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Visibilidade e realidade de uma travesti que estuda na Ufac
Publicado há
2 anos atrásem
por
Redação
Aluna relata situações cotidianas e violências: “eu não deveria nem mesmo ter me inscrito no Enem.”
Por Wisney Berig e Luiz Eduardo Souza de Oliveira
O Dia da Visibilidade Trans é comemorado em 29 de janeiro e 2024 marca seu vigésimo ano de existência. Essa data foi definida por uma ação do antigo Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde que procurava promover a campanha “Travesti e Respeito”, e desde então o dia ficou como marco para a luta e visibilidade da população trans e travesti no Brasil.
O Acre é um estado com uma população de cerca de 800 mil habitantes, dos quais aproximadamente 2,8% se identificam como LGBTQIA+. Dentro desse grupo, as pessoas trans enfrentam muitos desafios, entre eles a transfobia.
A transfobia é a discriminação ou o preconceito contra pessoas transgênero, que pode se manifestar de diversas formas, como o assédio verbal ou físico, a discriminação no trabalho ou em qualquer âmbito social, e a violência física ou sexual.
No Acre, a transfobia é uma realidade cotidiana para as pessoas trans, que passam cada vez mais a ocupar espaços importantes dentro da sociedade. Entretanto, nem sempre esta mesma sociedade está preparada para acolhê-las. Elas relatam que são frequentemente alvo de preconceito e discriminação, seja por parte de familiares, amigos, colegas de trabalho ou desconhecidos.
A travesti e estudante do curso de Licenciatura em Biologia, Morgana Café, divide um pouco da sua experiência dentro da Universidade Federal do Acre (Ufac), abordando suas vivências, dificuldades, pontos positivos, negativos e aspectos a serem olhados com mais atenção pela instituição.
A vida não é um conto de fadas
Morgana Café é uma estudante bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), que realiza pesquisas no Laboratório de Botânica e Ecologia Vegetal (Labev) e expressa como sua vivência dentro da instituição tem sido difícil. Especialmente no quesito de respeito à pessoa que ela é.

A entrevistada aponta que em sua vivência dentro do curso de Biologia precisa sentar-se na cadeira e ouvir professores e professoras falando sobre sexo e gênero como se fossem a mesma coisa. E que a falta de atualização pode acabar reproduzindo violências com pessoas trans e travestis.
“Não era pra eu estar aqui, e isso é claramente exposto de maneira rotineira. Fico de frente com determinadas situações que falam realmente: ‘olha você não é daqui, você não é pra estar aqui, entende?’ Que eu não deveria nem mesmo ter me inscrito no Enem”, revela Morgana.
Ela aponta ainda que isso ocorre das mais diversas maneiras. “São situações violentas, e isso vai de muitas coisas como falta de estrutura, o não respeito pelo meu nome, que agora é meu nome civil, portas se fechando. Se eu fosse um homem branco cis eu teria mais oportunidade do que eu tenho agora”, explica.
Segundo o estudo realizado por Marcela Carvalho, em 2022, 82% das pessoas trans e travestis saíram das escolas, apontando que essas violências que ocorrem com Morgana não são casos isolados e ocorrem no Brasil inteiro. Mas nem sempre têm a devida visibilidade e nem produção de políticas públicas que amparem essas pessoas.
A Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra) apresentou em 2023 que esses dados são influenciados pela não empregabilidade de pessoas trans e travestis, e que 90% das mulheres trans e travestis ainda tem a prostituição como principal ou a única fonte de renda.
Dentro da Ufac há poucas pessoas que se identificam desta maneira. Morgana Café confessa que se sente solitária dentro do seu curso e que apesar de as pessoas que trabalham com ela no Laboratório a respeitarem, compartilhar sua vivência com outra pessoa trans seria algo ímpar. Além de ser a única e a primeira travesti da Biologia da Ufac, ela diz que esse pioneirismo é um peso que ela não gostaria de carregar.

Atualmente a Ufac dispõe de nomes sociais para pessoas que não conseguiram retificar seus documentos. No entanto, ainda há resistência por parte de professores e estudantes respeitarem o nome social.
Segundo Morgana, a Ufac tem mecanismos para acolher e promover o acolhimento de pessoas trans e travestis, mas não o faz adequadamente. “A Ufac tem acesso à informação e não percebe isso como algo relevante para a permanência de pessoas trans e travestis na universidade.”
Existem algumas ações que a própria estudante aponta como importantes para o acolhimento desta população:
- Criar cotas específicas para esse segmento;
- Procurar pessoas trans e travestis para poder auxiliar no processo de inclusão do nome social dentro da universidade;
- Promover formação para professores, a garantia de permanência não está relacionada apenas ao respeito;
- Auxílio financeiro por meio de bolsas.
