Cotidiano
Olhares sobre a transgeneridade
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Redação
Reprodução/B9
Por Guadalupe de Souza Pereira
Uma das pessoas transgênero mais conhecidas do Brasil, Roberta Close – atriz, modelo e cantora – passou 15 anos tentando ter seu nome Roberta em seus documentos, mesmo após passar por uma cirurgia de redesignação genital e por dezenas de exames biológicos e laudos médicos. Roberta, à época, descobriu ser uma pessoa intersexual – que biologicamente não responde ao masculino ou ao feminino.
Em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que pessoas trans e travestis podem alterar o nome e gênero no registro civil sem se submeterem a provas ou a uma cirurgia. Se antes era uma questão sexual em diversos níveis, atualmente se trata do direito à identidade de gênero.
A separação do sexo e do gênero, ou mesmo o questionamento ao que realmente é considerado sexo, é encontrado em diversas literaturas. No Conto Roxo: A História da Minha Transexualidade, do livro Bricolagem Travesti, a autora Maria Léo Araruna relata: “nasci com uma marca de formato cilíndrico. Era algo largo e que ficava solto no corpo. Disseram-me para me orgulhar desse objeto natural. As pessoas chamavam isso de homem, mas sempre achei que se tratava apenas de um pênis. Ele não interferia em nada. (…) O homem colocado em mim não existe”.
A observação de Maria corresponde às discussões atuais sobre os estudos de sexualidade, que colocam a transgeneridade como uma dissidência a um sistema sexual vigente que impõe sexos binários e heterossexuais. Estudiosos como Thomas Laqueur, que escreveu o livro Inventando o Sexo, consideram o sexo humano como um conceito insustentável.
Atualmente o que se discute em termos de ativismo e de legislação vai além do que se entende biologicamente como sexo, se solidificando na identidade e na dignidade das pessoas. Entre outras mudanças de percepção sobre o tema, a Organização Mundial da Saúde (OMS) oficializou em 2019 a retirada da classificação da transexualidade como transtorno mental da 11º versão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas de Saúde (CID).
Conceitos e termos
Em “Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos”, Jaqueline Gomes de Jesus, ativista trans, aponta que é necessário diferenciar a identidade de gênero do que ela indica como funcionalidade de gênero. Portanto, dentro da identidade de gênero está a vivência cisgênero, de quem se identifica com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento, e a vivência transgênero, quando não há conformidade com o que lhe foi imposto. Esta última engloba a vivência transexual/transgênero e também a travesti, que é um termo popular no Brasil e se refere geralmente a uma identidade transfeminina marginalizada. Atualmente as travestis requisitam um tratamento mais respeitoso e associam esta identidade a uma história de luta e de orgulho. Pessoas não binárias ou agêneras, que não se veem nem como homens tampouco como mulheres, também estão englobadas como pessoas trans.
Quanto à funcionalidade de gênero, Jaqueline Gomes descreve que são apropriações de papéis de gênero apenas por razões práticas (trabalho, recreação, arte, etc) e não por identidade. Drag queens, drag kings e transformistas são exemplos de expressões de gênero que ocorrem sobretudo por motivos artísticos. Uma pessoa que performa uma drag queen não necessariamente é uma pessoa trans. Crossdressers são também exemplos, sendo estes, em geral, homens cis heterossexuais que usam roupas, maquiagens ou peças ditas femininas em momentos pontuais.
É importante não confundir a identidade de gênero de uma pessoa com a sua sexualidade. Esta diz respeito à orientação sexual, isto é por qual gênero a pessoa se sente atraída, como heterossexual, bissexual, homossexual, assexual, panssexual. O transfeminismo busca, inclusive, que as orientações sexuais respeitem à identidade de gênero, fazendo com que, por exemplo, um relacionamento entre duas mulheres, cis e trans, seja respeitado como lésbico, independente da genitália.
Realidade trans no Brasil
No boletim “Assassinatos contra Travestis e Transexuais em 2021”, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) relata que “dados parciais de 2021 indicam que assassinatos contra pessoas trans estão acontecendo mais precocemente, contra vítimas cada vez mais jovens e com maior violência, e seguem com números altos apesar da pandemia”.
O texto, assinado por Bruna Benevides e Sayonara Nogueira, avança descrevendo os casos mapeados pela Antra no Brasil: “Em 2020, a ANTRA encontrou um número recorde de assassinatos contra travestis e mulheres trans. Um total de 175 casos foram mapeados contra 44 nos Estados Unidos. Já em 2021, nos quatro primeiros meses, enquanto nos EUA foram 19 pessoas trans assassinadas, no Brasil chegamos à triste marca de 56 assassinatos – sendo 54 mulheres trans ou travestis e 2 homens trans ou transmasculinos. São inúmeros os casos que apresentaram requintes de crueldade e uso excessivo de força, e espancamentos – indicativos de se tratarem de crimes de ódio. Tendo sido encontrados ainda 5 casos de suicídio, 17 tentativas de assassinatos e 18 violações de direitos humanos contra pessoas trans, no mesmo período”.
