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A corrida pela aprovação

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Alta procura pelo curso de Medicina costuma exigir mais dedicação dos candidatos nas horas de preparação | Foto: Arquivo pessoal/Linda Vitória

A trajetória de estudantes que percorrem diferentes caminhos em busca do sonho de cursar medicina

Por Ana Luíza Bessa e Renato Menezes

Do ponto de partida até a linha de chegada ao ensino superior, a trajetória que milhões de estudantes percorrem para realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) visa um objetivo em comum: entrar no curso dos sonhos em uma universidade pública ou faculdade privada. De acordo com o Relatório Anual do Enem, somente no estado do Acre foram 40.674 inscrições realizadas em 2020 para tentar alcançar a meta de ingressar no ensino superior. Contudo, as dificuldades que a pandemia de Covid-19 trouxe no início desta década em todas as áreas da sociedade refletiram nos dois domingos de prova, sendo as datas realocadas para 17 e 24 de janeiro de 2021, por conta da crise de saúde pública que impede aglomerações.

Dos mais de 40 mil acreanos inscritos em 2020, somente 19.721 pessoas estiveram presentes no primeiro dia de aplicação do exame. No segundo dia, o número caiu para 18.389. Conclui-se que mais de 20 mil alunos deixaram de comparecer aos locais de aplicação para resolverem as questões de Ciências Humanas, Linguagens e Redação. No segundo dia, mais 1.332 estudantes não fizeram a segunda etapa, que continha questões de Ciências da Natureza e Matemática. Vale lembrar que se o candidato não se faz presente nos dois dias, a desclassificação é automática, uma vez que o quadro de notas não ficará completo. Isso impede a inscrição nos programas de acesso ao ensino superior como o Sistema de Seleção Unificada (SiSU), Programa Universidade para Todos (Prouni) e Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Nesta pista de corrida, mais da metade dos acreanos ficaram pelo caminho.

Os motivos foram vários. Alguns contraíram a Covid, outros chegaram atrasados, outros nem sequer conseguiram chegar nos locais de prova em decorrência de problemas pontuais ou de deslocamento. Estes foram eliminados e não tiveram a chance de fazer a prova que define quem entra e quem tem que voltar a tentar no ano seguinte, mesmo que tenham estudado muito para isso. 

Este foi o caso das estudantes Andressa Mendes, de 22 anos, e de Linda Vitória Coutinho, de 20 anos. Apesar de terem feito a prova em 2020, ambas não foram aprovadas para o curso de Medicina da Universidade Federal do Acre (Ufac). Então, seguem estudando para alcançar a vaga na graduação pretendida. A caminhada de ambas não começou no ano passado.

Ufac tem uma das maiores médias brasileiras para o curso de medicina | Foto: Reprodução/Ufac

A TRAJETÓRIA DE ANDRESSA

 Se preparando desde 2016, quando estava no 3º ano do ensino médio, Andressa tentou no ano em questão, nos seguintes e segue estudando para fazer a edição de 2021, que acontecerá nos dias 21 e 28 de novembro. Quem olha para tantas tentativas pode até imaginar que ela perdeu tempo demais ou que poderia ter feito outra graduação. No entanto, ela conta que não sente que está ficando para trás. Muito pelo contrário, considera que está evoluindo a cada ano em prol do objetivo que traçou desde que compreendeu que seu destino era cuidar de gente, aos 13 anos. “A cada ano tenho evoluído, devagar, uma hora eu vou chegar lá. Já estive mais distante, mas creio que tô chegando perto”, falou.

Ela fez um ano de cursinho público (2016), três anos de cursinho particular (2017, 2018 e 2019) e quase dois (2020 e 2021) em modalidade de Ensino à Distância (EaD), devido à pandemia. No primeiro ano que prestou o exame, tinha uma jornada tripla: trabalhava de manhã ajudando a mãe, que é diarista, ia para a escola à tarde e ao cursinho de noite. Quando terminou o ensino médio, começou a se dedicar mais ao Enem, tentando conciliar trabalho e estudo preparatório.

