha rotina. Além da saúde mental, a pandemia também afetou a minha produção, pois o desânimo e o medo de contrair a Covid-19 era muito grande”, finaliza Bruna.

Algumas premiações

O curso de Jornalismo da Ufac produz muitos produtos nas disciplinas ministradas durante os oito semestres de formação dos alunos. De radionovela a revistas impressas, os acadêmicos do curso se dedicam a produzir trabalhos de qualidade que podem ser inscritos em diversos eventos e premiações da grande área de Comunicação.

O xodó de todo o curso é o jornal A Catraia, produto elaborado para as disciplinas de Jornal Laboratorial I e II, já foi produzido no formato de jornal impresso, revista e site. Os alunos do quinto e sexto período são responsáveis por produzir os conteúdos.

Primeira e segunda edição da Revista A Catraia premiada no Expocom Norte em 2020

No ano de 2020, o curso inscreveu oito trabalhos na Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom) do Intercom Norte que, devido a pandemia, integrou o I  Encontro Inter-Regiões Intercom e ganhou prêmios em sete categorias.

A conquista desses prêmios permitiu que o curso competisse na modalidade nacional do evento. Com dois prêmios ganhos no Expocom Nacional, o curso finalizou o ano de 2020 com nove prêmios no total. Em 2021, dois trabalhos estão inscritos na segunda edição Encontro Inter-Regiões Intercom. 

O objetivo do curso é continuar incentivando a produção acadêmica e a participação dos alunos em eventos que auxiliem no desenvolvimento e integração deles com estudantes e professores de outras instituições.

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Um café bem forte

Pesquisadores da Ufac e Embrapa investigam a irrigação para aumentar a produtividade e sustentabilidade

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Por Francisca Samiele e Amanda Silva

Quem não aprecia um cafezinho bem quentinho, seja com leite, sem leite, puro ou adoçado? Com o aumento do consumo, e consequentemente da produção, o café despertou o interesse de quem busca alternativas viáveis na agricultura da região amazônica. O Acre é o segundo maior produtor de café da Região Norte, ficando atrás apenas de Rondônia.

No Estado, em 2021 foi produzido pouco mais de duas toneladas do café Canéfora, em 2024, esse número subiu para mais de três toneladas, e até julho de 2025 houve aumento significativo, chegando a quase cinco toneladas, como mostra a tabela a seguir. E até o fim do ano, o IBGE estima um crescimento de 60% em relação à safra anterior. 

O nome, café Canéfora vem do termo Coffea canephora, que inclui os grãos “Conilon” e “Robusta”. Suas principais características incluem alta resistência, produtividade e adaptação ao clima quente e úmido da Amazônia.

Segundo o pesquisador Celso Luís Bergo, da Embrapa Acre, “O cafeeiro canéfora veio da África e lá já estava adaptado a condições como baixa altitude e alta temperatura. Aqui na Amazônia, também é baixa altitude e alta temperatura, então ele se adaptou bem e é altamente produtivo”

Tubulação principal para distribuição da água em sistema de irrigação por gotejamento do café Canéfora/Cedida

A Universidade Federal do Acre (Ufac) é parceira da Embrapa em um estudo que investiga o uso da irrigação no cultivo do café Canéfora. A proposta do estudo é racionalizar o uso da água, ou seja, gastar menos e, ao mesmo tempo, aumentar a produtividade da lavoura.

O foco do estudo está no uso mais eficiente da água, com o objetivo de aumentar a produtividade e melhorar a qualidade do café, reduzindo perdas e tornando o sistema mais sustentável. Essa prática beneficia tanto os produtores, que têm maior rendimento, quanto os consumidores, pois o uso correto da irrigação reflete em aumento de produtividade, qualidade de bebida e lucratividade, conforme documento disponibilizado pela Embrapa.

A pesquisa “Manejo de irrigação por gotejamento para cultivo de clones de café Canéfora nos estados do Acre e Rondônia” conta com especialistas como os pesquisadores Celso Luís Bergo, Leonardo Paula de Souza e Aureny Maria Pereira Lunz, além de estudantes de graduação e pós-graduação em Agronomia, integrando ensino, pesquisa e extensão.

O professor Leonardo Souza comenta que a ideia do estudo surgiu ao “identificar que o manejo da água nos sistemas de irrigação estava sendo realizados com base na intuição do produtor e total ausência de parâmetros técnicos”, que poderiam apoiar o uso mais eficaz da água em determinadas fases da cultura do café.

