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Ministério Público atua para garantir direitos e desmitificar fakenews em movimento antivacina HPV no Acre

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4 anos atrásem
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acatraia
Participação do Ministério Público do Acre empenhou esforços para o acolhimento das mães durante as solicitações de atendimento e de viabilização de serviços para o Tratamento Fora do Estado (TFD). Foto: Odair Leal
Por: Gabriel Freire
Na era da comunicação em massa promovida pelo advento da internet, os direitos fundamentais podem ser feridos ou até mesmo limitados dependendo da forma como se usa as mais variadas ferramentas de interação disponíveis nas redes sociais. Um dos grandes problemas nessa comunicação chama-se fakenews, que ao pé da letra podemos chamar de falsa notícia, na tradução. A velocidade que circula as informações em muitos casos, sem citação de fonte confiável, abre brecha para sérias implicações, que podem gerar desde processos judiciais até prejuízos à coletividade.
No Acre, tivemos um exemplo polêmico envolvendo 70 jovens que teriam sido acometidas por sérios efeitos colaterais pós vacina contra Papilomavírus Humano (HPV), o que terminou por desencadear um movimento antivacina no Estado. Paralelamente surgiu um verdadeiro engajamento social em prol dos direitos pelo acesso ao tratamento médico e assistência aos jovens e suas famílias.
MPAC pela defesa dos direitos coletivos

Intervindo em defesa do cidadão para assegurar tratamento médico adequado, fornecimento de medicamentos, na rede pública de saúde, o Ministério Público do Acre (MPAC), por meio da Promotoria de Saúde, atuou para garantir os direitos dos 70 adolescentes considerados vítimas da vacina contra HPV.
Desde as primeiras denúncias, o MPAC buscou atuar não somente na garantia dos direitos coletivos, mas também contra o fenômeno causador da desordem informacional causados pelas conhecidas fakenews. No Acre, os depoimentos acerca dos efeitos nocivos da vacina do HPV ganharam repercussão, inclusive, nacional e internacionalmente. Entre os efeitos da pós-vacina foram relatados pelas mães das adolescentes, sintomas como crises de convulsão, desmaios e internações. Os depoimentos em vídeos e fotos repercutiram em grupos de conversação e redes sociais ganhando notoriedade pela imprensa local e nacional, o que gerou forte comoção e engajamento social e político, na tentativa de buscar respostas e cobrar atenção às vítimas junto ao Ministério da Saúde (MS).
Fakenews x ciência
O promotor da especializada de Defesa da Saúde de Justiça, Gláucio Ney Shiroma Oshiro, relembra que mediante os primeiros relatos correlatando os efeitos à vacina contra o HPV, adotou como procedimento inicial a instauração de procedimento junto à Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) para que identificassem outros casos semelhantes aos apresentados na sede do Ministério Público. Após levantamento, Gláucio Oshiro acionou o Ministério da (MS) para que pudesse promover apreciação e investigação dos casos.
A partir dessa ação, o MS, em atenção à solicitação da promotoria especializada do MPAC, encaminhou equipes de profissionais ao Acre para que pudessem analisar de perto e desse início a investigação. A equipe enviada à capital acreana era integrada por acadêmicos, médicos renomados e independentes ao Ministério da Saúde.
“Vieram por intermédio de uma comissão chamada SIFAB (Sistema Informatizado para Acompanhamento da Execução do Incentivo à Assistência Farmacêutica na Atenção Básica), que possui investigadores e acadêmicos que não tem qualquer tipo de correlação com o próprio Ministério da saúde”, afirmou o promotor de saúde Gláucio Oshiro.
Embasamento científico
Em 20 de novembro de 2019, por meio de videoconferência, foi apresentado dados de estudo científico, à pedido do Ministério Público do Estado do Acre ao Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), apresentado ao Governo do Estado do Acre, concluiu após analisar as 86 adolescentes imunizadas com a vacina anti-HPV que apresentaram crises convulsivas, desmaios e dores pelo corpo, que tais efeitos não possuíam relação causal com a segurança da vacina, mas sim com o ato de vacinar.
