Cotidiano
Reciclagem e redução de lixo: iniciativas que impulsionam a sustentabilidade.
Conheça Exemplos de Projetos em Rio Branco que viabilizam a Reciclagem e a Reutilização de Materiais para Preservar o Meio Ambiente.
Publicado há
2 anos atrásem
por
Redação
Por: Dayanna Lopes e Ana Michele
Nos últimos anos, a crescente conscientização sobre a importância da sustentabilidade tem impulsionado mudanças significativas em diversos setores da sociedade. Entre essas mudanças, a reciclagem e a redução do lixo têm se destacado como estratégias fundamentais para a preservação do meio ambiente.
Nesta reportagem, traremos exemplos de empresas que aderem a políticas de gestão de resíduos e que priorizam a reciclagem e a reutilização de materiais.
A reciclagem é um processo que transforma resíduos descartados em novos produtos, reduzindo a necessidade de matéria-prima virgem e minimizando a quantidade de resíduos enviados para aterros sanitários. Ela desempenha um papel crucial na redução da exploração dos recursos naturais e na diminuição da poluição ambiental. Além disso, a reciclagem contribui para a economia ao criar empregos e impulsionar a indústria de reciclagem.
A reciclagem ganha destaque como uma abordagem sustentável para lidar com a crescente quantidade de resíduos gerados pela sociedade moderna. Segundo dados publicados pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) em 2020, a quantidade de Resíduos Sólidos gerados no Brasil aumentou de 66,7 milhões de toneladas em 2010 para 79,1 milhões em 2019, representando uma diferença de 12,4 milhões de toneladas. O mesmo estudo diz ainda que cada brasileiro produz, em média, 379,2 kg de lixo por ano, o que corresponde a mais de 1 kg por dia.
No Acre destacam-se empresas que trabalham com separação de lixo e logística reversa.
Projeto Catar

Desde sua criação em 2005, o Projeto CATAR vem se destacando como uma iniciativa que une forças entre catadores de lixo e a Prefeitura de Rio Branco em prol de um objetivo comum: promover a reciclagem e transformar resíduos em oportunidades. Com o apoio de aproximadamente trinta catadores, esse projeto simples, mas altamente eficaz, tem feito a diferença na cidade, gerando benefícios tanto para o meio ambiente quanto para a vida das pessoas envolvidas.
O catar funciona de forma cooperativa. Os catadores são peças-chave no processo, coletando materiais recicláveis, tanto de residências como de calçadas, pontos públicos e instituições da região. Em seguida, esses materiais são entregues ao projeto, que os prensa e os encaminhados para empresas que utilizam esse material.
Além de contribuir para a limpeza e o cuidado com o meio ambiente, o Projeto CATAR também desempenha um papel fundamental na melhoria das condições de vida dos catadores envolvidos. Ao fornecer uma fonte de renda digna e sustentável, o projeto oferece uma nova perspectiva de vida para esses profissionais, reconhecendo seu papel essencial na construção de uma cidade mais sustentável e consciente.
Há mais de 30 anos, Seu Raimundo Francisco Figueiredo da Silva, carinhosamente conhecido como Risadinha, dedica-se a uma nobre missão: a coleta de materiais recicláveis. Sua incansável jornada em prol da sustentabilidade ambiental tem sido um exemplo inspirador para muitos.

Atualmente, Risadinha concentra seus esforços na coleta de plástico, ferro e alumínio. Todos esses materiais são armazenados em sua casa e recolhidos pelo projeto Catar. Ele explica que o ferro que coleta é utilizado na confecção de camburões, e para isso, ele recolhe diversos tipos de objetos em ferro, desde fogões velhos até peças desgastadas. Todo o ferro coletado por ele é encaminhado para outros estados, como Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde é reciclado e reintroduzido na cadeia produtiva.