O boletim também alerta para a dificuldade em catalogar tais casos, pois boa parte são subnotificados ou as pessoas trans não têm sua identidade respeitada pelos registros policiais. Mesmo assim, o mapeamento da Antra já é alarmante. O ano de 2020 superou a média anual de 122,5. Os números, porém, também retratam o racismo no Brasil, visto que 80% das pessoas trans e travestis assassinadas em 2020 eram pretas.
Essa violenta realidade dá ao Brasil o título de país onde mais matam transexuais no mundo, de acordo com dados do Trans Murder Monitoring (Observatório de Assassinatos Trans). O topo desse infeliz ranking é ocupado pelo Brasil há 12 anos consecutivos.
A ditadura militar e a transgeneridade
Muitos apontam a Ditadura Militar que tomou o Brasil por 25 anos (1964-1985) como um regime que aumentou o estigma sobre a população trans e travesti. Além da influência conservadora sobre os meios de comunicação da época, o período também intensificou as políticas de repressão contra pessoas trans. “Foi durante o Regime Militar que a polícia iniciou uma pesquisa criminológica para justificar a prisão de pessoas LGBT por ‘vadiagem’. A partir disso o delegado Guido Fonseca definiu então o ‘alto grau de periculosidade travesti”, denuncia a comunicadora e historiadora Giovanna Heliodoro, conhecida na internet como Trans Preta.
Ela diz que a “ameaça travesti” contou com apoio da sociedade civil e foi a justificativa legal para a perseguição de pessoas trans e travestis. Giovanna ressalta: “precisamos lembrar da Ditadura para não esquecer da nossa história e a de muitas travestis que foram assassinadas e presas para que estejamos aqui hoje”.
O acervo LGBT do projeto Memórias da Ditadura, realizado pelo Instituto Vladimir Herzog, registra diversas operações policiais em São Paulo, que se iniciaram em 1968, coincidindo com a instauração do AI-5, e que se estenderam de maneira sistematizada a partir de 1975.
O delegado Wilson Richetti é citado também no Dossiê da Ditadura, da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo. O Dossiê relata que “a ideologia dominante continha claramente uma perspectiva homofóbica, que relacionava a homossexualidade às esquerdas e à subversão”. À época, as transexuais eram costumeiramente tratadas no masculino e confundidas com homossexuais.
Além de confirmar as denúncias de Giovanna Heliodoro e o acervo do Instituto Vladimir Herzog, a Comissão da Verdade relacionou a efetividade das ações policiais aos governantes da época.
“Famosos nessa época, o delegado José Wilson Richetti e seus policiais promoviam verdadeiros arrastões pelas ruas centrais. Estes resultavam em detenções violentas, justificadas por abaixo-assinados de comerciantes e trabalhadores da região, em prol da moralidade defendida pelo regime, muitas vezes incentivados pelo próprio delegado. Estima-se que durante os finais de semana, entre 300 e 500 pessoas eram detidas, arbitrariamente, por noite em São Paulo. Dentre estas, muitas eram extorquidas e algumas foram torturadas.”
(acervo LGBT do projeto Memórias da Ditadura, Instituto Vladimir Herzog)”
A mídia da época repercutia todas essas ações perpetuando a discriminação e o estigma sobre as pessoas trans e travestis, como também aos negros, aos homossexuais e às lésbicas.
Houve também a icônica manifestação em 14 de junho de 1980, na escadaria do Theatro Municipal de São Paulo, tida como o primeiro ato público do movimento LGBTI+ no Brasil, que exigia esclarecimentos de Richetti e do secretário de Segurança Pública da época, Octavio Junior, em razão das perseguições.

Onde estão as pessoas trans hoje?
A política brasileira é um espaço que tem sido ocupado pelas pessoas trans. Só em 2020, nas eleições municipais, foram eleitas, segundo a Antra, 2 homens trans e 28 travestis e mulheres trans em todo o Brasil, sendo 7 delas com a candidatura mais votada em suas cidades.
Erika Hilton (Psol-SP), eleita na capital paulista, é a primeira mulher negra e transexual eleita vereadora na capital paulista – e com 50.508 votos, o que a faz a mulher mais votada do Brasil nas eleições de 2020. “Estamos sedentas de direitos humanos e equidade. Nós criaremos muitas fissuras nessas estruturas de poder e dominação”, disse ela, recém-eleita, ao jornal G1.
