Lesões avermelhadas e/ou esbranquiçadas, descamação da pele, coceira e desconforto podem ser alguns dos sintomas de quem possui a psoríase. Uma doença de pele autoimune e não contagiosa. Segundo dados da ONG Psoríase Brasil, a doença acomete mais de 125 milhões de pessoas no mundo todo e, no Brasil, são mais de cinco milhões de portadores. A doença pode afetar o corpo todo, principalmente os joelhos, cotovelos, mãos, pés e o couro cabeludo.
Além da pele, essa doença atinge principalmente a autoestima daqueles que a tem. É o que aponta um estudo recente realizado pelo HSR Helth, onde diz que 62% dos psoriáticos deixam de expor seus corpos em praias e piscinas no verão. Em média, o diagnóstico para a psoríase leva mais de três anos e 29% não tratam a doença.
Para Adriana Mariano, médica reumatologista da Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), a consequência da psoríase não se limita a lesões na pele, dores articulares e inflamações nos olhos. “A consequência pior é a psicológica, porque ela é estigmatizante e diminui muito a qualidade de vida do paciente. Ele sofre preconceito porque a sociedade não entende que essa não é uma doença infecciosa, não transmissível. Pensam que é uma doença fúngica e transmissível, então, o paciente sofre muito preconceito”, ressalta.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (2015/2016), a prevalência no Brasil varia entre 1,10 e 1,50%, com grande variabilidade entre as regiões: 0,92% (Norte) e 1,88% (Sudeste). No entanto, a SBD informa que a psoríase tem controle e não deve ser motivo de preconceito nem impedimento de praticar atividades e vivenciar as situações do dia a dia. “O esclarecimento das dúvidas da população é uma forma de minimizar o preconceito e de valorizar a autoestima dos pacientes”, salienta Claudia Maia, médica dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
JONAS, FORMADO EM RH, 25 ANOS
Fonte: Arquivo pessoal
Desde os 14 anos, o paulista Jonas Machado diz viver com a condição de pele. Logo após o diagnóstico, iniciou o processo de aceitação. Incialmente, sua psoríase era leve e levou cerca de 10 anos para ficar forte, e seu processo de aceitação foi junto a isso, vindo aos poucos. Jonas diz não ter ido atrás de pessoas com a mesma condição, mas depois que criou uma conta no Instagram para mostrar sua vida pôde conhecer muitas pessoas boas que compartilham experiências semelhantes.
Quando o assunto é preconceito, o jovem diz ter sofrido no ônibus e nas aulas de natação, com olhares feios, mas um episódio em especial lhe marcou profundamente. “Foi uma vez que eu fui em uma entrevista de emprego. Sou profissional de RH (Recursos Humanos), era uma entrevista com poucas pessoas. Na sala só tinha eu e a entrevistadora, e a todo momento em que eu ia me apresentar ela olhava mais para os meus braços com lesões da psoríase do que para os meus olhos. E teve uma hora em que eu olhei para os meus braços, passei as mãos e olhei para ela, naquele momento ela ficou constrangida e foi exatamente o que eu queria fazer: eu queria deixá-la constrangida por me deixar constrangido.”
Fonte: Arquivo pessoal
Além do preconceito, Jonas diz que muitas pessoas tentam achar a cura para a psoríase, dando sugestões para ele passar coisas em seu corpo. Mas, mesmo assim, ele busca explicar o que é:uma doença autoimune e que não tem cura, só controle. “As pessoas tentam fazer tudo, sabe? Eu já ouvi coisas terríveis e já fiz coisas terríveis. Já fui atrás de auto imunoterapia, que é pegar seu sangue e aplicar em você mesmo, já apareceram tantas receitas malucas na internet… e a gente, por desespero, vai lá e faz. Então, eu acho que as informações boas devem ser disseminadas, porque informação ruim pula no seu colo e a pessoa desesperada faz”, enfatiza.
ANNE, JORNALISTA, 32 ANOS
Fonte: Arquivo pessoal
Para a jornalista acreana Anne Nascimento, além da autoestima, existe um fator externo que tem somado nas dificuldades dos psoriáticos, o preconceito. “As frustrações vêm com os olhares de nojo, que inevitavelmente sinto, com a soberba em certas atitudes. Mas o processo de aceitação foi muito importante para mim e, hoje, creio que a pessoa que tenha um comportamento destes deve ser repreendida, porque, afinal de contas, nem eu nem ninguém é obrigado a aceitar pessoas falando coisas que nos deixem mal. A minha pele é minha, só minha, e embora diferente, ela cumpre com o papel dela”.