No que diz respeito ao plástico, Risadinha concentra-se principalmente em coletar garrafas pets e embalagens de produtos de limpeza. Ele ressalta que esse material é destinado a se transformar em caixas d’água, mas, lamentavelmente, não recebe o tratamento adequado em Rio Branco. O projeto Catar é responsável por triturar esse material e enviar para outros estados, onde são devidamente processados e reciclados.

Ecoponto – Tucumã

O Ecoponto Tucumã foi inaugurado no dia 06 de outubro de 2017 pela prefeitura municipal de Rio Branco, pelo prefeito Marcos Alexandre, com o objetivo de haver um local adequado para descarte de matérias reaproveitáveis. De acordo com o projeto, deveriam ser construídos mais 14 ecopontos após esse.
Há três anos e seis meses, Éliton dos Santos Freire dedica-se ao trabalho no Ecoponto Tucumã. Nesse local, diversos materiais são recebidos diariamente e posteriormente separados pela equipe da Secretaria de Serviços Urbanos (SEMSUR) e encaminhados para cooperativas como o Projeto Catar, aterro de inertes ou para a Unidade de Tratamento de Resíduos Sólidos (UTRE). Éliton explica que o ecoponto possui uma logística reversa, responsável por separar os materiais e enviá-los para os destinos adequados.

No Ecoponto Tucumã, são aceitos todos os tipos de materiais recicláveis, exceto resíduos remanescentes, como lixo hospitalar, agentes químicos e restos de comida. Materiais como plástico, ferro, vidro, papel, madeira, lâmpadas, galhadas, pneus, entulhos, eletrônicos, pilhas e baterias são separados cuidadosamente e encaminhados a destinação adequada de cada material reciclável.
Uma das principais preocupações do ecoponto é o descarte correto dos materiais. Éliton destaca que esses materiais podem ser reutilizados de várias maneiras, os pneus por exemplo, podem ser utilizados como matéria na fabricação de asfalto e grama sintética. Os materiais como papel e garrafas pet, podem ser triturados para que possam ser reaproveitados de forma sustentável. Outros materiais, como o alumínio, precisam ser derretidos para dar origem a novos produtos.
Esses materiais coletados aqui podem ter destinos diferentes, no lugar de poluir o planeta durante muitos anos, as garrafas PET podem ser transformadas em vassouras e cortinas, enquanto os pneus podem ser usados para produzir lixeiras e até mesmo canteiros de hortas. O Ecoponto Tucumã demonstra o potencial criativo e sustentável dos materiais recicláveis.
No entanto, a realidade do Estado do Acre é desafiadora em relação à logística reversa. A redução de pontos de coleta adequada é um problema enfrentado pela região. De acordo com o projeto inicial, deveriam ter sido construídos quinze ecopontos, mas foi implementado apenas o Ecoponto Tucumã que está em funcionamento. Isso resulta em uma sobrecarga no local, pois toda a demanda da região está concentrada ali.
Devido à falta de infraestrutura local, a maioria dos materiais coletados no Ecoponto Tucumã são encaminhados a cooperativas, onde são separados e processados para posterior envio a outros Estados, para serem utilizados como matéria-prima. Infelizmente, não existe uma empresa local capaz de lidar com esse tipo de material, o que demonstra uma necessidade urgente de investimentos e parcerias no setor de reciclagem na região.
Além dos materiais recicláveis, o ecoponto também recebe entulhos, como capas de telhas e restos de obras. Esse tipo de resíduo é destinado a aterros, onde são utilizados como barreiras no solo, garantidos para a preservação ambiental.
Éliton enfatiza a importância de receber papel no Ecoponto Tucumã, pois muitas pessoas têm dificuldade em descartá-lo corretamente, acabando por queimá-lo ou descartá-lo de forma inadequada. O ecoponto oferece uma solução, recebendo papel e encaminhando-o diretamente para o setor de reciclagem especializado nesse material.
No entanto, devido às restrições de espaço, o Ecoponto Tucumã precisa controlar a quantidade de lixo recebido. Éliton ressalta que existem limites de caixas e, às vezes, não é possível receber grandes recursos de entulho de uma única pessoa. Para atender a demanda de forma mais eficiente, seria necessário implementar os outros 14 ecopontos planejados inicialmente, distribuindo-os estrategicamente pela cidade.
