Ufac
Para além da aldeia: os indígenas na universidade
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4 anos atrásem
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Redação
Foto: Reprodução/Internet
Por Bruna Giovanna e Ila Caira Verus
Muitos sonham com o grande dia em que finalmente passarão pelos portões da universidade. Por mais que tenhamos um número alto de instituições de nível superior no Brasil, por muito tempo elas contemplavam apenas uma pequena parte da população, como apresenta uma pesquisa realizada pelo Caderno de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais do Inep, que aponta que o percentual de estudantes pretos, pardos e indígenas nas universidades brasileiras era historicamente muito baixo. Em 1999, eles eram apenas 15 a cada 100 estudantes, embora representassem quase metade da população brasileira.
Foi só a partir de 2000, que a participação dos negros e indígenas de fato foi notada, graças às políticas públicas de ação afirmativa e democratização do ensino superior. A Lei de Cotas, instituída em 2012, foi decisiva para esse processo ao reservar para negros, indígenas e alunos da escola pública pelo menos 50% das vagas disponíveis no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), principal porta de entrada na universidade. Com isso, a parcela de alunos negros e indígenas nas universidades triplicou em 20 anos no Brasil: em 2019, eles eram 46 a cada 100.
De acordo com a professora Dra. Maria Inês de Almeida, a lei de cotas não garante muita coisa caso as pessoas da universidade e comunidade acadêmica não estejam dispostas a lidar com as diferenças. “A principal dificuldade que encontrei ao longo dos anos foi o elitismo, o comodismo, o corporativismo, a preguiça, o medo e o desânimo dos corpos docente e administrativo das universidades em que pude tratar do assunto “cotas”. A professora trabalha com formação de professores indígenas e produção de material didático para escolas indígenas desde 1996, e coordenou o Curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas da UFMG (FIEI – PROLIND), de 2006 a 2011.
O resultado dessas políticas públicas foi refletida no último Censo da Educação Superior, divulgado pelo Ministério da Educação em 2017, onde o relatório mostrou que o número de indígenas matriculados em instituições públicas e privadas cresceu 52,5%, passando de 32.147 para 49.026.
A UNIVERSIDADE
Soleane de Souza Brasil Manchineri, 36, conta que o mestrado foi uma das melhores fases de sua vida, pois teve a oportunidade de estudar com professores que muito admira. Mas reforça o despreparo da universidade em integrar efetivamente os estudantes indígenas. “Acredito que a universidade ainda não está preparada, mas quando estiver realmente interessada em crescer em novos conhecimentos, ela irá se adaptar à realidade indígena. Assim, construindo pontes entre mundos possíveis”. Ela salienta que é preciso criar as condições de acesso e permanência no ensino superior, bem como um espaço dedicado à pesquisa e extensão para os estudantes indígenas.
Elcio Severino da Silva Filho Manchineri, mais conhecido como Júnior Manchineri, está cursando o 4º período de Ciências Sociais na UFAC e relata que sempre estudou em escolas públicas durante a sua vida. Quando foi ingressar na faculdade optou pelas cotas, não porque precisasse, mas por ser um direito do qual ele queria usufruir. “Eu quis utilizar as ações afirmativas que são as cotas, justamente por ser indígena, uma forma mais representativa de poder ingressar na universidade. Na minha perspectiva utilizar as cotas foi uma maneira de respeitar um direito que é dos povos indígenas, de quem estudou em escolas públicas, dos negros e demais que se encaixam nas cotas”.
Júnior Manchineri afirma que não teve tantas dificuldades como um indígena dentro do ambiente universitário, graças a seu curso, que estuda sociedades e culturas, onde as pessoas respeitam os direitos e as diferenças dos demais. “Meu curso tem um pensamento mais aberto, tem estudos dentro das disciplinas sobre os povos indígenas”.
Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá, 58, professor e doutor em Linguística, fala que analisou a questão do preconceito desde o início de sua formação, por falar uma língua diferente e ter outra cultura. “Me lembro bem quando estava fazendo o primeiro ano do doutorado, um jovem que estava fazendo Ciências Sociais chegou para mim e disse que se eu estava no Doutorado, não era mais indígena. Então falei para ele: não sou indígena, sou Huni Kuin. Foi a minha autodeclaração, a autodenominação que o povo Huni Kuin tem”.