A rede de apoio é uma das formas que a pesquisadora aponta como possibilidade para enfrentar a solidão. “Se entender como uma travesti é perder direitos, nos é retirado até mesmo o direito de poder amar. Eu me sinto muito sozinha aqui na Ufac, aqui no curso”, revela a estudante. Encontrar e fazer trocas com outras pessoas trans e travestis é uma maneira que ela encontrou para conseguir aliviar um pouco.
Além de limitações ao acesso à educação, há outras formas de exclusão, como o acesso reduzido à saúde, já que muitos locais não acolhem bem essa população, por não terem profissionais capacitados.
Travesti também é professora
Em seu relato, Morgana comenta um pouco dessa relação entre fazer um curso que lhe tornará uma professora e ser uma professora que também é travesti. Ela irá se deparar em um futuro próximo com as salas de aula, como uma professora de Biologia, mas já vivenciou percalços dentro do âmbito escolar. Durante seu estágio em uma escola, ela foi repreendida pela maneira como se apresentava naquele espaço.
Ela disse que suas vestimentas foram vistas como um problema. Não por serem indecentes ou inadequadas, mas por ser uma travesti que está usando roupas ditas como femininas. “Essas pessoas não conseguem entender o quão importante é a vestimenta para travesti, principalmente porque a gente tem que usar esses apetrechos como mecanismo para que a gente consiga passar, se não a gente passa por situações transfóbicas”.
E não foi só nos locais onde fez estágio que sentiu esse desconforto. Na universidade as suas roupas já foram questionadas e alguns professores ainda a chamam no masculino. Durante as eleições do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufac, quando fez parte de uma chapa, ela relembra que foi questionada por uma antiga professora, que a chamou no masculino e ainda tentou usar o nome morto. E ainda foi vítima de ameaças veladas por uma aluna do curso de Nutrição. O caso foi noticiado pela mídia local.
Caso de transfobia na Ufac
A aluna Morgana Café disse que sofreu ataques de outra aluna da instituição. O que era para ser uma disputa entre concorrentes nas eleições do Diretório Central dos Estudantes (DCE) virou uma acusação criminal.
Em uma postagem nas redes sociais, uma acadêmica de Nutrição comentou: “O preço que eu pago por ouvir, ler e ver é grande viu?!” Ela completou a publicação dizendo: “fui obrigada a sair da sala para usar o meu réu primário em um caso mais extremo”. A declaração teve como referência o uso de linguagem neutra utilizados em um panfleto distribuído.
A vítima comentou o caso em entrevista ao jornal A Gazeta do Acre, contou como sentiu-se em relação ao caso. “Me mostraram de manhã cedo e eu nem liguei, só passei o olho. Mas depois me mandaram um print, numa conversa privada, e eu fiquei em choque. Distorceram o que eu falei e ainda “higienizaram” minha imagem. Foi algo nojento, violento e baixo”.
Morgana Café disse que vai conversar com a ouvidoria da Ufac para abrir um processo contra a aluna. E relata que o maior impacto foi que os comentários partiram de outra mulher, que ela deveria ter consciência do que é sofrer descriminação.
O Centro Acadêmico do curso de Nutrição se pronunciou através de suas redes sociais, afirmando que não compactua com as ações da aluna e que não pode concordar que a orientação sexual ou identidade de gênero continue sendo alvo de violência.
“É urgente combater a transfobia em um país que ocupa 1º lugar no ranking mundial dos assassinatos de pessoas trans e travestis, durante os últimos 14 anos. Pesquisas realizadas em 2019 denunciam que 99% da população LGBTQIA + afirmaram não se sentirem seguras no país e que diariamente onze pessoas trans são agredidas no Brasil. A expectativa média de vida de travestis e transexuais é de apenas 35 anos, contra 75 do restante da população”, diz trecho do pronunciamento.
A estudante de Nutrição não quis se pronunciar sobre o caso e não falou com a nossa equipe.
Para finalizar, Morgana Café, diz que a escolha do seu nome está relacionada com histórias que eram contadas por homens. “Morgana sempre foi a bruxa, a fada, a traidora, a suja. Eu quero ser a Morgana, que ressignifica tudo isso, eu conto a minha própria história e não contada por homens, mas sim por uma travesti! Quero mostrar que eu também sou mutável e eu posso trazer mudanças.”
É importante celebrar os campos que tiveram avanço, mas não podemos esquecer que ainda há uma realidade triste vivida pela grande maioria de pessoas trans no Brasil.
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Do isolamento à cidadania: travessia da defensoria pelas comunidades do Acre
Publicado há
2 dias atrásem
31 de outubro de 2025por
RedaçãoA iniciativa leva às comunidades ribeirinhas, periféricas e rurais atendimento jurídico, emissão de documentos, consulta a processos e diversos outros serviços
Por Bruna Feitosa*
Localização, despesa com transporte, hospedagem, alimentação, senhas por ordem de chegada e agendamento eletrônico são algumas dessas dificuldades encontradas por aqueles que residem em locais distantes dos centros urbanos e na maioria das vezes sem acesso digital ou conectividade.