O Ecoponto Tucumã desempenha um papel fundamental na promoção da sustentabilidade e da conscientização ambiental na região. Éliton e sua equipe trabalham arduamente para garantir que os materiais recicláveis sejam direcionados para o processamento e a reciclagem. No entanto, é evidente que mais investimentos e parcerias são necessários para melhorar a infraestrutura de reciclagem e ampliar a logística reversa no Estado do Acre. Com mais recursos e apoio, a região poderá avançar em direção a uma economia circular, onde o desperdício é reduzido e os materiais recicláveis são valorizados e reinseridos na cadeia produtiva.
RECICLAGEM E EDUCAÇÃO – CENTRO EDUCACIONAL BALÕES ENCANTADOS
Um novo olhar para a educação sustentável e criativa.
Muitas vezes uma garrafa plástica, uma caixa de papelão ou papéis usados são materiais vistos como sem utilidades e diariamente são descartados como lixo. Mas eles podem ter um destino diferente. Uma mente criativa e consciente, aliada a uma boa vontade de fazer a diferença, é capaz de transformar esses itens inutilizados em objetos incríveis que podem mudar a forma como as pessoas veem o lixo e incentivar uma visão mais responsável e consciente sobre o consumo e a reutilização de materiais. Quando essas atitudes começam já na escola, acabam transformando pequenos seres humanos em adultos conscientes e responsáveis, mudando assim, o futuro de muitas crianças.
Um exemplo dessa ação na iniciativa privada é na instituição Balões Encantados, uma escola que atua em Rio Branco há mais de 10 anos. Com turmas desde o berçário até o fundamental 1, os alunos são ensinados desde pequenos a respeitarem o meio ambiente com atitudes que vão desde plantar uma árvore até reaproveitar materiais que seriam descartados.

Além de incentivar as crianças a trabalharem com esses materiais, a própria equipe de professores e coordenação utilizam materiais recicláveis para recursos pedagógicos. Uma simples garrafa plástica que demoraria de 200 a 600 anos para se decompor no meio ambiente, de acordo com o ibama, nas mãos dessas crianças e profissionais, se transformam em boliche, foguete, potes para guardar materiais usados em sala, instrumentos musicais, recursos para contagens que podem ser utilizados em várias atividades e a lista vai longe! Não existe limite para a criatividade na hora de reaproveitar o lixo.
A instituição foi fundada em 2010 e pertence a uma congregação católica. A irmã Maria Juliana Silva de Almeida, além de pertencer a congregação, também é pedagoga e foi uma das primeiras freiras a cuidar da escola. Ela conta que desde o início, sempre valorizaram o reaproveitamento de materiais. No começo, além da questão ambiental, a prática era muito útil por motivos financeiros, já que na época não tinham tantos recursos. ‘’As crianças confeccionaram livros de histórias utilizando colagens e desenhos, inclusive, as primeiras prateleiras da biblioteca eram feitas de papelão.’’ Conta a irmã.
Mesmo com todo o desenvolvimento e acervos que a escola possui hoje em dia, não abandonaram a prática. De acordo com a coordenadora pedagógica Maria Auxiliadora Da Silva e Silva, 31 anos, o objetivo é ensinar as crianças a reduzirem a quantidade de lixo e fazer com que sejam adultos mais conscientes. ‘’Nossa intenção é fazer com que percebam que pequenas ações, como por exemplo, usar os dois lados de uma folha de papel, também é cuidar do meio ambiente.’’ Afirma Maria Auxiliadora.
Além de aplicar essas práticas na escola, também incentivam que adotem esses comportamentos em casa. ‘’Muitos pais não tiveram ou não tem essa consciência relacionado ao cuidado com o descarte do lixo, com o tempo que cada tipo de material leva para se decompor e até mesmo com a redução do consumo. Então sempre propomos atividades para que os pais possam trabalhar com a criança em casa utilizando materiais que seriam jogados fora.’’ Ressalta Maria Auxiliadora.

