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Ministério Público atua para garantir direitos e desmitificar fakenews em movimento antivacina HPV no Acre

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Participação do Ministério Público do Acre empenhou esforços para o acolhimento das mães durante as solicitações de atendimento e de viabilização de serviços para o Tratamento Fora do Estado (TFD). Foto: Odair Leal

Por: Gabriel Freire

Na era da comunicação em massa promovida pelo advento da internet, os direitos fundamentais podem ser feridos ou até mesmo limitados dependendo da forma como se usa as mais variadas ferramentas de interação disponíveis nas redes sociais. Um dos grandes problemas nessa comunicação chama-se fakenews, que ao pé da letra podemos chamar de falsa notícia, na tradução. A velocidade que circula as informações em muitos casos, sem citação de fonte confiável, abre brecha para sérias implicações, que podem gerar desde processos judiciais até prejuízos à coletividade.

No Acre, tivemos um exemplo polêmico envolvendo 70 jovens que teriam sido acometidas por sérios efeitos colaterais pós vacina contra Papilomavírus Humano (HPV), o que terminou por desencadear um movimento antivacina no Estado. Paralelamente surgiu um verdadeiro engajamento social em prol dos direitos pelo acesso ao tratamento médico e assistência aos jovens e suas famílias.

MPAC pela defesa dos direitos coletivos

Equipe enviada à capital acreana era integrada por acadêmicos, médicos renomados e independentes ao Ministério da Saúde. Foto: Neto Lucena

Intervindo em defesa do cidadão para assegurar tratamento médico adequado, fornecimento de medicamentos, na rede pública de saúde, o Ministério Público do Acre (MPAC), por meio da Promotoria de Saúde, atuou para garantir os direitos dos 70 adolescentes considerados vítimas da vacina contra HPV.

Desde as primeiras denúncias, o MPAC buscou atuar não somente na garantia dos direitos coletivos, mas também contra o fenômeno causador da desordem informacional causados pelas conhecidas fakenews. No Acre, os depoimentos acerca dos efeitos nocivos da vacina do HPV ganharam repercussão, inclusive, nacional e internacionalmente. Entre os efeitos da pós-vacina foram relatados pelas mães das adolescentes, sintomas como crises de convulsão, desmaios e internações. Os depoimentos em vídeos e fotos repercutiram em grupos de conversação e redes sociais ganhando notoriedade pela imprensa local e nacional, o que gerou forte comoção e engajamento social e político, na tentativa de buscar respostas e cobrar atenção às vítimas junto ao Ministério da Saúde (MS).

Fakenews x ciência

O promotor da especializada de Defesa da Saúde de Justiça, Gláucio Ney Shiroma Oshiro, relembra que mediante os primeiros relatos correlatando os efeitos à vacina contra o HPV, adotou como procedimento inicial a instauração de procedimento junto à Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) para que identificassem outros casos semelhantes aos apresentados na sede do Ministério Público. Após levantamento, Gláucio Oshiro acionou o Ministério da (MS) para que pudesse promover apreciação e investigação dos casos.

A partir dessa ação, o MS, em atenção à solicitação da promotoria especializada do MPAC, encaminhou equipes de profissionais ao Acre para que pudessem analisar de perto e desse início a investigação. A equipe enviada à capital acreana era integrada por acadêmicos, médicos renomados e independentes ao Ministério da Saúde.

“Vieram por intermédio de uma comissão chamada SIFAB (Sistema Informatizado para Acompanhamento da Execução do Incentivo à Assistência Farmacêutica na Atenção Básica), que possui investigadores e acadêmicos que não tem qualquer tipo de correlação com o próprio Ministério da saúde”, afirmou o promotor de saúde Gláucio Oshiro.

Embasamento científico

Em 20 de novembro de 2019, por meio de videoconferência, foi apresentado dados de estudo científico, à pedido do Ministério Público do Estado do Acre ao Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), apresentado ao Governo do Estado do Acre,  concluiu após analisar as 86 adolescentes imunizadas com a vacina anti-HPV que apresentaram crises convulsivas, desmaios e dores pelo corpo, que tais efeitos não possuíam relação causal com a segurança da vacina, mas sim com o ato de vacinar.

Relatórios conclusivos

O relatório da USP trouxe a avaliação de 72 casos de adolescentes com sintomas como dores de cabeça, febre, quedas ao solo e abalos motores generalizados.  Foi constatado que o trauma pós vacina estaria associado a tratamentos invasivos para estado de mal epiléptico e tratamento crônico com medicamentos antiepilépticos, e idas à serviços de urgência indicados por familiares e profissionais da saúde.

