Você se lembra da sensação de acordar de manhã e ir para o sofá assistir o seu programa de TV favorito? O espetáculo Nostalgia, produzido pela bailarina Elisa Reis e o Studio de dança Passé, que entra em cartaz no próximo domingo, 3 de março, na Usina de Artes João Donato, é inspirado em programas infanto juvenis dos anos 2000. O intuito do espetáculo é fazer uma viagem no tempo unindo gerações de pais e filhos. Para entrar nesse mundo de lembranças, os ingressos custam R$25,00 inteira e R$12,00 meia, e podem ser adquiridos com os bailarinos ou comprados na bilheteria, a sessão das 17h ainda tem entradas disponíveis.
Elisa Reis destaca que além do balé clássico, estilo de dança predominante no espetáculo e foco do seu trabalho há 7 anos, a apresentação também vai contar com balé neoclássico, forró, street dance (dança urbana), jazz e sapateado. A trilha sonora escolhida é voltada para referências infantis, a apresentação contará com atos sobre os desenhos Cocoricó, Padrinhos Mágicos, Rei Leão, entre outras animações.
Desde o início de sua carreira a bailarina sonhava em montar um espetáculo com esse tema, mas tornar o sonho realidade só foi possível com a colaboração de alguns de seus amigos do Studio Passé, K-Dance e o professor Luís Felipe. Para Elisa, o processo de criação foi prático e contou com a participação ativa das alunas. “Esse espetáculo tem um pouco de cada aluna”, diz. A professora conta que uma das maiores dificuldades foi criar uma apresentação com o corpo de baile pequeno e ensaiando em espaços alugados.
Para Elisa Reis, a dança é uma forma poderosa de expressão emocional. “Através do movimento as pessoas podem transmitir sentimentos e conectar-se com o público de uma maneira única”, comenta. A professora espera que o espetáculo toque o coração dos espectadores e os transportem de volta a uma época cheia de magia e encanto.
Bailarina desde os 7 anos, Elisa teve seu primeiro contato com a dança a partir de um projeto social no bairro em que morava e se encontrou como professora ainda muito jovem. No ensino médio deu aula de balé de maneira voluntária para os colegas de escola. Descobrir seu amor pelo balé clássico a levou a se especializar, Reis possui em seu currículo curso na renomada Escola do Teatro Bolshoi no Brasil.
Texto produzido pelos acadêmicos Eleonor Rodrigues, Victor Hugo dos Santos, Ranelly Yasmin e Danniely Silva sob supervisão do professor Wagner Costa. A produção faz parte da disciplina Fundamentos do Jornalismo
A cada segunda-feira, o campus da Universidade Federal do Acre (Ufac) vira palco para a Batalha da Ufac. Criada por um grupo de idealizadores da cena local, entre eles o estudante de Psicologia Davi Nogueira, a batalha é um espaço aberto para jovens expressarem suas histórias e críticas sociais por meio do rap.
O formato das batalhas de rap no Brasil surgiu no início dos anos 2000, inspirado por movimentos internacionais, e se consolidou em grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo.
Em Rio Branco, os eventos vem ganhando força desde a Batalha do Palácio, considerada a mais antiga da cidade, que era realizada às sextas-feiras na praça do Palácio Rio Branco.
Hoje o cenário local conta com eventos como a Batalha da Pista, do Santa Cruz e, principalmente, a Batalha da Ufac, que acontece no Teatro de Arena, conhecido como Coliseu, ao lado do Centro de Convivência.
Davi Nogueira destaca que o objetivo da batalha na universidade é democratizar o acesso à arte e trazer a comunidade para dentro do campus.
“Muita gente achava que não podia entrar aqui. O Coliseu da Ufac é o lugar ideal, com estrutura e visibilidade para um evento cultural”, explica.
Para os participantes, o evento é muito mais que uma disputa de rimas. Apache Shaft, MC que frequenta a batalha, conta que o encontro representa um espaço seguro para trocar experiências, fazer amizades e fortalecer a cultura local. “É meu abrigo nas segundas-feiras. Quanto mais rap, mais cultura, menos crime”, afirma.
Entre o público, o humorista e influenciador Rafael Barbosa valoriza o clima acolhedor da batalha e ressalta a necessidade de maior apoio para o evento crescer. “Aqui tem muita poesia e sentimento, mas faltam som adequado e divulgação do poder público”, sugere.
Momento em que os artistas fazem as batalhas. Foto: Felipe Salgado
Mais do que um show de talentos, a Batalha da Ufac é um importante instrumento de transformação social. Ao abrir as portas da universidade para a periferia, o evento reforça a ideia de que a cultura hip hop pode mudar vidas e fortalecer a autoestima de jovens, muitas vezes marginalizados.