Os pesquisadores utilizaram métodos como medição da tensão da água no solo (quando irrigar o café) e supressões de irrigação (por quanto tempo a irrigação é interrompida). Estes testes foram feitos em área experimental da Embrapa Acre e mostraram resultados consistentes.

Cafezal saudável

Os resultados se destinam a melhorar a maturação e a qualidade do café, favorecendo o crescimento da vegetação e a produtividade do grão. “Plantas irrigadas apresentaram um melhor desenvolvimento vegetativo quando comparadas às plantas não irrigadas”, afirma o professor Leonardo Souza. 

O engenheiro agrônomo Romário Monteiro, que trabalha há mais de três anos com esse tipo de café, comenta que o manejo adequado da irrigação por gotejamento ajuda as plantas a crescerem de forma parecida, ao mesmo tempo, com saúde e equilíbrio. 

“Pode garantir uniformidade no desenvolvimento da lavoura, favorece a florada e o enchimento dos grãos, e aumenta significativamente a produtividade, especialmente nas regiões com chuvas irregulares”, afirma. 

Visão de quem planta 

O produtor Matheus Guimarães da Rocha, de Capixaba, cultiva Canéfora há cerca de dois anos e afirma que os resultados são promissores. Esta é sua primeira colheita, que após a secagem e beneficiamento dos grãos será vendida. 

Ele acredita que o café tem potencial para crescer ainda mais na região e espera que, com isso, os produtores possam ter uma lucratividade maior. “O produto está em crescimento e ele [o café] vai melhorar o preço”, enfatiza. 

Benefícios e resultados

Os resultados da pesquisa foram importantes, segundo Leonardo Souza, para permitir tomar decisões de quando e quanto irrigar. Ele também destaca a importância para a economia local. “Está comprovado que a irrigação no café Canéfora proporciona aumento de produtividade e nesse sentido, surge a oportunidade de empresas especializadas em irrigação se instalarem na região, gerando emprego e venda de equipamentos”.

Fase de florada do café Canéfora/ Cedida

Todo esse trabalho contribui diretamente para a formação de novos conhecimentos e profissionais, uma vez que a parceria entre Embrapa e Ufac envolve estudantes em formação. Celso Bergo destaca uma das maiores contribuições do projeto: “formar pessoas preparadas para aplicar o conhecimento em benefício da sociedade”.

Além disso, o projeto pode ajudar a atrair novos investimentos o Acre contribuindo com economia local, e Leonardo Souza confirma isto, “Está comprovado que a irrigação no café Canéfora proporciona aumento de produtividade e nesse sentido, surge a oportunidade de empresas especializadas em irrigação se instalarem na região, gerando emprego e venda de equipamentos de irrigação”.

Os pesquisadores darão continuidade no estudo com um novo projeto aprovado e elaborado em parceria da Ufac junto ao Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento do Café – PNP&D/Café, coordenado pela Embrapa/Consórcio Pesquisa Café.

Assista o vídeo da Embrapa sobre o assunto:

Irrigação dos cultivos de café Robustas Amazônicos

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Cresce o número de acidentes e lesões nas ruas de Rio Branco no 1º Trimestre de 2025

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Número de mortes cai 41%, mas ocorrências aumentam e imprudência ainda preocupa autoridades e população

Por Ana Flávia Santos, Gabriela Fintelman, Luísy Xavier, Patrícia Pinheiro e Pedro Amorim

No primeiro trimestre de 2025, Rio Branco registrou 676 acidentes de trânsito, com um aumento de 3% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram contabilizadas 656 ocorrências. Os dados são da Coordenadoria de Engenharia e Estatística de Trânsito do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/AC) e apontam para um cenário ainda preocupante na capital acreana.

Desse total, 261 resultaram em vítimas não fatais, com 310 pessoas lesionadas. Por outro lado, o número de vítimas fatais apresentou uma queda significativa: foram sete vítimas fatais de janeiro a março deste ano, contra 12 no mesmo período do ano passado — uma redução de aproximadamente 41,7%.

Embora o recuo nas mortes seja um sinal positivo, o cenário ainda está longe de ser considerado seguro nas vias da capital. Mesmo quando os acidentes não resultam em fatalidades, os efeitos são visíveis, como os engarrafamentos, pessoas feridas, danos materiais e prejuízos emocionais.

Perfil de vítimas no trânsito

Segundo dados do Detran divulgados em 2016 e que permanecem como a base mais recente disponível —, homens representavam 69,6% das vítimas de acidentes em Rio Branco, enquanto as mulheres correspondiam a 30,16%. A faixa etária mais atingida era de 18 a 29 anos, com predominância de condutores (74,11%), seguidos por passageiros (17,46%) e pedestres (8,42%).