Em outubro de 2019, 16 adolescentes com sintomas mais graves foram deslocadas ao Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas em São Paulo (USP), onde foram submetidos a exames laboratoriais e de imagem e monitoramento da atividade cerebral para realização do diagnóstico definitivo. Doze delas foram avaliadas e quatro ficaram no aguardo da documentação da Sesacre até o final daquele mês.

No dia 20 de novembro de 2019, em Rio Branco (AC), foram apresentados os diagnósticos definitivos das pacientes que necessitavam de acompanhamento para tratar as comorbidades psiquiátricas. Na oportunidade, os familiares assinaram um termo de recebimento do diagnóstico da Universidade de São Paulo (USP), também entregue ao Ministério Público do Acre (MPAC).

Diagnóstico da USP

De acordo com o diagnóstico, dez pacientes não apresentaram doenças neurológicas, como a epilepsia, ou de natureza orgânica geralmente promovidas por lesões ou mudanças elétricas no sistema nervoso central. Dois casos, em particular, apresentaram diagnóstico de epilepsia congênita, ou seja, de origem genética, diagnosticado em dois irmãos. Esta patologia se manifesta na fase da pubescência.

“Após os estudos clínicos, chegou-se à conclusão de que os jovens encaminhados para lá não apresentaram qualquer tipo de agravo correlacionado com a vacina. Enfim, houve descarte de qualquer tipo de correlação. Nesse sentido atestou-se por intermédio de investigação aprofundada que a vacina HPV continua sendo muito segura para prevenção do câncer do colo do útero’”, considerou Gláucio Oshiro.

O outro lado

Após a confirmação científica da doença, adolescentes e seus familiares passaram a compartilhar vídeos, imagens e textos contrapondo o diagnóstico da doença psicogênica associado à vacina como principal causadora, o que voltou a repercutir movimentos contrários à vacina.

Fakenews e o movimento antivacina

Desinformação provocou rejeição de jovens à vacina contra HPV no Acre. Foto: Divulgação em Redes Sociais Foto: Internet

Gláucio Oshiro relembra que “as fakenews surgiram a partir de um movimento oportunista vindo de fora do Estado e potencializado nas redes sociais dessas mesmas crianças e adolescentes e que fizeram contato com as mães do Acre. É bom lembrar que os agravos dessas crianças de fato são reais e, em razão disso, foram promovidas as melhores maneiras de se tratar”, afirmou o promotor.

O promotor ressalta ainda que o movimento antivacina, promovido nas redes sociais, culminou por fragilizar mães e responsáveis do Acre que acabaram por aderir a essa estratégia equivocada.

“Esse movimento antivacina oportunista chegou ao estado do Acre conversou com essas mães e responsáveis, obviamente fragilizadas pelo agravo apresentados, e por meio desse oportunismo acabou prejudicando toda estratégia vacinal no Estado do Acre e, por consequência, também provocou uma dificuldade de promover assistência à saúde dessas mesmas adolescentes”, enfatizou.

União contra a desinformação

Atuação se deu em favor da saúde das adolescentes e das famílias tendo o MPAC responsável por fiscalizar o cumprimento da lei. Foto: Neto Lucena

Após a entrega e a assinatura do relatório da USP, o governador Gladson Cameli (PP) propôs a prestar assistência às jovens vítimas da Crise Não-Epiléptica Psicogênica (CNEP), bem como a rever os protocolos de atendimento no sistema de saúde e realizar uma campanha para combater a desinformação.

Para assegurar a continuidade aos serviços de saúde aos jovens, a participação do Ministério Público do Acre empenhou esforços para o acolhimento das mães durante as solicitações de atendimento e de viabilização de serviços para o Tratamento Fora do Estado (TFD).

Em março, o Ministério da Saúde, por meio da portaria n° 323/2020, repassou R$ 83.349,40 do Bloco de Custeio das Ações e Serviços Públicos de Saúde/Grupo de Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar ao Estado de São Paulo para continuidade do tratamento das adolescentes do Acre, que tiveram reação à vacina do HPV. O recurso financeiro foi repassado pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS) e destinado ao Hospital das Clínicas de São Paulo.

A unidade de referência indicada pelo Ministério da Saúde para o atendimento, assistência e acompanhamento dos adolescentes é formada por uma equipe de técnicos (médico, neurologista, médico psiquiatra, psicólogo e assistente social), realizando atendimento individual agendado com data e horário.

O promotor, Gláucio Oshiro, destaca que a atuação se deu em favor da saúde das adolescentes e das famílias tendo o MPAC responsável por fiscalizar o cumprimento da lei, em nome da população, cobrando das instituições serviços de saúde e atendimento digno, em respeito aos direitos fundamentais previsto na Constituição Federal.