Em uma sociedade cada vez mais consumista, pequenas atitudes sustentáveis já são suficientes para gerar transformações ao nosso redor. ‘’ Diminuímos bastante o lixo quando pegamos os resíduos e transformamos em brinquedos ou materiais que podem ser bastante úteis. Muitos pais compram um brinquedo, a criança usa duas vezes, quebra e eles imediatamente compram outro. Já fizemos uma campanha pedindo para que não comprem brinquedo de pilha, pois elas agridem a natureza. O consumismo só serve para deixar o planeta mais doente.’’ Complementa a irmã Maria Juliana. A escola utiliza materiais reciclados e promove campanhas junto aos pais, para que os alunos criem brinquedos a partir de resíduos sólidos.
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Cotidiano
Aquífero do Segundo Distrito de Rio Branco: riqueza invisível sob ameaça urbana
Estudos recentes apontam que o aquífero ocupa uma área de 122,46 km². Foto: cedida
Publicado há
21 horas atrásem
13 de outubro de 2025por
Redação
Por Júlio Queiroz e Karina Paiva
No subsolo do Segundo Distrito de Rio Branco está uma das maiores reservas estratégicas de água da capital acreana: o Aquífero Rio Branco. Pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac), como Evandro José Linhares Ferreira, Alexsande de Oliveira Franco, Frank Arcos e Jessiane Pereira, têm alertado sobre a importância desse manancial subterrâneo, e destacando que ele possui alta vulnerabilidade à contaminação em razão da ocupação urbana desordenada e da falta de saneamento básico.

Estudos recentes apontam que o aquífero ocupa uma área de 122,46 km², abrangendo os seguintes bairros: Loteamento Praia do Amapá, Taquari, Comara, 6 de Agosto, Santa Inês, Loteamento Santa Helena, Loteamento Santo Afonso, Belo Jardim 1 e 2, Cidade Nova, Santa Terezinha, Residencial Rosa Linda, Vila da Amizade, Vila Acre, Mauri Sergio, Areal, Vila do Dner e Quinze, e possui capacidade de abastecer mais de 3,2 milhões de pessoas com 200 litros de água por dia.
Ainda assim, apenas cerca de 7% de sua descarga natural é utilizada atualmente para o consumo humano. Para os pesquisadores da Ufac, a ausência de políticas públicas efetivas coloca em risco a qualidade da água, já que análises laboratoriais têm identificado contaminação por nitratos, coliformes e metais como ferro e manganês.
O poder público municipal, por sua vez, tem divulgado avanços em projetos de captação subterrânea, mas sem execução plena. Em 2012, a imprensa local noticiou a realização de estudos preliminares, e em 2019 a Prefeitura anunciou que avançava em planos para aproveitar o potencial hídrico do aquífero. Já em 2014, o Governo do Estado divulgou que a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) continuaria o plano de exploração, mas até hoje a utilização em larga escala não saiu do papel.
Esse contraste entre a urgência apontada pelos pesquisadores e a morosidade administrativa revela o desafio de transformar ciência em política pública.
Potencial e desafios
De acordo com o modelo de gestão elaborado pela CPRM em 2010, a recarga anual do Aquífero Rio Branco é de aproximadamente 587 mm/ano, com rápida recuperação dos poços (em até uma hora). Isso torna o manancial um recurso estratégico, capaz de complementar o abastecimento em períodos de estiagem do Rio Acre.
Pesquisadores x Poder Público
Enquanto pesquisadores da Ufac defendem o monitoramento constante e o uso controlado do aquífero, a Prefeitura de Rio Branco e o governo do Acre têm enfatizado a continuidade dos estudos, mas sem definir prazos concretos para exploração sustentável.
Essa divergência evidencia a necessidade de integração entre ciência e gestão pública, de forma a garantir segurança hídrica para as futuras gerações.