No entanto, apesar dos dados imprecisos, a Antra estima que 90% da população trans e travesti no Brasil se prostituem, principalmente pela dificuldade de acesso ao mercado de trabalho e por saírem muito cedo de casa – geralmente são expulsas. É evidente a dificuldade em inserir esta população no mercado de trabalho ou mesmo de terem seu nome e gênero reconhecidos legalmente. Um estudo da Prefeitura Municipal de São Paulo, organizado pelo Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC), indica que 75% das pessoas entrevistadas deixaram de morar com a família precocemente. Quase a metade (46%) das travestis, segundo o estudo, são profissionais do sexo, enquanto 34% das que se identificam enquanto mulheres trans atuam profissionalmente da mesma forma. Pelo menos 18% dos homens trans são atendentes de telemarketing ou vendedores de lojas e lanchonetes.
Representatividade nas artes
Mesmo com uma realidade adversa, as pessoas trans e travestis têm se destacado no mundo artístico. Ao lado de pessoas trans como a cantora Liniker Barros, a artista Verónica Valenttino, as cantoras Urias e Danna Lisboa, a rapper Ceci Dellacroix e a maquiadora Magô Tonhon participam da produção da música e do vídeo-clipe de Oração, na qual Linn da Quebrada levanta uma discussão sobre a ausência de afeto com a população trans e travesti, mas também indica uma unida cena brasileira de artistas e personalidades transgêneros.
A artista Liniker, cantora de soul e black music, também é a estrela da recente série da Amazon Prime Music chamada Manhãs de Setembro. A série conta a história de Cassandra, uma mulher trans, que descobre ter um filho de 10 anos.
Uma outra série que tem enriquecido o universo LGBTI+ é a americana Pose (FX), com o maior elenco trans da história da televisão. O roteiro apresenta a cultura ballroom entre as décadas 80 e 90 em New York. Mj Rodriguez, Dominique Jackson e Indya Moore são atrizes trans que dão vida a personagens marcantes da série de televisão. Fora do contexto americano, a vida de Cristina Ortiz Rodrigues, uma mulher trans conhecida na Espanha, ganhou uma série biográfica chamada La Veneno (HBO Max), seu famoso apelido.
Cada vez mais, surgem também produções audiovisuais que apresentam vivências trans fora de estereótipos de agressividade ou de humor. Por exemplo, Euphoria (HBO) e Sense8 (Netflix, dirigida pelas irmãs Wachowski, duas mulheres transgênero), entre outras que documentam histórias e lutas da comunidade, como A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson (Netflix) e Revelação (Netflix). Revelação (em inglês Trans Lives on Screen) analisa, com análises cineastas e estudiosos transgêneros, o amplo aumento de obras audiovisuais com narrativas trans e o seus impactos sobre a população trans e travesti.
A representatividade nas mídias e em demais espaços de poder são fontes de inspiração para as novas gerações e também de esperança para esta comunidade tão estigmatizada e violentada no Brasil.
Os efeitos da ocupação desses espaços são incalculáveis e imprevisíveis, mas com certeza formam exemplos que despertam orgulho e uma luta cada vez mais forte em defesa dos direitos das pessoas transgênero.
“Existe um provérbio africano que eu gosto muito que fala: enquanto os leões não contarem a sua própria história, os caçadores continuarão sendo os heróis. É sobre isso que estamos falando: enquanto nós não contarmos as nossas próprias histórias e não construirmos essa história, o fascismo, o ódio, a ‘cis-hetero-norma’ continuará a ser heroica”, arremata Erika Hilton, a vereadora mais votada do Brasil, surpreendentemente uma mulher trans, negra e periférica.
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Cotidiano
Como as redes sociais moldam a personalidade de crianças e adolescentes
O contato constante com conteúdos virtuais pode gerar ansiedade e necessidade de aceitação
Publicado há
1 semana atrásem
13 de agosto de 2025por
Redação
Por Gabriela Fintelmann e Natália Lindoso
A pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024 revela que 83% dos jovens entre 9 e 17 anos usam redes sociais como WhatsApp, Instagram, TikTok e YouTube. O levantamento, feito com 2.424 crianças e adolescentes e o mesmo número de responsáveis, mostra o impacto crescente dessas plataformas no cotidiano infanto juvenil.