A jornalista explica que sua depressão severa foi mais agravada com a situação de sua pele, tendo em vista que a doença autoimune é intimamente ligada com a saúde mental. Além disso, diz ouvir muitos comentários acerca de sua aparência do passado, de como ela era bonita, e outros destinados às suas feridas na pele. “Nossa pele é nosso cartão de visitas. A minha, infelizmente, não é uma pele saudável ou dita bonita pelo padrão. E por alguma razão as pessoas pensam que podem soltar suas opiniões a torto e a direito sem nem saber que machucam. Hoje, aprendi a devolver as respostas e desenvolvi técnicas para deixar a própria pessoa envergonhada em dizer uma barbaridade dessas. Elas têm de aprender. Eu, por ter a condição, devo ensinar”, explica.
Fonte: Arquivo pessoal
Os primeiros sintomas de Anne apareceram logo após um grande trauma emocional, há cinco anos. Ela escondia ainda mais a pele do que esconde hoje, mas a procura por pessoas que estivessem vivendo o mesmo problema foi extremamente necessária. “Conhecer iguais é de suma importância para conseguir, primeiro, a aceitação. Procurei, para evitar de pôr a cara a tapa mesmo, grupos na internet que falavam sobre o tema. Tenho bons amigos até hoje e, obviamente, aproveitamos estes espaços não apenas para nos conhecer, mas para trocar ‘figurinhas’ sobre o tema. Encontrar iguais salvou minha vida, pois notei que, apesar de diferente da maioria, sempre tem alguém que tem algo semelhante ao que você tem, um problema parecido com o seu.”
Apesar das dificuldades de conviver com uma doença psicossomática, Anne tenta levar tudo em sua vida com bom humor. Hoje, para evitar problemas futuros, busca levar uma vida mais leve e saudável, passou a frequentar terapia e respeitar os seus momentos de tristeza, que podem envolver tanto a psoríase ou não. “A psoríase me ensinou a me respeitar: ela sou eu, ela faz parte de mim. Por mais difícil que seja a vida com psoríase, aceitá-la foi o mais eficaz. Afinal de contas, estaremos sempre juntas, eu e minha pele”, finaliza a jornalista.
CONSEQUÊNCIAS
A reumatologista Adriana Marinho explica que o diagnóstico de psoríase é feito com base nos achados clínicos e exames físicos, que geralmente são placas esbranquiçadas, descamativas, na região extensora do cotovelo, joelho e lesões nas unhas. Mas, algumas vezes, ocorre a psoríase invertida, que acontece na prega do cotovelo, na região da virilha e nádegas. Outro local bastante comum é no couro cabeludo. Tão comum que às vezes pode ser confundido com caspa ou com dermatite seborreica.
Fonte: Revista Saúde/ Reprodução
“Por ser uma doença autoimune, a psoríase pode ocasionar a inflamação nos olhos, o que é de conhecimento de poucas pessoas. Chamamos de uveíte, olhos vermelhos. Além de dores articulares, que inclusive podem levar à obstrução das articulações nos joelhos e quadril, como também deformidades nas mãos e punhos.” A reumatologista ainda complementa que cerca de 30% dos pacientes com psoríase têm alguma dor e não relacionam com a doença de pele, pois às vezes a doença não está tão agressiva e nem acometendo a pele em grande quantidade, mas existe a presença da dor articular que incomoda e limita as atividades diárias do paciente.
A especialista explica que uma inflamação na articulação é possível ser quantificada com exame de sangue, para saber se está muito inflamada ou não. Mas quando se trata da questão psicológica, o médico nem sempre consegue quantificar e às vezes isso passa batido para quem é mais objetivo, não pensando e nem avaliando esse aspecto.
“Geralmente a autoestima do paciente é muito comprometida por causa da doença de pele. Ele não tem coragem de usar um short quando acontece a psoríase na pele ou de ir para um banho, pois as pessoas ficam olhando e julgando. Por isso, existe até um questionário para sabermos quantas vezes o paciente deixou de sair por conta das lesões de pele, quantas vezes ele deixou de fazer atividades com os familiares e amigos por conta das lesões e o que isso influencia na vida.” Para Adriana Marinho, médica reumatologista da Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), esse comprometimento emocional nem sempre é percebido pelos profissionais de saúde, que às vezes não questionam, não avaliam, nem quantificam.