“Eu sempre trabalhei desde o ensino médio. Antes era bem mais difícil, porque eu tinha que trabalhar de manhã, estudar de tarde e fazer cursinho de noite. Quando terminei o ensino médio, fiquei só trabalhando e estudando para o Enem, mas ainda assim não deixou de ser difícil. O bom é que eu não tinha mais a obrigação de ir para a escola e ainda pegar ônibus, me deslocar e me estressar – porque esses ônibus daqui não são fáceis. Mas aí, quando me formei, ficou um pouco mais flexível pra trabalhar e estudar. O cursinho, querendo ou não, é algo mais liberal”, disse.

Estudante conta que descobriu que queria ser médica em uma feira de profissões realizada na escola em que estudava | Foto: Arquivo pessoal

“É PUXADO”

Esta rotina dupla ainda perdura. Ela continua acompanhando e realizando as faxinas diárias com a dona Rosilene Mendes, de segunda a sexta-feira, para prover o sustento da casa e custear os estudos. Ela considera a rotina puxada. “Minha mãe é faxineira, diarista, e eu vou ajudar ela. Então, não é aquela coisa de todo dia você estar naquele mesmo canto. Aí tem gente que bagunça muito, tem outros que fazem as coisas mais direitinho. Geralmente é só um turno, mas tem dias que a gente faz dois, e aí eu tenho que dar um jeito de conciliar e acabo estudando só à noite”, comentou.

Com o dinheiro das faxinas, Andressa e a mãe conseguiram pagar o cursinho presencial durante três anos, com mensalidade de R$800 na época, e apostilas no valor de R$2 mil que se renovam a cada ano. De manhã, ia para as casas de família; de tarde, para o cursinho; e de noite, mantinha os estudos. Oriunda de escola pública, ela também contou que no próprio pré-Enem fica perceptível a diferença de ensino entre o público e o particular.

“O cursinho que eu fazia era o melhor do Acre. Tinha gente de todas as classes, de todos os níveis e a maioria da sala, tipo 90%, querendo fazer medicina. E quando você chega lá, e você é de escola pública, é possível ver uma diferença discrepante comparando com estudantes de escola privada. Tem coisas que eu ficava ‘meu Deus, eu nunca vi isso na minha vida!’ Mas aí, depois, com muita dificuldade, a gente vai se acostumando”.

COMPARATIVO ENTRE AS ESCOLAS DO 

A média de notas das escolas no Enem reflete esta discrepância no ensino. De acordo com uma pesquisa nacional realizada pela empresa de tecnologia ZBS com os resultados do Enem 2019, as maiores médias do exame no Acre se concentram em instituições de ensino privadas. No top 10, somente duas não são deste nicho.

No ranking de classificação das escolas, a renda média dos pais dos alunos das escolas mais bem colocadas chega em até 15 mil reais | Foto: Reprodução/ZBS                                     

Neste estudo com 5.318 participantes do Acre, a média de notas de alunos de escola pública é de 461,56. A de ensino privado, por sua vez, é de 572,09, sendo que 13,33% destes alunos têm renda média mensal bruta de R$11,9 mil a R$14,9 mil.

Demonstração de média de nota classificada pela renda dos participantes | Foto: Reprodução/ZBS 

Com relação aos que estudaram em escola pública, o maior grupo socioeconômico é composto de participantes que possuem renda de até 1 (um) salário mínimo.

Infográfico realizado com base em dados da consultoria ZBS sobre o perfil dos estudantes que prestaram o Enem 2019 | Produção: Renato Menezes

Não há dúvidas que essas diferenças foram ainda mais acentuadas durante a pandemia. Estudos realizados pela Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) mostram que há desigualdade quando o assunto é internet: 98,4% dos estudantes da rede privada tiveram acesso à rede e este percentual entre os estudantes da rede pública de ensino foi de 83,7%.

Infográfico realizado com base em dados da consultoria ZBS sobre o perfil dos estudantes que prestaram o Enem 2019 | Produção: Renato Menezes

Estas disparidades refletem na qualidade de ensino e no desempenho dos alunos no Enem. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 2018, apenas 36% dos alunos da rede pública  ingressaram  na graduação (pública ou privada). Para os da rede privada, o índice registrou 79,2%. 

