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Filhos? Não, obrigada! 

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Por Fernanda Maia, Gabriel Vitorino, Jhenyfer de Souza

“Eu vou concordar com o que Machado de Assis fala: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” A frase escrita pelo escritor no século XIX ressoa hoje na voz de Mariany Santana, natural do Piauí, que aos 23 anos decidiu fazer laqueadura e escolheu romper de vez com a possibilidade de ser mãe. 

Marieny enxerga a ausência de filhos não como uma falta, mas sim uma escolha de quais  batalhas deseja enfrentar na sua vida. E esse pensamento não é isolado, assim como ela, cada vez mais mulheres questionam o destino que lhes foi imposto culturalmente por gerações: a maternidade. 

O desejo de se opor à maternidade era um tabu, mas hoje ganha corpo em estatísticas e debates, que são explicados por dados que apontam não só para o medo da instabilidade econômica que dificulta a criação de filhos mas também para uma geração que, pela primeira vez, sente mais liberdade em reivindicar o direito de dizer, sem culpa, “não quero ser mãe”. 

Além disso, dados mostram o crescimento do movimento de mulheres que pensam da mesma forma. Pesquisas do Censo 2022 (IBGE) mostraram que o percentual de mulheres com 50 a 59 anos que não tiveram filhos subiu para 16,1%, em comparação com os anos 2000 que era de apenas 10,0%. Além disso, a pesquisa demonstra que em 2010, o maior índice de fecundidade era visto no grupo de 20 a 24 anos. Já em 2022, esse pico se deslocou para a faixa de 25 a 29 anos. Esse envelhecimento é causado pela redução na fecundidade entre as mulheres mais jovens.

A PNAD 2019 revelou que 10% das mulheres em idade reprodutiva declararam não desejar filhos, isso coincide com a queda expressiva na taxa de fecundidade que era de 6,3 filhos por mulher em 1960 e chegou a 1,6 em 2022, abaixo do nível de reposição populacional (2,1).

Maternidade é escolha

Na sociedade existe há alguns séculos a necessidade de impor aos gêneros seus respectivos papeis, muito influenciados pela herança de uma cultura machista que restringia as mulheres à procriação e cuidados com o lar. Hoje notamos certas mudanças nesse contexto, mulheres estão conquistando cada vez mais os seus espaços fora do âmbito familiar e possuem reflexão cada vez maior sobre suas aptidões e desejos. 

A maternidade foi muitas vezes associada a estereótipos que reduziram a mulher a papéis naturais de fragilidade e dedicação exclusiva ao cuidado com os outros. Essa visão ficou enraizada nas estruturas sociais, com as mulheres vistas como cuidadoras, responsáveis pelo lar, pela gestação e pela criação dos filhos, o que reforçava que a realização da mulher estava necessariamente ligada à maternidade.

Essa associação entre mulher e maternidade está cada vez mais distante da realidade atual da mulher, que muitas vezes visa liberdade e independência feminina. Hoje, algumas mulheres buscam autonomia, crescimento pessoal, profissional , e desafiam as funções que as definiram apenas com base em papéis reprodutivos. Para algumas mulheres a maternidade não é mais vista como um destino inevitável, mas sim uma escolha. 

Pâmela Freitas palestrando sobre representações de mulheres e desconstruindo estereótipos. Foto: Arquivo Pessoal

A frase “não quero ser mãe” pode parecer simples, mas carrega um peso social imenso para quem decide dizê-la em voz alta, especialmente quando se é uma mulher jovem. Essa afirmação pode taxar a mulher que prefere não ser mãe como egoísta e colocando-a quase como vilã. 

Escolha Definitiva

Em posicionamento público, por meio de suas redes sociais, Mariany Santana relatou como a decisão definitiva encerrou de uma vez por todas a possibilidade de ter filhos.  O vídeo sobre sua experiência em fazer a laqueadura aos 23 anos viralizou e atingiu milhares de pessoas que se identificaram, discordaram ou se surpreenderam com sua posição convicta.

