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Cotidiano

A adaptação do acreano à “nova” rotina pandêmica

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Por Marcus V. Almeida, Pâmela Celina e Gabriel Freitas

A pandemia de Covid-19 (Sars-CoV-2) afetou a vida de milhões de brasileiros em 2020. Após um ano do não tão “novo normal” no Brasil, dados do Ministério da Saúde de maio de 2021, referentes à doença, registraram um total de 450 mil óbitos e 16,1 milhões de casos confirmados. A Covid-19 desorganizou o emocional dos acreanos, interrompendo projetos e obrigando, quem podia, a fazer isolamento social. Novas rotinas e hábitos se tornaram, então, obrigatórios.

Comércios, igrejas, academias, escolas, são exemplos de setores da  sociedade que tiveram que ser adaptados ao cenário pandêmico. Contudo, falar somente dessas atividades seria restringir os impactos que a pandemia trouxe para as pessoas. A saúde mental é um dos pontos cruciais quando se trata da qualidade de vida do ser humano.

No cenário pré-pandêmico, a ajuda terapêutica e outras formas de cuidado, como a adoção de hobbies, serviam como “suporte” para as pessoas na busca de melhora da saúde mental. A possibilidade de sair de casa para se divertir ao ir a uma festa ou viajar, parece uma realidade distante para os brasileiros que ainda respeitam o isolamento social e querem proteger aqueles que amam.

A imposição desse distanciamento apresenta, então, mudanças e impactos significativos na saúde mental dos brasileiros. Assim, para quantificar o assunto, a pesquisa One Year of Covid-19 (Um Ano de Covid-19) do instituto Ipsos, feita para o Fórum Econômico Mundial, conduzida entre fevereiro e março de 2021, entrevistou 1.000 brasileiros para falar sobre as mudanças na saúde emocional e mental na pandemia.

Segundo a pesquisa, desde o começo da pandemia em 2020, 15% considera que a saúde ficou muito pior; 22% ficou um pouco pior; 47% não notou diferença; 15% acha que melhorou um pouco e, por fim, 5% considerou que melhorou muito, totalizando, assim, 51% dos entrevistados. Já no início de 2021, os dados do Brasil tiveram uma pequena oscilação, ocorrendo uma variação em torno de 33% na média total.

A maioria das pessoas não notaram diferença na saúde mental devido a pandemia
fonte: Instituto Ipsos
No Brasil não houve alteração nos dados referentes ao início de 2021
fonte: Instituto Ipsos
A média global mostra que 27% acredita que, no início de 2021, houve piora na saúde mental.
fonte: Instituto Ipsos

Mais do que apresentar números, precisamos mostrar como estão se comportando os brasileiros, especificamente, os acreanos em relação a pandemia. Quais os impactos que ela trouxe para o dia a dia, o que mudou depois de um ano de isolamento?

Uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) da Universidade Federal do Acre (Ufac), em parceria com uma empresa de tecnologia que utiliza a localização de celulares, dados de aplicativos e deslocamentos para medir o índice de isolamento social, mostrou que no Acre, em abril de 2020, menos de 40% da população cumpria o isolamento social. A pesquisa aponta que o  índice ideal  de isolamento social é de 70%, ou seja, o isolamento social não está nem perto do ideal.

Professor de ensino básico em Rio Branco, Alan Henrique de Almeida conta um pouco dos impactos que a pandemia trouxe para o ambiente escolar. “O impacto causado pela pandemia na realidade escolar foi abrupto e devastador. Pegou a todos os profissionais da educação de surpresa, pois nos vimos em uma situação a qual não estávamos preparados tecnicamente”, afirma ele.

O ambiente escolar foi um dos setores mais atingidos da sociedade. Professores e alunos foram forçados a deixar as salas de aula e continuar os estudos em casa, criando um distanciamento repentino nessas relações. “O distanciamento com os alunos é um dos pontos mais sensíveis dessa pandemia, pois a escola sem eles torna-se um lugar vazio, sem sentido e desconfigurado”, continua o professor.

O principal impacto da pandemia no setor escolar foi a adaptação ao “mundo virtual”.
Foto: Marcus Vinícius

Não são apenas os professores que sentiram essa mudança abrupta, os alunos tiveram suas rotinas totalmente alteradas devido a pandemia de Covid-19. Elias Asafe, 11 anos, estudante do Ensino Básico, relata um pouco sobre como estão sendo os estudos durante a pandemia.

