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Cultura

O ambiente de jogos online e as dificuldades no Twitch

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Foto: Reprodução

“Eu sou muito mais que um gamer, sou do entretenimento”, afirma o produtor de conteúdo Leonardo Santi.

Por Guadalupe de Souza Pereira e Maria Fernanda Arival

Assistir outras pessoas jogarem se tornou um entretenimento bastante popular na internet. Milhões de espectadores acompanham plataformas online de transmissão ao vivo de vídeo para ver conteúdos de todos os tipos – shows, entrevistas, viagens e lazer, culinária – mas principalmente para assistir a produtores de conteúdo jogando games.

A plataforma de streaming (em português, transmissão) mais popular é a americana Twitch, que há 6 anos foi adquirida pela gigante de tecnologia Amazon numa negociação que envolveu quase US$1 bilhão. O valor refletia o potencial da plataforma, que em 2015 ostentava 100 milhões de visualizadores mensais. Em janeiro de 2021, a marca foi de 2,84 milhões, segundo o Twitch Tracker.

Relatórios dão conta de um recorde de público no primeiro semestre deste ano, com ganho de 50% em relação ao mesmo período no ano passado. A busca por entretenimento na internet, incentivada pela pandemia de Covid-19, é um fator relevante para este marco. Porém a líder de mercado de streaming tem passado por um mal estar com seus usuários.

Com a chegada de novos streamers para dividir o espaço aumentaram os obstáculos que a plataforma têm colocado em relação à entrega das transmissões aos usuários e inscritos dos pequenos e médios criadores de conteúdo. A reação dos streamers tem se intensificado.

Leonardo Santi conta que desde a época que trabalhava apenas com o YouTube, as amizades com outras pessoas desse ramo surgiram e se fortaleceram. Com o tempo, chegou na Twitch, onde é conhecido como LeoSantiLive. “Desde minha mudança de conteúdo no YouTube eu tinha um desejo de uma interação maior e já tinha essa vontade desde que conheci esses meus amigos. Eles sempre me influenciaram e colocaram muita ‘pilha’ para eu fazer [live]. Então, eu fiz”.

Santi possui um perfil com aproximadamente 40 mil seguidores na plataforma de streaming e faz, em média, cinco transmissões por semana desde abril de 2020, no início da pandemia, com jogos independentes, de história e mais casuais, para se divertir.

Leonardo Santi, conhecido como LeoSantiLive. Reprodução/Instagram

“Eu faço qualquer coisa que eu ache que vai ser divertido. Simplesmente sento, sem ser pro player [jogador profissional], só me divirto. Os jogos que eu menos jogo são os da categoria E-sports, porque eu sou muito mais que um gamer, sou do entretenimento”.

De acordo com o streamer, os amigos que também fazem parte dessa comunidade auxiliam na divulgação das transmissões, por serem criadores de conteúdo com muitos seguidores. “Eu acabei tendo um pouco de ‘sorte’, então acabo tendo uma divulgação por tabela”.

Leo Santi e Rafael Guaxinim, o Guaxinim na Twitch, que atualmente possui 483,1 mil inscritos na plataforma. Os dois participaram juntos da Spoiler Night da Comic Con Experience 2019, em São Paulo.

Por outro lado, Nathan Christian, o MeninoNeitam na Twitch, conta que tem amigos que o ajudam, mas que já passou por situações inconvenientes com outros streamers.  “Ao mesmo tempo que uma grande parte tenta ser seu amigo para te derrubar, roubar os contatos, tirar proveito para ser notado ou até mesmo roubar subs [assinaturas no canal], uma minoria não é assim. É preciso tomar cuidado. Os que tenho de amizade já me ajudaram muito nesse ramo, por exemplo o The Darkeness, que fez meu chat bombar com duas mil pessoas. O Chico BR já me ajudou com equipamento e o Bobbyzeira foi um grande conselheiro. Tenho também total admiração por eles”, afirma.