Foto: cedida
A CPRM é uma empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia, responsável por produzir e divulgar informações geológicas, hidrológicas e ambientais do território brasileiro.
No caso do Aquífero Rio Branco, a CPRM foi a instituição que realizou estudos técnicos de mapeamento, testes de bombeamento e modelagem hidrogeológica, servindo de base para o Plano de Manejo do Aquífero citado.
Em resumo: a CPRM é quem faz a “radiografia do subsolo” e fornece dados científicos para que estados e municípios consigam planejar a exploração sustentável da água subterrânea.
Outro entendimento
O diretor-presidente do Saerb, Enoque Pereira de Lima, explicou que não há comprovação da existência de um aquífero em Rio Branco, mas sim um lençol freático raso capaz de atender demandas residenciais e comerciais em pequena escala.
Segundo ele, estudos realizados até 400 metros de profundidade não identificaram aquífero, apenas pontos de água confinada de difícil recarga, com capacidade de renovação anual de cerca de 20%. Para verificar a viabilidade, o Saerb pretende perfurar três poços profundos — dois no Segundo Distrito e um no Panorama — avaliando volume, qualidade da água e resistência do solo, podendo expandir as perfurações caso os resultados sejam positivos.
Sobre o abastecimento, Enoque destacou que a cidade depende integralmente do Rio Acre, cuja turbidez e sazonalidade dificultam o tratamento, sobrecarregando o sistema no período seco.
A produção atual das duas ETAs é de até 1.600 litros por segundo, mas falhas em bombas, motores e adutoras causam intermitência em determinados bairros, especialmente no Segundo Distrito, totalmente dependente da ETA 2.
O dirigente ressaltou ainda o alto desperdício doméstico e a falta de conscientização dos moradores como fatores que agravam a escassez, reforçando que, em situações críticas, a prioridade é garantir água para hospitais e unidades de saúde.
Invisível aos olhos dos moradores, o Aquífero Rio Branco pode ser a chave para garantir segurança hídrica à capital acreana. Mas, se por um lado representa abundância, por outro traz o alerta: sem gestão integrada e responsável, esse tesouro subterrâneo pode se transformar em mais uma vítima da urbanização desordenada.
Cotidiano
Curativo 100% biodegradável leva estudantes do Ifac à COP30
Publicado há
4 dias atrásem
10 de outubro de 2025por
Redação
Por Fernanda Maia, Gabriel Vitorino e Jhenyfer Souza
No Instituto Federal do Acre (Ifac) em Sena Madureira, estudantes desenvolveram um curativo biodegradável feito a partir da taboca, espécie de bambu abundante na região amazônica.
O projeto será apresentado na prévia da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontece este ano em Belém (PA), em novembro, e pretende mostrar ao mundo uma alternativa sustentável para a proteção das feridas.
A ideia surgiu a partir de estudos feitos durante o doutorado do professor Marcelo Ramon, graduado em Química pela Universidade Federal de Alagoas – Ufal. Doutor em Biodiversidade e Biotecnologia com ênfase em Nanobiotecnologia pela Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal. Ele percebeu que a substância extraída da taboca, carboximetilcelulose (CMC), podia formar uma película semelhante ao plástico. O material, que parecia inviável por ser solúvel em água, se tornou a chave para um curativo capaz de se dissolver em contato com sangue ou secreções.
Além disso, apesar de ser considerada uma praga por produtores rurais devido aos espinhos, a taboca foi escolhida por apresentar vantagens ecológicas. O professor destaca que o Acre detém a maior concentração ‘tabocal’.
‘’A taboca cresce muito rápido, até 20 centímetros por dia. Em cinco anos, você já tem uma floresta recomposta. Tem taboca na África e Ásia, mas nada se compara ao que temos na Amazônia. E dentro da Amazônia, o Acre é o estado que mais concentra essa espécie”, explicou.
Curativo
O curativo foi reforçado com nanogotículas extraídas de óleos de copaíba e andiroba, que são conhecidos por suas propriedades antibacterianas e anti-inflamatórias.