“Para mim foi bem difícil, bem complicado as matérias […] tinha algumas coisas que eu não conseguia resolver sozinho, precisava de ajuda de várias pessoas”, a fala de Elias mostra a dificuldade que existe sem o ambiente escolar. Sem um contato direto com o professor durante todo o processo de leitura e aprendizado, há uma certa dificuldade na absorção do conteúdo que se está sendo estudado.

Para o estudante, o que mais faz falta no ambiente escolar é o contato com os colegas, os trabalhos e dinâmicas em grupos, “por conta da pandemia eu não consigo fazer com os meus amigos e tenho que fazer só”, afirma.

Com a pandemia a dinâmica escolar foi bastante afetada.
Foto: Marcus Vinícius

“Os alunos sentem falta do espaço escolar, pois é um lugar de trocas, interações. Como professor afirmo que os alunos podem não gostar das aulas, dos conteúdos, dos professores, mas com certeza eles gostam de estar na escola, explorar seus espaços e vivenciar as relações interpessoais que ela propicia”, relata Alan.

Todas as áreas que tiveram a possibilidade de fazer home office sofreram muitas dificuldades na transição do local de trabalho para casa, e o professor Alan não escapou desses empecilhos causados pela pandemia. “Trabalhar em casa não é uma tarefa fácil, pois temos que nos desdobrar em muitos papéis sociais ao mesmo tempo. Temos que ser profissionais, mas precisamos ser pai/filho, temos que cumprir as tarefas domésticas, mas também realizar as demandas profissionais. Enfim, as delimitações entre o que é íntimo/profissional, lar/trabalho tornaram-se tênues e o trabalho fica com menos produtividade”.

Para o professor, a falta de apoio por parte da sociedade acaba intensificando o estresse e o desgaste mental causado pela pandemia. “Enfim, o estresse e o cansaço mental aumentaram bastante durante esse tempo, mesmo que não tenha chegado de fato a fazer acompanhamento psicológico, cogitei a possibilidade em muitas ocasiões”.

CUIDADOS REDOBRADOS

Há consenso entre educadores físicos, psicólogos e médicos que praticar atividade física potencializa o bem-estar. Com o início da pandemia da Covid-19, a rotina mudou e as pessoas tiveram que se adaptar à nova realidade. Chegar em casa, tirar os sapatos, colocar as roupas para lavar, calçar o chinelo e ir direto para o banho, são medidas que o engenheiro civil Nalbhert Albuquerque, 23 anos, tem adotado durante o isolamento social para se proteger. 

Albuquerque conta que troca de máscara a cada duas horas e higieniza as mãos com álcool em gel. Ele relembra que antes da pandemia frequentava o cinema, visitava amigos e caminhava no parque, mas após o fechamento dos estabelecimentos de comércio e com as novas medidas sanitárias decretadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) teve que se adaptar e praticar atividade física em casa.

“Comecei a praticar atividade física em casa, me exercito de 3 a 4 vezes por semana, mantenho uma alimentação saudável rica em fibras, legumes, proteínas e isso tem ajudado a tirar o estresse e ganhar mais resistência”, conta o engenheiro. A prática da atividade física se tornou uma aliada para o bem-estar psicológico e mental de crianças, adultos e idosos.

Em maio de 2020, uma pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) junto a classe de psiquiatras revelou que 70% dos profissionais receberam novos pacientes após o início da pandemia, houve aumento do número de consultas em 47,9% e 89,2% perceberam piora nos sintomas dos pacientes.

Para o psicólogo clínico Ronniberg Maia o aumento desses números de consultas, o agravamento de sintomas e de novos pacientes está ligado à mudança na dinâmica social, ao isolamento social e a nova rotina de adaptação das pessoas. “[…] Essa mudança brusca na dinâmica social tende a fazer com que as pessoas confrontem problemas ou situações que antes eram deixados de lado pela correria do dia a dia”, destaca o profissional..

Trabalhar também mudou. Maia afirma que, assim como seus pacientes, ele teve que se adaptar e passou a realizar atendimentos online. Conta que “realizar atendimentos online é um desafio por uma série de fatores, mas se faz necessário nesse período. Entre os problemas estão a conexão de internet, que em alguns casos é instável; a privacidade do paciente em casa; a qualidade de áudio e vídeo; a adaptação do paciente a essa modalidade, entre outras questões.” Apesar de ser feito online, o atendimento segue os mesmos princípios e objetivos do presencial, as atividades e exercícios utilizados podem ser adaptados.