Realizada de forma independente, a batalha conta com apoios voluntários e busca parceiros para ampliar sua estrutura. Na primeira edição, o evento lotou o Coliseu e conquistou mais de mil seguidores nas redes sociais antes mesmo de acontecer: um marco para o rap acreano.
Por trás de cada peça feita à mão, há algo que vai além do material. Onde a natureza dita o ritmo da vida, o artesanato é mais do que trabalho: é uma maneira de preservar histórias, manter vivas tradições e transformar o olhar sobre o que nasce da terra.
Em cada colar, escultura ou acessório produzido no Acre, vive a memória da floresta, das tradições amazônicas e das pessoas que escolheram o artesanato como forma de expressão e sustento. Nesta reportagem, conversamos com três artesãos que dão forma, cor e alma a peças únicas, e que carregam, em suas trajetórias, a força de quem faz da arte um caminho.
O artesão das sementes
João Neto produz diversos tipos de miçangas. Foto: Autores
João Neto cresceu cercado pela natureza e aprendeu cedo a olhar para as sementes como algo que carrega vida e história. Não demorou para transformar esse olhar em arte: pulseiras, colares, terços, todos feitos à mão, um a um, usando sementes da floresta amazônica.
Mas seu começo no artesanato foi outro. “Eu tô nesse ramo desde 2005. Há uns 12 anos, abri minha loja com cinco colegas. Nunca imaginei que um dia estaria fazendo artesanato assim. Mas, com o tempo, a loja começou a exigir mais variedade, então passei a montar minhas próprias peças.”
Foi aí que as sementes ganharam espaço. As matérias-primas vêm de diferentes partes do Acre e até do Amazonas. “Tem gente que traz de Boca do Acre, Assis Brasil, Feijó, Sena Madureira. A semente vem crua e a gente compra de quem já beneficiou. Eu não faço o beneficiamento, tem gente certa pra isso. Tem quem fure caroço por caroço. A gente trabalha com paxiubão, açaí, jarina… e os cascalhos, que são essas pecinhas menores entre uma semente e outra. Pode ser de Tucumã, de Cumaru-ferro ou até da própria semente que sobra.”
Grande parte do trabalho é produzido com sementes. Foto: Autores
Hoje, João fabrica chaveiros, colares, brincos, e outros acessórios. Para ele, a reinvenção é parte do ofício. “O turista cobra isso da gente. Então a gente se reinventa.”
Mesmo com a experiência, os desafios são constantes. “Minha maior dificuldade como artesão é o incentivo financeiro.” Hoje ele é microempreendedor individual (MEI), tem sua empresa, mas por ainda ter dívidas junto ao Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), fica impedido de conseguir crédito em bancos. “Tudo que eu faço é com o dinheiro que gira dentro da loja… é o que sustenta minha vida, o pagamento dos funcionários, a compra das sementes. Às vezes, eu até dou material para outros artesãos que estão passando dificuldade. Porque a gente sabe como é”.
A criação, segundo ele, é algo que se aprende ao fazer. Inicialmente, João Neto não se via montando um colar, um brinco. “Mas tudo é criatividade. Cada peça tem um significado, depende da forma como você monta, do jeito que você deixa”. Ele cita o exemplo dos chaveiros, que gosta de deixar uma pontinha pra fora. “É um gosto meu, tem gente que critica, diz que tem que seguir um design certinho. Mas eu gosto de combinar as peças com uniforme, com alguma coisa que se conecte”, explica.
“Tudo é criatividade”, disse João Neto. Foto: Autores
Ele sente uma motivação muito grande ao ver suas criações cruzando fronteiras “ e sempre pergunta para os clientes de onde são. “Um dia, entreguei uma camiseta para um cara e ele disse que era da Checoslováquia. Eu nem sei onde fica direito, mas pra você ver como a Amazônia atrai gente do mundo todo. O nosso artesanato tem esse poder.”
O doutor da borracha
José Rodrigues carrega no apelido e no ofício o legado da floresta. Filho e neto de seringueiros, ele nasceu nesse caminho e fez da borracha não apenas sustento, mas arte que já cruzou fronteiras e palcos do mundo.
José Rodrigues é conhecido como Doutor da Borracha. Foto: Autores
“O que me inspira a trabalhar com a borracha é a floresta. Eu queria viver de um trabalho que valorizasse o meu ambiente. Me inspiro na minha história, na história dos meus pais, que são seringueiros. É algo que corre no sangue”. Para ele, o mais importante é conseguir transformar essa matéria-prima em uma peça final, pronta para o consumidor, e esclarece: “isso agrega valor ao que a floresta oferece e ao que eu faço com minhas próprias mãos.”