Uma delas é a estudante Alicia da Luz, de apenas 10 anos, que já tem uma rotina digital típica da nova geração. Seguidora assídua das trends do TikTok, ela gosta de acompanhar dancinhas, músicas e desafios. Às vezes, as canções ficam tanto tempo na cabeça que ela começa a dançar sozinha em locais públicos. “Eu acho que influencia um pouquinho, porque tem vezes que dá vontade de dançar muito”, conta.
Com conteúdos rápidos, que viralizam em questão de horas, as trends acabam moldando hábitos, linguagem e comportamentos. Mas essa exposição constante também levanta alertas, como influência na autoestima das crianças, Alicia diz que já ficou triste ao se comparar com outras meninas da Internet. “Tem vezes que isso machuca, porque às vezes, eu estou desarrumada e do nada aparece uma menina bem arrumada na minha ‘for you’”, relata.

Influências e riscos
Nem todos os jovens se sentem pressionados. Para o irmão de Alicia, Adam da Luz, de 13 anos, diz não se importar em seguir trends: “Gosto de assistir vídeos de jovens que participam da igreja. Mas não sinto pressão. Prefiro sair pra jogar bola”, afirma. Mesmo assim, reconhece os dois lados da moeda: “O lado bom do TikTok é que dá pra ganhar dinheiro. Mas o lado ruim são os golpes e vídeos falsos”.
Para a pedagoga Maria do Carmo, mãe dos dois jovens, os filhos possuem uma boa relação quanto ao uso de telas. Ela monitora e alerta quando o conteúdo pode ser negativo para eles. Ainda assim, a pedagoga reconhece que o consumo pode afetar a autoestima deles: “os conteúdos mostram uma forma de viver luxuosa, sem problemas, onde tudo dá certo, então com isso eles criam sonhos, pois acreditam que tudo pode ser como a vida dos influenciadores”.
O professor de língua portuguesa Marcos Freire é pai do Gabriel, de 11 anos. Para ele, as redes sociais podem, sim, contribuir para o amadurecimento. “Como somos sujeitos constituídos pelos discursos que nos rodeiam, meu filho foi naturalmente interpelado por uma rede muito grande de ideias e informações. Isso fez com que ele tivesse rapidamente posicionamentos diversos, o que é uma espécie de amadurecimento cognitivo precoce”, reflete.

Por outro lado, ele também vê riscos. “No que se refere ao amadurecimento sociointeracional, pode haver prejuízos. Por isso, acredito que o equilíbrio seja a melhor decisão: observar o tempo de tela, a idade de início e oferecer orientações constantes”, diz.
Impactos psicológicos
A relação dos jovens com as redes sociais acendem um sinal de alerta para pais, escolas e profissionais da saúde. O contato constante com conteúdos virais, números de curtidas e seguidores pode afetar diretamente a autoestima e o desenvolvimento emocional dos adolescentes.
A psicóloga Samara Pinheiro reforça que o contato com ideais inatingíveis pode provocar sentimentos de insuficiência. “Isso ativa comparações entre o self real [a forma como a criança se percebe no mundo real] e o idealizado, gerando angústia. O adolescente está em construção e, ao tentar corresponder a padrões irreais, pode desenvolver insegurança, ansiedade e até problemas com a imagem corporal”, explica.
Nesse cenário, o papel da família e da escola é fundamental. A orientação deve vir antes do controle. “O adolescente é espelho. Se os pais não dão o exemplo de um uso equilibrado, as regras perdem o sentido”, reforça a psicóloga. Estabelecer horários para o uso das redes, conversar sobre o que é consumido e incentivar outras atividades fora do ambiente virtual são caminhos possíveis.

Marcos Freire concorda com a psicóloga, para ele, a construção da identidade é um processo delicado, especialmente em um ambiente tão multicultural e acessível como as redes. “A plasticidade exacerbada de quem o sujeito pode se tornar pode gerar conflitos. Por isso, a família deve ser apoio, referência e promotora de ideais. Isso fortalece o caminho dos nossos jovens”, diz.
Outros caminhos
As redes sociais oferecem oportunidades de aprendizado, conexão e diversão. Alicia cita os filtros, quizzes e vídeos educativos como pontos positivos. “Tem vídeo de pergunta e de quiz que eu gosto. Mas tem também os vídeos ruins, de maus-tratos com animais, vídeos adultos. Isso me deixa muito triste”, conta.
Mesmo entre crianças, já há percepção crítica sobre o conteúdo. “No Instagram, aparecem mais coisas feias do que no TikTok. Quando vou seguir alguma amiga, vejo umas coisas que fico horrorizada”, relata Alicia.