Segundo Ramon, essa combinação ajuda na cicatrização e cria um produto sustentável, diferente dos curativos tradicionais, feitos à base de petróleo e nocivos ao meio ambiente. “Enquanto o band-aid serve apenas como barreira, o nosso curativo atua diretamente na regeneração do tecido exposto”, explica.
Veja abaixo o passo a passo de produção do curativo:
- Coleta da taboca na floresta amazônica;
- Transformação da fibra vegetal em carboximetilcelulose (CMC), um pó fino que forma um gel em contato com a água;
- Adição de nanopartículas de prata (com ação bactericida) e nanoemulsões de óleos essenciais de copaíba e andiroba, que têm propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes;
- Desidratação do gel em estufas, que forma uma película sólida e transparente;
- Aplicação na pele, e nesta etapa o curativo se transforma novamente em gel e é absorvido pela ferida.
Expectativas
A criação do produto também contou com a ajuda de estudantes do Ifac de Sena Madureira e, para eles, o projeto vai além da pesquisa em laboratório.
João Augusto Nascimento, que entrou no IfacC ainda no ensino médio, afirma que a experiência mudou sua forma de ver a ciência. “Mostra que a pesquisa pode nascer dentro da escola pública e gerar soluções reais a partir da Amazônia”, afirma.
Já a aluna Jordana Batista, outra integrante do grupo de pesquisa, destaca o orgulho em representar o projeto na conferência. “Ver nosso trabalho chegar à COP30 mostra que a região tem potencial para inspirar outros estudantes que se interessam por ciência’’.
Apesar do avanço, a produção em larga escala ainda depende de investimentos e de equipamentos industriais. Hoje, o grupo trabalha em nível laboratorial, mas vê na COP30 a chance de atrair investidores e parcerias.
A expectativa é de que o curativo ganhe visibilidade internacional e mostre que ciência, sustentabilidade e saúde podem caminhar juntas a partir do Acre.
Cotidiano
Mulheres tatuadoras no Acre e as histórias eternizadas na pele
Em Rio Branco, no Acre, esse processo já marca a cena local, com cada vez mais mulheres assumindo as máquinas, os estúdios e o protagonismo.
Publicado há
6 dias atrásem
8 de outubro de 2025por
Redação
Por Luanna Lins e Inayme Lobo
Desde muito antes de se tornar moda, a tatuagem já carregava significado em diferentes culturas. Entre povos indígenas, marcar a pele é rito de passagem, pertencimento. Em alguns países da Ásia, até hoje, ela ainda é envolta em restrições. E, quando a tatuagem moderna se espalhou, foi quase sempre dominada por homens.
Esse cenário começou a mudar quando algumas mulheres decidiram romper essa barreira. Entre as maiores inspirações estão Maud Wagner, artista circense considerada a primeira tatuadora dos Estados Unidos, no início do século XX, e Jessie Knight, que se destacou na Inglaterra a partir de 1921.
No Brasil, o mercado da tatuagem veio ganhar visibilidade a partir da segunda metade do século XX, também marcado pela predominância masculina. Nomes como Re Martelli – reconhecida como uma das primeiras tatuadoras do país – abriram caminho, tornando-se referência para outras que vieram a conquistar esse espaço.
Em Rio Branco, no Acre, esse processo já marca a cena local, com cada vez mais mulheres assumindo as máquinas, os estúdios e o protagonismo. Três delas, em especial, fazem parte dessa nova geração de tatuadoras: Ana Beatriz Tavares (20 anos), Gabriella Leão (21 anos), e Thayla Isla (26 anos). Cada uma com sua trajetória, mas unidas pela certeza de que a tatuagem é mais do que um desenho na pele, é identidade.
Experimentar, arriscar, confiar
Ana Tavares ainda era adolescente quando decidiu que a tatuagem seria sua profissão. No terceiro ano do ensino médio, ganhou um kit de tatuagem do pai e começou a improvisar peles artificiais para treinar em casa. “Eu chamei alguns colegas da minha turma pra poder fazer os primeiros treinos. Aí teve uma pessoa que aceitou e a partir disso eu comecei a tatuar”, lembra.