Relatórios conclusivos
O relatório da USP trouxe a avaliação de 72 casos de adolescentes com sintomas como dores de cabeça, febre, quedas ao solo e abalos motores generalizados. Foi constatado que o trauma pós vacina estaria associado a tratamentos invasivos para estado de mal epiléptico e tratamento crônico com medicamentos antiepilépticos, e idas à serviços de urgência indicados por familiares e profissionais da saúde.
Em outubro de 2019, 16 adolescentes com sintomas mais graves foram deslocadas ao Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas em São Paulo (USP), onde foram submetidos a exames laboratoriais e de imagem e monitoramento da atividade cerebral para realização do diagnóstico definitivo. Doze delas foram avaliadas e quatro ficaram no aguardo da documentação da Sesacre até o final daquele mês.
No dia 20 de novembro de 2019, em Rio Branco (AC), foram apresentados os diagnósticos definitivos das pacientes que necessitavam de acompanhamento para tratar as comorbidades psiquiátricas. Na oportunidade, os familiares assinaram um termo de recebimento do diagnóstico da Universidade de São Paulo (USP), também entregue ao Ministério Público do Acre (MPAC).
Diagnóstico da USP
De acordo com o diagnóstico, dez pacientes não apresentaram doenças neurológicas, como a epilepsia, ou de natureza orgânica geralmente promovidas por lesões ou mudanças elétricas no sistema nervoso central. Dois casos, em particular, apresentaram diagnóstico de epilepsia congênita, ou seja, de origem genética, diagnosticado em dois irmãos. Esta patologia se manifesta na fase da pubescência.
“Após os estudos clínicos, chegou-se à conclusão de que os jovens encaminhados para lá não apresentaram qualquer tipo de agravo correlacionado com a vacina. Enfim, houve descarte de qualquer tipo de correlação. Nesse sentido atestou-se por intermédio de investigação aprofundada que a vacina HPV continua sendo muito segura para prevenção do câncer do colo do útero’”, considerou Gláucio Oshiro.
O outro lado
Após a confirmação científica da doença, adolescentes e seus familiares passaram a compartilhar vídeos, imagens e textos contrapondo o diagnóstico da doença psicogênica associado à vacina como principal causadora, o que voltou a repercutir movimentos contrários à vacina.
Fakenews e o movimento antivacina

Gláucio Oshiro relembra que “as fakenews surgiram a partir de um movimento oportunista vindo de fora do Estado e potencializado nas redes sociais dessas mesmas crianças e adolescentes e que fizeram contato com as mães do Acre. É bom lembrar que os agravos dessas crianças de fato são reais e, em razão disso, foram promovidas as melhores maneiras de se tratar”, afirmou o promotor.
O promotor ressalta ainda que o movimento antivacina, promovido nas redes sociais, culminou por fragilizar mães e responsáveis do Acre que acabaram por aderir a essa estratégia equivocada.
“Esse movimento antivacina oportunista chegou ao estado do Acre conversou com essas mães e responsáveis, obviamente fragilizadas pelo agravo apresentados, e por meio desse oportunismo acabou prejudicando toda estratégia vacinal no Estado do Acre e, por consequência, também provocou uma dificuldade de promover assistência à saúde dessas mesmas adolescentes”, enfatizou.
União contra a desinformação

Após a entrega e a assinatura do relatório da USP, o governador Gladson Cameli (PP) propôs a prestar assistência às jovens vítimas da Crise Não-Epiléptica Psicogênica (CNEP), bem como a rever os protocolos de atendimento no sistema de saúde e realizar uma campanha para combater a desinformação.
Para assegurar a continuidade aos serviços de saúde aos jovens, a participação do Ministério Público do Acre empenhou esforços para o acolhimento das mães durante as solicitações de atendimento e de viabilização de serviços para o Tratamento Fora do Estado (TFD).
Em março, o Ministério da Saúde, por meio da portaria n° 323/2020, repassou R$ 83.349,40 do Bloco de Custeio das Ações e Serviços Públicos de Saúde/Grupo de Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar ao Estado de São Paulo para continuidade do tratamento das adolescentes do Acre, que tiveram reação à vacina do HPV. O recurso financeiro foi repassado pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS) e destinado ao Hospital das Clínicas de São Paulo.