As falas das crianças, adolescentes e seus responsáveis apontam que a influência digital não é apenas uma questão de tempo de tela. O apoio familiar é importante, sem o uso do controle, mas da orientação: “Se a família tiver possibilidade, ofereça outras alternativas ao mundo virtual, seja um hobby, dança, leitura ou exercício. É importante também observar os sinais de alerta, o comportamento daquele adolescente”, finaliza.
Cotidiano
Adoção LGBTQIAPN+ no Acre
Pedidos por casais homoafetivos desafia estigmas e amplia debate sobre inclusão
Publicado há
2 semanas atrásem
8 de agosto de 2025por
Redação
Por Ana Paula Melo e Pedro Amorim
No Acre, 104 crianças e adolescentes vivem atualmente em situação de acolhimento institucional ou familiar. Desses, 21 estão aptos para adoção, enquanto 18 estão em processo. Entre 2019 e 2025, 145 adoções foram efetivadas no estado. Em contrapartida, 626 crianças e adolescentes foram reintegrados às suas famílias desde 2019, uma prioridade prevista na legislação. Hoje, há 65 pretendentes habilitados à adoção no estado, sendo a maioria residente em Rio Branco.
Os dados mais recentes também revelam um cenário ainda marcado por lacunas e pouca visibilidade: apenas dois casais homossexuais constam oficialmente como pretendentes à adoção no estado. O número pode não refletir a realidade, já que 57 dos cadastros não informam orientação sexual, um dado que ainda enfrenta subnotificação e o silêncio motivado por receios sociais ou institucionais.
Apesar disso, o Acre possui um dos processos mais ágeis do país: o tempo médio entre o pedido e a sentença de adoção é de 5 meses, inferior à maioria dos estados brasileiros. Isso é possível graças à integração do estado ao Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), criado em 2019 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com o objetivo de unificar informações sobre crianças acolhidas e pretendentes à adoção. A ferramenta digital também permite maior controle de prazos e mais transparência em cada etapa do processo.
Em meio a esse cenário, casais homoafetivos como Breno Geovane Azevedo Caetano e Rosicley Souza da Silva representam um movimento crescente e necessário: o de famílias diversas que buscam oferecer afeto, segurança e estrutura a crianças em situação de vulnerabilidade e que, por vezes, precisam também enfrentar estigmas e barreiras sociais.
As etapas da adoção
Breno e Rosicley estão há quase oito meses na fila de adoção e contam como têm vivido esse processo.A decisão de adotar veio antes do início dos trâmites legais. “Então, fomos buscar o Juizado da Infância e Juventude para saber quais eram os procedimentos e a documentação necessária”, conta Breno. O casal, ambos com formação de mestrado, relata que desde o início foi bem orientado e acolhido pelas instituições envolvidas.
O processo de habilitação seguiu com certa rapidez: em apenas dois meses, Breno e Rosicley concluíram todas as etapas exigidas para entrar no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA). Fizeram um curso online obrigatório, entrevistas com psicóloga e pedagoga do Juizado e uma visita técnica ao lar do casal. “Achamos que foi bastante célere. Esperávamos de três a quatro meses para todo esse trâmite”, comentam.
No entanto, mesmo após a habilitação, o casal ainda aguarda na fila de adoção, sem previsão definida para a chegada da criança. “Estamos no SNA desde o início de dezembro e já se passaram quase oito meses. A fila anda, mas de forma muito irregular. Às vezes avança, às vezes quase não se movimenta”, explica Rosicley.
Eles optaram por adotar um menino de até 4 anos e meio, considerando crianças de cinco estados brasileiros onde possuem rede de apoio familiar. Ainda assim, avaliam ampliar o cadastro para todo o território nacional, embora isso exija planejamento financeiro, já que os custos são arcados integralmente pelos adotantes.
Sobre a experiência enquanto casal homoafetivo, o relato é positivo: não houve preconceito institucional. “Na verdade, foram bastante acolhedores”, afirmam. “O que mais nos animou foi o acolhimento das nossas famílias e amigos com o fato de querermos adotar.”
A principal preocupação agora é com o futuro. “Nos inquieta pensar em como nosso filho será tratado por uma sociedade ainda machista e paternalista”, reflete Breno. Ainda assim, eles seguem esperançosos: “O processo até aqui tem sido justo, dentro do que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente.”
Visão de quem venceu a burocracia
Maria Silva e Lucia Souza são um casal homoafetivo que, em meio ao início da pandemia de Covid-19, em 2020, realizou um sonho: adotaram uma criança após três anos de um processo marcado por burocracias e desafios. Apesar das dificuldades enfrentadas, elas destacam que a experiência foi marcada por respeito e acolhimento, especialmente no Acre.
