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Para além da grade curricular: educação literária como janela para o aprendizado

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Biblioteca Pública do Estado do Acre recebe centenas de alunos diariamente – Foto: Inayme Lobo

Por Inayme Lobo, Luanna Lins, Maxmone Dias e Tiago Soares

Um recente estudo realizado pela Associação Internacional para Avaliação de Conquistas Internacionais (IEA) revelou que o Brasil ocupa a 52ª posição em habilidades de leitura, entre crianças do 4º ano do ensino fundamental, em um ranking com 57 países. Ainda de acordo com a pesquisa, 52% dos brasileiros mantêm o hábito de leitura, mas o país perdeu aproximadamente 4,6 milhões de leitores nos últimos anos. Enquanto um brasileiro lê, em média, quatro livros por ano, um canadense lê doze, por exemplo.

Uma análise do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avaliou estudantes entre 15 e 16 anos em 77 países, apontou que em 2019 metade dos alunos brasileiros alcançaram apenas o nível 2 de leitura, em uma escala de 1 a 6. 

Segundo o programa, esses alunos são capazes de identificar a ideia principal de textos de tamanho moderado, mas enfrentam dificuldades em compreender conceitos abstratos e estabelecer distinções entre fatos e opiniões. Apenas 2% obtiveram as melhores notas em leitura, demonstrando habilidades mais avançadas de compreensão e análise de textos longos.

Diante desse cenário, a educação literária surge como uma ferramenta essencial para fomentar o desenvolvimento dos alunos e ampliar a grade curricular tradicional. Porém ainda existem entraves no contexto educacional, conforme explica o docente de Políticas Educacionais, da Universidade Federal do Acre (Ufac), Pelegrino Verçosa. Para ele, ainda contamos com motivos para que o desenvolvimento da leitura não seja dos melhores.

“Como é que estamos desenvolvendo as práticas de leitura, se a leitura ocorre pela via mais traumática que é a da imposição curricular, pela lógica de que os estudantes não possuem escolhas? Nós temos uma narrativa de que os estudantes podem escolher percursos formativos. Entretanto, isso não é verdadeiro, porque os estudantes não podem escolher. Eles leem aquilo que é oferecido para eles”, destaca o professor. 

Interface gráfica do usuário, Site

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Alunos se reúnem para um momento literário na ala de HQs da Biblioteca Pública – Foto: Inayme Lobo

A leitura literária permite que os estudantes acessem diferentes mundos, ampliem sua capacidade imaginativa, desenvolvam empatia e construam repertórios culturais mais abrangentes. No entanto, é necessário um esforço conjunto para promover essa prática de maneira efetiva.

Segundo Pelegrino Verçosa, a gestão escolar também desempenha um papel fundamental ao criar um ambiente propício para a formação de leitores. É preciso considerar a realidade dos alunos, suas necessidades e características individuais, e oferecer literaturas diversificadas, incluindo obras clássicas e contemporâneas que dialoguem com suas experiências de vida. 

Clubes de leitura

Dados apresentados em 2021 pela empresa Betalabs, plataforma de e-commerce e clubes de assinaturas, aponta que os clubes literários alcançaram 27% do mercado de clubes por assinatura, o que representou um aumento de 60% em relação ao ano de 2019.   

A educação literária desempenha um papel crucial no desenvolvimento dos estudantes, indo além da grade curricular. É possível promover novos conhecimentos e o gosto pela leitura, por meio de projetos que ultrapassam os muros das escolas. Exemplo disso é o Clube de Leitores, criado em 2015 e gerenciado pela professora Maria da Conceição Silva, na Escola União e Progresso.

Nele, os membros do clube leem os livros de diversos gêneros indicados pela docente e no fim do mês se reúnem para falar sobre a obra escolhida, indicando-a para mais leitores. Ex-alunos da escola e outras pessoas da comunidade também participam da iniciativa.