Essa é a realidade de muitos acrianos, o Francisco das Chagas, que era só felicidade após receber o atendimento da Defensoria Pública em sua comunidade, localizada no . Para chega a ser atendido é inacreditável que fez suporte jurídico, a população também teve acesso a serviços na área da saúde, orientações sobre direitos do consumidor e sobre opções de crédito rural. sem precisar se deslocar até a cidade.
“Sou grato pela oportunidade, que é a realização deste serviço, apesar de onde moro. Conseguir suporte jurídico de dúvidas sobre o direito do consumidor de compra e venda de casa, para mim, foi muito importante, sou agradecido à Defensoria itinerante. Serviços essenciais que nos auxiliam e ajudam muito! Estou satisfeito”, afirmou.
Órgão públicos como Tribunal de Justiça do Acre, com o Projeto Cidadão, o Ministério Público do Estado do Acre, com o projeto MP na Comunidade e Defensoria Pública do Acre, com a Defensoria Itinerante realizam ações e projetos de forma conjunta para suprir as necessidades das comunidades mais isoladas. Em alguns locais as pessoas sequer conhecem seus direitos e têm dificuldade de chegar até a sede dos prédios públicos onde os serviços são ofertados.
A Defensoria do Estado do Acre tem se destacado pela promoção de justiça social ao enfrentar desafios como a falta de recursos, a escassez de defensores públicos e a sobrecarga de trabalho, o que, muitas vezes, dificulta o atendimento eficaz às populações mais carentes.
Os serviços que são ofertados pela Defensoria Itinerante são: orientação jurídica, consultas processuais, ajuizamento de ações, mediação e conciliação, alterações em registros civis, atendimento em direito de família, emissão de registros civis, encaminhamento para outros órgãos públicos entre outros.
A presença da Defensoria nas comunidades periféricas e rurais é crucial, deveria ser uma prática frequente e não uma exceção, já que nessas comunidades as pessoas enfrentam dificuldades para acessar a justiça. Um exemplo claro de como a Defensoria tem feito a diferença é o projeto “Mulheres Recomeçando”, que oferece suporte médico a mulheres em situação de violência doméstica e em questões relacionadas a seus direitos em áreas como saúde e cursos profissionalizantes e até capacitação para que vítimas de violência doméstica possam entrar no mercado de trabalho.
De acordo com o Coordenador da Comunicação da Defensoria Pública, Celso Araújo, a Defensoria tem um papel importante em levar os serviços à população na capital e no interior. “O programa visa levar atendimento jurídico às comunidades e foi idealizado em 2017. Até o momento atual, milhares de pessoas foram atendidas seja na cidade, seja na zona rural, seja na capital ou no interior. Esse trabalho é importante porque ele visa trazer cidadania e dignidade a todos, levando serviços para quem mais precisa”, afirma Celso Araújo.
De acordo com Franklin Lima da assessor da Secretaria de Estado da Mulher (SEMULHER) informou que todos os programas têm parcerias com as outras instituições que compõem a rede de atendimento à mulher vítima de violência. “O programa Impacta Mulher visa oferecer cursos profissionalizantes que alcançaram os 22 municípios do estado com customização de sandálias, guardanapos, hambúrguer, bolos e tortas. Para as mulheres em situação de vulnerabilidade social ou mulheres em caso de violência doméstica, mais de 1.600 já foram alcançadas com os cursos profissionalizantes”, afirma a assessora.
O projeto leva cidadania para as pessoas que residem mais distantes dos centros urbanos e contribui com uma sociedade mais inclusiva.
Defensoria Itinerante e o Apoio às Mulheres em Situação de Violência
O projeto “Defensoria Itinerante” leva os serviços da Defensoria às regiões mais afastadas e de difícil acesso, como comunidades rurais e periféricas, garantindo que a população vulnerável tenha acesso à justiça. Entre os serviços oferecidos, destacam-se a orientação jurídica em temas como direitos de família, saúde, educação e questões trabalhistas. As ações são voltadas para a população em vulnerabilidade social, onde buscam atendimento com base em sua solicitação, os atendimentos são diversos nas áreas jurídica gratuitamente, ajuizamento de ações, consulta processuais e alterações em registros civis, serviços esses no qual a população procura com maiores índices de resultados em seu atendimento.
Além dos desafios logísticos de acessar essas áreas, a Defensoria tem superado dificuldades tecnológicas, como a falta de conectividade, por meio da aquisição da Starlink, uma internet via satélite que possibilita a comunicação com as regiões mais remotas. Com esses recursos, estão trabalhando para levar dignidade e acesso à internet nas comunidades mais distantes, o que facilita ainda mais a integração de serviços essenciais a população que buscara ser atendida e sair da ação com seu atendimento resolvido ou com algum tipo de encaminhamento.