Com olhos atentos ao passado e pés fincados no presente, ele transformou o látex em sapatos, bolsas e acessórios únicos, produzidos com consciência ambiental e respeito pela cultura do seu povo. Sua trajetória começou ainda em meados dos anos 2000, a partir de um curso de tecnologia da borracha oferecido em parceria com a Universidade de Brasília a TEC BORR.
Todos os produtos são peitos a partir do látex. Foto: Autores
“Comecei a trabalhar com folha de defumação líquida que é um tipo de borracha produzida utilizando uma técnica de coagulação do látex com fumaça líquida. E ali, por volta de 2006, 2007, nasceu esse meu trabalho com o artesanato”. E tudo foi se transformando à medida que passou a expor em feiras, foi ouvindo o que as pessoas diziam, pegando ideias e colocando em prática.
Desde então, José levou o nome do Acre a diferentes partes do mundo. Participou da Feira de Milão em 2014, conduziu a tocha olímpica em 2016, esteve no palco do Faustão em 2017 e gravou o documentário Acre Existe em 2012. Em 2022, foi reconhecido com o prêmio Top 100 Mundial Ambiental.
“O que mais me emociona é poder andar pelo Brasil e até fora dele, mostrar meu trabalho. Eu, que nasci e fui criado na floresta, hoje tenho a oportunidade de apresentar um produto lindo, sustentável, para o mundo. Isso fica na memória.”
Da madeira para memória viva
No ateliê de Antônio Geraldo, a arte de esculpir a madeira é mais que um ofício. É uma paixão que se revela em peixes, folhas e animais típicos da Amazônia, trabalhados em detalhes minuciosos.
Desde os anos 2000, ele encontrou no artesanato não apenas uma fonte de renda, mas uma terapia, um respiro criativo e uma forma de respeitar o meio ambiente. Ele começou com móveis, criando com madeira o que dava vontade. Depois, foi se dedicando mais ao artesanal, aos estilos rústico e torneado. E com o tempo descobriu que o artesanato o ajudava até psicologicamente.
Da madeira, Antônio Geraldo produz diversos produtos. Foto: Autores
“ Às vezes você está fazendo uma peça e, do nada, surge uma ideia para outra. É como se a madeira abrisse caminhos dentro da nossa mente. A gente vai criando, se acalmando, refletindo. E mais do que isso, a gente transforma o que seria lixo em arte.”
Seu Geraldo utiliza restos de madeira, galhos e pedaços que iriam se perder e a partir deles criar peças únicas. “A sustentabilidade está aí: você não agride o ambiente, mas aproveita o que a floresta já oferece. Aquilo que muitos acham que só serve para lenha, eu vejo como matéria-prima.”
Para ele, cada escultura nasce de um impulso diferente, e a criação vem para todo artesão que tem atitude e desejo. “Nem sempre consigo repetir uma peça igual, porque cada uma nasce de um momento, de uma ideia. Se alguém me pede uma peça igual à que viu meses atrás, às vezes já não consigo fazer. É outra inspiração. É outra madeira. É outra história.”
Grande parte dos produtos é feito a partir de restos de madeira. Foto: Autores
E é justamente essa singularidade que tem levado seu trabalho para além das fronteiras do Acre, Brasil e até do mundo. “Dá um orgulho enorme ver o que a gente faz com as próprias mãos sendo valorizado. Quando as pessoas elogiam, encomendam, pagam antes mesmo de ver a peça pronta…” Antônio Geraldo se sente feliz com a admiração a suas peças, o que dá confiança para continuar trabalhando. “Já desejei que a noite virasse dia só pra seguir criando.”
Todo o processo criativo vem da própria mente do artista. Foto: Autores
Mas o reconhecimento nem sempre vem de onde se espera. “Infelizmente, aqui na nossa região, tem gente que debocha, que desvaloriza. A gente vive cercado de madeira e, por isso mesmo, muitos não enxergam o valor de um trabalho feito com ela. Tem quem diga que aquilo não presta, que é só lenha. Isso desanima. Mas aí vem alguém de fora, olha com outros olhos e diz: ‘isso é arte!’. E isso faz a diferença. O elogio de um compensa o desprezo do outro. Dá força pra continuar.”
Trabalho feito à mão é a realização de um sonho. Foto: Autores
A cultura dos DJs vem ganhando destaque no cenário musical do Acre, impulsionada pelo crescimento de eventos independentes, festivais e pela popularização das plataformas digitais.