Cozinha com mesa e cadeiras

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Estudantes se reúnem na Escola União e Progresso para debater sobre os livros – Foto: Inayme Lobo

Outras instituições de ensino também têm implementado esse tipo de atividade, como é o caso da Escola Estadual Senador Adalberto Sena. O aluno Paulo Eduardo, de 18 anos, que também é diretor social do grêmio estudantil e integrante do clube da leitura da unidade, fala sobre a variedade de gêneros textuais que são abordados pelo grupo.

Ouça a experiência do estudante Paulo Eduardo no clube de leitura escolar

Pessoas em frente a mesa com bolo

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Os estudantes Paulo Eduardo, Kayky e Thavyne integram o clube do livro da escola estadual Senador Adalberto Sena. Foto: Inayme Lobo

Além dos clubes de leitura em ambientes escolares, o Acre também conta com iniciativas que abarcam a comunidade. Exemplo disso é o Prateleira, considerado primeiro clube do livro no Acre. Há pouco mais de um ano, o projeto tem incentivado o gosto pela leitura e, principalmente, ampliado a comunidade a conhecer mais sobre as obras e autores acreanos.

A jornalista Karolini Oliveira, que é coordenadora do projeto, conta que a iniciativa surgiu devido ao seu interesse em compartilhar leituras sobre a literatura acreana com a comunidade e não apenas no meio acadêmico. Foi a partir daí que a jovem inscreveu o Prateleira em um edital da Fundação Garibaldi Brasil. Na época, o projeto foi contemplado e recebeu apoio da instituição, porém hoje segue de forma independente.

“Quando começamos como Clube de Leitura, em 2022, jamais imaginávamos o alcance que teríamos em tão pouco tempo. Foram mais de seis mil pessoas atingidas com apenas uma publicação nas redes sociais. Todo mês recebemos sugestões de leitores sobre qual livro acreano será o escolhido, então é feita uma votação online, pelo instagram do clube do livro Prateleira”, explica a jornalista.

A jovem ainda destaca que o clube está sempre aberto para receber novos membros. Segundo ela, os interessados podem se inscrever de forma online, por meio de formulário

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De volta à cadeira da escola

Educação de Jovens e Adultos ajuda a transformar cenário da educação e reduzir o analfabetismo funcional no Acre. Foto: Sandro Giron

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Por Paula Amanda e Thaynar Moura

Você já deve ter se deparado com um comentário nas redes sociais que achou estar fora de contexto. O que parece ser apenas uma questão de interpretação, na verdade pode revelar um problema mais profundo: o analfabetismo funcional. 

O analfabetismo funcional se refere a pessoas que, embora consigam ler e escrever de forma básica, têm dificuldades de interpretar ou compreender textos ou resolver situações cotidianas. Essa condição afeta o desenvolvimento pessoal, social e profissional de 1 a cada 3 brasileiros entre 15 e 64 anos.

Dados apresentados pelo Departamento da Educação de Jovens e Adultos do Acre (EJA) mostram que, de acordo com o Censo Demográfico de 2022, o índice de pessoas analfabetas no estado é 12,1%. 

O recorte utilizado é de pessoas com mais de 15 anos, isto é, quem não foi alfabetizado ou quem não concluiu este processo. Neste contexto, quase 50% dessa população teve o primeiro contato com a escola, mas desistiu, não concluindo o ensino infantil e fundamental.

O chefe do EJA, Jessé Dantas, explica que o maior índice se concentra na zona rural, especialmente entre a população ribeirinha, e que os desafios estão em fazer com que esses jovens e adultos apliquem o aprendizado em situações do dia a dia. 

“Na EJA a gente procura colocar o que eles estão aprendendo em atividades práticas, situações rotineiras. Coisas que são necessárias para que eles compreendam o mundo em que vivem. Por exemplo, ler uma notícia e conseguir compreender qual o tema central, o que está se discutindo”, frisou. 