Nathan começou no YouTube em meados de 2015, com ajuda do pai, que sempre apoiou o avanço do canal, e também migrou para a plataforma de streaming em busca de interatividade maior com as pessoas que o acompanham. Atualmente, as lives acontecem de segunda a sexta-feira, às 21h, com jogos de lançamento, clássicos e de qualquer plataforma, com apoio de desenvolvedoras como Nintendo, Xbox e PlayStation, além de outras empresas nacionais.

Nathan com produtos da Nvidia GeForce, empresa multinacional de tecnologia. Foto: Arquivo Pessoal.

“Eu decidi me dedicar [às lives] mais pela interação, porque fazer live é uma coisa dinâmica. Você puxar os seguidores para o seu canal é uma forma de divulgar mais o seu canal para outras pessoas. Só que nesse tempo é mais difícil, todo mundo quer fazer live, então, realmente não é uma coisa que é fácil hoje em dia. Todo mundo está fazendo live”, explica Nathan.

Problemas com a plataforma

Após mudanças na política de preços, produtores de conteúdo de pequeno e médio porte passaram a se queixar da plataforma Twitch. Esses usuários monetizam seus canais, isto é, convertem assinaturas e os anúncios do site em renda. O valor tradicional de assinatura, chamada de sub, teve uma redução de 66% – tornando mais acessível ao espectador a adesão de conteúdos exclusivos de um canal, mas afetando drasticamente a renda dos streamers

De acordo com Nathan, na pandemia o número de pessoas fazendo live aumentou e as plataformas têm usado novos algoritmos. Como o exemplo da Twitch, que mudou a forma de monetização e tem prejudicado pequenos e médios criadores de conteúdo. Além disso, a plataforma também mudou a forma de entrega das transmissões aos usuários.

“Eu fui prejudicado em uma grande proporção, porque o pagamento que eu recebia a cada mês ou a cada dois meses, agora vai demorar de cinco a seis meses para eu receber. É muito preocupante. Hoje eu tenho 4 mil seguidores, mas a Twitch não entrega as lives para essas 4 mil pessoas. Minha média caiu bastante, mas eu continuo na luta e não me intimido com isso. Mas é uma coisa que realmente a Twitch tem que rever”, afirma Nathan.

Publicações no Twitter repercutem reivindicações e reclamações em relação à política de preços da plataforma de streaming. Uma greve foi nomeada de Apagão da Twitch.

Em resposta, usuários da Twitch se organizaram nas redes sociais para promover uma greve reivindicando a revisão na política de preços do site. Paralelamente, streamers dos Estados Unidos também organizaram um boicote em reação a ataques de ódio de espectadores durante as transmissões – que se iniciou com a hashtag Twitch do Better, a favor de uma plataforma com menos assédio.

Casos de ataque de trolls foram relatados no jornal The Washington Post e deixam claro que grupos racistas se reúnem para constranger e ofender produtores de conteúdo negros. Com a organização do boicote nos EUA para o dia 1º de setembro, os brasileiros aproveitaram para juntar as pautas e organizar outro apagão no mesmo dia.

Publicação no Twitter que anuncia o 2º apagão na plataforma

Como resultado, dados da Gamesight Analytics confirmaram uma queda de quase 1 milhão de horas assistidas e uma diminuição de 14 mil canais ativos na plataforma de streaming americana só no segundo apagão. Dias antes, a Twitch se posicionou em apoio às manifestações e prometeu que continuaria “a trabalhar para fazer da Twitch o melhor serviço para os criadores de conteúdo criarem e promoverem suas comunidades”.

De acordo com Leonardo, a remuneração das lives ainda não é muito grande, mas ele usa o espaço para divulgar e impulsionar o YouTube e o Instagram, onde faz trabalhos com “publis” – publicidade de marcas parceiras – em posts e stories. “A gente tira um dinheiro com as lives, mas usa para divulgar nosso ‘trampo’. A gente usa como ferramenta para trabalhar com internet, porque é muito difícil ter alguém que trabalhe só com o YouTube ou só com as lives”, ressalta.