“Sempre fomos tratadas com respeito e igualdade. A demora em si é no sistema de adoção. Por isso, muitas crianças crescem e só vão pra adoção de fato já grandes, porque é um processo lento, burocrático”, afirmou Maria Silva.
Para o casal, os maiores desafios não vieram do Judiciário ou das instituições, mas de estigmas sociais profundamente enraizados na sociedade brasileira sobre o que significa adotar.
“Na sociedade, em geral, predomina um preconceito em relação à adoção. Ouvimos diversas vezes: Vocês não podem ter filhos biológicos, por isso adotaram? Então, acham que adoção significa caridade ou impossibilidade de gerar filhos biológicos, e não é, eu sempre quis adotar, mesmo podendo gerar”, explica Maria.
Embora reconheçam a existência de preconceitos em relação à adoção e à parentalidade homoafetiva, Maria e Lúcia se dizem positivamente surpresas com a recepção no estado. “No Acre nos surpreendemos o quanto fomos abraçadas quando adotamos. Porém, o que sempre nos incomodou foi enxergarem como se estivéssemos fazendo uma caridade com nosso filho. Talvez aí esteja o ponto, trazer que adoção não é ajuda, é uma outra escolha e opção de exercer a maternidade”, destacou.
Por outro lado, Maria Silva alertou para a importância de discutir o assunto na sociedade, trazer pautas na imprensa e desmistificar os estereótipos sobre o assunto. Adoção principalmente no Acre é comunicado como algo triste, traumático, e não é, é amor puro. Nosso filho trouxe vida para as nossas vidas, e escolheria adotá-lo novamente, nunca passou pela nossa cabeça substituir a adoção por fertilização”, pontuou.
O que diz a Lei
A adoção por casais homoafetivos no Brasil é um direito plenamente garantido por lei, segundo explica a advogada Mariana Castro de Souza, especialista em Direito de Família e Sucessões. De acordo com a jurista, a legislação e a jurisprudência não fazem distinção entre casais homoafetivos e heterossexuais nos processos de adoção.
“Com base no princípio da igualdade todos são iguais perante a lei, sem distinção. Portanto, a legislação brasileira e a jurisprudência consolidada tratam casais homoafetivos da mesma forma que casais heterossexuais nos processos de adoção. Não existe qualquer distinção em lei que impossibilite ou limite a adoção por casais homoafetivos”, afirma.
Mariana Castro- Foto: cedida
Para iniciar o processo de adoção, os requisitos são os mesmos para todos os adotantes, independentemente de sua orientação sexual. Segundo a advogada, “os adotantes precisam ter, no mínimo, 18 anos completos, e deve haver a diferença mínima de 16 anos entre os adotantes e o adotado; os adotantes precisam ter capacidade civil plena e idoneidade moral; se a adoção for conjunta, os adotantes devem ser casados ou conviventes em união estável.”

O reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar foi consolidado pelo Supremo Tribunal Federal em 2011, o que abriu caminho para uma série de direitos, incluindo o da adoção. Embora não trate especificamente de adoção, o julgamento é considerado um marco, pois garante os mesmos direitos e deveres das uniões heterossexuais. “A partir disso, todos os direitos familiares, inclusive a adoção por casais homoafetivos, passaram a ser assegurados”, detalha.
O procedimento judicial é o mesmo para todos. “O casal homoafetivo deve se habilitar junto à Vara da Infância e Juventude, após isso é realizada uma avaliação interdisciplinar com psicólogos e assistentes sociais, para verificar se o casal possui capacidade de exercer a parentalidade, e o casal também deve participar de cursos preparatórios”, explica a advogada.
Se aprovado, o casal entra no Cadastro Nacional de Adoção. A seguir, começa a etapa de aproximação com a criança ou adolescente, seguida da fase de convivência. Somente após esse processo é que a ação de adoção é formalizada.
Mariana Castro esclarece que o casamento ou união estável é obrigatório para adoção conjunta. “Independentemente de serem heterossexuais ou homoafetivos, se o intuito for a adoção conjunta é necessário que os adotantes sejam casados ou mantenham união estável, para comprovar a estabilidade da família.”
Em situações de separação, a guarda segue os mesmos parâmetros aplicáveis aos casais heterossexuais. “No Brasil, a regra é a guarda compartilhada, que significa que, mesmo após a separação, ambos os pais continuam responsáveis pela tomada de decisões importantes para a vida dos filhos e dividem responsabilidades parentais, ainda que o filho resida com apenas um deles”, afirma. A guarda unilateral só é aplicada em casos de risco ou acordo entre os genitores.