Um momento significativo para todas as meninas é o dia do seu primeiro período menstrual. É o marco da mudança de fases, da infância para adolescência, e, por isso, se torna uma memória que permanece na mente por muitos e muitos anos. Naturalmente, não é algo fácil, sair da inocência infantil para a intensidade dos anos de adolescência, com muitos questionamentos e hormônios à flor da pele.
Mas para algumas mulheres, esse é o início de uma vida com dores e sintomas que afetam suas vidas negativamente. Esse é o caso de Vanderleia Dias e Tácita Muniz, ambas diagnosticadas com endometriose e que começaram a sentir os sintomas, principalmente as dores de cólicas intensas, desde os primeiros ciclos menstruais.
“Além de fluxo intenso, os primeiros dias eram de muita dor, inchaço, enjoo, dor nas pernas e, mais nova, muitos desmaios por conta da queda de pressão”, relata Tácita Muniz.
Jornalista acreana Tácita Muniz, integrante da equipe da Agência de Notícias do Acre. Foto: Wendell Silva
Nascida em Cruzeiro do Sul, Tácita Muniz é jornalista e foi diagnosticada com endometriose aos 24 anos, após seus sintomas ficarem mais graves:
“Chegou ao ponto de ir várias vezes ao pronto atendimento e tomar Tramal na veia pra tentar aliviar. Isso começou a afetar diretamente meu trabalho e minha vida pessoal”, conta.
O caminho até o diagnóstico foi longo e teve início quando a jornalista fazia uma reportagem sobre mulheres que sonhavam em engravidar. Ela identificou seus sintomas com os de uma das mulheres, que tinha o diagnóstico de endometriose.
A partir daí, Tácita enfrentou um desafio comum entre as mulheres que compartilham a condição, o de conseguir o diagnóstico.
“Fiz todo exame que você imaginar e não dava nada. Endoscopia, de sangue, raio-X, e ainda ouvia algumas vezes que era muito estranho eu relatar uma dor tão forte e não aparecer nada nos exames”, relembra.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endometriose, ainda é um desafio o diagnóstico da doença, estudos revelam que há uma grande demora entre o início dos sintomas e o resultado oficial.
Tradicionalmente, em textos ou livros, é considerado que a investigação é feita através de cirurgia e biópsia para o estudo do caso. Porém, atualmente, com o histórico ginecológico e análise dos sintomas é possível saber se a pessoa possui a doença ou não. Exames de imagem, como ressonância magnética, também podem auxiliar nesse processo.
Um ambulatório especializado em endometriose foi inaugurado em abril de 2025, na Fundação Hospitalar Governador Flaviano Melo (Fundhacre). Foto: Gleison Luz/Fundhacre
Afinal, o que é endometriose?
No filme “Endometriose, a minha dor não é normal”, da diretora Marcia Paraiso, os médicos Claudio Crispi e Kárin Rossi explicam que é necessário entender a endometriose como uma doença inflamatória. Ela ocorre devido ao crescimento do tecido do endométrio – camada interna da cavidade uterina – crescer fora do útero, e afetar outros órgãos como ovários, tubas, intestino, bexiga, rins e entre outros.
“Fora do seu habitat natural, ele é um corpo estranho, e o seu organismo então passa a brigar com ele, ele não pode estar ali. E esta briga dos nossos anticorpos com esse corpo estranho passa a dar uma reação inflamatória”, explica Claudio Crispi.
Segundo o Ministério da Saúde, ainda não são compreendidas as causas da endometriose, mas as hipóteses levantam fatores genéticos, hormonais e imunológicos. Já os principais sintomas da doença são cólicas menstruais intensas, bem como dor crônica na pelve, dores durante a relação sexual e problemas intestinais e urinários.
O tratamento é feito de acordo com fatores como a gravidade de sintomas, idade, extensão e localização da doença e entre outros. Dentre as opções estão o uso de anticoncepcionais, medicamentos para alívio dos sintomas, implante do DIU hormonal e, em alguns casos, procedimento cirúrgico. Mesmo com a perspectiva de melhora, o tratamento também é um processo desafiador.