“O Ministério Público tem como foco traduzir em ações coletivas em comportamentos coletivos, a fim de abranger toda população. Isso leva em consideração porque demandas individuais ou individualizadas muitas vezes podem promover a iniquidade do sistema, sabendo que o sistema de saúde é universal e promove a igualdade de acesso e também de oportunidades”, explica.

Segundo Oshiro, quando se ingressa com alguma medida judicial, o que faz com que com o indivíduo passe na frente do outro, sem outros critérios clínicos, conforme protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde promove uma clara iniquidade e igualdade de acesso ao sistema, razão pela qual o Ministério Público sempre promove ou busca atuar nas demandas de forma coletiva.

Efeitos nocivos das Faknews

Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde do Acre (Sesacre), a capital acreana registrou, em 2014, a cobertura vacinal de 92,7% da primeira dose. Em 2016, a taxa caiu para 12,7%. Em 2018, esse número despencou para 6%. A queda vertiginosa ocorreu também nos municípios acreanos. Em todo o Acre, a taxa de cobertura da primeira dose foi de 10,2% (2018), enquanto que a média nacional também sofreu queda considerável, registrando apenas 13,8%. A meta do Ministério da Saúde (MS) é vacinar 80% do público-alvo e a união das instituições tem sido fortalecida para garantir maior adesão aos serviços vacinais.

Vale destacar que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacina contra HPV auxilia na diminuição do câncer. Os dados revelam ainda que 630 milhões de pessoas são acometidas por câncer, sendo que desse montante dos casos que acometem homens (5%) e mulheres (10%) são causados pelo HPV.

Notícias

O desafio de pegar ônibus à noite na UFAC

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Uma das maiores preocupações dos estudantes dos cursos noturnos é o deslocamento por transporte público. 

Por Akenes Mesquita e Felipe Nascimento

Estudantes enfrentam desafios significativos ao utilizar o transporte público para se deslocarem até suas residências durante o período noturno. A falta de infraestrutura adequada e os problemas de segurança são algumas das principais preocupações enfrentadas pelos estudantes que frequentam a Universidade Federal do Acre (Ufac).

Ônibus superlotados, atrasos frequentes e rotas limitadas são apenas algumas das questões enfrentadas diariamente pelos universitários. Além disso, a falta de iluminação adequada nos pontos de ônibus e nas vias públicas aumenta o sentimento de insegurança durante o trajeto para casa. 

O aluno do curso de Ciências Econômicas, Abimael de Souza Melo, considera a situação inadmissível em um país onde os cidadãos pagam altos impostos e deveriam contar com este  serviço público mais eficiente e acessível para todos. Ele relata as dificuldades enfrentadas ao utilizar o transporte público:“O último ônibus passa às 21h40, enquanto minhas aulas só terminam às 22h, o que gera um conflito de horários. Além disso, há um intervalo significativo entre os ônibus, por exemplo, um passa às 20h e o próximo só às 21h40, o que torna a espera prolongada”.

Foto: Akenes Mesquita

Segurança em risco

Outra preocupação significativa  é a segurança. O aumento da criminalidade na cidade, especialmente durante a noite, torna o deslocamento dos estudantes uma experiência estressante e arriscada. Relatos de assaltos em pontos de ônibus e dentro dos próprios coletivos são frequentes, gerando um clima de insegurança na comunidade acadêmica.

Fábio Alves, estudante de Economia, já foi assaltado no trajeto e fala sobre o sentimento de insegurança ao voltar para casa após um dia cansativo de trabalho e aula.

“Moro no bairro Nova Esperança e há dois ônibus que fazem essa linha: Fundhacre e o Rodoviária. Como meu curso termina às 22h, eu tenho que optar por um dos dois. Houve vezes em que optando pelo o Fundhacre, eu perdia o Rodoviária e o Fundhacre nem aparecia no terminalzinho”, lamenta ele, que já precisou recorrer a carros de aplicativo e ouviu relatos de roubos a outros estudantes.

Impacto no desempenho acadêmico

Os desafios não se limitam apenas ao aspecto físico e emocional, mas também têm um impacto direto no desempenho acadêmico. O estresse e a ansiedade causados pelos problemas de transporte e segurança podem prejudicar a concentração em sala de aula e comprometer o rendimento escolar.

A presidente do Diretório Central dos Estudantes da Ufac (Dce), Ingrid Maia, reconheceu que desde janeiro de 2024 estão recebendo algumas reclamações, principalmente em relação ao atraso dos ônibus, à falta de acesso dos veículos na Ufac e à qualidade dos mesmos.