Infográfico realizado com base em dados da consultoria ZBS sobre o perfil dos estudantes que prestaram o Enem 2019 | Produção: Renato Menezes

“TEM DIAS QUE O CANSAÇO VENCE A GENTE”

Sobre isto, Andressa destacou que é inevitável a diferença de notas quando se equipara os resultados do Enem de pessoas que vêm de ensino público com os que estudaram em escola particular, principalmente àqueles que não precisam trabalhar e, consequentemente, têm mais tempo de dedicação exclusiva ao estudo. “Uma pessoa que não tem tantos recursos acaba se preocupando bem mais com coisas do tipo ‘como é que vou pagar meu estudo, cursinho e material?’. Querendo ou não, às vezes só o cursinho online não é suficiente. Tem algumas coisas que você tem que pagar um pouco mais caro para ter algo mais individualizado”.

Estes esforços se justificam ao analisar o último relatório anual da Ufac. O “Ufac em Números 2019” mostra que mesmo com a aprovação, em 2018, da cota regional que prioriza alunos que concluíram o ensino médio no estado, a relação candidato/vaga no curso de medicina ainda é alta. Em 2018, foram 17.643 inscritos e 220,54 candidatos por vaga. Em 2019, foram 7.775 candidatos e 97,19 concorrentes para cada vaga, o que ainda configura a maior média entre os cursos, apesar da queda significativa. Anualmente, a universidade oferta 80 vagas distribuídas em duas turmas de 40 alunos nas duas edições do Sisu.

Points scored
Número de inscritos caiu em decorrência da aprovação da Resolução nº 025, de 11 de outubro de 2018, que institui o bônus de inclusão regional, a fim de promover a entrada de mais acreanos no curso | Gráfico produzido por Renato Menezes com dados do relatório Ufac em Números 2019

Atualmente, Andressa se prepara com os recursos on-line que tem ao alcance, tanto em decorrência da pandemia, como por questões financeiras. No entanto, afirma que se acostumou a estudar sozinha, mesmo ciente de que requer mais esforço por parte de quem estuda. “No começo (da pandemia) foi bem difícil. Eu não estava acostumada a estudar online porque tinha aquela rotina de estar todo dia no cursinho com os professores para me auxiliar. Depois me adaptei e comecei até a gostar, pois vi que eu podia fazer aquilo, já que antes eu me prendia demais naquele negócio de ter que estar com um tutor ao meu lado”.

No início das restrições, ela e a mãe ficaram sem trabalhar por 2 meses. Agora, ela retomou o trabalho no turno matutino de segunda a sexta-feira e, eventualmente, alguns dias de tarde. Ao chegar em casa, descansa por alguns minutos e tenta focar no estudo, mesmo às vezes exausta do trabalho. E como faz para manter o foco? “Eu tento, mas tem dias que o cansaço vence a gente. Mas aí depois de um banho quente, a gente pensa melhor”. 

NA HORA DE TENTAR A VAGA…

Como todo “enembulando”, o nervosismo para verificar a nota e aplicá-la no sistema é inevitável, justamente porque passou o ano inteiro se preparando. Porém, ela sempre tentou tirar uma vantagem diante das tentativas em passar para Medicina, principalmente para ficar motivada em continuar persistindo. “Nos primeiros anos eu me desesperava, mas aí depois eu comecei a tirar proveito disso e me manter mais focada nas disciplinas que eu vi que tinha um desempenho menor. 

Sisu é uma das ferramentas onde os alunos podem inserir as notas obtidas no Enem | Foto: Reprodução/Internet

“TENHO QUE PROSSEGUIR, NÉ?!”

Sobre resultados, ela chegou a passar para Direito na Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat) e relatou que, inicialmente, ficou com vontade de adiar o sonho de ser médica. “No Enem de 2019 eu passei para Direito na Unemat e fiquei com vontade de ir, mas aí conversei com algumas pessoas que estavam se formando no curso de Medicina e que me orientaram a seguir meu coração. E se eu estava há todos esses anos estudando por uma coisa que eu sonho, eu tenho que prosseguir, né? Por mais que demore. Depois de pensar bem, vi que (Direito) não tinha nada a ver comigo”.