As motocicletas estavam envolvidas em 55,09% dos acidentes com vítimas, enquanto os automóveis lideravam os acidentes sem vítimas, com 64,45%.
A maioria dos casos envolvia colisões (79,9%) e atropelamentos (9,75%), com maior incidência nos horários de pico: entre 5h30 e 7h, 11h e 12h, e 18h e 19h.

Em uma entrevista para o jornal Folha Nobre em janeiro deste ano, a coordenadora de Educação do Detran, Cléia Machado, destacou que o grupo mais vulnerável no trânsito são primeiramente os pedestres e em segundo os ciclistas. Embora os dados mais recentes disponíveis sejam de 2016, não há evidências de mudanças significativas no perfil das vítimas.

“Os pedestres e ciclistas são os mais vulneráveis no trânsito, por isso precisam ter atitudes que protejam a vida. Aqui no Parque Ipê, por exemplo, os pedestres devem utilizar as vias para pedestres, assim como o ciclista deve transitar na ciclovia e sempre utilizar os equipamentos de segurança”, afirma. 

Imprudência lidera causas de acidentes na capital

De acordo com o Detran, cerca de 90% dos acidentes registrados na capital são causados por imprudência no trânsito. Além disso, em âmbito nacional, estudos realizados pelo Ministério dos Transportes indicam que a imprudência dos motoristas é responsável por 53,7% deles no Brasil.

Entre os comportamentos de risco mais comuns estão excesso de velocidade, avanço de sinal vermelho e ultrapassagens perigosas. O advogado de trânsito Sandro Oliveira alerta que o problema não se resume à falta de conhecimento: “A falta de educação está diretamente ligada aos acidentes. Muitos motoristas agem como se estivessem certos, mesmo quando claramente estão errados”, comenta.

Outro fator preocupante é o crescimento da frota de veículos em Rio Branco. Entre 2020 e 2024, o número de automóveis registrados saltou de 186.723 para 217.962 — um aumento de 16,75%.  A expansão, sem melhorias proporcionais na infraestrutura, contribui para congestionamentos, cruzamentos perigosos e aumento nos índices de acidentes.

As vias mais perigosas da capital

Segundo o Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran), os cruzamentos são os locais com maior incidência de acidentes, principalmente nos horários de pico e em vias de grande fluxo. Entre janeiro e março de 2025, as dez vias com maior número de ocorrências somaram 148. A Avenida Ceará lidera o ranking com 30 ocorrências no trimestre. 

Além de fatores comportamentais, a ausência de sinalização adequada em trechos movimentados da capital também contribui para o risco nas vias. Para o advogado, o papel do poder público é fundamental nesse cenário.

“Cabe ao poder público garantir a sinalização horizontal e vertical conforme determina o artigo 80 do CTB [Código de Trânsito Brasileiro]. Sem isso, a responsabilidade pela segurança nas vias fica comprometida”, pontua.

Vozes das ruas: o olhar de quem vive o trânsito

Para além dos dados e estatísticas, as experiências cotidianas de quem enfrenta o trânsito todos os dias oferecem uma visão concreta e urgente da realidade. “Os principais desafios são nas ruas, com muitos motoqueiros imprudentes”, relata Jeferson Bessa, motorista de aplicativo.

Gráfico elaborado pela equipe de reportagem com base em dados do Detran/AC

Ele também aponta a precariedade da malha viária como um agravante: “Há várias ruas em Rio Branco que precisam de atenção do governo porque estão com muitos buracos, alguns sendo quase impossíveis de passar de moto, principalmente quando chove”, enfatiza. 

Essa dificuldade também foi vivida por João Gustavo Rocha, vendedor externo da empresa Acrepan, que teve prejuízo após cair em um buraco encoberto pela água da chuva. “Era uma rua bem esburacada e todos os buracos estavam com água. Não dava pra ver o quão fundo eles eram. Acabei batendo em um buraco no carro da empresa e quebrou um pouco do para-choque. A empresa ficou no prejuízo” relata.

Ele também avalia que a desinformação sobre regras e deveres no trânsito ainda é um entrave. “A maioria dos motoristas não está bem-informada. Falta conscientização da população, e mais investimento do governo em educação para o trânsito. Muitas autoescolas também não oferecem uma formação de qualidade”, conclui.

Como prevenir acidentes e contribuir para um trânsito mais seguro

Diante dos números alarmantes e dos relatos de quem vivencia diariamente os desafios nas vias de Rio Branco, a prevenção se torna indispensável. Confira algumas orientações que podem ajudar a salvar vidas durante a rotina de trânsito.