“Encaminhamos denúncia à RBTRANS para que seja instaurada uma investigação e garantir que tais irregularidades não se repitam. Quanto à mudança de rotas, vamos levantar essas e outras pautas no Conselho de Transportes e Tarifas.” 

Ela também diz ter cobrado da administração uma maior efetividade nas rondas ostensivas e o retorno do diálogo com as instituições de segurança pública.”

Diante desses desafios, os estudantes clamam por soluções eficazes por parte das autoridades responsáveis. Medidas como aumento da frota, melhoria na infraestrutura dos pontos de ônibus e aumento da presença policial nas rotas de transporte público são algumas das demandas urgentes da comunidade acadêmica.

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Cultura

Retorno das supermodelos dos anos 2000 às passarelas no outono/inverno 2024

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As brasileiras Caroline Trentini e Isabeli Fontana foram destaque na semana de moda de Paris.

Por Felipe Souza

A temporada outono/inverno 2024 tem sido um prato cheio para os amantes da moda “vintage” e das grandiosas modelos. Além de peças que remetem à época, as supermodelos dos anos 2000 retornaram com tudo nas passarelas de Nova York, Londres, Milão e Paris.

Muitas eras de modelos se encontraram em um curto período de tempo em que ocorreram as Semanas de Moda. Das brazilian bombshells às doll faces, os rostos mais conhecidos pela comunidade fashion mundial apareceram e brilharam nas cidades mais badaladas do mundo.

Não importava em qual desfile você assistia. Do mais ‘fashion’ ao mais comercial, as poderosas das passarelas dos anos 2000 estavam lá. Claro que o Brasil esteve presente, considerando que a maioria das grandes modelos no início do século era brasileira.

A gaúcha Caroline Trentini, por exemplo, representou o país nas passarelas da Schiaparelli, Carolina Herrera, Michael Kors e Max Mara. Além de Caroline, a paranaense Isabeli Fontana cruzou a Balenciaga e Alessandra Ambrósio, a icônica angel da Victoria’s Secret, fechou o desfile do estilista Elie Saab.

Caroline Trentini, Isabeli Fontana e Alessandra Ambrósio/Créditos: Condé Nast

Mas não foi só de brazilian bombshells que a moda dos anos 2000 viveu. A norte-americana Frankie Rayder também cruzou, assim como Fontana, as passarelas da Balenciaga. Rayder foi uma das favoritas de Donatella Versace na era de ouro da italiana ‘Versace’.

Frankie Rayder para Balenciaga/Créditos: Condé Nast

As Slavas, sem sombras de dúvidas, estavam em peso também. O maior nome da temporada foi Natasha Poly, a mais bem-sucedida russa. Poly desfilou para Max Mara, Ferrari, Dolce & Gabbana, Fendi, Mugler e, majestosamente, fechou a coleção da Acnes Studio.

Natasha Poly para Fendi/Créditos: Condé Nast

Ainda representando as Slavas, a lendária ucraniana Carmen Kass e – segunda maior modelo dos anos 2000, apenas atrás de Gisele Bündchen -, e a russa Natalia Vodianova, juntas,  receberam todos os holofotes da plateia presente no show da Vetements.

Hana Soukupova, com seus 1,85 metros, também fez um retorno com maestria e cruzou a francesa Balmain e ainda brilhou com um outfit todo preto do Elie Saab.

Carmen Kass, Natalia Vodianova e Hana Soukupova/Créditos: Condé Nast

Uma menção mais que honrosa: Gemma Ward para Max Mara. A doll face original, com seus cabelos loiros e olhos azuis, por muito tempo brilhou nas maiores grifes do mundo. Hoje, reclusa das câmeras, faz trabalhos selecionados e no outono 2024 foi escolhida para encerrar o desfile, além de ter reencontrado as amigas de longa data.

Gemma Ward, Natasha Poly e Caroline Trentini no backstage da Max Mara/Créditos: Arquivo pessoal/Caroline Trentini

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Histórias de vida

O Chefe deixou a calçada

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Por Ludymila Maia e Beatriz Mendonça 

A pequena loja, localizada perto das margens do Rio Acre, com várias bugigangas à mostra, está há pouco mais de um ano sem a fervorosa animação e presença do seu dono. O falecimento de Tancredo Lima de Souza, ocorrido no dia 23 de agosto de 2022, aos 69 anos, deixou uma lacuna profunda naqueles que o conheceram e amaram.