A unidade de referência indicada pelo Ministério da Saúde para o atendimento, assistência e acompanhamento dos adolescentes é formada por uma equipe de técnicos (médico, neurologista, médico psiquiatra, psicólogo e assistente social), realizando atendimento individual agendado com data e horário.
O promotor, Gláucio Oshiro, destaca que a atuação se deu em favor da saúde das adolescentes e das famílias tendo o MPAC responsável por fiscalizar o cumprimento da lei, em nome da população, cobrando das instituições serviços de saúde e atendimento digno, em respeito aos direitos fundamentais previsto na Constituição Federal.
“O Ministério Público tem como foco traduzir em ações coletivas em comportamentos coletivos, a fim de abranger toda população. Isso leva em consideração porque demandas individuais ou individualizadas muitas vezes podem promover a iniquidade do sistema, sabendo que o sistema de saúde é universal e promove a igualdade de acesso e também de oportunidades”, explica.
Segundo Oshiro, quando se ingressa com alguma medida judicial, o que faz com que com o indivíduo passe na frente do outro, sem outros critérios clínicos, conforme protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde promove uma clara iniquidade e igualdade de acesso ao sistema, razão pela qual o Ministério Público sempre promove ou busca atuar nas demandas de forma coletiva.
Efeitos nocivos das Faknews
Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde do Acre (Sesacre), a capital acreana registrou, em 2014, a cobertura vacinal de 92,7% da primeira dose. Em 2016, a taxa caiu para 12,7%. Em 2018, esse número despencou para 6%. A queda vertiginosa ocorreu também nos municípios acreanos. Em todo o Acre, a taxa de cobertura da primeira dose foi de 10,2% (2018), enquanto que a média nacional também sofreu queda considerável, registrando apenas 13,8%. A meta do Ministério da Saúde (MS) é vacinar 80% do público-alvo e a união das instituições tem sido fortalecida para garantir maior adesão aos serviços vacinais.
Vale destacar que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacina contra HPV auxilia na diminuição do câncer. Os dados revelam ainda que 630 milhões de pessoas são acometidas por câncer, sendo que desse montante dos casos que acometem homens (5%) e mulheres (10%) são causados pelo HPV.
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Notícias
Cresce o número de acidentes e lesões nas ruas de Rio Branco no 1º Trimestre de 2025

Publicado há
3 semanas atrásem
13 de junho de 2025por
Redação
Número de mortes cai 41%, mas ocorrências aumentam e imprudência ainda preocupa autoridades e população
Por Ana Flávia Santos, Gabriela Fintelman, Luísy Xavier, Patrícia Pinheiro e Pedro Amorim
No primeiro trimestre de 2025, Rio Branco registrou 676 acidentes de trânsito, com um aumento de 3% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram contabilizadas 656 ocorrências. Os dados são da Coordenadoria de Engenharia e Estatística de Trânsito do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/AC) e apontam para um cenário ainda preocupante na capital acreana.
Desse total, 261 resultaram em vítimas não fatais, com 310 pessoas lesionadas. Por outro lado, o número de vítimas fatais apresentou uma queda significativa: foram sete vítimas fatais de janeiro a março deste ano, contra 12 no mesmo período do ano passado — uma redução de aproximadamente 41,7%.
Embora o recuo nas mortes seja um sinal positivo, o cenário ainda está longe de ser considerado seguro nas vias da capital. Mesmo quando os acidentes não resultam em fatalidades, os efeitos são visíveis, como os engarrafamentos, pessoas feridas, danos materiais e prejuízos emocionais.
Perfil de vítimas no trânsito
Segundo dados do Detran divulgados em 2016 e que permanecem como a base mais recente disponível —, homens representavam 69,6% das vítimas de acidentes em Rio Branco, enquanto as mulheres correspondiam a 30,16%. A faixa etária mais atingida era de 18 a 29 anos, com predominância de condutores (74,11%), seguidos por passageiros (17,46%) e pedestres (8,42%).
As motocicletas estavam envolvidas em 55,09% dos acidentes com vítimas, enquanto os automóveis lideravam os acidentes sem vítimas, com 64,45%.
