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Uma morte anunciada: crise hídrica ameaça futuro do rio Acre

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Foto: Arquivo Pessoal

Por Andreana Lucas e Bruna Mendes

Os rios e os regimes das águas são historicamente de grande importância para os povos amazônicos. Cidades inteiras foram construídas seguindo e se beneficiando do percurso dos rios. Transporte e alimentação são exemplos de recursos que até hoje são bastante utilizados por meios fluviais. Apesar disso, há algo preocupante acontecendo diante dos nossos olhos: os rios estão secando.  

O rio Acre, que banha cinco cidades acreanas, se encontra atualmente em estado de emergência devido à estiagem. O baixo volume de chuvas vem fazendo o cenário de crise hídrica se repetir nos últimos anos. Em 2021, o nível do rio chegou a marcar 1,47 metros, quase batendo o recorde de 2016, quando as medições da Defesa Civil marcaram 1,37 metros. 

A moradora do bairro Cadeia Velha Dona Maria Miracelie, que reside há mais de 40 anos ao lado do rio, conta que tanto as secas quanto as inundações são costumeiras, mas relata que se surpreende com as mudanças drásticas apresentadas neste ano. “Não, nunca foi assim… só nos meses de agosto que era assim, agora subiu a temperatura, muito seco e quente desde julho… Me admira ainda não ter faltado água.”

Foto: Andreana Lucas

A ribeirinha lembra ainda de como era mais fácil, há alguns anos, o cultivo de alimentos às margens do rio.  “Plantei muita macaxeira, batata e jerimum, mas como a alagação vem a gente parou…. E ainda tem muita gente que joga lixo na beira do rio, assim fica difícil”, lamenta. 

Foto: Andreana Lucas

O relato de Dona Maria representa uma conjuntura do que nos espera no futuro, a emergência do clima e eventos climáticos extremos, como previsto no último relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima da Organização das Nações Unidas (ONU).  O planeta está aquecendo, fato que já vem provocando consequências alarmantes. O aumento da seca e da aridez é uma das previsões do grupo de cientistas da ONU para a América do Sul.

No caso do Acre, especialistas apontam o desmatamento descontrolado, a crise do clima e ciclos naturais como causas da seca dos últimos anos. “A situação do clima está muito atípica e isso vem evoluindo ao longo dos anos. Em 2005 eu acompanhei as florestas incendiando e matando os animais, e de lá pra cá não parou mais”,  afirma o geógrafo especialista nos estudos do Rio Acre, Claudemir Mesquita.

Foto: Bruna Mendes

Formado pela Universidade Federal do Acre, Claudemir é geógrafo, ambientalista, especialista em planejamento e uso de bacias hidrográficas. Com mais de 26 obras relacionadas ao meio ambiente, ele alerta para uma possível morte do rio que corta a capital acreana. 

“A morte desse rio já é anunciada há muito tempo, mas o que é um rio morto? Não é um rio que não passa água, mas sim um rio que ninguém usa e nem bebe. A exclusão é evidente.” O ambientalista ressalta a maneira que devemos olhar para a vida das nossas águas e chama a atenção para a falta de estudos sobre o tema, tanto dos órgãos responsáveis pelo meio ambiente como no campo universitário.

“Quando uma cidade é criada às margens de um rio, deve haver um planejamento e estudos para que ele possa viver além da eternidade… No estado e nos municípios, em cada um existe uma secretaria de meio ambiente, que deveria ter a finalidade de orientar e fiscalizar o uso da terra. A universidade não conhece o rio, pois se conhecesse seria discutido, por exemplo, o esgoto em um metro cúbico de água e os impactos que isso gera a nossa bacia. Não vejo preocupações em se ter esses estudos e pesquisas”,  relata o especialista.

Foto: Bruna Mendes

Conforme a lei federal n° 12.651/2012, existem as Áreas de Preservação Permanente (APP) que incluem a preservação dos recursos hídricos. No entanto, o geógrafo afirma que no Vale do Acre já foram desmatados por volta de 140 mil metros quadrados nessas APPs. Claudemir Mesquita faz também a um apelo à população em geral com relação a desmatamento desenfreado e queimadas:

“Se desmatar, impacta o rio. Queimadas tem a finalidade de fazer mau uso das terras hidrográficas e os impactos vão trazer consequências… Não é possível prever uma recuperação desse rio em pouco tempo. Quanto mais o tempo passa, as cidades aumentam, o desmatamento também e o rio diminui, com menor capacidade de produção de água. E a sede não espera!”, alerta. 

Foto: Juan Diaz

Poluição intensifica a crise

Quando a água baixa, um problema costuma se revelar no Estado: a poluição intensa. O cenário de seca aliado à grande quantidade de lixo faz o rio parecer um local abandonado e sem vida. 