Leonardo, o LeoSantiLive, exibe “recebidos” de empresa parceira. Foto: Reprodução/Instagram

Já Nathan é funcionário de uma grande empresa americana e afirma não abandonar por nada, uma vez que gosta do trabalho e tem apoio para continuar na criação de conteúdo pelos chefes e supervisores. “Eles sabem e apoiam também. É a melhor empresa que eu já trabalhei na minha vida e recentemente fui promovido. Faço as lives por diversão também como uma renda extra. No momento não me vejo só trabalhando com lives, consigo conciliar as duas coisas”, conta.

Nathan, ou, como é conhecido na internet, MeninoNeitam. Foto: Arquivo Pessoal.

Redação

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Cultura

Mãos que contam histórias

Artesãos do Acre transformam natureza, cultura e memória em arte. Foto: Autores

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Por Raquel de Paula, Elis Caetano e Tales Santos

Por trás de cada peça feita à mão, há algo que vai além do material. Onde a natureza dita o ritmo da vida, o artesanato é mais do que trabalho: é uma maneira de preservar histórias, manter vivas tradições e transformar o olhar sobre o que nasce da terra.

Em cada colar, escultura ou acessório produzido no Acre, vive a memória da floresta, das tradições amazônicas e das pessoas que escolheram o artesanato como forma de expressão e sustento. Nesta reportagem, conversamos com três artesãos que dão forma, cor e alma a peças únicas, e que carregam, em suas trajetórias, a força de quem faz da arte um caminho.

O artesão das sementes 

João Neto produz diversos tipos de miçangas. Foto: Autores

João Neto cresceu cercado pela natureza e aprendeu cedo a olhar para as sementes como algo que carrega vida e história. Não demorou para transformar esse olhar em arte: pulseiras, colares, terços, todos feitos à mão, um a um, usando sementes da floresta amazônica.

Mas seu começo no artesanato foi outro. “Eu tô nesse ramo desde 2005. Há uns 12 anos, abri minha loja com cinco colegas. Nunca imaginei que um dia estaria fazendo artesanato assim. Mas, com o tempo, a loja começou a exigir mais variedade, então passei a montar minhas próprias peças.”

Foi aí que as sementes ganharam espaço. As matérias-primas vêm de diferentes partes do Acre e até do Amazonas. “Tem gente que traz de Boca do Acre, Assis Brasil, Feijó, Sena Madureira. A semente vem crua e a gente compra de quem já beneficiou. Eu não faço o beneficiamento, tem gente certa pra isso. Tem quem fure caroço por caroço. A gente trabalha com paxiubão, açaí, jarina… e os cascalhos, que são essas pecinhas menores entre uma semente e outra. Pode ser de Tucumã, de Cumaru-ferro ou até da própria semente que sobra.”

Grande parte do trabalho é produzido com sementes. Foto: Autores

Hoje, João fabrica chaveiros, colares, brincos, e outros acessórios. Para ele, a reinvenção é parte do ofício. “O turista cobra isso da gente. Então a gente se reinventa.”

Mesmo com a experiência, os desafios são constantes. “Minha maior dificuldade como artesão é o incentivo financeiro.” Hoje ele é microempreendedor individual (MEI), tem sua empresa, mas por ainda ter dívidas junto ao Fundo de Financiamento Estudantil  (FIES), fica impedido de conseguir crédito em bancos. “Tudo que eu faço é com o dinheiro que gira dentro da loja… é o que sustenta minha vida, o pagamento dos funcionários, a compra das sementes. Às vezes, eu até dou material para outros artesãos que estão passando dificuldade. Porque a gente sabe como é”.

A criação, segundo ele, é algo que se aprende ao fazer.  Inicialmente, João Neto não se via montando um colar, um brinco. “Mas tudo é criatividade. Cada peça tem um significado, depende da forma como você monta, do jeito que você deixa”. Ele cita  o exemplo dos chaveiros, que gosta de deixar uma pontinha pra fora. “É um gosto meu, tem gente que critica, diz que tem que seguir um design certinho. Mas eu gosto de combinar as peças com uniforme, com alguma coisa que se conecte”, explica.