Tancredo Lima de Souza veio do interior de Pernambuco para Rio Branco, com seu pai e irmãos, e logo começou a trabalhar para ajudar no sustento da casa. Como era o mais proativo, logo ganhou o apelido de Chefe. Sempre dedicado, exerceu várias profissões, dentre elas seringueiro, motorista de ônibus e táxi, mas seu coração pertenceu ao comércio. 

Começou desde jovem vendendo picolé, e, com o passar dos anos, passou a vender vassouras e tabaco. Conseguiu um ponto de vendas no Centro da cidade, trabalhou para manter sua loja junto de sua esposa, Maria José, e expandiu cada vez mais seu comércio. Virou o famoso Bazar Chefe, popular pela variedade de produtos tradicionais expostos para que todos aqueles que passam pelo local possam ver.

Começou a atrair uma grande clientela, que buscava utensílios que só o Chefe tinha e todos eram encantados pela humildade e vigor do vendedor. Assim foi construído um legado, que durou mais de 50 anos com clientes fiéis e amigos saudosos, que ainda se emocionam ao visitar a loja e não ver o Chefe no comando.

Bazar Chefe, um dos comércios mais tradicionais e populares de Rio Branco. Foto: Ludymila Maia

A saudade bate particularmente naqueles que compartilharam o privilégio de chamá-lo de pai. Segundo seus filhos, Cleudo José e Cleide Sandra, o pai sempre os incentivou para seguir seus passos e também foi um grande exemplo de honestidade, humildade e integridade. Além disso, os filhos lembram de seu coração bondoso que ajudava a todos.

Na cidade, ele era conhecido como um comerciante exemplar, alguém que deixou sua marca nas ruas e nos corações daqueles que tiveram a sorte de cruzar seu caminho. Para sua filha, ele era muito mais do que um pai, era um mentor, um guia. 

Ao falar sobre ele, a emoção na voz, pois sua jornada serviu como uma escola prática para seus filhos, uma lição de vida transmitida através das experiências do dia a dia. Seu pai, um verdadeiro mestre do comércio, ensinou não apenas a vender produtos, mas também a construir relacionamentos duradouros. 

“Ele era o meu pilar”, diz seu filho, com a voz repleta de reverência. “Ele não apenas direcionava nossos negócios, mas também na vida. Suas palavras eram um farol, estabelecendo o caminho certo a seguir”. Mesmo que sua presença física agora seja uma lembrança, o impacto de seus conselhos continua a moldar suas escolhas e ações. 

Os dois filhos do Chefe, Cleudo José e Cleide Sandra.  Foto: Ludymila Maia

“Humildade” é uma palavra que surge constantemente quando se fala dele. Ele era um homem que tratava todos com respeito e compaixão, independentemente da posição na sociedade. Sua presença calorosa e sincera deixou uma marca indelével nas pessoas com as quais interagiu e, até hoje, elas sentem sua falta. 

A voz de Francisca Lima, irmã de Tancredo, ecoa com carinho e saudade, relembrando as memórias de um homem cuja vida foi repleta de histórias e ensinamentos. “Ah, meu irmão… Como é difícil falar dele”, suspira a irmã, com os olhos cheios de emoção. “Ele era tudo para nós, um alicerce em nossa família e também na família de sua mulher. Seu coração era grande o suficiente para abraçar o mundo inteiro.”

O sepultamento de Tancredo não apenas trouxe lágrimas à sua família, mas também testemunhou o amor e o respeito que ele inspirou em toda a comunidade. “No dia em que o Chefe faleceu, ainda de madrugada, começou a chegar gente das fazendas, do interior, do seringal”, descreve sua irmã, destacando a influência imensa que ele teve. 

“Eu preferi não ver o Chefe”, admite ela, uma vez que a perda ainda é difícil de aceitar. “Ele foi nosso pai e nossa mãe, desde muito cedo ele assumiu as responsabilidades, sempre cuidou muito da gente, era tudo para nós, lembro de quando eu e minha irmã ficamos mocinhas ele comprava até batom para gente só porque sabia que nós gostávamos.” 

Uma paixão peculiar pela culinária emerge nos relatos da irmã, que com um sorriso afetuoso diz: “Lembro que meu irmão adorava peixe, ele gostava muito, sempre comia tambaqui até dizer chega.” Era na simplicidade da vida que o famoso Chefe do Novo Mercado Velho encontrou sua alegria, seja vendendo picolés nas ruas, ou incansavelmente juntando centavos para sua primeira banquinha. Nunca teve vergonha de sua história e  se orgulhava de seu passado. Apesar de não ter terminado seus estudos, foi um grande aprendiz da vida e também um grande professor para aqueles que o conheceram.

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