A TRAJETÓRIA DE LINDA VITÓRIA

A estudante Linda Vitória Coutinho, de 20 anos, também estuda para entrar no curso de Medicina. Oriunda de escola particular, concluiu o ensino médio em 2017. No ano seguinte, ingressou em um cursinho pré-vestibular pago. Desde então, foca em passar na federal. A rotina dela é totalmente focada nos estudos, com média de 9 horas de dedicação integral. 

Linda mora com os pais e possui um local próprio e silencioso para os estudos. “Eu estudo no meu quarto. A maior parte do tempo eu fico em silêncio, tenho mesa, ar-condicionado, ventilador, material e internet. Tenho todo o tempo para estudar e sei que sou bem privilegiada por conta disso, pois tenho apoio dos meus pais”, disse.

Entrevista realizada por Google Meet durante horário de descanso da estudante | Foto: Captura de tela

Ela começa indo para o pré-Enem às 8h com mensalidade de R$900 e material anual de R$2mil, parando somente ao meio-dia para almoçar em casa. Depois disso, descansa até às 14h e segue estudando até às 20h. Aos finais de semana, Linda paga um valor extra para receber uma correção detalhada de simulados particulares online que costuma fazer no sábado, baseada no sistema de Teoria de Resposta ao Item (TRI). Além disso, assina mais cursos online de resolução de questões que mostram a porcentagem de desempenho diário e faz aulas extras de matérias isoladas.

Com isto, a estudante considera que tem bastante sorte em poder focar somente nos estudos. Ela comentou também que vê muitas pessoas que conciliam outros afazeres enquanto tentam ingressar na universidade. “Durante a trajetória de estudos, vi que na sala do pré-Enem tinha muita gente que só estudava, mas esse ano tem uma galera que estuda e ajuda em casa ou trabalha. Em 2020, teve um policial aprovado que trabalhava de madrugada e ia pra aula no outro dia. Me considero privilegiada, pois já é difícil passar assim, com todo esse apoio que eu tenho para estudar, então imagina se preocupar por dois, em estudar e trabalhar?!”, completou. 

FATOR EMOCIONAL

Independente do perfil estudantil, o equilíbrio emocional dos estudantes é um fator muito importante para um bom desempenho na hora da prova. A pressão neste processo de estudo gera ansiedade e o desgaste mental é muito frequente. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Programa de Avaliação Internacional de Estudantes 2018, por exemplo, 56% dos jovens brasileiros sofrem com estresse. Além disso, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo, com mais de 18 milhões de pessoas nestas condições.

Linda é uma das estudantes que costuma ficar insegura na hora da prova. Ela ainda não foi a um psicólogo, mas está procurando, pois sabe que o controle emocional conta bastante nos dias de prova do Enem. 

Estudante acredita que o nervosismo pode atrapalhar até na resolução de questões consideradas fáceis | Foto: Reprodução/Internet

“Esse ano fui fazer a prova com a consciência de que eu tinha estudado, de que sabia o conteúdo, mas no fim das contas eu errei por falta de calma. Talvez com cinco segundos a mais de atenção eu poderia ter resolvido as questões que errei, e essas eram as que eu precisava pra passar. Isso afetou demais a minha ansiedade”, disse.

“NINGUÉM VAI TOMAR ISSO DE MIM”

Linda sabe que tem potencial para passar. “A falta de confiança é constante, pois é uma prova que reflete um ano de dedicação. O cursinho, por exemplo, é um ambiente de muita rivalidade. Mas tenho consciência de que eu sou capaz de conquistar minha vaga e de dar o meu melhor. Ninguém tira vaga de ninguém, e ninguém vai tomar isso de mim”.

Andressa também acredita que uma hora essa conquista vai chegar para ela. “Acredito que cada pessoa tem seu momento. Às vezes você quer tanto uma coisa, mas emocionalmente não está preparado, e eu acho que o Enem, por mais duro que seja, ele nos prepara para desafios maiores. A esperança é a última que morre para mim”.