“Essa decisão de não ter filhos, ela não veio do dia para noite. Foi bem pensada. Começou com um sentimento de enxergar que a maternidade não era de fato para mim. A maternidade existe muito sacrifício, muda totalmente a dinâmica do casal, muda totalmente a mulher e é como se fosse um emprego vitalício. Então, eu vi que isso não era para mim”, contou Mariany.

Mariany testemunhou em sua própria família os sacrifícios da maternidade e decidiu que não queria seguir o caminho da criação dos filhos e optou pela cirurgia de laqueadura com o objetivo de realizar um método definitivo. 

Ela buscou um método com 100% de garantia e optou por remover as trompas, ao invés dos métodos anticoncepcionais tradicionais. “Viver numa família grande, observar os sacrifícios, saber que eu estava criando uma criança para o mundo e que talvez essa criança não seguisse os os meus passos, não seguisse os meus conselhos, eu não teria controle sobre ele, sobre o que viveríamos, sobre os perigos ao qual ele poderia se expor, tudo isso me fez optar por não ser mãe.”

Apesar de sua decisão ter sido recebida com mensagens de apoio da grande parte de seus familiares, Mariany conta que ao publicar em suas redes sociais sofreu julgamentos e até ataques online por suas opiniões: “É um hate desmedido, é desproporcional, eles se lamentam e dizem que eu sou egoísta.” 

Sem medo de se arrepender, Mariany segue firme em sua decisão. “Eu prefiro me arrepender por não não ter um filho do que ter um filho e me arrepender, eu tinha conhecimento sobre todos os métodos, sobre falhas, eu me mantive virgem para fazer a cirurgia, eu realmente estava firme.”

As Motivações

Os motivos por trás dessa escolha são diversos, e entre eles se encaixam questões econômicas, pois para a classe média, criar um filho até os 18 anos no Brasil custa em média R$ 1,4 milhão, segundo cálculos do IPC/FGV de 2023.  As mulheres também estão cada vez mais valorizando o direito de decidir priorizar as suas vidas pessoais ou suas carreiras profissionais e ter autonomia sobre o seu corpo sem se dedicar às renúncias que vêm junto com a maternidade. Uma pesquisa do LinkedIn em 2023 sobre carreira e maternidade mostrou que aproximadamente 68% das mulheres sem filhos enxergam a maternidade como um obstáculo profissional.

Pâmela Freitas na Ufac dialogando sobre jornalismo, filosofia, ciência e tecnologia. Foto: Arquivo Pessoal

A  jornalista acreana Pâmela Freitas, 30 anos, desde cedo também não se via como mãe e buscou conhecimento sobre as questões sociais e trabalhos que envolvem a maternidade como um todo, principalmente para as mulheres. 

A jornalista entende que ter filhos gera uma carga muito maior para a mãe. “Mesmo quando ela é casada e o pai é presente, a carga sempre é maior para a mulher, como basicamente tudo na vida. Então, eu acredito que, principalmente por esse motivo, por esse excesso de trabalho, por mais essa demanda, eu nunca tive vontade”, comentou Pâmela.

A decisão de não ter filhos também esbarra em políticas públicas que ainda tratam a maternidade como uma inevitabilidade. Métodos permanentes de contracepção, como a laqueadura, seguem cercados de exigências e burocracias, especialmente para mulheres jovens.  

“Eu acredito que essa informação não chega de forma equivalente para todo mundo, e isso é um problema, porque faz com que muitas mulheres acabem engravidando por não saber como se prevenir ou por não ter acesso à cirurgia de laqueadura, por exemplo”, desabafou Pâmela. 

No caso de Pamela, a decisão de não ser mãe não surgiu de um trauma ou evento isolado, mas de uma consciência desenvolvida ao longo da vida. Desde a juventude, Pâmela nunca se enxergou em narrativas tradicionais de casamento, filhos e rotina doméstica, enquanto muitas mulheres são ensinadas a sonhar com um berço no quarto e uma criança nos braços, ela sempre sonhou com estudos, idiomas, profissão e liberdade de escolhas.