Para o psicólogo clínico, a primeira indicação é a busca por atividades físicas que ajudam a escoar a ansiedade e promovem bem-estar físico e mental, seguindo as recomendações da OMS. Também se recomenda manter os contatos, ainda que de forma online, pois a socialização é necessária já que o ser humano é um ser sociável e vive em sociedade.

No trabalho e estudos, é recomendado respeitar os limites e observar quando eles estão pesados, além disso é importante programar pausas para atividades prazerosas e procurar a orientação de um nutricionista para manter a alimentação equilibrada. Outra recomendação é a verificação de métodos funcionais, como: Que tipo de atividade pode substituir e proporcionar efeitos iguais ou parecidos? Que mudanças no ambiente podem proporcionar melhor resultado ou desempenho? Por fim, é aconselhado o uso da psicoterapia como processo de autoconhecimento e de revisão das práticas em busca de melhor qualidade e resultados.

Avaliação

Cerca de 17 mil animais são vítimas de abandono no Acre e número aumenta a cada ano

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Por Arielly Casas, Lucas Sousa e Gabriela Queiroz

O município de Rio Branco registra um número de quase 17 mil animais abandonados, segundo o Centro de Zoonoses da Prefeitura de Rio Branco. Esse dado também reflete uma realidade nacional, na qual 25% dos cães e 26% dos gatos estão em situação de abandono, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Um exemplo é o caso de Mimoso, mascote adotado pela clínica veterinária Cães & Cia. Um dos médicos veterinários da clínica, Denis Costa, conta que o gato foi levado há mais de um ano pelo cuidador que o abandonou. O animal estava com uma miíase (infestação da pele por larvas de moscas que se alimentam do tecido do hospedeiro) na cabeça.

Costa também relata que foi um caso difícil de tratar e que ninguém acreditava na recuperação. Agora, após 18 meses, Mimoso está totalmente recuperado.

“O mascote que nós temos aqui, ninguém acreditava que estaria vivo. Era um caso em que ninguém confiava, e agora ele está esbanjando saúde”, disse o veterinário.

Na imagem, o veterinário Denis e o mascote Mimoso. Foto: Lucas Sousa

Esse não é o único registro de casos assim. Trata-se de uma questão alarmante, que cresce cada vez mais e configura um crime previsto na legislação brasileira. Segundo o artigo 32 da Lei Federal nº 9.605/1998, o abandono e os maus-tratos contra animais são crimes, com pena de três meses a um ano de detenção, além de multa. Em 2020, houve uma modificação, aumentando a pena para dois a cinco anos de reclusão, conforme a Lei Federal nº 14.064/2020.

ONGs

Um dos maiores desafios enfrentados pelos ativistas de Organizações Não Governamentais (ONGs) é o alto custo dos tratamentos para os animais resgatados. Vanessa Facundes, presidente da ONG Patinha Carente, explica que a organização não consegue realizar o resgate de todos os animais devido as dívidas acumuladas com as clínicas veterinárias.

“Gostaríamos de poder resgatar todos, mas temos dívidas muito altas nas clínicas veterinárias particulares”, argumentou a presidente da ONG.

Projeto de Lei

No Acre, dos 24 deputados estaduais, Emerson Jarude (NOVO) defende a causa animal e já possui um projeto de ação em parceria com a Universidade Federal do Acre (Ufac): o Projeto Cuidar, que tem como objetivo atender aos animais de rua. Instituições e ONGs que realizam trabalhos com esse foco também serão beneficiadas pelo projeto.

Jarude também anunciou o lançamento de um novo projeto: o Pet Farm (Farmácia de Pet), que será uma extensão do Projeto Cuidar.

“O Pet Farm é uma forma de conseguirmos disponibilizar medicamentos para os animais e auxiliarmos após o tratamento feito dentro desse projeto”, afirmou.

Poder público

A equipe de reportagem tentou contato com o Centro de Zoonoses da Prefeitura de Rio Branco para comentar a situação, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para qualquer posicionamento ou esclarecimento por parte do poder público.

A crescente população de animais abandonados em Rio Branco evidencia a urgência de políticas públicas efetivas, parcerias institucionais e o engajamento da sociedade civil. Proteger os animais é também um dever social e legal, que exige mais do que boa vontade, é preciso ação.