O fotógrafo Juan Diaz realiza anualmente registros fotográficos na bacia do rio Acre. Ele chama a atenção para o descuido com a limpeza, principalmente nos últimos três anos. As imagens capturadas denunciam o descaso e a poluição dos nossos rios. 

“Na verdade, a seca está sendo na Amazônia, o que afeta a todos os municípios, afeta todo o transporte dos municípios isolados do interior. E é triste ver quando vamos fazer um material na beira do rio, a poluição. Quando o rio está seco é horrível de se ver o lixo, entulho, geladeira, fogão… A seca do rio me remete à tristeza, pela poluição. Quem sofre somos nós. Fora as outras coisas como queimadas, pandemia, dengue… é muito difícil de viver no verão amazônico”, explica o fotógrafo. 

 

Foto: Juan Diaz

Falta de água coloca em risco o abastecimento de energia 

A crise hídrica é uma realidade que não se restringe ao estado do Acre. A falta de chuvas tem afetado várias cidades pelo Brasil, colocando em risco, inclusive, o abastecimento de energia elétrica do país. Alguns dos principais reservatórios de água para a produção de energia estão em níveis muito abaixo do que se considera ideal. A escassez de chuvas no país para a geração de energia é a pior em 91 anos, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). 

A instabilidade na geração de energia vem causando impactos diretos sobre a vida dos brasileiros. No último dia 26 de agosto, o ministro da economia Paulo Guedes anunciou mais um aumento na tarifa da conta de luz. Com a criação da bandeira de escassez hídrica, o cidadão pagará agora R$14,20 extras a cada 100 quilowatts-hora (KWh). 

A cobrança extra, somada à crescente inflação, que fez os preços de produtos básicos do supermercado dispararem, pesam no bolso dos consumidores, colocando em evidência que a crise hídrica é apenas mais um sintoma de um momento de grandes problemas a serem enfrentados no Brasil.

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O desafio de pegar ônibus à noite na UFAC

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Uma das maiores preocupações dos estudantes dos cursos noturnos é o deslocamento por transporte público. 

Por Akenes Mesquita e Felipe Nascimento

Estudantes enfrentam desafios significativos ao utilizar o transporte público para se deslocarem até suas residências durante o período noturno. A falta de infraestrutura adequada e os problemas de segurança são algumas das principais preocupações enfrentadas pelos estudantes que frequentam a Universidade Federal do Acre (Ufac).

Ônibus superlotados, atrasos frequentes e rotas limitadas são apenas algumas das questões enfrentadas diariamente pelos universitários. Além disso, a falta de iluminação adequada nos pontos de ônibus e nas vias públicas aumenta o sentimento de insegurança durante o trajeto para casa. 

O aluno do curso de Ciências Econômicas, Abimael de Souza Melo, considera a situação inadmissível em um país onde os cidadãos pagam altos impostos e deveriam contar com este  serviço público mais eficiente e acessível para todos. Ele relata as dificuldades enfrentadas ao utilizar o transporte público:“O último ônibus passa às 21h40, enquanto minhas aulas só terminam às 22h, o que gera um conflito de horários. Além disso, há um intervalo significativo entre os ônibus, por exemplo, um passa às 20h e o próximo só às 21h40, o que torna a espera prolongada”.

Foto: Akenes Mesquita

Segurança em risco

Outra preocupação significativa  é a segurança. O aumento da criminalidade na cidade, especialmente durante a noite, torna o deslocamento dos estudantes uma experiência estressante e arriscada. Relatos de assaltos em pontos de ônibus e dentro dos próprios coletivos são frequentes, gerando um clima de insegurança na comunidade acadêmica.

Fábio Alves, estudante de Economia, já foi assaltado no trajeto e fala sobre o sentimento de insegurança ao voltar para casa após um dia cansativo de trabalho e aula.

“Moro no bairro Nova Esperança e há dois ônibus que fazem essa linha: Fundhacre e o Rodoviária. Como meu curso termina às 22h, eu tenho que optar por um dos dois. Houve vezes em que optando pelo o Fundhacre, eu perdia o Rodoviária e o Fundhacre nem aparecia no terminalzinho”, lamenta ele, que já precisou recorrer a carros de aplicativo e ouviu relatos de roubos a outros estudantes.

Impacto no desempenho acadêmico

Os desafios não se limitam apenas ao aspecto físico e emocional, mas também têm um impacto direto no desempenho acadêmico. O estresse e a ansiedade causados pelos problemas de transporte e segurança podem prejudicar a concentração em sala de aula e comprometer o rendimento escolar.