“Eu quero ser professora universitária, eu queria trabalhar como jornalista, como assessora de imprensa para pegar bagagem, para levar para sala de aula quando eu me tornar uma professora. Eu gosto de estudar, estudar idiomas como um agregador pessoal e profissional. Então, meus planos de vida estão sempre voando”, destacou Pâmela.

Por onde passa, ela evita dar margem a julgamentos. “As pessoas que mais importam para mim são as que eu falo abertamente sobre isso. Outras pessoas eu comento sobre, mas nunca dou abertura para elas me criticarem.” Ainda assim, ela reconhece que o julgamento existe, não direcionado a si, mas presente na sociedade.

Realidade sem filtro

Há uma romantização da maternidade, que ignora as renúncias que ela impõe, filhos são sim, fonte de amor, mas também exigem tempo, dinheiro, disposição emocional e física, recursos esses que muitas mulheres hoje em dia preferem direcionar a si mesmas, aos seus projetos de vida, ou mesmo à liberdade de viver sem grandes vínculos familiares. Pâmela compreende isso com clareza, para ela ter filhos nunca fez parte de um ideal de realização. 

Mulheres que não querem ser mães. Foto: Arquivo pessoal

Mais do que não desejar a maternidade, Pâmela e Mariany também rejeitam a experiência da gestação como os impactos causados no corpo, o risco à saúde que surge e as cobranças sociais que se impõem às mães desde o pré-natal até a vida adulta da criança.“Eu não queria ter que sofrer durante a maternidade, sentir enjoo, correr risco de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, eu não queria ter que parir”, disse Mariany. “Eu não quero a gestação, sabe? Aquelas mudanças no corpo, aquela transformação que passa no corpo da mulher quando ela engravida”, endossa Pâmela.

É nesse ponto que a sociedade frequentemente desumaniza a mulher que escolhe não ser mãe, quando a define como “incompleta” ou “egoísta”, mesmo quando a escolha está baseada em racionalidade, planejamento e autoconhecimento. Para muitas, inclusive, a cobrança de uma herança biológica torna-se um peso, outras querem deixar seu legado em suas ações, em suas profissões, nos vínculos afetivos que constroem voluntariamente, e não na continuidade de um sobrenome.

“Eu acredito que nós podemos ser o melhor que podemos para as pessoas que amamos. Essa é a marca que eu quero deixar”, relatou Mariany.

Além da questão da informação e do acesso aos métodos contraceptivos que aparecem com força nos relatos, as entrevistadas destacam o quanto a desigualdade pode impactar diretamente sobre a vida de mulheres que, como elas, não querem filhos. 

Pâmela também reflete sobre outras desigualdades que atravessam esse debate: enquanto mulheres cis hétero são pressionadas a serem mães, casais homoafetivos enfrentam preconceito ao desejarem a parentalidade. “Quando você é uma pessoa LGBT e decide que quer adotar um filho, a sociedade tem uma reação oposta, eles acreditam que você não poderia fazer isso. Totalmente preconceituoso”.

Enquanto o debate sobre o tema cresce na sociedade, especialmente nas redes sociais e nas universidades, mulheres como Mariany e Pamela seguem abrindo caminhos para que a maternidade deixe de ser um destino automático e passe a ser, de fato, uma escolha. Mais do que rejeitar a maternidade, a escolha de mulheres é sobre liberdade. Sobre poder dizer “não” a um modelo pronto, e sim a uma vida construída com consciência e autonomia. Em suas palavras, ecoam não só as experiências, mas os pensamentos  de uma geração que ousa fazer perguntas onde antes só havia respostas prontas.

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Cada vez menos sombra e água fresca

Embora necessária para equilíbrio ambiental, novas construções podem diminuir arborização na zona urbana de Rio Branco. Foto: Amanda Silva

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Por Francisca Samiele e Amanda Silva

Você já parou para pensar na importância das árvores para a cidade? Pequenas, médias ou grandes, elas têm grandes contribuições para a qualidade de vida e para a paisagem urbana, mas é curioso perceber como, apesar de estarem por toda parte, muitas vezes passam despercebidas. 