Outra situação que Joaquim Kaxinawá relata aconteceu também na sua pós-graduação. “No programa da Universidade de Brasília (UnB), havia dois tipos de povos considerados indígenas, os da graduação, que eram mantidos pela Funai e tinham alguns critérios para serem beneficiados, e nós da pós-graduação, que não éramos considerados indígenas. Assim, quando corríamos atrás de alguns benefícios como desconto na alimentação e transporte, não conseguíamos. Essa é uma situação para a gente pensar, como somos tratados em uma instituição pública, na administração, formação, judiciário, legislativo e como o preconceito ainda é muito grande”, reforça o Doutor.
LICENCIATURA INDÍGENA
O professor do curso de Licenciatura Indígena da Universidade Federal do Acre do campus Floresta em Cruzeiro do Sul, José Alessandro Candido da Silva, atua desde 2008 com os acadêmicos indígenas e afirma que a academia vêm garantindo a entrada dos indígenas, principalmente no Norte do país, em vista que há um maior número de indígenas concentrados nesta região. Segundo o censo demográfico de 2010 realizado pelo IBGE, a região Norte tem mais de 300.000 indígenas. Ele explica que a Ufac vem criando espaços e oportunidades através de programas de formação específica. “Como é o caso da licenciatura indígena, que é um curso destinado à formação de professores indígenas, ou por meio da criação de vagas, com uma previsão já estabelecida dentro dos editais de seleção, para ingresso de estudantes indígenas na Ufac”.
O licenciado em Pedagogia e Filosofia ainda explica a importância da formação de professores indígenas, pois assim a universidade trabalha e qualifica a forma como recebe os acadêmicos indígenas. E esclarece que a Ufac acolhe e entende o indígenas dentro de todos os ambientes, como o restaurante universitário, a biblioteca, “de tal forma que a presença do indígena vem sendo percebida e ao mesmo tempo reconhecida cada vez mais pela instituição”. Mas acrescenta que a inclusão seria maior se a própria universidade pudesse financiar, dentro de seu orçamento anual, a formação de alunos de licenciatura indígena, “com os recursos próprios, independentemente dos recursos do governos federal, fazer acontecer a entrada bianual das turmas”. Para ele, em um momento de grandes dificuldades em relação aos cortes na educação e sobretudo nessa onda de discursos “anti-indígenas”, que refletem na formação dos professores indígenas, isso reforça a necessidade da instituição de abraçar o curso de licenciatura de modo efetivo.
O professor da Ufac do campus Floresta acrescenta que a política de cotas representa uma ação afirmativa que visa proteger minorias e grupos que foram discriminados no passado, buscando remover barreiras que possibilitem a entrada nas universidades. Mas considera que isso não é suficiente: “é preciso pensar em programas específicos de formação de acadêmicos indígenas em áreas mais diversas”, pois não é somente a entrada que é importante, mas sim a permanência.
Segundo José Alessandro Silva, o grande desafio das gestões de ensino superior é a permanência dos alunos, e diz que na Universidade Federal do Acre não é diferente. “Nesse sentido, é necessário política e ações que vão garantir a permanência do acadêmico indígena nos cursos que ingressam”. E pontua que há uma discussão sobre a suspensão de bolsa destinada aos indígenas, chamada de bolsa permanência. Diz que não sabem até quando elas vão ser mantidas e que se for retirado esse amparo que os alunos recebem mensalmente, ele se pergunta se ainda vai haver alunos indígenas presentes na universidade.
ENSINO REMOTO
A professora do curso de Licenciatura Indígena, Mariana Ciavatta Pantoja, explica que com a chegada da pandemia do Novo Coronavírus o curso precisou parar. Mas mesmo após o diálogo acerca do ensino remoto, o curso tentou resistir, por conta da falta de recursos materiais, tecnológicos e pela própria dinâmica de ensino. Porém, entre o final do ano passado e início deste ano, houve uma demanda por parte dos alunos de retomarem as aulas. Então, a partir do edital de aquisição de equipamento, boa parte dos alunos conseguiram adquirir um tablet ou notebook, somado ao edital de chips com dados móveis.


Mariana Ciavatta Pantoja é docente do curso de Licenciatura Indígena e autora do livro Os Milton: cem anos de história nos seringais. Foto: Arquivo pessoal
“Existem vários alunos, e as dificuldades vão de técnicas de operar um aparelho para conectar, entrar nas plataformas do Gsuite, Classroom, Meet e até o sinal. Mas mesmo com muita dificuldade eles vão aprendendo. Essas dificuldades não acontecem para todos, por estarem em diferentes lugares. Eu sentia que mesmo a gente gravando, não são todos que tem sinal para assistir as aulas. A universidade fez esse movimento do edital, pois sem ele não seria possível o retorno das aulas em ensino remoto”, explica Mariana Pantoja.