Jessé Dantas destaca os desafios de fazer educação para jovens e adultos no Acre. Foto: Paula Amanda

Dona Eliete Cruz é uma dessas pessoas que se superou e voltou a sonhar depois da alfabetização. Aos 74 anos ela decidiu mudar sua vida e buscar a escolarização, pois o seu grande sonho é fazer uma faculdade. 

“Tenho irmãos e sobrinhos que são professores e eles me incentivaram muito, e eu me dediquei, fiz as provas e passei. Agora estou fazendo o pré-enem e quero muito fazer o Enem e cursar artes cênicas”, contou.  

Aos 74 anos, Eliete Cruz agora sonha em fazer Artes Cênicas. Foto: arquivo pessoal

No Brasil mais da metade dos analfabetos têm mais de 60 anos

Dados levantados pelo IBGE mostram que em 2024 existiam 5,1 milhões de analfabetos com 60 anos ou mais no país. Isso corresponde à 14,9% do total dos idosos no Brasil e mais da metade da totalidade de analfabetos.

Já entre os mais jovens, os percentuais diminuem progressivamente: 9,1% entre pessoas com 40 anos ou mais, 6,3% entre aquelas com 25 anos ou mais e 5,3% na população com 15 anos ou mais.

Confira as taxas de analfabetismo por estado do Brasil:

  • Alagoas – 14,3%
  • Piauí – 13,8%
  • Paraíba – 12,8%
  • Ceará – 11,7%
  • Maranhão – 11,4%
  • Sergipe – 10,8%
  • Rio Grande do Norte – 10,4%
  • Pernambuco – 10,1%
  • Bahia – 9,7%
  •  Acre – 9,3%
  • Rondônia – 5,1%
  • Tocantins – 6,6%
  • Pará – 6,5%
  • Amapá – 5,4%
  • Amazonas – 4,9%
  • Minas Gerais – 4,4%
  • Roraima – 4%
  • Espírito Santo – 3,9%
  • Mato Grosso – 3,8% 
  • Mato Grosso do Sul – 3,7%
  • Goiás – 3,6%
  • Paraná – 3,5%
  • Rio Grande do Sul – 2,4%
  • São Paulo – 2,3%
  • Rio de Janeiro – 2%
  • Santa Catarina – 1,9%
  • Distrito Federal – 1,8%

O Acre registrou, em 2022, a maior taxa de analfabetismo da região Norte entre pessoas de 15 anos ou mais: 12,1% ou seja 73.835 pessoas que não sabem ler nem escrever.

Embora a taxa de analfabetismo funcional tenha caído no ano de 2024, registrando cerca de 64,8 mil pessoas, equivalente a 9,3% da população, o Acre ainda lidera a maior taxa de analfabetos da região Norte, o que evidencia que saber ler e escrever formalmente não é o mesmo que interpretar e aplicar no dia a dia.

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Histórias de vida

Mulheres que fazem acontecer: a força do trabalho manual no empreendedorismo acreano

Elas não apenas produzem: elas plantam, moldam, carregam, vendem e resistem. Em um cenário onde empreender não é só uma escolha, mas uma forma de sobrevivência, mulheres do Acre estão transformando o que têm — terra, cimento, fruta, memória — em renda, autonomia e permanência. Muitas fazem isso com as próprias mãos. Outras, com apoio da família. Mas todas compartilham algo em comum: a decisão de permanecer criando.

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Por Thaynar Moura

Elas não apenas produzem: elas plantam, moldam, carregam, vendem e resistem. Em um cenário onde empreender não é só uma escolha, mas uma forma de sobrevivência, mulheres do Acre estão transformando o que têm — terra, cimento, fruta, memória — em renda, autonomia e permanência. Muitas fazem isso com as próprias mãos. Outras, com apoio da família. Mas todas compartilham algo em comum: a decisão de permanecer criando.