Notícias

O desafio de pegar ônibus à noite na UFAC

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Uma das maiores preocupações dos estudantes dos cursos noturnos é o deslocamento por transporte público. 

Por Akenes Mesquita e Felipe Nascimento

Estudantes enfrentam desafios significativos ao utilizar o transporte público para se deslocarem até suas residências durante o período noturno. A falta de infraestrutura adequada e os problemas de segurança são algumas das principais preocupações enfrentadas pelos estudantes que frequentam a Universidade Federal do Acre (Ufac).

Ônibus superlotados, atrasos frequentes e rotas limitadas são apenas algumas das questões enfrentadas diariamente pelos universitários. Além disso, a falta de iluminação adequada nos pontos de ônibus e nas vias públicas aumenta o sentimento de insegurança durante o trajeto para casa. 

O aluno do curso de Ciências Econômicas, Abimael de Souza Melo, considera a situação inadmissível em um país onde os cidadãos pagam altos impostos e deveriam contar com este  serviço público mais eficiente e acessível para todos. Ele relata as dificuldades enfrentadas ao utilizar o transporte público:“O último ônibus passa às 21h40, enquanto minhas aulas só terminam às 22h, o que gera um conflito de horários. Além disso, há um intervalo significativo entre os ônibus, por exemplo, um passa às 20h e o próximo só às 21h40, o que torna a espera prolongada”.

Foto: Akenes Mesquita

Segurança em risco

Outra preocupação significativa  é a segurança. O aumento da criminalidade na cidade, especialmente durante a noite, torna o deslocamento dos estudantes uma experiência estressante e arriscada. Relatos de assaltos em pontos de ônibus e dentro dos próprios coletivos são frequentes, gerando um clima de insegurança na comunidade acadêmica.

Fábio Alves, estudante de Economia, já foi assaltado no trajeto e fala sobre o sentimento de insegurança ao voltar para casa após um dia cansativo de trabalho e aula.

“Moro no bairro Nova Esperança e há dois ônibus que fazem essa linha: Fundhacre e o Rodoviária. Como meu curso termina às 22h, eu tenho que optar por um dos dois. Houve vezes em que optando pelo o Fundhacre, eu perdia o Rodoviária e o Fundhacre nem aparecia no terminalzinho”, lamenta ele, que já precisou recorrer a carros de aplicativo e ouviu relatos de roubos a outros estudantes.

Impacto no desempenho acadêmico

Os desafios não se limitam apenas ao aspecto físico e emocional, mas também têm um impacto direto no desempenho acadêmico. O estresse e a ansiedade causados pelos problemas de transporte e segurança podem prejudicar a concentração em sala de aula e comprometer o rendimento escolar.

A presidente do Diretório Central dos Estudantes da Ufac (Dce), Ingrid Maia, reconheceu que desde janeiro de 2024 estão recebendo algumas reclamações, principalmente em relação ao atraso dos ônibus, à falta de acesso dos veículos na Ufac e à qualidade dos mesmos.

“Encaminhamos denúncia à RBTRANS para que seja instaurada uma investigação e garantir que tais irregularidades não se repitam. Quanto à mudança de rotas, vamos levantar essas e outras pautas no Conselho de Transportes e Tarifas.” 

Ela também diz ter cobrado da administração uma maior efetividade nas rondas ostensivas e o retorno do diálogo com as instituições de segurança pública.”

Diante desses desafios, os estudantes clamam por soluções eficazes por parte das autoridades responsáveis. Medidas como aumento da frota, melhoria na infraestrutura dos pontos de ônibus e aumento da presença policial nas rotas de transporte público são algumas das demandas urgentes da comunidade acadêmica.

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Cultura

Retorno das supermodelos dos anos 2000 às passarelas no outono/inverno 2024

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As brasileiras Caroline Trentini e Isabeli Fontana foram destaque na semana de moda de Paris.