A professora fala que esse modelo apresenta prejuízos na concentração, na interação, de não ser possível usar um quadro negro. Dessa forma, são utilizados outros recursos como Powerpoint, mas é diferente de estar interagindo diretamente. “Quando você está em sala de aula, consegue entender melhor, vê como está atenção, observa a fisionomia deles e é possível pressentir o que está acontecendo. Eu e outros professores pedimos que os alunos fizessem um diário após todas as aulas sobre o que tinham aprendido, visto e como a aula tinha sido. A partir disso dava para perceber coisas que na outra aula eu buscava corrigir, como não compreensão”, enfatiza.
Mariana ainda enfatiza que no remoto são apenas duas horas de aula por dia e que presencialmente o curso funcionava de forma integral, onde é possível trabalhar com uma atividade de desenho, gráfica, externa e depois voltar para uma de escrita e leitura. Dessa forma, a dinâmica faz com que o assunto vá assentando aos poucos. Agora, quando se tem apenas duas horas de aula, por mais que o professor peça para ler, escrever, fazer o diário de aula, não é a mesma coisa.
Cursando o 7º período de Engenharia Florestal, Carolina de Souza Brasil, 23, diz sentir falta de passar o dia todo na Ufac. Ela explica que enfrenta dificuldades no ensino remoto, pois sente falta das explicações pessoalmente e considera que o modelo de ensino é cansativo. Além disso, a graduanda acrescenta que seu curso tem a necessidade de alguns materiais para os desenhos e agora ela tem que providenciar, o que antes era o curso que oferecia.
Júnior Manchineri afirma que sempre foi contra o ensino remoto emergencial, pois é um modelo de ensino que exclui as pessoas, não oferece amparo aos alunos em vulnerabilidade social, não dá a mesma oportunidade a todos, dando margem à desigualdade. Segundo o graduando, a academia não ampara todos os alunos de baixa renda.
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Ufac
Projeto promove estudos sobre gênero e sexualidade na Ufac
Encontros do Projeto Tibira reúnem estudantes e comunidade para debater gênero, sexualidade e diversidade na Ufac. Foto: cedida
Publicado há
5 dias atrásem
27 de outubro de 2025por
Redação
Por Bruno Medim e Carlos Alexandre
O Projeto de Extensão Tibira, da Universidade Federal do Acre (Ufac), vem se consolidando como um espaço de debate e acolhimento sobre gênero e sexualidade. Criado em novembro de 2023 como grupo de estudos, o Tibira se tornou projeto de extensão neste semestre e agora está aberto a toda a comunidade interna e externa da instituição.
Coordenado pelo professor Fabrício Ricardo Lopes, do curso de Psicologia, o projeto realiza encontros quinzenais baseados em leituras de obras que discutem gênero, sexualidade e suas interseções com outras áreas do conhecimento. Neste semestre, o grupo estuda o livro A arte queer do fracasso, do teórico estadunidense Jack Halberstam.
Segundo Fabrício Lopes, o Tibira foi pensado como um espaço não apenas de estudo, mas também de convivência e acolhimento. “No nosso grupo, buscamos não apenas o estudo, mas uma forma de socialização também, como disse, um ponto de encontro. No Tibira, além de estudarmos, nós acolhemos e nos protegemos”, explica o professor.
O nome do projeto faz referência a Tibira do Maranhão, indígena tupinambá que foi uma das primeiras vítimas de homofobia registradas no Brasil, segundo o historiador Luiz Mott.

Coordenado pelo professor Fabrício Lopes, o grupo promove debates críticos e fortalece o respeito às diferenças. Foto: cedida
Além de rodas de leitura, o projeto adota um caráter itinerante, ocupando diferentes espaços do campus da Ufac. As informações sobre local e horário das reuniões são divulgadas no perfil do grupo no Instagram, @tibira.ac.
Para o professor, o Tibira ainda está em sua fase inicial, mas já tem planos de expansão. “Em breve, ele deve se tornar um grupo não só de extensão, mas de ações de Ensino e Pesquisa também. Temos planos de ampliar nossas atividades para acolhimento em saúde mental da comunidade LGBTQIAPN+, além de cursos sobre letramento antidiscriminatório”, afirma.