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Cotidiano

Do papel às telas: a transição do jornal impresso acreano para o digital

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Por Ana Luiza Pedroza, Ádrya Miranda, Daniel de Paula e Wellington Vidal

 

O jornal impresso, símbolo histórico e cultural no Acre, começa a se despedir lentamente do cotidiano da população. A era digital assume o protagonismo, apostando em novos formatos de levar acesso à informação, no entanto, sem apagar o legado construído pelo impresso na história acreana.

Apesar dos esforços para reinventar o jornalismo local, a transição do impresso para o digital trouxe grandes desafios. No Acre, essa movimentação ocorreu de forma tardia, mas com a contribuição de jornalistas que se desdobram diariamente para acompanhar as mudanças no modo de noticiar, mantendo o compromisso social com a população.

Entre os obstáculos, a pandemia de Covid-19 foi um dos que aceleraram o declínio dos jornais impressos em todo o país, e no Acre não foi diferente. O A Gazeta, um dos veículos mais populares do estado, foi diretamente impactado.

Rotativa, máquina utilizada na impressão dos jornais A Gazeta. Foto: Ádrya Miranda

Fundado em 1985, sob direção de Silvio Martinello e Elson Martins, o jornal se destacou pelo jornalismo investigativo e de cunho social, sendo pioneiro em projetos editoriais gráficos com diagramação no impresso acreano. Foi por meio de suas páginas que os acreanos acompanharam coberturas históricas, como o assassinato do sindicalista Chico Mendes.

Em 1998, tornou-se o primeiro jornal a circular em cores no estado, com até 3.500 exemplares vendidos em dias movimentados, segundo Silvio. Apesar das inovações com o jornal impresso, o veículo enfrentou as adaptações tecnológicas do século 21. O portal online, criado ainda nessa fase, tinha estrutura simples, servindo apenas para replicar, de forma reduzida, as notícias do jornal físico.

À esquerda, Maíra Martinello; ao fundo, Paula Martinello; e à direita, Silvio Martinello. Foto: Arquivo pessoal

A edição impressa teve o seu fim em 2021, após uma expressiva queda nas vendas. Paula Martinello, jornalista do A Gazeta do Acre, relata que a migração definitiva para o digital foi desafiadora e impulsionada pela pandemia. “Foi um processo muito gradativo, porque o trabalho online não é fácil. É muita concorrência, é um outro tipo de público e perfil de consumo da notícia”, comenta.

Para os jornalistas do A Gazeta, hoje, A Gazeta do Acre, o desafio não foi apenas adaptar-se ao ambiente online, mas reinventar a rotina de produção jornalística sem abrir mão da credibilidade construída. Segundo Maíra Martinello, foram necessárias estratégias para garantir a sobrevivência e a relevância no meio digital, que exige mais agilidade, versatilidade e presença em todas as plataformas.

“A gente foi entrando nesse mundo online, digital. Claro que tem pontos positivos, como o custo mais baixo, a praticidade e a democratização do acesso à informação. Mas a era digital exige muito mais do jornalista, que hoje precisa escrever, gravar vídeo, áudio, editar, usar várias ferramentas ao mesmo tempo”, explica.

A transição da notícia do impresso para o ambiente digital, embora tenha sido impactante para todo o campo jornalístico, foi recebida de maneira diferente por cada veículo, conforme suas particularidades. Outro nome importante da imprensa acreana, como o jornal O Rio Branco, também enfrentou esses momentos de transformação.

Portal de notícias oriobranco.net. Foto: Ádrya Miranda

Mendes também reforça a necessidade dos jornalistas manterem seu compromisso social, mesmo diante das mudanças impostas pela era digital. “Se vocês forem jornalistas e pretenderem ser responsáveis, não esperem que a notícia chegue até vocês. Vocês têm que ir atrás da notícia”, conclui.

Essa transformação também é percebida por leitores que acompanharam de perto o auge das edições impressas no Acre. “Porque o jornal é um documento, então ele vai ficar ali para sempre”, comenta o jornalista e leitor assíduo Gleilson Miranda, de 55 anos, ao destacar que o jornal impresso carrega um valor que vai além da notícia do dia, mas também a documentação de histórias.

Segundo ele, com o jornal impresso era possível encontrar experiências afetivas, que marcavam seu momento de leitura.