Mais do que um elemento estético, a arborização é essencial para melhorar a qualidade do ar, ajudar a controlar a temperatura e ainda trazer mais bem-estar para quem vive por aqui. Elas também se tornam pontos de referências da cidade, como afirma o arquiteto Eduardo Vieira. 

Segundo o panorama do Censo de 2022, cerca de 57% da área urbana no estado do Acre não possui arborização, sendo  85% de vias pavimentadas, como avenidas e ruas, por exemplo.

A moradora do bairro Custódio Freire, Maria Auxiliadora, de 68 anos, lamenta o desmatamento e comenta que sem as árvores não conseguiremos sobreviver. “O pessoal derruba muito. Mas as árvores são muito importantes, dá frieza, sombra, e é uma riqueza, tudo é favorável. Vá embaixo de uma árvore para ver a frieza e a beleza lá embaixo. É ótimo”.  

Já Maria Aparecida Santiago, moradora do mesmo bairro, conta que quando sai da cidade para sua chácara percebe o clima diferente, e que o ar que parece saudável. “É um clima muito bom. Quando você vai chegando na chácara, respira outro clima, suave”, exclama. 

Cerca de 57% da área urbana do Acre não possui arborização. Foto: Francisca Samiele

Possíveis problemas

Para entender melhor os efeitos da cobertura da vegetação, o arquiteto Eduardo Vieira explica como a ausência de árvores pode causar problemas nas cidades. “Uma cidade com grandes áreas impermeáveis está mais sujeita a alagações, à reflexão e aumento do calor, bem como a criação de ambientes áridos, inadequados ao convívio humano”, afirmou. 

Os efeitos mencionados pelo arquiteto já são perceptíveis na região, que nos últimos dois anos tem enfrentado situações como alagamentos intensos em períodos de chuva e a seca acentuada do Rio Acre durante os meses mais quentes. 

O engenheiro florestal Paulo Trazzi explica que as árvores podem ajudar a evitar alguns eventos extremos, pois suas raízes formam uma estrutura no solo que melhora a infiltração da água e permite o controle do fluxo nos rios, canais e corpos d’água: “Evita assoreamento, perda de água no solo, também melhora a qualidade da água.”

Além de manter o ar mais fresco nas cidades, o engenheiro florestal reforça que preservar árvores nativas é fundamental para conservar a biodiversidade local. 

Segundo especialista, presença de árvores na cidade pode evitar eventos climáticos extremos. Foto: Francisca Samiele

A derrubada de uma árvore, muitas vezes, é feita para abrir espaço para uma nova construção. A chefe da Divisão de Meio Ambiente e Cidades da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Esmilia Medeiros, fala que serão feitas novas construções na cidade de Rio Branco, em que será necessário a retirada de árvores.

Mas a entrevistada destaca que na capital “o corte de árvores em áreas públicas e privadas é regulamentado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente [Semeia] através da Instrução Normativa nº 001/2021 e outras resoluções.”

Esse conjunto de normas também estabelece procedimentos de autorização para retirada de vegetação, incluindo critérios para compensação ambiental por impactos causados, que podem envolver o plantio de árvores, recuperação de áreas degradadas ou outras medidas que visem mitigar os impactos ambientais. 

Mesmo com normas que regulamentam a derrubada, Rio Branco ainda enfrenta desafios relacionados ao assunto. Cada árvore cortada que não é compensada por um novo plantio pode trazer consequências para o equilíbrio do meio ambiente. E para a qualidade de vida de todos nós.