Aos 20 anos, Ana já possui um extenso portfólio e vem conquistando cada vez mais clientes. Foto: Inayme Lobo/A Catraia
NoO começo foi autodidata. Sem cursos presenciais disponíveis em Rio Branco, recorreu à internet. “Pesquisei cursos na internet, comecei a fazer, estudava por lá. Até o ano passado, quando participei de um workshop aqui na cidade, com um profissional da área. Então, a maior parte eu aprendi sozinha”.
Hoje, ela trabalha principalmente com o fine line e o blackwork, mas também defende as tatuagens coloridas, mesmo com pouca procura. “Muitas pessoas pensam que a cor não vai ficar tão legal depois que cicatrizar, talvez por conta do tom da pele. Mas isso é mito. As tatuagens coloridas têm contraste diferente, mas não deixam de ter a mesma qualidade”.
O que diferencia seu trabalho, segundo ela, é o incentivo ao autoral. “Normalmente, quem vem comigo, traz tatuagens já prontas, com referências da internet. Mas eu sempre indico fazer uma coisa diferente, que vai ser só pra pessoa, que ninguém vai poder copiar”.
Tavares trabalha principalmente com os estilos fine line e o blackwork. Foto: cedida
Ainda este ano, Ana abriu seu primeiro estúdio próprio, após um período tatuando em casa e em um estúdio colaborativo. Para ela, o maior desafio não vem necessariamente do fato de ser mulher, mas da competitividade no meio. “Acredito que haja ainda uma rivalidade entre os tatuadores daqui. A ideia é que é um lugar pequeno, então o público é pouco e se divide.” Ao mesmo tempo, ela reconhece que ser mulher influencia nas clientes que conquistou. “Eu confio muito no meu trabalho. Sei que dá certo porque também recebo muitas outras mulheres que querem tatuar comigo”.
No coletivo, ninguém tatua sozinha
A trajetória de Gabriella Leão (Gab Tattoo) tem um tom quase profético. “Na escola, eu falava, de forma muito despretensiosa: “ah, eu vou virar tatuadora mesmo”. Eu não sabia de nada, não tinha ido atrás de nada. E eu sempre falava isso, sabe? De uma forma espontânea. Manifestei literalmente tudo”, conta, rindo.
Gabriella encontrou na coletividade dos estúdios um espaço para crescer. Foto: cedida
Foram os amigos que abriram a porta definitiva. Ela já desenhava desde criança, influenciada pela irmã mais velha, mas foi ao conhecer Gabriel (Amaterasu), hoje colega de estúdio, que ganhou o empurrão inicial. “Ele me deu dicas de máquina, de material, de onde comprar tudo isso. Foi o pontapé que eu tava precisando”.
Depois de um mês treinando sozinha em peles artificiais, Gabriella conseguiu uma vaga de aprendiz. E ali entendeu que a vivência valia mais do que qualquer curso. “Apesar de eu estar consumindo muito conteúdo, vendo cursos gratuitos na internet, o que de fato me fez aprender foi estar ali cercada de profissionais, sempre ter o tatuador ao lado para auxiliar. Isso realmente me ajudou”.
Hoje, com um ano e sete meses de carreira, já passou por três estúdios, todos colaborativos. “Eu sempre gostei muito, porque dá pra ter uma troca de conhecimento e experiência constante. A gente tá sempre aprendendo e, consequentemente, evoluindo juntos. Eu gosto muito dessa ideia de trabalhar em equipe”.
Conhecida por Gab Tattoo, a tatuadora se destaca pelo estilo irreverente. Foto: cedida
Em relação a estilos, Gabriella não se limita, mas tem dois favoritos: o old school e o black work. “Pra mim são tatuagens que não têm erro. Tanto no quesito resultado quanto na aplicação, é muito satisfatório fazer”.