A maioria dos casos envolvia colisões (79,9%) e atropelamentos (9,75%), com maior incidência nos horários de pico: entre 5h30 e 7h, 11h e 12h, e 18h e 19h.
Em uma entrevista para o jornal Folha Nobre em janeiro deste ano, a coordenadora de Educação do Detran, Cléia Machado, destacou que o grupo mais vulnerável no trânsito são primeiramente os pedestres e em segundo os ciclistas. Embora os dados mais recentes disponíveis sejam de 2016, não há evidências de mudanças significativas no perfil das vítimas.
“Os pedestres e ciclistas são os mais vulneráveis no trânsito, por isso precisam ter atitudes que protejam a vida. Aqui no Parque Ipê, por exemplo, os pedestres devem utilizar as vias para pedestres, assim como o ciclista deve transitar na ciclovia e sempre utilizar os equipamentos de segurança”, afirma.
Imprudência lidera causas de acidentes na capital
De acordo com o Detran, cerca de 90% dos acidentes registrados na capital são causados por imprudência no trânsito. Além disso, em âmbito nacional, estudos realizados pelo Ministério dos Transportes indicam que a imprudência dos motoristas é responsável por 53,7% deles no Brasil.
Entre os comportamentos de risco mais comuns estão excesso de velocidade, avanço de sinal vermelho e ultrapassagens perigosas. O advogado de trânsito Sandro Oliveira alerta que o problema não se resume à falta de conhecimento: “A falta de educação está diretamente ligada aos acidentes. Muitos motoristas agem como se estivessem certos, mesmo quando claramente estão errados”, comenta.
Outro fator preocupante é o crescimento da frota de veículos em Rio Branco. Entre 2020 e 2024, o número de automóveis registrados saltou de 186.723 para 217.962 — um aumento de 16,75%. A expansão, sem melhorias proporcionais na infraestrutura, contribui para congestionamentos, cruzamentos perigosos e aumento nos índices de acidentes.
As vias mais perigosas da capital
Segundo o Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran), os cruzamentos são os locais com maior incidência de acidentes, principalmente nos horários de pico e em vias de grande fluxo. Entre janeiro e março de 2025, as dez vias com maior número de ocorrências somaram 148. A Avenida Ceará lidera o ranking com 30 ocorrências no trimestre.
Além de fatores comportamentais, a ausência de sinalização adequada em trechos movimentados da capital também contribui para o risco nas vias. Para o advogado, o papel do poder público é fundamental nesse cenário.
“Cabe ao poder público garantir a sinalização horizontal e vertical conforme determina o artigo 80 do CTB [Código de Trânsito Brasileiro]. Sem isso, a responsabilidade pela segurança nas vias fica comprometida”, pontua.
Vozes das ruas: o olhar de quem vive o trânsito
Para além dos dados e estatísticas, as experiências cotidianas de quem enfrenta o trânsito todos os dias oferecem uma visão concreta e urgente da realidade. “Os principais desafios são nas ruas, com muitos motoqueiros imprudentes”, relata Jeferson Bessa, motorista de aplicativo.

Ele também aponta a precariedade da malha viária como um agravante: “Há várias ruas em Rio Branco que precisam de atenção do governo porque estão com muitos buracos, alguns sendo quase impossíveis de passar de moto, principalmente quando chove”, enfatiza.
Essa dificuldade também foi vivida por João Gustavo Rocha, vendedor externo da empresa Acrepan, que teve prejuízo após cair em um buraco encoberto pela água da chuva. “Era uma rua bem esburacada e todos os buracos estavam com água. Não dava pra ver o quão fundo eles eram. Acabei batendo em um buraco no carro da empresa e quebrou um pouco do para-choque. A empresa ficou no prejuízo” relata.
Bairro Sobral, Rio Branco – AC. Foto: Hélio Vitalino
Ele também avalia que a desinformação sobre regras e deveres no trânsito ainda é um entrave. “A maioria dos motoristas não está bem-informada. Falta conscientização da população, e mais investimento do governo em educação para o trânsito. Muitas autoescolas também não oferecem uma formação de qualidade”, conclui.