É importante lembrar que desmatar sem autorização é crime. Cortar árvores sem seguir as regras pode resultar em multas e outras penalidades, conforme a Lei nº 2.422/2022.Para obter informações detalhadas sobre o processo de licenciamento, consulta de legislação e demais procedimentos, recomenda-se entrar em contato com a Semeia ou consultar o site da Prefeitura de Rio Branco

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Ação e projetos sociais levam justiça a todos

A Defensoria pública e o acesso à justiça para as populações vulneráveis

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A Defensoria Pública exerce um papel fundamental no sistema de justiça, especialmente ao garantir que pessoas em situação de vulnerabilidade social, econômica ou jurídica tenham acesso a serviços essenciais sem custos. No entanto, a Defensoria tem demonstrado resiliência e criatividade ao implementar projetos inovadores que buscam expandir o alcance dos serviços jurídicos.

No contexto do Acre, essas barreiras se tornam ainda mais evidentes em comunidades rurais e periféricas, onde o acesso a serviços jurídicos é limitado. A Defensoria do Estado do Acre se destaca na promoção da justiça social ao enfrentar desafios como a falta de recursos, a escassez de defensores públicos e a sobrecarga de trabalho, o que, muitas vezes, dificulta o atendimento eficaz às populações mais carentes. 

A presença da Defensoria nas comunidades periféricas e rurais é crucial, pois deveria ser uma prática frequente, e não uma exceção, já que muitos cidadãos dessas regiões enfrentam enormes dificuldades para acessar a justiça. Um exemplo claro de como a Defensoria tem feito a diferença é o projeto “Apoio à Mulher”, que oferece suporte jurídico a mulheres em situação de violência doméstica e em questões relacionadas a seus direitos em áreas como saúde, segurança e previdência.

Secretaria desempenha trabalho a favor da cidadania. Foto: Assessoria

De acordo com o Coordenador da Comunicação (SEASDH) Jairo Carioca“Além disso, a Secretaria também atua na emissão de registros civis, um serviço vital que permite que aqueles que ainda não possuem esse documento possam regularizar sua situação. A emissão do registro civil é um passo importante para a inclusão social, pois garante a cidadania e o acesso a diversos direitos.”

“Estamos comprometidos em levar esses serviços até a comunidade, promovendo a conscientização e oferecendo suporte para que todos possam ter acesso a seus direitos. Essa ação conjunta com o Ministério Público reforça nosso compromisso em construir uma sociedade mais justa e igualitária.” Afirmou Jairo Carioca.

A Defensoria Itinerante e o Apoio às Mulheres em Situação de Violência

O projeto “Defensoria Itinerante” tem como objetivo levar os serviços da Defensoria às regiões mais afastadas e de difícil acesso, como comunidades rurais e periféricas, garantindo que a população vulnerável tenha acesso à justiça. Entre os serviços oferecidos, destacam-se a orientação jurídica em temas como direitos de família, saúde, educação e questões trabalhistas.

Defensoria constrói futuro com serviço público. Foto: Assessoria

Além dos desafios logísticos de acessar essas áreas, a Defensoria tem superado dificuldades tecnológicas, como a falta de conectividade, por meio da aquisição da Starlink, uma internet via satélite que possibilita a comunicação com as regiões mais remotas. Com esses recursos, estão trabalhando para levar dignidade e acesso à internet nas comunidades mais distantes, o que facilita ainda mais a integração de serviços essenciais.

O projeto “Apoio à Mulher” é dedicado a combater a violência doméstica, oferecendo orientação jurídica e apoio a mulheres que vivem em situação de violência. Esta iniciativa é uma extensão do compromisso da Defensoria em promover a igualdade de gênero e garantir que as mulheres, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade, tenham seus direitos protegidos e respeitados.

De acordo com a Diretoria de Comunicação da Defensoria Pública do Acre KatiusciaMiranda “Por meio de parcerias institucionais, principalmente com as prefeituras e associações. A Defensoria Pública realiza atendimentos itinerantes, levando serviços jurídicos diretamente às comunidades rurais e periféricas. Além disso, oferece mediação e conciliação localmente, promovendo a resolução de conflitos e reduzindo a necessidade de deslocamento para acessar a justiça. A instituição também mantém canais abertos para feedback, permitindo que as ações sejam ajustadas às necessidades específicas de cada local.” Afirma Katiuscia.