Quanto ao registro da criança, também não há qualquer obstáculo legal. Quando o casal homoafetivo adota conjuntamente, a certidão de nascimento é emitida com o nome dos dois pais ou das duas mães “Uma curiosidade é que atualmente nos documentos de identificação no Brasil a expressão utilizada é ‘filiação’, em substituição aos termos ‘pai’ e ‘mãe’, justamente para evitar qualquer tipo de discriminação, e para garantir a inclusão das diversas formações familiares, especialmente das famílias homoafetivas”, detalhou a advogada.
Barreiras enfrentadas
O país deu passos importantes nessa pauta, segundo Germano Marino, chefe do Departamento de Promoção dos Direitos Humanos e da Divisão de Promoção dos Direitos das Pessoas LGBTI+ da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos do Acre (SEASDH). “O Brasil avançou. Nos últimos anos, aumentou o número de adoções e o CNJ publicou a Resolução 532/2023 para coibir discriminação nos tribunais”, explica.

No entanto, mesmo com esse respaldo jurídico, o preconceito institucional ainda se impõe como uma barreira significativa. “Apesar do respaldo legal, casais LGBTQIA+ ainda enfrentam preconceito de profissionais do Judiciário, burocracia excessiva, interpretações diferentes entre comarcas e resistência em cartórios para registro de dupla parentalidade”, afirma Marino.
Ele ressalta que o preconceito muitas vezes se manifesta de forma sutil, mas prejudicial ao andamento do processo, através de decisões enviesadas, atrasos injustificados no processo, julgamentos morais por parte de assistentes sociais e juízes oufalta de capacitação de servidores. “Muitas instituições ainda operam com base em modelos heteronormativos de família”, pontuou o ativista.
Cotidiano
Onde estão os políticos negros no Acre?
Análise dos políticos autodeclarados negros em Rio Branco nas eleições desta década
Publicado há
2 semanas atrásem
7 de agosto de 2025por
Redação
Por Beatriz Mendonça e Victor Manoel
Desde a promulgação da Constituição de 1988, o Brasil vive um regime democrático representativo. Isso significa que o povo escolhe seus representantes por meio do voto, e estes, por sua vez, são responsáveis por tomar decisões em nome da população. Partindo desse princípio, seria esperado que os políticos eleitos refletissem, em alguma medida, a composição social do país, incluindo fatores como raça e cor.
No entanto, ao observarmos o cenário político do Acre, especialmente em sua capital, Rio Branco, percebemos que essa representatividade ainda está longe de se concretizar. A pergunta que se impõe é: onde estão os políticos negros do Acre? Essa promessa da democracia ainda está distante da vivência de grande parte da população negra. A ex-secretária municipal de Igualdade Racial de Rio Branco, Lúcia Ribeiro, comenta:
“Infelizmente, mesmo com a existência de uma lei eleitoral que estabelece cotas, ainda enfrentamos muitos obstáculos. A chamada política de cotas determina que nenhum sexo pode compor mais de 70% ou menos de 30% das candidaturas. Essa regra ficou conhecida como “cota feminina”, mas, na verdade, ela se refere à proporcionalidade de gênero nas candidaturas — não necessariamente à garantia de eleitas […] Esse é um dos pontos que considero fundamentais para entendermos por que não temos uma representatividade que reflita a composição da sociedade”, cita.

Segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 73,5% da população acreana se declara parda e 6,8% se declara preta. Juntos, pretos e pardos — a população negra, conforme classificação do IBGE — somam 80,3% dos habitantes do estado. No entanto, essa maioria demográfica não se reflete nas urnas nem nas composições das casas legislativas da capital.
Segundo Lucia Ribeiro, o Tribunal Superior Eleitoral começou a registrar a autodeclaração de candidatos e candidatas a partir de 2014. Naquele ano, foram identificadas 281 pessoas autodeclaradas negras. Em 2018, esse número subiu para 305. Já em 2022, tivemos 376 candidatos e candidatas que se autodeclararam pardos, e 315 que se autodeclararam pretos. Destes, 61 foram eleitos.
“Outro fator importante é que muitas dessas pessoas não fazem parte de famílias tradicionais da política. Um exemplo é a deputada Jéssica Sales, que vem de uma família política: a mãe é deputada estadual, o pai já foi deputado e prefeito de Cruzeiro do Sul. Essa trajetória familiar contribui para a inserção dela na política. E, por fim, há a questão da identificação social entre o candidato e o eleitor. Quando não há essa conexão, a campanha perde força e visibilidade”, questiona a especialista.