“O jornal é impresso, tem esse charme, tem essa coisa de você sentar, tomar um café e folhear as páginas, lendo as principais notícias. Isso era muito bom para a época. Hoje você tem essa notícia mais rápida. Notícia que chega muito rápido”, afirmou Gleilson, ao relembrar as sensações que os impressos lhe proporcionaram.

A transição dos jornais impressos para os portais digitais no Acre marca uma mudança profunda no modo de fazer e consumir jornalismo. Conhecer a história da imprensa local, com a contribuição das edições do A Gazeta e O Rio Branco, é essencial para entender o papel que esses veículos tiveram na formação da identidade e da memória do estado.

Edição impressa O Rio Branco. Foto: Arquivo Espaço Cultural Palhukas

Para Narciso Mendes, atual proprietário da TV Rio Branco, o impresso no Acre carrega o legado de muitas figuras marcantes da história local. No entanto, a migração do jornal impresso O Rio Branco para o meio online não teve o mesmo peso como teve para os demais veículos.

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Cotidiano

Mulheres jornalistas superam dificuldades e levantam questões importantes para a sociedade

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Um estudo realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) mostrou que em 2021 49% das mulheres jornalistas sofreram ataques de gênero sendo desqualificadas com ofensas e xingamentos. No meio digital, o número sobe para 56,76%. Em uma área historicamente dominada por vozes masculinas, apesar das dificuldades as mulheres estão se destacando cada vez em maior número e trazendo à luz temáticas importantes para a sociedade.

Juliana Lofêgo, professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre, diz que a presença das mulheres está influenciando na cobertura de questões sociais, culturais e políticas. Para Lofêgo, elas têm desempenhado um papel significativo em destacar questões de violência contra mulheres e assédio, garantindo que essas problemáticas não sejam esquecidas ou minimizadas pela mídia. “Com o avanço do movimento feminista e as mudanças sociais, as mulheres jornalistas têm sido influenciadas a trazer à tona essas questões, mesmo que isso não tenha sido comum no início de suas carreiras”, complementa.

Consuela Araújo é jornalista formada pela Ufac e atua na área de assessoria de imprensa, ela relata que como jornalista mulher enfrentou estereótipos de gênero e discriminação ao longo da carreira, principalmente fora do jornalismo. Já no telejornalismo, outro campo onde atuou,  diz ter sido bem acolhida por colegas e pela comunidade, entretanto considera que a busca pela igualdade de oportunidades continua sendo uma luta constante. Araújo aconselha as futuras profissionais a buscarem aprimoramento, construir uma rede de contatos sólida e manter a paixão pela verdade e pela narrativa honesta. “Acreditar na importância do jornalismo local é essencial para contribuir significativamente para a sociedade acreana”, afirma. 

Servidora concursada do Estado, a jornalista Andreia Nobre relata que um grande desafio que enfrentou na carreira profissional foi quando se tornou mãe, pois teve que conciliar a maternidade e o trabalho. Ela acredita que esse seja um desafio para as mulheres em qualquer carreira e também para as que trabalham no setor privado.

Apesar das contribuições significativas das mulheres para abordar agendas importantes a serem discutidas na sociedade, a desconfiança em relação a sua capacidade profissional ainda é uma realidade. Ana Paula Melo, estudante do terceiro período do curso de Jornalismo, trabalha como estagiária no jornal Cidade Alerta, ela diz que percebeu que há um preconceito dentro da universidade pelo fato de ser uma mulher estudante de Jornalismo.

“Já vi algumas pessoas torcerem a cara num tom de desconfiança quando falo que faço Jornalismo. Alguns já dizem que somos compradas, e, às vezes, por ser mulher, dizem que ao invés de buscar informações, buscamos fofoca. Em rodinha de amigos, embora ainda seja estagiária, já fui questionada se algum político me paga para fazer matéria sobre ele. Será se eu não tenho capacidade para escrever sobre política? São reflexões que sempre me questiono, afinal, ser mulher é ter a sua capacidade sempre questionada”. Ela acredita que o maior desafio é alcançar credibilidade equivalente a dos homens e enfatiza a importância de inserir mais mulheres em posições de liderança nos veículos de comunicação. 

Texto produzido pelos acadêmicos Ana Caroline Santiago, Adriely Gurgel, Maria Eduarda Melo, Rian Pablo de Oliveira e Júlia Andrade. A produção faz parte da disciplina Fundamentos do Jornalismo.

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