Ser mulher, para ela, também faz diferença na clientela. “Recebo muita tatuagem mais delicada, mesmo meu nicho não sendo focado nisso. Principalmente vindo de outras mulheres, em regiões mais íntimas. Acredito que, por eu ser mulher, elas se sentem mais confortáveis”.
Nesse meio, Gabriella conta que já passou por situações em que sua capacidade foi colocada em dúvida apenas por ser mulher. “Eu já passei por situações desagradáveis, como não ter voz dentro de um estúdio, duvidarem da minha capacidade sem conhecerem meu trabalho… Mas nunca deixei isso me abalar. Felizmente, o cenário da tatuagem tá mudando. Cada dia que passa vãoai surgindo mais mulheres tatuando por aqui. Eu fico feliz demais!”, resume a tatuadora.
Entre a tradição e a reinvenção
Thayla Isla (La Isla Tattoo) tinha 22 anos quando tatuou a própria pele pela primeira vez. Foi em 2021, experiência que abriu um caminho inesperado. “Desde sempre eu tive gosto por desenhar e pintar. Era um momento pessoal, no qual eu me ocupava e me encontrava. Em 2021, fiz minha primeira tatuagem e, a partir dali, passei a conhecer mais profundamente essa arte e a desenvolver uma paixão por esse universo”.
Isla atua em estúdio próprio, com clientela diversificada. Foto: cedida
O empurrão veio do colega Lean Costa, artista plástico e tatuador, que se tornou também mentor. “Ele me inspirou, me orientou e me deu todo o suporte necessário para seguir nessa caminhada que hoje é a minha vida”.
Autodidata, Isla se consolidou no old school e no tradicional americano, além de se destacar com flash tattoos em eventos. “Meu público hoje é bastante variado: atendo desde jovens até pessoas mais velhas, tanto homens quanto mulheres. Muitos clientes já chegam com o desenho pronto, mas sempre ofereço minha opinião profissional para sugerir ajustes ou melhorias desde que o cliente esteja de acordo”.
A tatuadora é especialista em old school e tradicional americano. Foto: cedida
Assim como Ana e Gabriella, também começou de forma improvisada. “As primeiras tatuagens foram feitas na casa de amigos, onde eu adaptava o espaço para trabalhar. Aos poucos, fui reunindo recursos para comprar os móveis e montar meu próprio estúdio”.
No mercado local, Isla afirma ter encontrado acolhimento. “No ramo da tatuagem no Acre, acredito que o espaço é aberto para todos. Eu, particularmente, nunca enfrentei rejeição ou cancelamento por ser mulher, pelo contrário, sempre recebi incentivo dos colegas e também muita procura de outras mulheres”, explica.
Um espaço que não para de crescer
Apesar das diferenças de trajetórias, as três tatuadoras compartilham pontos em comum. Todas vieram do desenho, todas aprenderam de forma autodidata e todas enfrentaram o desafio de conquistar credibilidade em um mercado majoritariamente masculino. Entre elas, há uma certeza: o número de mulheres tatuando está crescendo. No Acre, os estúdios de tatuagem não são mais apenas território masculino.
Na experiência delas, muitas clientes relatam que se sentem mais à vontade ao tatuar com mulheres, sobretudo em sessões que exigem expor partes do corpo. Mas o crescimento dessa procura não se explica apenas pelo conforto e acolhimento: ele também reflete a qualidade do trabalho de Ana, Gabriella, Isla, e tantas outras tatuadoras que consolidaram estilos próprios e conquistaram reconhecimento por meio de técnica e experiência.
No fim, quem procura uma tatuagem possui diferentes motivações. Há quem busque a estética, um desenho que harmonize com o corpo. Outros enxergam mais significado: homenagens, lembranças, momentos especiais. E há também quem veja na tatuagem uma forma de expressão, identidade ou simplesmente de eternizar na pele aquilo que lhe representa. Seja qual for a razão, cada tatuagem é única – assim como as histórias de quem as faz e de quem as recebe.

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