Caminho sem volta
Nas eleições para a Câmara de Vereadores de Rio Branco, apenas um vereador autodeclarado preto foi eleito nas duas últimas disputas: João Paulo Silva (PODE), em 2024. Já no cenário estadual e federal, a presença de pretos também é mínima. Em 2022, apenas um deputado federal preto foi eleito (Coronel Ulysses, do União Brasil) e apenas um deputado estadual (Edvaldo Magalhães, do PCdoB), pegando como base, os dados dos votos apenas da capital acreana. Isso demonstra uma sub-representação evidente, especialmente dos pretos, mesmo entre os grupos que se autodeclaram negros.

Ribeiro reforça a gravidade da invisibilidade política da população preta, especialmente das mulheres:
“Infelizmente, as pessoas ainda não fazem a associação direta do voto com a identidade do candidato. Raramente alguém diz: ‘Vou votar nesse candidato porque ele é preto, pardo ou negro e vai defender essa causa no parlamento’, ou ‘Vou votar nessa mulher porque, como mulher, ela vai representar os interesses das mulheres na sociedade”, reflete.
Outro ponto importante quando falamos em barreiras é a violência política e a violência de gênero. Essa violência ocorre tanto durante a campanha, no momento em que a candidatura é colocada, quanto durante a gestão de um mandato ou em cargos públicos.
Segundo pesquisas, na última eleição houve 542 casos de violência política e eleitoral, com 497 vítimas, incluindo tentativas de assassinato. Tivemos, por exemplo, o caso de uma vereadora no município de Bujari, que enfrentou intimidações e constrangimentos, uma situação bastante comum que desestimula muitas mulheres e pessoas negras a se colocarem como candidatas, reflete Ribeiro.
Quanto aos candidatos pardos, houve um crescimento nas eleições municipais. Em 2020, dos 17 vereadores eleitos, 9 eram pardos (52,94%); já em 2024, dos 21 eleitos, 14 se declararam pardos (66,67%). Ainda assim, esse percentual está abaixo da presença dos pardos na população geral. Para os cargos de deputado estadual em 2022, 58,33% dos eleitos foram pardos. Já para deputado federal, os pardos representam apenas 37,5% dos eleitos.

“As pessoas eleitas que se autodeclararam negras não foram eleitas por serem negras. Primeiro, porque acredito que essas pessoas não se autodeclararam pretas ou pardas apenas para preencher cotas. Mas o ponto principal é que essas pessoas não se elegeram com base em uma consciência racial, em um letramento racial ou em um projeto de mandato voltado à promoção da igualdade racial e ao enfrentamento do racismo. Por que eu digo isso? Porque essas pessoas, em sua maioria, não exercem seus mandatos com foco nessa pauta”, descreve Ribeiro.
Necessidade de mudanças
Considerando todos os cargos legislativos citados (vereadores, deputados estaduais e federais) eleitos entre 2020 e 2024 em Rio Branco, a representação negra chega a cerca de 61,43% — número ainda inferior aos 80,3% da população. Além disso, dentro desse grupo, os pretos seguem sendo drasticamente minoria, evidenciando que a desigualdade é ainda mais acentuada dentro da própria população negra.
A proporção de votos válidos para candidatos pretos quase dobrou, de 4,8% em 2020 para 8,1% em 2024. Embora João Paulo Silva tenha sido eleito, o número é pouco comparado ao tamanho da demanda política. Para Lúcia Ribeiro, mudar esse cenário exige mais do que ajustes partidários. É preciso reconhecer a política como território histórico de exclusão e agir de forma estratégica e coletiva para inverter essa lógica.
A maioria das pessoas eleitas não têm uma preocupação maior com o empobrecimento da população negra, com essa situação de exclusão em que o racismo estrutural coloca a população negra: no subemprego, no desemprego, na economia informal. A maioria das mães negras está em programas de transferência de renda, cita a entrevistada.

A questão ambiental também. Quando há as alagações, a população negra mora próximo aos igarapés, às fontes d’água, aos cursos d’água e são as primeiras a serem alcançadas. São levadas para o Parque de Exposição. Durante esse momento de secura que estamos vivendo agora, a população negra é a que fica sem água, que não tem infraestrutura, que sofre os agravos das consequências dessas questões ambientais.
“Além disso, é necessário garantir a aplicação real do fundo partidário e dos tempos de televisão e rádio para as candidaturas negras. É fundamental que os partidos, sejam de direita, de esquerda ou de centro, comecem a se organizar e a tratar essa pauta com mais seriedade. Que não continuem descumprindo a lei e depois indo ao Congresso pedir anistia, como vimos acontecer agora, em 2025. Vários partidos, federações e coligações não cumpriram a cota estabelecida, e eles mesmos criaram uma lei para se anistiar do descumprimento de uma norma que eles próprios aprovaram”, finaliza.

De volta à cadeira da escola

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