A presidente do Diretório Central dos Estudantes da Ufac (Dce), Ingrid Maia, reconheceu que desde janeiro de 2024 estão recebendo algumas reclamações, principalmente em relação ao atraso dos ônibus, à falta de acesso dos veículos na Ufac e à qualidade dos mesmos.

“Encaminhamos denúncia à RBTRANS para que seja instaurada uma investigação e garantir que tais irregularidades não se repitam. Quanto à mudança de rotas, vamos levantar essas e outras pautas no Conselho de Transportes e Tarifas.” 

Ela também diz ter cobrado da administração uma maior efetividade nas rondas ostensivas e o retorno do diálogo com as instituições de segurança pública.”

Diante desses desafios, os estudantes clamam por soluções eficazes por parte das autoridades responsáveis. Medidas como aumento da frota, melhoria na infraestrutura dos pontos de ônibus e aumento da presença policial nas rotas de transporte público são algumas das demandas urgentes da comunidade acadêmica.

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Cultura

Retorno das supermodelos dos anos 2000 às passarelas no outono/inverno 2024

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As brasileiras Caroline Trentini e Isabeli Fontana foram destaque na semana de moda de Paris.

Por Felipe Souza

A temporada outono/inverno 2024 tem sido um prato cheio para os amantes da moda “vintage” e das grandiosas modelos. Além de peças que remetem à época, as supermodelos dos anos 2000 retornaram com tudo nas passarelas de Nova York, Londres, Milão e Paris.

Muitas eras de modelos se encontraram em um curto período de tempo em que ocorreram as Semanas de Moda. Das brazilian bombshells às doll faces, os rostos mais conhecidos pela comunidade fashion mundial apareceram e brilharam nas cidades mais badaladas do mundo.

Não importava em qual desfile você assistia. Do mais ‘fashion’ ao mais comercial, as poderosas das passarelas dos anos 2000 estavam lá. Claro que o Brasil esteve presente, considerando que a maioria das grandes modelos no início do século era brasileira.

A gaúcha Caroline Trentini, por exemplo, representou o país nas passarelas da Schiaparelli, Carolina Herrera, Michael Kors e Max Mara. Além de Caroline, a paranaense Isabeli Fontana cruzou a Balenciaga e Alessandra Ambrósio, a icônica angel da Victoria’s Secret, fechou o desfile do estilista Elie Saab.

Caroline Trentini, Isabeli Fontana e Alessandra Ambrósio/Créditos: Condé Nast

Mas não foi só de brazilian bombshells que a moda dos anos 2000 viveu. A norte-americana Frankie Rayder também cruzou, assim como Fontana, as passarelas da Balenciaga. Rayder foi uma das favoritas de Donatella Versace na era de ouro da italiana ‘Versace’.

Frankie Rayder para Balenciaga/Créditos: Condé Nast

As Slavas, sem sombras de dúvidas, estavam em peso também. O maior nome da temporada foi Natasha Poly, a mais bem-sucedida russa. Poly desfilou para Max Mara, Ferrari, Dolce & Gabbana, Fendi, Mugler e, majestosamente, fechou a coleção da Acnes Studio.

Natasha Poly para Fendi/Créditos: Condé Nast

Ainda representando as Slavas, a lendária ucraniana Carmen Kass e – segunda maior modelo dos anos 2000, apenas atrás de Gisele Bündchen -, e a russa Natalia Vodianova, juntas,  receberam todos os holofotes da plateia presente no show da Vetements.

Hana Soukupova, com seus 1,85 metros, também fez um retorno com maestria e cruzou a francesa Balmain e ainda brilhou com um outfit todo preto do Elie Saab.

Carmen Kass, Natalia Vodianova e Hana Soukupova/Créditos: Condé Nast

Uma menção mais que honrosa: Gemma Ward para Max Mara. A doll face original, com seus cabelos loiros e olhos azuis, por muito tempo brilhou nas maiores grifes do mundo. Hoje, reclusa das câmeras, faz trabalhos selecionados e no outono 2024 foi escolhida para encerrar o desfile, além de ter reencontrado as amigas de longa data.

Gemma Ward, Natasha Poly e Caroline Trentini no backstage da Max Mara/Créditos: Arquivo pessoal/Caroline Trentini

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Histórias de vida

O Chefe deixou a calçada

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Por Ludymila Maia e Beatriz Mendonça 

A pequena loja, localizada perto das margens do Rio Acre, com várias bugigangas à mostra, está há pouco mais de um ano sem a fervorosa animação e presença do seu dono. O falecimento de Tancredo Lima de Souza, ocorrido no dia 23 de agosto de 2022, aos 69 anos, deixou uma lacuna profunda naqueles que o conheceram e amaram.