Da colheita ao pote: Lucilene e a trajetória de um doce feito com raízes

Foto: Thaynar Moura

Lucilene Nonata, de 58 anos, vive com o marido em um sítio no interior do Acre. Foi ali que, há cerca de duas décadas, ela decidiu começar a fazer doces com frutas do próprio quintal. “Meus filhos estavam entrando na adolescência e eu queria fazer algo meu, que também ajudasse na renda da casa”, conta.

A escolha pelo doce não foi aleatória: os pais de Lucilene já faziam compotas com frutas temporãs, e o marido, cearense, também gostava de preparar receitas simples. “Foi natural. Começamos com o que a gente tinha: cupuaçu, mamão, banana. O leite vinha do vizinho.”

Foto: Arquivo pessoal  
Foto: Arquivo pessoal

Hoje, mesmo com o pomar envelhecido e parte da matéria-prima comprada de produtores vizinhos, o processo segue artesanal. Tudo é feito por Lucilene e o esposo, desde a limpeza até o ponto do doce. A venda acontece em feiras e comércios locais, e o contato com o público é parte do valor do produto. “As pessoas perguntam se é a gente mesmo que faz. Criamos laços. Muitos viram amigos.”

A formalização veio com apoio do Sebrae, que orientou desde o registro como MEI até a criação dos rótulos e da tabela nutricional. “O Sebrae foi nosso primeiro e melhor parceiro. Nos abriu portas e deu acesso a linhas de crédito, cursos e assistência técnica”, relata.

Foto: Thaynar Moura

Apesar dos avanços, o desafio é constante: o alto custo dos insumos e a concorrência com produtos industrializados. “É difícil competir. Nosso estado não é rico. Mas a gente vai atravessar essa fase também”, afirma Lucilene. E para outras mulheres que pensam em empreender, ela é direta: “Somos guerreiras. Se cada dia traz um leão, que venham os leões.”

Concreto, família e criação: a arte que resiste com Elizabete e Maria Eliane

Elizabete Monteiro tem 25 anos e voltou ao Acre em 2025, depois de concluir a graduação em Curitiba. Junto com a mãe, Maria Eliane, de 61, criou o negócio “Arte em Concreto”, voltado à produção manual de peças decorativas feitas a partir de cimento, areia, pedrita e moldes reaproveitados.

Foto: Arquivo Pessoal

“O gosto pelo artesanal sempre veio da minha mãe. Quando ela ia passar um tempo comigo, ficava procurando o que fazer com as mãos”, lembra Elizabete. A dupla começou estudando técnicas no YouTube e fazendo testes em casa, até descobrir formas de agregar valor às peças — como a inclusão de plantas e o uso criativo do concreto na decoração.

O trabalho é familiar. Elizabete e a mãe cuidam da produção. O pai ajuda nas feiras. A irmã apoia na divulgação digital. “É algo muito em família, e cada um colabora do seu jeito”, afirma.

Entre os maiores desafios, Elizabete destaca o início do processo. “É preciso vencer o medo de começar. Mostrar o que você faz e lidar com o marketing exige constância.”Atualmente, participa da associação “Elas Fazem Acontecer”, formada por mulheres empreendedoras que organizam feiras e dão suporte às expositoras. “Faz diferença. A gente se sente parte de algo.”

Foto: Arquivo pessoal

A empresa começou a vender peças há cerca de um mês, e uma das metas de Elizabete é investir mais na divulgação pelo Instagram. “Hoje, se você quer saber de algo de uma loja, já vai direto no Instagram. Quero turbinar as postagens.”

Para ela, o mercado de decoração artesanal está crescendo. “As pessoas querem peças com identidade, que sejam únicas.” E para outras mulheres que sonham empreender: “Persistam. Se você ama o que faz, o retorno vem. Mas é preciso estar atenta às novidades e criar com propósito.”

Arte, dedicação e persistência: de uma conversa entre amigas ao ateliê em casa – o sonho de Adriana 

Adriana Balica, 32 anos, é proprietária da FazerArt Personalizados, um ateliê montado na própria casa, onde ela cuida de tudo: do atendimento à criação das artes e à embalagem personalizada. “A FazerArt nasceu numa conversa entre amigas, juntando minha paixão pelo trabalho manual. Hoje, faço tudo sozinha,” conta.