Esse trabalho se torna ainda mais relevante no contexto de um Brasil marcado por desigualdades sociais. Foto: Assessoria

Garantindo Acesso à Justiça para Populações Vulneráveis

A presença constante da Defensoria Pública nas comunidades vulneráveis do Acre é essencial para garantir que todos os cidadãos, independentemente de sua condição econômica ou social, tenham acesso à justiça. A falta de informação jurídica e as dificuldades para acessar serviços legais criam uma grande barreira para a plena cidadania. Nesse cenário, a Defensoria Pública se torna a principal responsável por informar as populações carentes sobre seus direitos e por orientá-las, além de oferecer meios para que busquem a justiça de forma eficaz.

Esse trabalho se torna ainda mais relevante no contexto de um Brasil marcado por desigualdades sociais profundas, onde mulheres, negros, indígenas e pessoas em situação de rua frequentemente enfrentam discriminação e obstáculos adicionais para garantir seus direitos. A Defensoria, portanto, atua como um verdadeiro pilar de apoio para essas populações, combatendo injustiças sociais e promovendo a inclusão.

O fortalecimento da Defensoria Pública, com a expansão de seus projetos sociais, é uma estratégia fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, onde os direitos humanos e a cidadania plena sejam garantidos para todos, independentemente de sua classe social, etnia ou gênero.

De acordo com Francisco Das chagas, açougueiro “Eu acho muito importante está ação que está acontecendo na clínica renal muitas pessoas tem problemas empáticos e não sabem com está ação muita gente descobrem o problema e tratam com rapidez antes que seja tarde muito boa, gostei também pois é gratuito, e nossa saúde é importante cuidar” Ressaltou Francisco.

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Quem cuida de quem cuida? 

A realidade invisível dos cuidadores de idosos no Acre

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Por Raquel de Paula, Elis Caetano e Tales Gabriel

O envelhecimento da população já é uma realidade que impacta a rotina das famílias e a estrutura social brasileira. No Acre, segundo dados do Censo Demográfico 2022 do IBGE, entre 2010 e 2022 o número de pessoas com 65 anos ou mais no estado cresceu 64,9%, passando de 31.706 (4,3% da população) para 52.297 idosos, que hoje representam 6,3% dos acreanos. 

No mesmo período, a proporção de crianças até 14 anos recuou de 33,7% para 26,6%,com isso, o índice de envelhecimento, que mede o número de idosos para cada 100 crianças, chegou a 23,8 em 2022, quase o dobro do registrado em 2010.

Esse crescimento no número de idosos, embora menos acelerado que em outras regiões do país, indica um aumento na demanda por cuidados e uma redução no número de jovens disponíveis para desempenhar essa função, o que amplia a sobrecarga de quem exerce essa atividade.

Nesse cenário, está a história de Juliette Silva, cuidadora formada em um curso de três meses, que deixou Rio Branco há dois anos e se mudou para Goiânia em busca de melhores condições de trabalho. 

“A minha rotina diária como cuidadora hoje é uma carga horária 12/36 diurno, trabalho autônomo para uma agência de cuidadores aqui em Goiânia. Vim em busca de ganhar um valor melhor, pois em Rio Branco a profissão é mais desvalorizada”, afirma. 

Suas atividades diárias incluem administrar medicações via oral, dar banho, cuidar da higiene, trocar fraldas, fornecer alimentação e garantir o banho de sol. Mesmo com formação técnica, ela avalia que “mudaria nossa vida a valorização do nosso trabalho. Que pudéssemos ter nossos direitos trabalhistas reconhecidos como profissionais que somos. Infelizmente, nossa profissão é registrada em carteira como uma função doméstica. Isso é muito injusto.”

Juliette considera o cuidado com idosos uma missão, mas destaca o custo emocional envolvido, que afeta diretamente a saúde física e mental de quem cuida. “Nossa profissão é linda, vai além de uma profissão. Eu costumo dizer que é uma missão. Mas, infelizmente, existem muitos cuidadores que são explorados por famílias, que desviam as funções e sobrecarregam o cuidador, pedindo para fazer outras tarefas além de cuidar do idoso.”.