“Tive muitos efeitos colaterais. Desde o aumento de peso, miopia pelo uso excessivo do hormônio, perda de cálcio e eu fiquei muito inchada. Muito mesmo”, conta Tácita.
Além do seu acompanhamento com o médico ginecologista, ela defende que é um tratamento que necessita ser feito com uma equipe multidisciplinar, como psicólogos e nutricionistas.
Endometriose atinge diversas mulheres brasileiras. Foto: Reprodução/Internet
“Eu passei por muitas fases. O sobrepeso, e eu ter que me reconhecer em outro corpo, por questões estéticas e também funcionais. É uma doença que só quem convive sabe. Então, é difícil você explicar o motivo de não estar bem. E os acompanhamentos médicos, dietas, são cansativos”, completa.
O suporte no tratamento
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endometriose, 1 em cada 10 mulheres sofrem com endometriose no Brasil. Os números do Sistema Único de Saúde (SUS) revelam que de 2022 para 2024, houve um aumento de 76,24% no número de atendimentos de atenção primária relacionados ao diagnóstico de endometriose, contabilizando 145.744 atendimentos em 2024. Isso mostra um avanço recente no diagnóstico da doença, principalmente através da rede pública.
Vanderleia Dias, de 32 anos, relata como começou a ter sintomas muito cedo, com um fluxo menstrual muito intenso e as dores de cólicas intensas. Apesar dos anos com os sintomas, ela só veio ter o diagnóstico dois anos atrás.
“Como a maioria dos brasileiros, a gente vai seguindo a vida de acordo com o fluxo da correria da vida, vai levando. Quando sente aquilo no mês, diz ‘eu vou me consultar’, vou atrás, mas isso acaba nunca acontecendo”, comenta.
Mesmo com o diagnóstico, Vanderleia ainda não iniciou o tratamento, principalmente pelo valor elevado, em torno de 5 a 6 mil reais por ano.
Um dos principais incentivadores da criação do ambulatório, o secretário de Saúde, Pedro Pascoal, reforçou a importância desse avanço. Foto: Gleison Luz/Fundhacre
No Acre, um ambulatório especializado em endometriose foi inaugurado em abril de 2025, na Fundação Hospitalar Governador Flaviano Melo (Fundhacre). A iniciativa partiu da médica especializada Fernanda Bardi, que também coordena o ambulatório, frente às queixas observadas pelas pacientes diagnosticadas com a doença. A proposta recebeu prontamente apoio da gestão do hospital e da Secretaria de Saúde do Estado (Sesacre), e em poucas semanas o projeto foi efetivado.
Conforme orientações da Sesacre, para ter acesso ao serviço é necessário o encaminhamento obtido em uma unidade básica de saúde (UBS), que avalia os sinais e sintomas da endometriose e direciona a paciente para o tratamento na Fundação Hospitalar. Nos 5 meses de funcionamento desde a inauguração, mais de 100 pessoas foram atendidas pelo serviço.
“Esse número mostra a importância desse espaço, que garante diagnóstico e tratamento adequado para mulheres que, muitas vezes, sofrem em silêncio com dores intensas. Nosso compromisso é ampliar cada vez mais esse cuidado, oferecendo acolhimento e qualidade de vida às pacientes”, declara Soron Steiner, presidente da Fundhacre.
Sobre a implantação do ambulatório, Vanderleia e Tácita concordam: é um grande avanço.
“Eu achei fundamental. Além de toda a dificuldade, é um tratamento bem caro, porque os exames, medicamentos, enfim, tudo, é bem caro. Além disso, amplia o debate sobre a doença e faz com que mais pessoas conheçam e consigam identificar os sintomas”, afirma a jornalista.
O envelhecimento da população já é uma realidade que impacta a rotina das famílias e a estrutura social brasileira. No Acre, segundo dados do Censo Demográfico 2022 do IBGE, entre 2010 e 2022 o número de pessoas com 65 anos ou mais no estado cresceu 64,9%, passando de 31.706 (4,3% da população) para 52.297 idosos, que hoje representam 6,3% dos acreanos.
No mesmo período, a proporção de crianças até 14 anos recuou de 33,7% para 26,6%,com isso, o índice de envelhecimento, que mede o número de idosos para cada 100 crianças, chegou a 23,8 em 2022, quase o dobro do registrado em 2010.