“Tudo é criatividade”, disse João Neto. Foto: Autores

Ele sente uma motivação muito grande ao ver suas criações cruzando fronteiras “ e sempre pergunta para os clientes de onde são. “Um dia, entreguei uma camiseta para um cara e ele disse que era da Checoslováquia. Eu nem sei onde fica direito, mas pra você ver como a Amazônia atrai gente do mundo todo. O nosso artesanato tem esse poder.”

O doutor da borracha 

José Rodrigues carrega no apelido e no ofício o legado da floresta. Filho e neto de seringueiros, ele nasceu nesse caminho e fez da borracha não apenas sustento, mas arte que já cruzou fronteiras e palcos do mundo.

José Rodrigues é conhecido como Doutor da Borracha. Foto: Autores

“O que me inspira a trabalhar com a borracha é a floresta. Eu queria viver de um trabalho que valorizasse o meu ambiente. Me inspiro na minha história, na história dos meus pais, que são seringueiros. É algo que corre no sangue”. Para ele,  o mais importante é conseguir transformar essa matéria-prima em uma peça final, pronta para o consumidor, e esclarece: “isso agrega valor ao que a floresta oferece e ao que eu faço com minhas próprias mãos.”

Com olhos atentos ao passado e pés fincados no presente, ele transformou o látex em sapatos, bolsas e acessórios únicos, produzidos com consciência ambiental e respeito pela cultura do seu povo. Sua trajetória começou ainda em meados dos anos 2000, a partir de um curso de tecnologia da borracha oferecido em parceria com a Universidade de Brasília a TEC BORR.

Todos os produtos são peitos a partir do látex. Foto: Autores

“Comecei a trabalhar com folha de defumação líquida que é um tipo de borracha produzida utilizando uma técnica de coagulação do látex com fumaça líquida. E ali, por volta de 2006, 2007, nasceu esse meu trabalho com o artesanato”. E tudo foi se transformando à medida que passou a expor em  feiras, foi ouvindo o que as pessoas diziam, pegando ideias e colocando em prática. 

Desde então, José levou o nome do Acre a diferentes partes do mundo. Participou da Feira de Milão em 2014, conduziu a tocha olímpica em 2016, esteve no palco do Faustão em 2017 e gravou o documentário Acre Existe em 2012. Em 2022, foi reconhecido com o prêmio Top 100 Mundial Ambiental.

“O que mais me emociona é poder andar pelo Brasil e até fora dele, mostrar meu trabalho. Eu, que nasci e fui criado na floresta, hoje tenho a oportunidade de apresentar um produto lindo, sustentável, para o mundo. Isso fica na memória.”

Da madeira para memória viva

No ateliê de Antônio Geraldo, a arte de esculpir a madeira é mais que um ofício. É uma paixão que se revela em peixes, folhas e animais típicos da Amazônia, trabalhados em detalhes minuciosos. 

Desde os anos 2000, ele encontrou no artesanato não apenas uma fonte de renda, mas uma terapia, um respiro criativo e uma forma de respeitar o meio ambiente. Ele começou com móveis, criando com madeira o que dava vontade. Depois, foi se dedicando mais ao artesanal, aos estilos rústico e torneado. E com o tempo descobriu que o artesanato o ajudava até psicologicamente.

Da madeira, Antônio Geraldo produz diversos produtos. Foto: Autores

“ Às vezes você está fazendo uma peça e, do nada, surge uma ideia para outra. É como se a madeira abrisse caminhos dentro da nossa mente. A gente vai criando, se acalmando, refletindo. E mais do que isso, a gente transforma o que seria lixo em arte.”

Seu Geraldo utiliza restos de madeira, galhos e pedaços que iriam se perder e a partir deles criar peças únicas. “A sustentabilidade está aí: você não agride o ambiente, mas aproveita o que a floresta já oferece. Aquilo que muitos acham que só serve para lenha, eu vejo como matéria-prima.”