O estudante de Psicologia Andrei Campos da Costa, que participa do Tibira desde a primeira reunião, ressalta a importância do espaço para a formação acadêmica e pessoal.
“Enquanto pessoa não-binária, vi no grupo uma oportunidade de aprofundar a discussão sobre gênero e sexualidade. Penso que o debate acerca de gênero e sexualidade é primordial, principalmente pois tais temáticas perpassam nossa existência e nos impactam de diferentes formas. Somos seres diversificados, e isso também vale para a maneira como expressamos nossa existência e como amamos”, destaca.
O projeto tem atraído estudantes de diferentes cursos, mas também busca o engajamento de pessoas de fora da universidade que desejam ampliar seus conhecimentos sobre o tema.
Com encontros regulares e propostas de diálogo crítico, o Tibira se consolida como espaço de reflexão, resistência e produção de saberes, fortalecendo a diversidade e o respeito às diferenças dentro e fora da Ufac.
Ufac
Fotojornalismo é tema da Mostra de Comunicação Visual
Com o tema “Olhares que contam histórias”, projeto da Ufac destaca a prática da fotografia como ferramenta de expressão social
Publicado há
3 semanas atrásem
9 de outubro de 2025por
Redação
Por Emily Cristina Correa, Mariana Moreira e Francielle Julião
A Mostra de Comunicação Visual da Universidade Federal do Acre (UFAC) chega à sua 13ª edição em 2025 com o tema “Fotojornalismo social: DF olhares que contam histórias”. Criada como disciplina optativa pelo professor Milton Chamarelli, do curso de Jornalismo, o evento tem se consolidado como um espaço de prática e experimentação para estudantes, mesmo diante de limitações técnicas.
A edição deste ano acontece no dia 9 de outubro, a partir das 18h, no Museu dos Povos Acreanos, em Rio Branco. A exposição é aberta ao público e reúne trabalhos fotográficos desenvolvidos por alunos ao longo da disciplina.
Desde a 5ª edição, os alunos têm utilizado celulares para captar as imagens apresentadas na mostra, devido à falta de câmeras fotográficas profissionais nos laboratórios do curso. O atraso de anos entre solicitação-compra-entrega de novos equipamentos fez com que a atividade recorresse a essa solução inicialmente temporária.
Para o professor Chamarelli, isso não impede a qualidade dos trabalhos. “Embora não tenhamos as máquinas fotográficas, as fotografias são feitas pelo celular, e isso vem acontecendo desde a 5ª Mostra. Os alunos não têm acesso a câmeras, mas ainda assim temos obtido ótimos resultados”, afirma.
A Mostra, segundo ele, nasceu da necessidade de levar o conteúdo da disciplina do campo teórico para a prática. “A ideia da disciplina surgiu após percebermos que trabalhávamos apenas com conceitos. Foi então que resolvemos transformar o que víamos de forma abstrata em prática por meio da fotografia.”
Com o passar dos anos, a atividade ganhou estrutura e hoje conta com comissões organizadoras, equipe de assessoria de comunicação, além de momentos de confraternização na noite do evento – com música e coffee-break.
Experiência estudantil
A estudante de Jornalismo Sarah Helena Brito participou da organização da 12ª edição da Mostra de Comunicação Visual e destaca os desafios enfrentados. “Fiquei na equipe de Assessoria. Tivemos que começar tudo do zero: criar a identidade visual, testar cores que combinassem com o tema. Foi um trabalho intenso”, relembra.
Para ela, a disciplina teve um impacto significativo tanto em sua formação acadêmica quanto pessoal. “Me ajudou muito a desenvolver esse olhar social dentro da fotografia no Jornalismo. É algo que procuro levar para todos os lugares, seja na atuação jornalística ou fora dela.”
Ufac
Florestas do futuro
Programa alia prototipagem sustentável e inovação a partir da reciclagem de garrafas PET. Foto: cedida
Publicado há
1 mês atrásem
29 de setembro de 2025por
Redação
Por Karina Paiva e Júlio Queiroz
Iniciado de uma observação sobre a limitada reciclagem do plástico PET na Amazônia, surgiu em 2023 o Programa Florestas do Futuro, buscando alternativas sustentáveis e de baixo custo, que também pudessem trazer conscientização acerca de outros usos que este e outros resíduos plásticos podem ter.