Esse crescimento no número de idosos, embora menos acelerado que em outras regiões do país, indica um aumento na demanda por cuidados e uma redução no número de jovens disponíveis para desempenhar essa função, o que amplia a sobrecarga de quem exerce essa atividade.
Nesse cenário, está a história de Juliette Silva, cuidadora formada em um curso de três meses, que deixou Rio Branco há dois anos e se mudou para Goiânia em busca de melhores condições de trabalho.
“A minha rotina diária como cuidadora hoje é uma carga horária 12/36 diurno, trabalho autônomo para uma agência de cuidadores aqui em Goiânia. Vim em busca de ganhar um valor melhor, pois em Rio Branco a profissão é mais desvalorizada”, afirma.
Suas atividades diárias incluem administrar medicações via oral, dar banho, cuidar da higiene, trocar fraldas, fornecer alimentação e garantir o banho de sol. Mesmo com formação técnica, ela avalia que “mudaria nossa vida a valorização do nosso trabalho. Que pudéssemos ter nossos direitos trabalhistas reconhecidos como profissionais que somos. Infelizmente, nossa profissão é registrada em carteira como uma função doméstica. Isso é muito injusto.”
Juliette considera o cuidado com idosos uma missão, mas destaca o custo emocional envolvido, que afeta diretamente a saúde física e mental de quem cuida. “Nossa profissão é linda, vai além de uma profissão. Eu costumo dizer que é uma missão. Mas, infelizmente, existem muitos cuidadores que são explorados por famílias, que desviam as funções e sobrecarregam o cuidador, pedindo para fazer outras tarefas além de cuidar do idoso.”.
O relato de Juliette reflete a rotina de muitos cuidadores, marcada por jornadas extensas, múltiplas responsabilidades, baixa segurança trabalhista e vulnerabilidade emocional. Grande parte atua como autônomo ou é formalmente enquadrada como empregado doméstico, o que reduz direitos como jornada regulamentada, descanso remunerado, FGTS e contribuição para aposentadoria.
Embora o Estatuto da Pessoa Idosa estabeleça direitos como assistência à saúde e à dignidade, o cuidador, figura essencial nesse processo, ainda carece de políticas públicas específicas. O Ministério da Saúde oferece cursos e capacitações por meio da UNA-SUS, mas a abrangência dessas ações para cuidadores familiares ou autônomos, especialmente no interior do Acre, é limitada.
Sobrecarga
A ausência de uma rede de apoio estruturada tem reflexos diretos na saúde física e emocional de quem cuida. A psicóloga e psicanalista Sara Saraiva destaca que os impactos sobre a saúde mental dos cuidadores já estão implícitos na própria pergunta que norteia este trabalho: “Quem cuida de quem cuida?”. Segundo ela, é comum que esses profissionais, e também familiares que assumem a função, acabem esquecendo de cuidar de si mesmos.
“Surge aquela sensação de: Se eu não fizer, quem vai fazer? Mas também é preciso pensar: E quem faz por mim?”, afirma.
Essa dedicação exclusiva, explica Saraiva, pode gerar estresse e um sentimento de culpa excessiva por não se permitir descansar, por sentir-se cansado ou, até mesmo, por não querer cuidar em determinados momentos.
“Muitos acabam se perdendo de si e passam a viver quase que integralmente a vida da pessoa assistida”, acrescenta.
De acordo com a psicanalista, essa sobrecarga emocional e física, quando acumulada, pode desencadear crises de estresse intenso, quadros de ansiedade e até depressão. Para ela, prevenir o adoecimento exige a atuação conjunta da família, da sociedade e do poder público.
“No caso de cuidadores familiares, é fundamental dividir tarefas e responsabilidades. Também é necessário oferecer suporte psicológico e acompanhamento dentro da rede pública de saúde. A prevenção começa com a conscientização: entender que, embora cuide do outro, essa pessoa também precisa de cuidado, acolhimento e de olhar para si, lembrando que sua vida não se resume àquele que ela assiste”, conclui.
Rede de apoio
Além de profissionais autônomos, o Acre também conta com iniciativas coletivas que tentam suprir a carência de apoio. É o caso do Anjos do Cuidado, grupo fundado por Benedita do Anjos Silva, que hoje reúne mais de 200 cuidadoras e técnicos. Ela conta que a ideia nasceu de forma espontânea e cresceu rapidamente.