Em meio a uma cena musical majoritariamente voltada para o sertanejo e o forró, DJs locais têm conquistado espaço promovendo festas alternativas, mixando ritmos regionais com batidas eletrônicas e atraindo um público jovem e engajado. Em cada apresentação, estilos globais combinados com a cultura local, resultam na criação de sets únicos que oferecem experiências sonoras diferenciadas para o público presente.
Com uma atuação multifacetada, que vai além de entretenimento, tornaram-se fazedores de uma cultura que não está sendo construída somente em baladas noturnas, mas em lugares diversos. O trabalho desses profissionais tem sido cada vez mais procurado, para animar de tudo um pouco: casamentos, aniversários, festas públicas e até eventos políticos.
Dj Lauro Félix. Foto: Reprodução
Mas entre cabos, luzes e batidas, os DJs do Acre vivem uma rotina intensa. Do planejamento de sets à montagem de equipamentos, passando por longas madrugadas de trabalho e a constante busca por atualização musical, esses profissionais transformam paixão em ofício.
Lauro Félix, que atua como DJ há mais de 15 anos aqui no estado, conta como foi o início da carreira, experiência e as dificuldades enfrentadas ao longo desses anos como DJ:
“Sempre fui colecionador de músicas, sempre gostei de estar atualizado, de ter CDs, fitas também, escutava rádio e assistia TV, principalmente programas que passavam clipes. Eu peguei curiosidade com isso, comecei a pesquisar, fiz aulas também. E de lá para cá foi dessa forma, como colecionador de músicas e badalando em aniversário de amigos e vizinhos que me convidaram para tocar”, conta.
Criação da Semana Acreana de DJs, de autoria do deputado estadual Chico Viga. Foto: Reprodução
Ser reconhecido, ser visto como um profissional e aceito pelo público é uma complicação que muitos DJs enfrentam. A DJ Nareza Barros acha que o maior obstáculo são as pessoas que não consideram DJ como profissão. “Quando as pessoas levam como hobby ou não colocam a profissionalização como deve ser feita, isso acaba atrapalhando muito a gente, principalmente na hora de cobrar”, ressalta a DJ.
Também há um processo invisível ao público: horas de pesquisa musical, testes em softwares de mixagem, organização de playlists e, muitas vezes, o transporte do próprio equipamento.
LEI MUNICIPAL SEMANA DOS DJs
No último dia 18 de junho, em sessão plenária da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), foi aprovado por unanimidade pelos parlamentares da casa a Lei que institui a semana estadual do DJ no Acre, apresentada pelo deputado Chico Viga (PDT).
DJ Nareza Barros. Foto: Arquivo Pessoal
Segundo o texto da proposta, a comemoração será realizada anualmente na primeira semana de novembro. A iniciativa busca valorizar, reconhecer e incentivar os profissionais que atuam como DJs no estado, destacando a importância cultural e artística para a cena local.O evento passa a integrar o Calendário Oficial de Eventos do Município de Rio Branco a partir de 2026. “A partir de agora todos os DJs do estado do Acre terão uma semana cultural, voltada ao DJ, com workshop, apresentações em praças, escolas”, enfatiza Roney Matos.
A prefeitura municipal de Rio Branco convidou para a assinatura da lei o produtor musical com vasta experiência no mercado da música eletrônica Mateus Bruschi Basso, O DJ Jay Boo. O consultor da Pioneer DJ BR estava em Rio Branco ministrando um workshop para DJs. O encontro reuniu representantes do poder público e grande parte dos DJs atuantes no estado do Acre.
CRIAÇÃO DA LIGA
A cena da música eletrônica no Acre alcançou um feito inédito com a criação da Liga Acreana de DJs (LACDJ), primeira entidade representativa da categoria no estado. A oficialização ocorreu em 25 de outubro de 2024, em Rio Branco.
Criação da Semana Municipal de DJs, com a presença do poder público e grande parte dos DJs de Rio Branco – Acre. Foto: Acervo Pessoal
A iniciativa é fruto da união entre duas gerações da cena eletrônica local: DJ Roney Mattos, um dos pioneiros e nomes mais respeitados do segmento, e DJ El Mascarado, expoente da nova geração.
A proposta da associação surgiu um ano antes, durante uma reunião entre os dois artistas, que identificaram a necessidade de fortalecer, organizar e dar visibilidade à atuação dos DJs locais. “A partir desse encontro, fizeram o projeto da fundação da Liga Acreana de DJs, entidade voltada exclusivamente a fortalecer a representação dos valores dos DJs no Acre.“A associação surge com o objetivo de promover união da categoria, fomentar a oportunidade de formação técnica e profissional, além de representar os DJs em eventos culturais, festivais, políticas públicas, um espaço institucional, o mais importante”, destaca Roney Matos, presidente da Liga.