Como prevenir acidentes e contribuir para um trânsito mais seguro
Diante dos números alarmantes e dos relatos de quem vivencia diariamente os desafios nas vias de Rio Branco, a prevenção se torna indispensável. Confira algumas orientações que podem ajudar a salvar vidas durante a rotina de trânsito.
- Respeite os limites de velocidade e a sinalização;
- Nunca dirija sob efeito de álcool ou outras substâncias;
- Use sempre o cinto de segurança e capacete, no caso de motociclistas;
- Evite o uso do celular ao volante;
- Mantenha a manutenção do veículo em dia, especialmente pneus e freios;
- Esteja atento às condições da pista, principalmente em dias de chuva.
Além da responsabilidade individual, o papel da população também é fundamental na fiscalização cidadã. Irregularidades no trânsito, buracos em vias públicas e comportamentos de risco podem – e devem – ser denunciados.
Canais de Denúncia e Contato:
- RBTrans (Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito): (68) 3212-7040
- Detran/AC: (68) 3229-5500, site: www.detran.ac.gov.br
- Ouvidoria da Prefeitura de Rio Branco: 0800 647 1311
- Polícia Militar (em caso de emergência ou flagrante de infração): 190, site: www.pm.ac.gov.br
As orientações seguem recomendações da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), que reforçam a importância da educação, fiscalização e boas práticas para a redução de acidentes. Somente com a união entre poder público, condutores e pedestres será possível transformar Rio Branco em uma cidade mais segura para todos.
Notícias
Empreendedorismo, arte e ativismo: narrativas de resistência de mulheres periféricas no primeiro podcast original A Catraia
Os 3 episódios do programa mergulham nas experiências de mulheres periféricas na capital acreana, explorando como o ativismo, a arte e o empreendedorismo social se entrelaçam como formas concretas de existir e transformar a realidade.

Publicado há
4 semanas atrásem
6 de junho de 2025por
Redação
Produção explora como mulheres de Rio Branco constroem caminhos de autonomia e dignidade, utilizando o empreendedorismo e a arte para resistir à exclusão
Por: Victor Manoel
A realidade social e econômica apresenta desafios únicos em Rio Branco, especialmente para grupos minorizados que enfrentam barreiras estruturais no acesso a direitos básicos, inclusive no mercado formal. Nesse contexto, o empreendedorismo surge não apenas como um meio de subsistência, mas como uma poderosa ferramenta de resistência, emancipação política e busca por autonomia e dignidade.
É essa força e criatividade que impulsionam o podcast “Trabalhar e Resistir”, projeto do curso de Jornalismo da Ufac, realizado no âmbito do jornal laboratório A Catraia, que busca ouvir essas narrativas de luta e superação. Os 3 episódios do programa mergulham nas experiências de mulheres periféricas na capital acreana, explorando como o ativismo, a arte e o empreendedorismo social se entrelaçam como formas concretas de existir e transformar a realidade.
Uma das vozes do podcast é da Luar Maria, atriz e estudante, que compartilha a dura realidade enfrentada pela população trans no Acre. Ela aponta a falta de seriedade e compreensão por parte de algumas gestões públicas em relação às necessidades dessa população e destaca a precariedade do acesso à saúde e a ligação entre empregabilidade e saúde. Luar ressalta que a luta por direitos e a busca por meios de subsistência andam juntas. Para ela, falta “seriedade no sentido de realmente tocar o que o recorte das secretarias está faltando”, e é preciso acreditar que essas políticas são cruciais para entender e avançar.
O podcast também apresenta Vands, artivista e empreendedora de ilustrações da periferia. Ela vê sua arte não apenas como expressão, mas como uma ferramenta de ativismo e uma forma de gerar renda, conectando seu trabalho a questões de justiça social, ambiental e direitos humanos. Transformar sua arte em empreendimento foi um passo natural, mas cheio de desafios práticos no contexto periférico. Vands define seu “artivismo” como a união da arte com o ativismo e considera “resistência”, pois fala de questões importantes e é criada “em um contexto em que (…) o capitalismo incentiva muito a gente a consumir sem pensar”.