  • Respeite os limites de velocidade e a sinalização;
  • Nunca dirija sob efeito de álcool ou outras substâncias;
  • Use sempre o cinto de segurança e capacete, no caso de motociclistas;
  • Evite o uso do celular ao volante;
  • Mantenha a manutenção do veículo em dia, especialmente pneus e freios;
  • Esteja atento às condições da pista, principalmente em dias de chuva.

Além da responsabilidade individual, o papel da população também é fundamental na fiscalização cidadã. Irregularidades no trânsito, buracos em vias públicas e comportamentos de risco podem – e devem – ser denunciados.

Canais de Denúncia e Contato:

  • RBTrans (Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito): (68) 3212-7040
  • Detran/AC: (68) 3229-5500, site: www.detran.ac.gov.br
  • Ouvidoria da Prefeitura de Rio Branco: 0800 647 1311
  • Polícia Militar (em caso de emergência ou flagrante de infração): 190, site: www.pm.ac.gov.br

As orientações seguem recomendações da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), que reforçam a importância da educação, fiscalização e boas práticas para a redução de acidentes. Somente com a união entre poder público, condutores e pedestres será possível transformar Rio Branco em uma cidade mais segura para todos.

Redação

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Empreendedorismo, arte e ativismo: narrativas de resistência de mulheres periféricas no primeiro podcast original A Catraia

Os 3 episódios do programa mergulham nas experiências de mulheres periféricas na capital acreana, explorando como o ativismo, a arte e o empreendedorismo social se entrelaçam como formas concretas de existir e transformar a realidade.

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Produção explora como mulheres de Rio Branco constroem caminhos de autonomia e dignidade, utilizando o empreendedorismo e a arte para resistir à exclusão

Por: Victor Manoel

A realidade social e econômica apresenta desafios únicos em Rio Branco, especialmente para grupos minorizados que enfrentam barreiras estruturais no acesso a direitos básicos, inclusive no mercado formal. Nesse contexto, o empreendedorismo surge não apenas como um meio de subsistência, mas como uma poderosa ferramenta de resistência, emancipação política e busca por autonomia e dignidade. 

É essa força e criatividade que impulsionam o podcast “Trabalhar e Resistir”, projeto do curso de Jornalismo da Ufac, realizado no âmbito do jornal laboratório A Catraia, que busca ouvir essas narrativas de luta e superação. Os 3 episódios do programa mergulham nas experiências de mulheres periféricas na capital acreana, explorando como o ativismo, a arte e o empreendedorismo social se entrelaçam como formas concretas de existir e transformar a realidade.

Uma das vozes do podcast é da Luar Maria, atriz e estudante, que compartilha a dura realidade enfrentada pela população trans no Acre. Ela aponta a falta de seriedade e compreensão por parte de algumas gestões públicas em relação às necessidades dessa população e destaca a precariedade do acesso à saúde e a ligação entre empregabilidade e saúde. Luar ressalta que a luta por direitos e a busca por meios de subsistência andam juntas. Para ela, falta “seriedade no sentido de realmente tocar o que o recorte das secretarias está faltando”, e é preciso acreditar que essas políticas são cruciais para entender e avançar.

O podcast também apresenta Vands, artivista e empreendedora de ilustrações da periferia. Ela vê sua arte não apenas como expressão, mas como uma ferramenta de ativismo e uma forma de gerar renda, conectando seu trabalho a questões de justiça social, ambiental e direitos humanos. Transformar sua arte em empreendimento foi um passo natural, mas cheio de desafios práticos no contexto periférico. Vands define seu “artivismo” como a união da arte com o ativismo e considera “resistência”, pois fala de questões importantes e é criada “em um contexto em que (…) o capitalismo incentiva muito a gente a consumir sem pensar”. 

Para oferecer um panorama mais amplo, o podcast incluiu a perspectiva institucional com Julci Ferreira, analista do Sebrae Acre e gestora de projetos como o Plural, focado em grupos sub-representados e pessoas em situação de vulnerabilidade. Julci explica a abordagem do Sebrae para o empreendedorismo inclusivo, buscando integrar esses grupos e dar a eles “luz e autoridade para se verem como empreendedores”. Ela afirma que “a ideia do Sebrae não é número, não é abrir CNPJ. A ideia do Sebrae é cada vez mais desenvolver ideias de negócio”.

Ouça “Trabalhar e Resistir: Vozes Periféricas do Empreendedorismo no Acre” no Spotify: https://open.spotify.com/show/6un2SKAou6c8OfkehlAv5Q?si=0572cdc289e345c3

Redação

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