Por Felipe Souza

A temporada outono/inverno 2024 tem sido um prato cheio para os amantes da moda “vintage” e das grandiosas modelos. Além de peças que remetem à época, as supermodelos dos anos 2000 retornaram com tudo nas passarelas de Nova York, Londres, Milão e Paris.

Muitas eras de modelos se encontraram em um curto período de tempo em que ocorreram as Semanas de Moda. Das brazilian bombshells às doll faces, os rostos mais conhecidos pela comunidade fashion mundial apareceram e brilharam nas cidades mais badaladas do mundo.

Não importava em qual desfile você assistia. Do mais ‘fashion’ ao mais comercial, as poderosas das passarelas dos anos 2000 estavam lá. Claro que o Brasil esteve presente, considerando que a maioria das grandes modelos no início do século era brasileira.

A gaúcha Caroline Trentini, por exemplo, representou o país nas passarelas da Schiaparelli, Carolina Herrera, Michael Kors e Max Mara. Além de Caroline, a paranaense Isabeli Fontana cruzou a Balenciaga e Alessandra Ambrósio, a icônica angel da Victoria’s Secret, fechou o desfile do estilista Elie Saab.

Caroline Trentini, Isabeli Fontana e Alessandra Ambrósio/Créditos: Condé Nast

Mas não foi só de brazilian bombshells que a moda dos anos 2000 viveu. A norte-americana Frankie Rayder também cruzou, assim como Fontana, as passarelas da Balenciaga. Rayder foi uma das favoritas de Donatella Versace na era de ouro da italiana ‘Versace’.

Frankie Rayder para Balenciaga/Créditos: Condé Nast

As Slavas, sem sombras de dúvidas, estavam em peso também. O maior nome da temporada foi Natasha Poly, a mais bem-sucedida russa. Poly desfilou para Max Mara, Ferrari, Dolce & Gabbana, Fendi, Mugler e, majestosamente, fechou a coleção da Acnes Studio.

Natasha Poly para Fendi/Créditos: Condé Nast

Ainda representando as Slavas, a lendária ucraniana Carmen Kass e – segunda maior modelo dos anos 2000, apenas atrás de Gisele Bündchen -, e a russa Natalia Vodianova, juntas,  receberam todos os holofotes da plateia presente no show da Vetements.

Hana Soukupova, com seus 1,85 metros, também fez um retorno com maestria e cruzou a francesa Balmain e ainda brilhou com um outfit todo preto do Elie Saab.

Carmen Kass, Natalia Vodianova e Hana Soukupova/Créditos: Condé Nast

Uma menção mais que honrosa: Gemma Ward para Max Mara. A doll face original, com seus cabelos loiros e olhos azuis, por muito tempo brilhou nas maiores grifes do mundo. Hoje, reclusa das câmeras, faz trabalhos selecionados e no outono 2024 foi escolhida para encerrar o desfile, além de ter reencontrado as amigas de longa data.

Gemma Ward, Natasha Poly e Caroline Trentini no backstage da Max Mara/Créditos: Arquivo pessoal/Caroline Trentini

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Histórias de vida

O Chefe deixou a calçada

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Por Ludymila Maia e Beatriz Mendonça 

A pequena loja, localizada perto das margens do Rio Acre, com várias bugigangas à mostra, está há pouco mais de um ano sem a fervorosa animação e presença do seu dono. O falecimento de Tancredo Lima de Souza, ocorrido no dia 23 de agosto de 2022, aos 69 anos, deixou uma lacuna profunda naqueles que o conheceram e amaram.

Tancredo Lima de Souza veio do interior de Pernambuco para Rio Branco, com seu pai e irmãos, e logo começou a trabalhar para ajudar no sustento da casa. Como era o mais proativo, logo ganhou o apelido de Chefe. Sempre dedicado, exerceu várias profissões, dentre elas seringueiro, motorista de ônibus e táxi, mas seu coração pertenceu ao comércio. 

Começou desde jovem vendendo picolé, e, com o passar dos anos, passou a vender vassouras e tabaco. Conseguiu um ponto de vendas no Centro da cidade, trabalhou para manter sua loja junto de sua esposa, Maria José, e expandiu cada vez mais seu comércio. Virou o famoso Bazar Chefe, popular pela variedade de produtos tradicionais expostos para que todos aqueles que passam pelo local possam ver.