Tancredo Lima de Souza veio do interior de Pernambuco para Rio Branco, com seu pai e irmãos, e logo começou a trabalhar para ajudar no sustento da casa. Como era o mais proativo, logo ganhou o apelido de Chefe. Sempre dedicado, exerceu várias profissões, dentre elas seringueiro, motorista de ônibus e táxi, mas seu coração pertenceu ao comércio. 

Começou desde jovem vendendo picolé, e, com o passar dos anos, passou a vender vassouras e tabaco. Conseguiu um ponto de vendas no Centro da cidade, trabalhou para manter sua loja junto de sua esposa, Maria José, e expandiu cada vez mais seu comércio. Virou o famoso Bazar Chefe, popular pela variedade de produtos tradicionais expostos para que todos aqueles que passam pelo local possam ver.

Começou a atrair uma grande clientela, que buscava utensílios que só o Chefe tinha e todos eram encantados pela humildade e vigor do vendedor. Assim foi construído um legado, que durou mais de 50 anos com clientes fiéis e amigos saudosos, que ainda se emocionam ao visitar a loja e não ver o Chefe no comando.

Bazar Chefe, um dos comércios mais tradicionais e populares de Rio Branco. Foto: Ludymila Maia

A saudade bate particularmente naqueles que compartilharam o privilégio de chamá-lo de pai. Segundo seus filhos, Cleudo José e Cleide Sandra, o pai sempre os incentivou para seguir seus passos e também foi um grande exemplo de honestidade, humildade e integridade. Além disso, os filhos lembram de seu coração bondoso que ajudava a todos.

Na cidade, ele era conhecido como um comerciante exemplar, alguém que deixou sua marca nas ruas e nos corações daqueles que tiveram a sorte de cruzar seu caminho. Para sua filha, ele era muito mais do que um pai, era um mentor, um guia. 

Ao falar sobre ele, a emoção na voz, pois sua jornada serviu como uma escola prática para seus filhos, uma lição de vida transmitida através das experiências do dia a dia. Seu pai, um verdadeiro mestre do comércio, ensinou não apenas a vender produtos, mas também a construir relacionamentos duradouros. 

“Ele era o meu pilar”, diz seu filho, com a voz repleta de reverência. “Ele não apenas direcionava nossos negócios, mas também na vida. Suas palavras eram um farol, estabelecendo o caminho certo a seguir”. Mesmo que sua presença física agora seja uma lembrança, o impacto de seus conselhos continua a moldar suas escolhas e ações. 

Os dois filhos do Chefe, Cleudo José e Cleide Sandra.  Foto: Ludymila Maia

“Humildade” é uma palavra que surge constantemente quando se fala dele. Ele era um homem que tratava todos com respeito e compaixão, independentemente da posição na sociedade. Sua presença calorosa e sincera deixou uma marca indelével nas pessoas com as quais interagiu e, até hoje, elas sentem sua falta. 

A voz de Francisca Lima, irmã de Tancredo, ecoa com carinho e saudade, relembrando as memórias de um homem cuja vida foi repleta de histórias e ensinamentos. “Ah, meu irmão… Como é difícil falar dele”, suspira a irmã, com os olhos cheios de emoção. “Ele era tudo para nós, um alicerce em nossa família e também na família de sua mulher. Seu coração era grande o suficiente para abraçar o mundo inteiro.”

O sepultamento de Tancredo não apenas trouxe lágrimas à sua família, mas também testemunhou o amor e o respeito que ele inspirou em toda a comunidade. “No dia em que o Chefe faleceu, ainda de madrugada, começou a chegar gente das fazendas, do interior, do seringal”, descreve sua irmã, destacando a influência imensa que ele teve. 

“Eu preferi não ver o Chefe”, admite ela, uma vez que a perda ainda é difícil de aceitar. “Ele foi nosso pai e nossa mãe, desde muito cedo ele assumiu as responsabilidades, sempre cuidou muito da gente, era tudo para nós, lembro de quando eu e minha irmã ficamos mocinhas ele comprava até batom para gente só porque sabia que nós gostávamos.” 

Uma paixão peculiar pela culinária emerge nos relatos da irmã, que com um sorriso afetuoso diz: “Lembro que meu irmão adorava peixe, ele gostava muito, sempre comia tambaqui até dizer chega.” Era na simplicidade da vida que o famoso Chefe do Novo Mercado Velho encontrou sua alegria, seja vendendo picolés nas ruas, ou incansavelmente juntando centavos para sua primeira banquinha. Nunca teve vergonha de sua história e  se orgulhava de seu passado. Apesar de não ter terminado seus estudos, foi um grande aprendiz da vida e também um grande professor para aqueles que o conheceram.

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