“Eu criei esse grupo porque, depois que me formei como técnica, fui trabalhar em uma família e, com o tempo, as pessoas foram conhecendo meu trabalho e me chamando para cuidar de outros pacientes. Chegou um momento em que eu não conseguia dar conta sozinha, então comecei a convidar colegas”, explica.
No início, era um grupo de WhatsApp com três ou quatro pessoas, atualmente são 232 profissionais prestando serviços em hospitais e domicílios. São atendidos pacientes que precisam de ajuda para se locomover, acompanhar consultas ou até viajar. “Tudo começou pequeno, mas virou uma rede de apoio muito importante”, afirma a técnica.
Para Benedita dos Anjos, um dos maiores desafios é a falta de planejamento das famílias.“Muitos só pensam em contratar um cuidador quando o idoso já está debilitado ou quando a família já está emocionalmente sobrecarregada. Se houvesse essa contratação preventiva, o cuidado seria melhor para todos”.
Apesar da rotina intensa e da pouca valorização profissional, cuidadores também precisam de atenção e cuidado, como mostram as iniciativas que apostam em solidariedade e compreensão.
Aumento da busca por dietas radicais levanta alertas sobre os riscos à saúde
Nos últimos anos, a busca por dietas radicais para emagrecimento rápido tem se intensificado, principalmente com o impacto das redes sociais, onde promessas de perda de peso acelerada ganham visibilidade. Essas dietas, muitas vezes extremamente restritivas, podem levar a resultados imediatos, mas, segundo especialistas, podem acarretar sérios riscos à saúde. Em busca de um corpo magro em um curto espaço de tempo, muitas pessoas optam por eliminar tipos de alimentos ou reduzir drasticamente a ingestão calórica, sem considerar as consequências a longo prazo.
Nos últimos anos, a busca por dietas radicais para emagrecimento rápido tem se intensificado, principalmente com o impacto das redes sociais, onde promessas de perda de peso acelerada ganham visibilidade. Essas dietas, muitas vezes extremamente restritivas, podem levar a resultados imediatos, mas, segundo especialistas, podem acarretar sérios riscos à saúde. Em busca de um corpo magro em um curto espaço de tempo, muitas pessoas optam por eliminar tipos de alimentos ou reduzir drasticamente a ingestão calórica, sem considerar as consequências a longo prazo.
O nutricionista Ítalo Oliveira alerta que as dietas radicais podem causar uma série de efeitos colaterais negativos. “O indivíduo pode apresentar fraqueza, tontura, dores de cabeça, cansaço, mau humor, indisposição, dificuldade de concentração e até desmaios. Além disso, essas dietas sobrecarregam órgãos como fígado e rins e podem resultar em carências nutricionais graves, como anemia”, afirma.
As dietas radicais representam um perigo cada vez maior. Foto: Reprodução
O especialista destaca ainda que a redução drástica de calorias desacelera o metabolismo, prejudicando a produção de hormônios essenciais, como T3 e leptina, que regulam o controle do peso e a sensação de fome. “Isso pode levar à perda de massa muscular e, consequentemente, ao efeito sanfona, no qual o peso perdido é rapidamente recuperado, muitas vezes com aumento de gordura corporal maior”, completa o nutricionista.
Além dos danos físicos, a saúde mental também pode ser severamente afetada pelas dietas restritivas. Ítalo Oliveira ressalta que a falta de carboidratos, por exemplo, impacta a serotonina, o hormônio responsável pelo bem-estar, gerando mudanças de humor, ansiedade e até transtornos alimentares.
“Dietas radicais aumentam os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, o que pode causar compulsões alimentares, irritabilidade e perda de foco, prejudicando também o desempenho físico, principalmente no esporte”, explica.
Magreza extrema é tema de debates na atualidade. Foto: Reprodução
O especialista alerta que a solução para uma perda de peso saudável deve ser baseada na reeducação alimentar aliada à prática regular de exercícios físicos, evitando métodos extremos. A chave é adotar um déficit calórico moderado e ajustável, sem eliminar grupos alimentares essenciais.
“A ingestão de proteínas deve ser priorizada para preservar a massa muscular, enquanto carboidratos e gorduras precisam ser distribuídos estrategicamente para garantir energia e equilíbrio hormonal. O treinamento de força, combinado com atividades aeróbicas, deve ser ajustado de acordo com as necessidades individuais”, conclui.