Para ele, cada escultura nasce de um impulso diferente, e a criação vem para todo artesão que tem atitude e desejo. “Nem sempre consigo repetir uma peça igual, porque cada uma nasce de um momento, de uma ideia. Se alguém me pede uma peça igual à que viu meses atrás, às vezes já não consigo fazer. É outra inspiração. É outra madeira. É outra história.”

Grande parte dos produtos é feito a partir de restos de madeira. Foto: Autores

E é justamente essa singularidade que tem levado seu trabalho para além das fronteiras do Acre, Brasil e até do mundo. “Dá um orgulho enorme ver o que a gente faz com as próprias mãos sendo valorizado. Quando as pessoas elogiam, encomendam, pagam antes mesmo de ver a peça pronta…” Antônio Geraldo se sente feliz com a admiração a suas peças, o que dá confiança para continuar trabalhando.  “Já desejei que a noite virasse dia só pra seguir criando.”

Todo o processo criativo vem da própria mente do artista. Foto: Autores

Mas o reconhecimento nem sempre vem de onde se espera. “Infelizmente, aqui na nossa região, tem gente que debocha, que desvaloriza. A gente vive cercado de madeira e, por isso mesmo, muitos não enxergam o valor de um trabalho feito com ela. Tem quem diga que aquilo não presta, que é só lenha. Isso desanima. Mas aí vem alguém de fora, olha com outros olhos e diz: ‘isso é arte!’. E isso faz a diferença. O elogio de um compensa o desprezo do outro. Dá força pra continuar.”

Trabalho feito à mão é a realização de um sonho. Foto: Autores

Redação

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Cultura

Beats e Hits

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Por Júlio Queiroz e Karina Paiva 

A cultura dos DJs vem ganhando destaque no cenário musical do Acre,  impulsionada pelo crescimento de eventos independentes, festivais e pela  popularização das plataformas digitais. 

Em meio a uma cena musical  majoritariamente voltada para o sertanejo e o forró, DJs locais têm conquistado espaço promovendo festas alternativas, mixando ritmos regionais com batidas  eletrônicas e atraindo um público jovem e engajado. Em cada apresentação, estilos globais combinados com a cultura local, resultam  na criação de sets únicos que oferecem experiências sonoras diferenciadas para  o público presente.

Com uma atuação multifacetada, que vai além de  entretenimento, tornaram-se fazedores de uma cultura que não está  sendo construída somente em baladas noturnas, mas em lugares diversos. O trabalho desses profissionais tem sido cada  vez mais procurado, para animar de tudo um pouco: casamentos, aniversários,  festas públicas e até eventos políticos.

Dj Lauro Félix. Foto: Reprodução

Mas entre cabos, luzes e batidas, os DJs do Acre vivem uma rotina  intensa. Do planejamento de sets à montagem de  equipamentos, passando por longas madrugadas de trabalho e a constante  busca por atualização musical, esses profissionais transformam paixão em  ofício. 

Lauro Félix, que atua como DJ há mais de 15 anos aqui no estado, conta como foi o início da carreira, experiência e as dificuldades enfrentadas ao longo desses anos como DJ: 

Sempre fui colecionador de músicas, sempre gostei de estar atualizado, de ter  CDs, fitas também, escutava rádio e assistia TV, principalmente programas  que passavam clipes. Eu peguei curiosidade com isso, comecei a pesquisar, fiz  aulas também. E de lá para cá foi dessa forma, como colecionador de músicas e  badalando em aniversário de amigos e vizinhos que me convidaram para tocar”, conta.

Criação da Semana Acreana de DJs, de autoria do deputado estadual Chico Viga. Foto: Reprodução

Ser reconhecido, ser visto como um profissional e aceito pelo público é uma complicação que muitos DJs enfrentam. A DJ Nareza Barros  acha que o maior obstáculo são as pessoas que não consideram DJ como profissão. “Quando as  pessoas levam como hobby ou não colocam a profissionalização como deve ser feita, isso acaba atrapalhando muito a gente, principalmente na hora de cobrar”, ressalta a DJ.