Impulsionado pela professora Bianca Cerqueira Martins, do curso de Bacharelado em Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre – Campus Floresta, o projeto integra inovação e sustentabilidade através da impressão 3D, utilizando filamentos feitos com plástico PET reciclado.
As investigações e colaborações estabelecidas pela professora, acerca do potencial de uma ferramenta de reciclagem e dos tipos de filamentos existentes, evoluíram para um Programa de Extensão, que visa despertar o interesse de meninas e mulheres em Engenharia Florestal, Tecnologia e Inovação, indo além das questões ambientais para promover também a igualdade de gênero em um campo dominado majoritariamente por homens.
“Por meio da prototipagem de equipamentos de baixo custo com PET reciclado, o Programa busca envolver jovens em práticas criativas, sustentáveis e transformadoras, promovendo inclusão, consciência ambiental e protagonismo feminino”, ressalta Bianca Martins.
Além de popularizar pesquisas em tecnologia de produtos florestais, promover oficinas de reciclagem e oficinas de prototipagem e desenho 3D, o Programa inclui a criação de um estande itinerante de Ciências Florestais, cujo objetivo, além de difundir o conhecimento para diversas comunidades, é também promover a interação e fomentar a troca de experiências e saberes entre jovens estudantes e pesquisadoras de diversas áreas.

Projeto Florestas do Futuro: Despertando o Interesse de Meninas e Mulheres na Engenharia Florestal, Tecnologia e Inovação para um Mundo Sustentável. Foto: cedida
Colaboração
O Programa conta com a colaboração crucial do técnico italiano Stefano Vannucci, especialista em eletrônica e programação, que desenvolveu, entre outros modelos, o PullStruder, um dispositivo de baixo custo e baixo consumo de energia, utilizado para produção do filamento plástico da garrafa PET, para ser usado em impressoras 3D.

Pull Struder, primeiro protótipo de reciclagem de PET para produção de filamento. Foto: cedida
“Ao conhecer a proposta, ele demonstrou entusiasmo e interesse em colaborar com o desenvolvimento do projeto, com foco na promoção da economia circular na Amazônia, por meio da reutilização de resíduos sólidos, impulsionando a bioeconomia”, destaca a professora.
Atualmente o projeto atua sem uma oficina própria, utilizando o Laboratório de Ciências Florestais do Campus Floresta da Ufac (Labflor), e busca novas parcerias para a instalação de uma sede permanente no Centro de Juventudes de Cruzeiro do Sul, que é mantido pelo Grupo Marista.
O plástico utilizado nas atividades e experimentos é obtido pelos próprios estudantes, principalmente os do curso de Engenharia Florestal, por meio da coleta de garrafas na própria universidade, em eventos acadêmicos e no alojamento universitário.
Ao recolherem o material, os alunos se tornam parte da solução para o problema do lixo plástico, transformando-o em recurso útil, inclusive para seu aprendizado em sala de aula. Parte desse resíduo também é adquirida por meio da doação de garrafas defeituosas que seriam descartadas por empresas locais.
A reciclagem do plástico no Brasil
O plástico é um material amplamente utilizado pela indústria. Seu consumo e descarte impróprio acabam, muitas vezes, causando prejuízos à natureza, uma vez que este resíduo possui grande produção e difícil decomposição no ambiente.
Um estudo anual sobre reciclagem de plásticos no Brasil, encomendado pelo Movimento Plástico Transforma, revelou que, em 2023, 1,4 milhão de toneladas desse resíduo foram destinadas à reciclagem, sendo 984 mil toneladas oriundas de embalagens.
Desse total, apenas 28% foram recicladas e reutilizadas pela indústria. No caso da resina pós-consumo – embalagens de alimentos e descartáveis que são recicladas e transformadas em matéria-prima para serem reaproveitadas pela indústria – foram 939 mil toneladas produzidas, sendo a maior parte (41%) de Polietileno Tereftalato (PET).
Nesse panorama, o Norte foi a região que menos produziu o material reciclado, com apenas 12 mil toneladas produzidas, em contraste com o Sudeste (510 mil toneladas), Sul (257 mil toneladas), Nordeste (110 mil toneladas) e Centro-Oeste (39 mil toneladas).