Para oferecer um panorama mais amplo, o podcast incluiu a perspectiva institucional com Julci Ferreira, analista do Sebrae Acre e gestora de projetos como o Plural, focado em grupos sub-representados e pessoas em situação de vulnerabilidade. Julci explica a abordagem do Sebrae para o empreendedorismo inclusivo, buscando integrar esses grupos e dar a eles “luz e autoridade para se verem como empreendedores”. Ela afirma que “a ideia do Sebrae não é número, não é abrir CNPJ. A ideia do Sebrae é cada vez mais desenvolver ideias de negócio”.
Ouça “Trabalhar e Resistir: Vozes Periféricas do Empreendedorismo no Acre” no Spotify: https://open.spotify.com/show/6un2SKAou6c8OfkehlAv5Q?si=0572cdc289e345c3
Histórias de vida
Mulheres que fazem acontecer: a força do trabalho manual no empreendedorismo acreano
Elas não apenas produzem: elas plantam, moldam, carregam, vendem e resistem. Em um cenário onde empreender não é só uma escolha, mas uma forma de sobrevivência, mulheres do Acre estão transformando o que têm — terra, cimento, fruta, memória — em renda, autonomia e permanência. Muitas fazem isso com as próprias mãos. Outras, com apoio da família. Mas todas compartilham algo em comum: a decisão de permanecer criando.

Publicado há
4 semanas atrásem
5 de junho de 2025por
Redação
Por Thaynar Moura
Elas não apenas produzem: elas plantam, moldam, carregam, vendem e resistem. Em um cenário onde empreender não é só uma escolha, mas uma forma de sobrevivência, mulheres do Acre estão transformando o que têm — terra, cimento, fruta, memória — em renda, autonomia e permanência. Muitas fazem isso com as próprias mãos. Outras, com apoio da família. Mas todas compartilham algo em comum: a decisão de permanecer criando.
Da colheita ao pote: Lucilene e a trajetória de um doce feito com raízes
Lucilene Nonata, de 58 anos, vive com o marido em um sítio no interior do Acre. Foi ali que, há cerca de duas décadas, ela decidiu começar a fazer doces com frutas do próprio quintal. “Meus filhos estavam entrando na adolescência e eu queria fazer algo meu, que também ajudasse na renda da casa”, conta.
A escolha pelo doce não foi aleatória: os pais de Lucilene já faziam compotas com frutas temporãs, e o marido, cearense, também gostava de preparar receitas simples. “Foi natural. Começamos com o que a gente tinha: cupuaçu, mamão, banana. O leite vinha do vizinho.”
Hoje, mesmo com o pomar envelhecido e parte da matéria-prima comprada de produtores vizinhos, o processo segue artesanal. Tudo é feito por Lucilene e o esposo, desde a limpeza até o ponto do doce. A venda acontece em feiras e comércios locais, e o contato com o público é parte do valor do produto. “As pessoas perguntam se é a gente mesmo que faz. Criamos laços. Muitos viram amigos.”
A formalização veio com apoio do Sebrae, que orientou desde o registro como MEI até a criação dos rótulos e da tabela nutricional. “O Sebrae foi nosso primeiro e melhor parceiro. Nos abriu portas e deu acesso a linhas de crédito, cursos e assistência técnica”, relata.

Apesar dos avanços, o desafio é constante: o alto custo dos insumos e a concorrência com produtos industrializados. “É difícil competir. Nosso estado não é rico. Mas a gente vai atravessar essa fase também”, afirma Lucilene. E para outras mulheres que pensam em empreender, ela é direta: “Somos guerreiras. Se cada dia traz um leão, que venham os leões.”
Concreto, família e criação: a arte que resiste com Elizabete e Maria Eliane
Elizabete Monteiro tem 25 anos e voltou ao Acre em 2025, depois de concluir a graduação em Curitiba. Junto com a mãe, Maria Eliane, de 61, criou o negócio “Arte em Concreto”, voltado à produção manual de peças decorativas feitas a partir de cimento, areia, pedrita e moldes reaproveitados.