Também há um processo invisível ao público:  horas de pesquisa musical, testes em softwares de mixagem, organização de  playlists e, muitas vezes, o transporte do próprio equipamento.

LEI MUNICIPAL  SEMANA DOS DJs  

No último dia 18 de junho, em sessão plenária da Assembleia Legislativa do Acre  (Aleac), foi  aprovado por unanimidade pelos parlamentares da casa a Lei que institui a semana  estadual do DJ no Acre, apresentada pelo deputado Chico Viga (PDT). 

DJ Nareza Barros. Foto: Arquivo Pessoal

Segundo o texto da proposta, a comemoração será realizada anualmente na  primeira semana de novembro. A iniciativa busca valorizar, reconhecer e  incentivar os profissionais que atuam como DJs no estado, destacando a  importância cultural e artística para a cena local.O evento passa a integrar o Calendário Oficial de Eventos do  Município de Rio Branco a partir de 2026. “A partir de agora todos os DJs do estado do Acre terão uma semana cultural, voltada ao DJ, com workshop, apresentações em praças, escolas”, enfatiza Roney Matos. 

A prefeitura municipal de Rio Branco convidou para a assinatura da lei o produtor musical com vasta experiência no mercado da música eletrônica Mateus Bruschi Basso, O DJ Jay Boo. O consultor da Pioneer DJ BR estava em Rio Branco ministrando um  workshop para DJs. O encontro reuniu representantes do poder público e  grande parte dos DJs atuantes no estado do Acre. 

CRIAÇÃO DA LIGA  

A cena da música eletrônica no Acre alcançou um feito inédito com a criação da  Liga Acreana de DJs (LACDJ), primeira entidade representativa da categoria no  estado. A oficialização ocorreu em 25 de outubro de 2024, em Rio Branco.  

Criação da Semana Municipal de DJs, com a presença do poder público e grande parte dos DJs de Rio Branco – Acre. Foto: Acervo Pessoal

A iniciativa é fruto da união entre duas gerações da cena eletrônica local: DJ  Roney Mattos, um dos pioneiros e nomes mais respeitados do segmento, e DJ  El Mascarado, expoente da nova geração. 

A proposta da associação surgiu um ano antes, durante uma reunião entre os dois artistas, que identificaram a necessidade de fortalecer, organizar e dar visibilidade à atuação dos DJs locais. “A partir desse encontro, fizeram o projeto da fundação da Liga Acreana de DJs, entidade  voltada exclusivamente a fortalecer a representação dos valores dos DJs no  Acre.“A associação surge com o objetivo de promover união da categoria, fomentar  a oportunidade de formação técnica e profissional, além de representar os DJs em eventos culturais, festivais, políticas públicas, um espaço institucional, o mais  importante”, destaca Roney Matos, presidente da Liga.

Redação

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Cotidiano

Do papel às telas: a transição do jornal impresso acreano para o digital

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Por Ana Luiza Pedroza, Ádrya Miranda, Daniel de Paula e Wellington Vidal

 

O jornal impresso, símbolo histórico e cultural no Acre, começa a se despedir lentamente do cotidiano da população. A era digital assume o protagonismo, apostando em novos formatos de levar acesso à informação, no entanto, sem apagar o legado construído pelo impresso na história acreana.

Apesar dos esforços para reinventar o jornalismo local, a transição do impresso para o digital trouxe grandes desafios. No Acre, essa movimentação ocorreu de forma tardia, mas com a contribuição de jornalistas que se desdobram diariamente para acompanhar as mudanças no modo de noticiar, mantendo o compromisso social com a população.

Entre os obstáculos, a pandemia de Covid-19 foi um dos que aceleraram o declínio dos jornais impressos em todo o país, e no Acre não foi diferente. O A Gazeta, um dos veículos mais populares do estado, foi diretamente impactado.

Rotativa, máquina utilizada na impressão dos jornais A Gazeta. Foto: Ádrya Miranda

Fundado em 1985, sob direção de Silvio Martinello e Elson Martins, o jornal se destacou pelo jornalismo investigativo e de cunho social, sendo pioneiro em projetos editoriais gráficos com diagramação no impresso acreano. Foi por meio de suas páginas que os acreanos acompanharam coberturas históricas, como o assassinato do sindicalista Chico Mendes.