Fonte: Abiplast – Associação Brasileira da Indústria do Plástico, 2023. Disponível em: https://www.abiplast.org.br/noticias/reciclagem-de-plasticos-no-brasil-estudo-aponta-indice-de-243-para-as-embalagens-em-2023/
O uso sustentável e a reciclagem do plástico, tem o potencial de não apenas reduzir a quantidade desse material no ecossistema, ajudando na preservação dos recursos naturais e minimizando danos ambientais, mas também na obtenção de insumos para a criação de novos produtos a partir da sua reutilização, promovendo a economia circular.
Impressão 3D e filamentos plásticos
A impressora 3D, usada para prototipagem, pode utilizar vários tipos de filamentos plásticos, e cada tipo de plástico é aplicado conforme suas características e os objetivos pretendidos.
Entre os principais tipos de filamentos estão os de Ácido Polilático (PLA), que são biodegradáveis e de fácil uso, os de Acrilonitrila Butadieno Estireno (ABS), que se deformam facilmente mas resistem bem a altas temperaturas, os de Nylon, flexíveis e de alta resistência, os de Termoplástico Poliuretano (TPU), também flexíveis e de alta elasticidade e os de Tereftalato de Polietileno Glicol (PETG), que apesar de leves, com boa resistência e moldagem a baixas temperaturas, não se decompõe de maneira natural no ambiente.
A professora Bianca Martins explica que, no caso do Programa Florestas do Futuro, o uso de garrafas PET além de atender a demanda da reciclagem de um resíduo, que é um poluente grave na natureza, é o material reciclado mais viável economicamente por ser mais barato e acessível que filamentos comerciais.
“Por isso nós falamos que se trata de economia circular, consumir o plástico destinado ao lixo no Juruá, reciclando, utilizando e reintroduzindo em cadeias produtivas de outros produtos, evitando que se utilize plástico de fora e evitando que se jogue no lixo o plástico que é descartado”, pontua.
Criar sem agredir o meio ambiente
As práticas de prototipagem estão alinhadas ao curso de Engenharia Florestal e a criação de produtos inovadores sem a necessidade de derrubar árvores. Entre as pesquisas desenvolvidas por meio do Florestas do Futuro, está o trabalho de conclusão de curso da Cristina Lima de Melo, aluna do 10° período do curso, que combina o uso de fibras naturais e PET reciclado.
“No início começou com uma proposta de tema de trabalho de conclusão de curso, porém, antes mesmo do tema, já existia o esboço de uma atividade de extensão de outros alunos. A priori estou aprofundando o tema voltado para às propriedades físico-químicas e mecânicas das fibras”, conta Lima.
Além disso, outras propostas como protótipos de caixas, modelos de máquinas florestais e materiais didáticos como representações do relevo de unidades de conservação, se destacam entre as produções do Programa. Todo esse material é difundido nas escolas, por meio do estande de Ciências Florestais.
Práticas criativas
Atualmente o programa se prepara para promover uma oficina de prototipagem, que ocorrerá aos sábados, no mês de outubro no Centro de Juventudes de Cruzeiro do Sul, destinada a escolas de ensino fundamental e médio, especialmente meninas e mulheres.

Em 2024 já havia ocorrido uma oficina introdutória sobre o assunto e a deste ano terá maior duração. Foto: cedida
Serão 30h de oficina, com uma programação que incluirá palestras sobre bioeconomia, economia circular, reciclagem de PET, programa de edição 3D, sistemas Pull Struder e impressão 3D, sob condução da coordenadora Bianca Martins e do técnico Stefano Vannucci, além da participação de outras professoras e alunos do curso de Engenharia Florestal.
O intuito da oficina é aliar conhecimento e prática para que os jovens consigam ter uma boa introdução ao desenvolvimento de equipamentos inovadores e manuseá-los de forma descomplicada.
A coordenadora do Programa enfatiza sobre a importância de ações como essa para formar agentes de promoção do desenvolvimento sustentável na região do Juruá e em outras regiões.
Com educação científica e práticas criativas, o Programa aprofunda o conhecimento relacionado à prototipagem, às tecnologias de baixo custo e aos usos do plástico, permitindo que jovens estudantes levem esses hábitos e saberes para suas casas e comunidades.

Bianca Martins, engenheira florestal e coordenadora do programa e Stefano Vannucci, projetista e desenvolvedor do sistema PullStruder. Foto: cedida
“Para mim e para o senhor Stefano, o produto mais importante de toda essa iniciativa é o desenvolvimento de mentes capazes de pensar lá na frente, capazes de buscar soluções para problemas, capazes de inventar novas máquinas, de terem novas ideias para reutilização do PET e de outros resíduos”, conclui.
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