Para Adriana, empreender é uma jornada que exige atenção constante. “Empreender é uma tarefa extremamente difícil, pois temos que dominar um pouquinho de cada coisa e estar sempre atenta a todos os detalhes. Há dias e dias, há altos e baixos, assim como a nossa vida”, reflete.

Foto: Thaynar Moura

Assim como as outras mulheres desta reportagem, Balica destaca o apoio do Sebrae. “O Sebrae sempre esteve de portas abertas pra ajudar, tirar dúvidas, oferecer cursos, palestras e concursos. Sempre que posso, participo.”

E sobre tecnologia? Ela brinca: “Não uso nenhuma tecnologia avançada, eu acho, kkk.”

Para quem pensa em empreender, Adriana tem um conselho: “Lute! Lute pelos seus sonhos. Deus não coloca sonho no nosso coração que a gente não possa alcançar. É difícil, cansativo, cheio de desafios, mas vale a pena! ”

Onde termina o produto, começa a história

Fonte: DataSebrae (Relatórios trimestrais de Empreendedorismo Feminino, 2022–2024)

As histórias de Lucilene, Elizabete e Adriana, não são exceções. Elas representam milhares de mulheres no Brasil e no Acre que vivem daquilo que fazem, cultivam ou aprendem. Os dados mais recentes reforçam o que as histórias contam: empreender, para muitas mulheres, é uma decisão moldada pela necessidade, mas sustentada pela criatividade e pelo trabalho diário.  Que trabalham com o corpo, com a memória e com o tempo.

No Acre, o número de mulheres à frente de negócios oscilou nos últimos três anos. Segundo dados do DataSebrae, em 2022, eram 23.564 empreendedoras no estado. Em 2023, esse número caiu para 20.453, representando 23,7% do total de donos de negócios. No entanto, em 2024, houve uma leve recuperação: 21.350 mulheres atuavam como donas de negócio no estado no 4º trimestre, o que representa  25,1% dos empreendedores locais.

Fonte: DataSebrae – Relatórios trimestrais 2023–2024 

Esse avanço percentual, frente aos 23,7% registrados no ano anterior, revela uma retomada gradual da presença feminina no mercado.

Em números nacionais, 42% dos empregadores ou trabalhadoras por conta própria no Brasil são mulheres — um universo de 10,4 milhões de empreendedoras que movimentam a economia com pequenos negócios, muitas vezes construídos no quintal, na sala de casa ou em uma feira.

O aumento na participação percentual indica que as mulheres seguem ocupando espaço, criando soluções e sustentando seus negócios com o que têm – seja terra, concreto ou papel.

Redação

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Por meio do NAI, Ufac avança em inclusão e acessibilidade para estudantes com necessidades específicas

Estudantes com necessidades específicas enfrentam constantes desafios nas universidades brasileiras. Na Universidade Federal do Acre (Ufac), o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) foi criado para desempenhar um papel fundamental no processo de inclusão, garantindo que esses acadêmicos tenham acesso à educação com as adaptações necessárias para sua permanência e desenvolvimento na instituição.

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Buscando garantir um ambiente com mais acessibilidade, a universidade implementa adaptações e suporte para estudantes autistas e com outras necessidades.

Por Niélia Magalhães, Sérgio Henrique Corrêa e Gabriela Queiroz Mendonça

Estudantes com necessidades específicas enfrentam constantes desafios nas universidades brasileiras. Na Universidade Federal do Acre (Ufac), o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) foi criado para desempenhar um papel fundamental no processo de inclusão, garantindo que esses acadêmicos tenham acesso à educação com as adaptações necessárias para sua permanência e desenvolvimento na instituição.