“O gosto pelo artesanal sempre veio da minha mãe. Quando ela ia passar um tempo comigo, ficava procurando o que fazer com as mãos”, lembra Elizabete. A dupla começou estudando técnicas no YouTube e fazendo testes em casa, até descobrir formas de agregar valor às peças — como a inclusão de plantas e o uso criativo do concreto na decoração.
O trabalho é familiar. Elizabete e a mãe cuidam da produção. O pai ajuda nas feiras. A irmã apoia na divulgação digital. “É algo muito em família, e cada um colabora do seu jeito”, afirma.
Entre os maiores desafios, Elizabete destaca o início do processo. “É preciso vencer o medo de começar. Mostrar o que você faz e lidar com o marketing exige constância.”Atualmente, participa da associação “Elas Fazem Acontecer”, formada por mulheres empreendedoras que organizam feiras e dão suporte às expositoras. “Faz diferença. A gente se sente parte de algo.”
A empresa começou a vender peças há cerca de um mês, e uma das metas de Elizabete é investir mais na divulgação pelo Instagram. “Hoje, se você quer saber de algo de uma loja, já vai direto no Instagram. Quero turbinar as postagens.”
Para ela, o mercado de decoração artesanal está crescendo. “As pessoas querem peças com identidade, que sejam únicas.” E para outras mulheres que sonham empreender: “Persistam. Se você ama o que faz, o retorno vem. Mas é preciso estar atenta às novidades e criar com propósito.”
Arte, dedicação e persistência: de uma conversa entre amigas ao ateliê em casa – o sonho de Adriana
Adriana Balica, 32 anos, é proprietária da FazerArt Personalizados, um ateliê montado na própria casa, onde ela cuida de tudo: do atendimento à criação das artes e à embalagem personalizada. “A FazerArt nasceu numa conversa entre amigas, juntando minha paixão pelo trabalho manual. Hoje, faço tudo sozinha,” conta.
Para Adriana, empreender é uma jornada que exige atenção constante. “Empreender é uma tarefa extremamente difícil, pois temos que dominar um pouquinho de cada coisa e estar sempre atenta a todos os detalhes. Há dias e dias, há altos e baixos, assim como a nossa vida”, reflete.

Assim como as outras mulheres desta reportagem, Balica destaca o apoio do Sebrae. “O Sebrae sempre esteve de portas abertas pra ajudar, tirar dúvidas, oferecer cursos, palestras e concursos. Sempre que posso, participo.”
E sobre tecnologia? Ela brinca: “Não uso nenhuma tecnologia avançada, eu acho, kkk.”
Para quem pensa em empreender, Adriana tem um conselho: “Lute! Lute pelos seus sonhos. Deus não coloca sonho no nosso coração que a gente não possa alcançar. É difícil, cansativo, cheio de desafios, mas vale a pena! ”
Onde termina o produto, começa a história
As histórias de Lucilene, Elizabete e Adriana, não são exceções. Elas representam milhares de mulheres no Brasil e no Acre que vivem daquilo que fazem, cultivam ou aprendem. Os dados mais recentes reforçam o que as histórias contam: empreender, para muitas mulheres, é uma decisão moldada pela necessidade, mas sustentada pela criatividade e pelo trabalho diário. Que trabalham com o corpo, com a memória e com o tempo.
No Acre, o número de mulheres à frente de negócios oscilou nos últimos três anos. Segundo dados do DataSebrae, em 2022, eram 23.564 empreendedoras no estado. Em 2023, esse número caiu para 20.453, representando 23,7% do total de donos de negócios. No entanto, em 2024, houve uma leve recuperação: 21.350 mulheres atuavam como donas de negócio no estado no 4º trimestre, o que representa 25,1% dos empreendedores locais.

Esse avanço percentual, frente aos 23,7% registrados no ano anterior, revela uma retomada gradual da presença feminina no mercado.
Em números nacionais, 42% dos empregadores ou trabalhadoras por conta própria no Brasil são mulheres — um universo de 10,4 milhões de empreendedoras que movimentam a economia com pequenos negócios, muitas vezes construídos no quintal, na sala de casa ou em uma feira.
O aumento na participação percentual indica que as mulheres seguem ocupando espaço, criando soluções e sustentando seus negócios com o que têm – seja terra, concreto ou papel.

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