Começou a atrair uma grande clientela, que buscava utensílios que só o Chefe tinha e todos eram encantados pela humildade e vigor do vendedor. Assim foi construído um legado, que durou mais de 50 anos com clientes fiéis e amigos saudosos, que ainda se emocionam ao visitar a loja e não ver o Chefe no comando.

Bazar Chefe, um dos comércios mais tradicionais e populares de Rio Branco. Foto: Ludymila Maia

A saudade bate particularmente naqueles que compartilharam o privilégio de chamá-lo de pai. Segundo seus filhos, Cleudo José e Cleide Sandra, o pai sempre os incentivou para seguir seus passos e também foi um grande exemplo de honestidade, humildade e integridade. Além disso, os filhos lembram de seu coração bondoso que ajudava a todos.

Na cidade, ele era conhecido como um comerciante exemplar, alguém que deixou sua marca nas ruas e nos corações daqueles que tiveram a sorte de cruzar seu caminho. Para sua filha, ele era muito mais do que um pai, era um mentor, um guia. 

Ao falar sobre ele, a emoção na voz, pois sua jornada serviu como uma escola prática para seus filhos, uma lição de vida transmitida através das experiências do dia a dia. Seu pai, um verdadeiro mestre do comércio, ensinou não apenas a vender produtos, mas também a construir relacionamentos duradouros. 

“Ele era o meu pilar”, diz seu filho, com a voz repleta de reverência. “Ele não apenas direcionava nossos negócios, mas também na vida. Suas palavras eram um farol, estabelecendo o caminho certo a seguir”. Mesmo que sua presença física agora seja uma lembrança, o impacto de seus conselhos continua a moldar suas escolhas e ações. 

Os dois filhos do Chefe, Cleudo José e Cleide Sandra.  Foto: Ludymila Maia

“Humildade” é uma palavra que surge constantemente quando se fala dele. Ele era um homem que tratava todos com respeito e compaixão, independentemente da posição na sociedade. Sua presença calorosa e sincera deixou uma marca indelével nas pessoas com as quais interagiu e, até hoje, elas sentem sua falta. 

A voz de Francisca Lima, irmã de Tancredo, ecoa com carinho e saudade, relembrando as memórias de um homem cuja vida foi repleta de histórias e ensinamentos. “Ah, meu irmão… Como é difícil falar dele”, suspira a irmã, com os olhos cheios de emoção. “Ele era tudo para nós, um alicerce em nossa família e também na família de sua mulher. Seu coração era grande o suficiente para abraçar o mundo inteiro.”

O sepultamento de Tancredo não apenas trouxe lágrimas à sua família, mas também testemunhou o amor e o respeito que ele inspirou em toda a comunidade. “No dia em que o Chefe faleceu, ainda de madrugada, começou a chegar gente das fazendas, do interior, do seringal”, descreve sua irmã, destacando a influência imensa que ele teve. 

“Eu preferi não ver o Chefe”, admite ela, uma vez que a perda ainda é difícil de aceitar. “Ele foi nosso pai e nossa mãe, desde muito cedo ele assumiu as responsabilidades, sempre cuidou muito da gente, era tudo para nós, lembro de quando eu e minha irmã ficamos mocinhas ele comprava até batom para gente só porque sabia que nós gostávamos.” 

Uma paixão peculiar pela culinária emerge nos relatos da irmã, que com um sorriso afetuoso diz: “Lembro que meu irmão adorava peixe, ele gostava muito, sempre comia tambaqui até dizer chega.” Era na simplicidade da vida que o famoso Chefe do Novo Mercado Velho encontrou sua alegria, seja vendendo picolés nas ruas, ou incansavelmente juntando centavos para sua primeira banquinha. Nunca teve vergonha de sua história e  se orgulhava de seu passado. Apesar de não ter terminado seus estudos, foi um grande aprendiz da vida e também um grande professor para aqueles que o conheceram.

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