O relato de Juliette reflete a rotina de muitos cuidadores, marcada por jornadas extensas, múltiplas responsabilidades, baixa segurança trabalhista e vulnerabilidade emocional. Grande parte atua como autônomo ou é formalmente enquadrada como empregado doméstico, o que reduz direitos como jornada regulamentada, descanso remunerado, FGTS e contribuição para aposentadoria.

Embora o Estatuto da Pessoa Idosa estabeleça direitos como assistência à saúde e à dignidade, o cuidador, figura essencial nesse processo, ainda carece de políticas públicas específicas. O Ministério da Saúde oferece cursos e capacitações por meio da UNA-SUS, mas a abrangência dessas ações para cuidadores familiares ou autônomos, especialmente no interior do Acre, é limitada.

Sobrecarga

A ausência de uma rede de apoio estruturada tem reflexos diretos na saúde física e emocional de quem cuida. A psicóloga e psicanalista Sara Saraiva destaca que os impactos sobre a saúde mental dos cuidadores já estão implícitos na própria pergunta que norteia este trabalho: “Quem cuida de quem cuida?”. Segundo ela, é comum que esses profissionais, e também familiares que assumem a função, acabem esquecendo de cuidar de si mesmos.

“Surge aquela sensação de: Se eu não fizer, quem vai fazer? Mas também é preciso pensar: E quem faz por mim?”, afirma.

Essa dedicação exclusiva, explica Saraiva, pode gerar estresse e um sentimento de culpa excessiva por não se permitir descansar, por sentir-se cansado ou, até mesmo, por não querer cuidar em determinados momentos.

“Muitos acabam se perdendo de si e passam a viver quase que integralmente a vida da pessoa assistida”, acrescenta.

De acordo com a psicanalista, essa sobrecarga emocional e física, quando acumulada, pode desencadear crises de estresse intenso, quadros de ansiedade e até depressão. Para ela, prevenir o adoecimento exige a atuação conjunta da família, da sociedade e do poder público.

“No caso de cuidadores familiares, é fundamental dividir tarefas e responsabilidades. Também é necessário oferecer suporte psicológico e acompanhamento dentro da rede pública de saúde. A prevenção começa com a conscientização: entender que, embora cuide do outro, essa pessoa também precisa de cuidado, acolhimento e de olhar para si, lembrando que sua vida não se resume àquele que ela assiste”, conclui.

Rede de apoio

Além de profissionais autônomos, o Acre também conta com iniciativas coletivas que tentam suprir a carência de apoio. É o caso do Anjos do Cuidado, grupo fundado por Benedita do Anjos Silva, que hoje reúne mais de 200 cuidadoras e técnicos. Ela conta que a ideia nasceu de forma espontânea e cresceu rapidamente.

“Eu criei esse grupo porque, depois que me formei como técnica, fui trabalhar em uma família e, com o tempo, as pessoas foram conhecendo meu trabalho e me chamando para cuidar de outros pacientes. Chegou um momento em que eu não conseguia dar conta sozinha, então comecei a convidar colegas”, explica. 

No início, era um grupo de WhatsApp com três ou quatro pessoas, atualmente são 232 profissionais prestando serviços em hospitais e domicílios. São atendidos pacientes que precisam de ajuda para se locomover, acompanhar consultas ou até viajar. “Tudo começou pequeno, mas virou uma rede de apoio muito importante”, afirma a técnica.

Para Benedita dos Anjos, um dos maiores desafios é a falta de planejamento das famílias.“Muitos só pensam em contratar um cuidador quando o idoso já está debilitado ou quando a família já está emocionalmente sobrecarregada. Se houvesse essa contratação preventiva, o cuidado seria melhor para todos”.

Apesar da rotina intensa e da pouca valorização profissional, cuidadores também precisam de atenção e cuidado, como mostram as iniciativas que apostam em solidariedade e compreensão.

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