Em 1998, tornou-se o primeiro jornal a circular em cores no estado, com até 3.500 exemplares vendidos em dias movimentados, segundo Silvio. Apesar das inovações com o jornal impresso, o veículo enfrentou as adaptações tecnológicas do século 21. O portal online, criado ainda nessa fase, tinha estrutura simples, servindo apenas para replicar, de forma reduzida, as notícias do jornal físico.

À esquerda, Maíra Martinello; ao fundo, Paula Martinello; e à direita, Silvio Martinello. Foto: Arquivo pessoal

A edição impressa teve o seu fim em 2021, após uma expressiva queda nas vendas. Paula Martinello, jornalista do A Gazeta do Acre, relata que a migração definitiva para o digital foi desafiadora e impulsionada pela pandemia. “Foi um processo muito gradativo, porque o trabalho online não é fácil. É muita concorrência, é um outro tipo de público e perfil de consumo da notícia”, comenta.

Para os jornalistas do A Gazeta, hoje, A Gazeta do Acre, o desafio não foi apenas adaptar-se ao ambiente online, mas reinventar a rotina de produção jornalística sem abrir mão da credibilidade construída. Segundo Maíra Martinello, foram necessárias estratégias para garantir a sobrevivência e a relevância no meio digital, que exige mais agilidade, versatilidade e presença em todas as plataformas.

“A gente foi entrando nesse mundo online, digital. Claro que tem pontos positivos, como o custo mais baixo, a praticidade e a democratização do acesso à informação. Mas a era digital exige muito mais do jornalista, que hoje precisa escrever, gravar vídeo, áudio, editar, usar várias ferramentas ao mesmo tempo”, explica.

A transição da notícia do impresso para o ambiente digital, embora tenha sido impactante para todo o campo jornalístico, foi recebida de maneira diferente por cada veículo, conforme suas particularidades. Outro nome importante da imprensa acreana, como o jornal O Rio Branco, também enfrentou esses momentos de transformação.

Portal de notícias oriobranco.net. Foto: Ádrya Miranda

Mendes também reforça a necessidade dos jornalistas manterem seu compromisso social, mesmo diante das mudanças impostas pela era digital. “Se vocês forem jornalistas e pretenderem ser responsáveis, não esperem que a notícia chegue até vocês. Vocês têm que ir atrás da notícia”, conclui.

Essa transformação também é percebida por leitores que acompanharam de perto o auge das edições impressas no Acre. “Porque o jornal é um documento, então ele vai ficar ali para sempre”, comenta o jornalista e leitor assíduo Gleilson Miranda, de 55 anos, ao destacar que o jornal impresso carrega um valor que vai além da notícia do dia, mas também a documentação de histórias.

Segundo ele, com o jornal impresso era possível encontrar experiências afetivas, que marcavam seu momento de leitura.

“O jornal é impresso, tem esse charme, tem essa coisa de você sentar, tomar um café e folhear as páginas, lendo as principais notícias. Isso era muito bom para a época. Hoje você tem essa notícia mais rápida. Notícia que chega muito rápido”, afirmou Gleilson, ao relembrar as sensações que os impressos lhe proporcionaram.

A transição dos jornais impressos para os portais digitais no Acre marca uma mudança profunda no modo de fazer e consumir jornalismo. Conhecer a história da imprensa local, com a contribuição das edições do A Gazeta e O Rio Branco, é essencial para entender o papel que esses veículos tiveram na formação da identidade e da memória do estado.

Edição impressa O Rio Branco. Foto: Arquivo Espaço Cultural Palhukas

Para Narciso Mendes, atual proprietário da TV Rio Branco, o impresso no Acre carrega o legado de muitas figuras marcantes da história local. No entanto, a migração do jornal impresso O Rio Branco para o meio online não teve o mesmo peso como teve para os demais veículos.

Redação

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