Criado em 2008, o NAI procura executar políticas de inclusão e acessibilidade, oferecendo suporte pedagógico e promovendo ações de ensino, pesquisa e extensão voltadas para estudantes com deficiência e neurodivergência. 

A Ufac conta, atualmente, com 100 estudantes cadastrados no banco de dados do NAI. O suporte oferecido inclui adaptações acadêmicas, como tempo maior para realização de avaliações, provas em locais silenciosos, enunciados mais objetivos e intervalos em avaliações longas. Alunos que necessitam de assistência extra podem contar com monitores selecionados via edital, embora muitos prefiram somente ajustes no ambiente acadêmico.

“Cada estudante neurodivergente tem suas particularidades, portanto, o que é adotado para um pode não ser necessário para outro. O importante é garantir que cada um tenha suas necessidades respeitadas”, explica Carla Simone, coordenadora do NAI.

Segundo a coordenadora, a universidade avançou na instalação de pisos táteis, rampas, elevadores e banheiros adaptados, além da implementação de intérpretes de Libras e recursos audiovisuais para alunos com deficiência auditiva ou visual.

“Apesar dos avanços, um dos principais desafios enfrentados pelos alunos com TEA na Ufac ainda é a falta de conhecimento da comunidade acadêmica sobre o transtorno. Frases como ‘mas você não tem cara de autista’ impactam diretamente a experiência dos estudantes, levando muitos a adiar a busca por suporte por medo de julgamentos e falta de empatia”, enfatiza Carla Simone.

Para estudantes autistas, um avanço importante foi a criação da Sala Aquário, um espaço no Restaurante Universitário reservado para refeições em um ambiente mais silencioso e confortável. “Essa foi uma conquista do Coletivo Autista, garantindo um espaço adequado para os alunos que sofrem com sobrecarga sensorial”, destaca a coordenadora.

No entanto, Carla Simone enfatiza que a inclusão é um processo contínuo e que ainda há muito a ser feito. “O essencial é garantir que os estudantes com deficiência que ingressam na universidade tenham condições de acessar, permanecer e concluir seus cursos com dignidade”, afirma.

Capacitação e conscientização

Um dos pontos de atenção do NAI é a formação da comunidade acadêmica. Atualmente, o núcleo já realiza capacitação para monitores que atuam diretamente no suporte aos estudantes, mas ainda não há um programa estruturado para professores e servidores.

A partir do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2025-2029, a Ufac pretende implementar treinamentos para docentes e técnicos, promovendo maior sensibilização sobre a inclusão e as necessidades dos estudantes neurodivergentes.

O NAI trabalha em parceria com diversos setores da universidade e instituições externas para encaminhar alunos a serviços assistenciais, previdenciários e de saúde, além de organizar palestras e eventos sobre acessibilidade e inclusão.

Arte: Agência Câmara

O futuro da inclusão na UFAC

Quando questionada sobre os próximos passos do NAI, Carla Simone aponta que as principais metas incluem:

  • Atendimento eficaz e de qualidade aos estudantes com deficiência;
  • Criação de um laboratório de tecnologia assistiva;
  • Promoção de formações continuadas para docentes, técnicos e estudantes;
  • Ampliação das ações já existentes, garantindo um impacto maior na universidade.

A coordenadora também reforça que a construção de um ambiente acadêmico mais inclusivo não depende apenas da gestão institucional. “Ter um olhar mais humanizado para todos, independentemente de cor, raça, religião, gênero ou deficiência, é essencial. A universidade precisa ser um espaço acolhedor para todos os diferentes”, conclui.

Entendendo o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O TEA afeta o neurodesenvolvimento, impactando a comunicação, linguagem, interação social e comportamento. O diagnóstico precoce é essencial para estimular a independência e melhorar a qualidade de vida. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma rede de cuidados para o atendimento integral das pessoas com TEA.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam 70 milhões de pessoas com autismo no mundo. No Brasil, a estimativa é de que 2 milhões de pessoas possuam algum grau do transtorno.

Redação

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