De acordo com a Diretoria de Comunicação da Defensoria Pública do Acre, Katiuscia Miranda “Por meio de parcerias institucionais, principalmente com as prefeituras e associações. A Defensoria Pública realiza atendimentos itinerantes, levando serviços jurídicos diretamente às comunidades rurais e periféricas. A instituição também mantém canais abertos para feedback, permitindo que as ações sejam ajustadas às necessidades específicas de cada local.” Afirma Katiuscia.
O projeto “Cuida, maninha” uma iniciativa voltada para mulheres em situação de vulnerabilidade social que busca promover o combate à violência de gênero em todo país.. A iniciativa é uma extensão do compromisso da Defensoria em promover a igualdade de gênero e garantir que as mulheres, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade, tenham seus direitos protegidos e respeitados na sociedade.
Em um discurso marcado pela identificação pessoal com o público presente, Juliana Marque, subdefensora-geral da Defensoria Pública do Acre, compartilhou memórias de sua infância no interior e destacou o poder do estudo como ferramenta de transformação. “A oportunidade está aqui, mas é preciso agarrá-la. Coloquem uma hora do dia só para vocês, se imponham, cuidem dos próprios sonhos”, incentivou. Para ela, o projeto simboliza mais do que formação técnica, representa empoderamento real e liberdade de escolha.
Garantia de acesso à justiça para populações vulneráveis
É o caso de Rafaela Ferreira, moradora do bairro Avenida Sobral, estava tendo ação da defensoria itinerante, onde buscou a consulta de processo judicial, em ação realizada no bairro sobral onde ela reside no bairro. “É muito importante ver essa ação sendo realizada justamente aqui, onde moro. Muita gente não tem acesso a serviços que são direitos básicos de todos, mas que, na prática, nem todos podem acessar”, afirmou Rafaela.
A ação social itinerante, promovida pelo vereador Zé Lopes e o Deputado Roberto Duarte em parceria com diversos órgãos e instituições, aconteceu na Escola Marilda Gouveia Viana e reuniu centenas de moradores da Baixada da Sobral. Durante a iniciativa, foram prestados atendimentos jurídicos nas áreas cível, criminal e de benefícios, além de orientação e assistência jurídica gratuita à população.
A presença constante da Defensoria Pública e outras instituições do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, nas comunidades em situação de vulnerábilidade social do Acre é essencial para garantir que todos os cidadãos, independentemente de sua condição econômica ou social, tenham acesso à justiça. A falta de informação jurídica e as dificuldades para acessar serviços legais criam uma grande barreira para a plena cidadania. Nesse cenário, a Defensoria Pública se torna a principal responsável por informar as populações carentes sobre seus direitos e por orientá-las, além de oferecer meios para que busquem a justiça de forma eficaz.
Esse trabalho se torna ainda mais relevante no contexto de um Brasil marcado por desigualdades sociais profundas, onde mulheres, negros, indígenas e pessoas em situação de rua frequentemente enfrentam discriminação e obstáculos adicionais para garantir seus direitos.
No enfrentamento à violência contra a mulher, a parceria entre a Defensoria Pública e a Semulher tem sido estratégica. O projeto “Mulheres Recomeçando” oferece suporte jurídico, psicológico e médico, além de capacitação profissional para mulheres em situação de vulnerabilidade. A iniciativa busca não apenas proteger, mas também promover autonomia e inclusão social.
A presença da Defensoria nas comunidades periféricas e rurais é crucial, pois deveria ser uma prática frequente, e não uma exceção.
O projeto oferece:atendimento médico e psicológico; cursos profissionalizantes; orientação sobre direitos civis e sociais; encaminhamento jurídico para casos de violência doméstica.A Defensoria, portanto, atua como um verdadeiro pilar de apoio para essas populações, combatendo injustiças sociais e promovendo a inclusão.
Cuida, Maninha: Empoderamento Feminino
Complementando essa atuação, o projeto Cuida, Maninha promove autonomia por meio da qualificação profissional e da valorização da liberdade de escolha. Em discurso emocionado, Juliana Marques compartilhou memórias de sua infância no interior e destacou o poder do estudo como ferramenta de transformação. “A oportunidade está aqui, mas é preciso agarrá-la. Coloquem uma hora do dia só para vocês, se imponham, cuidem dos próprios sonhos”, incentivou.
O fortalecimento da Defensoria Pública, com a expansão de seus projetos sociais, é uma estratégia fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, onde os direitos humanos e a cidadania plena sejam garantidos para todos, independentemente de sua classe social, etnia ou gênero.
*Este texto foi desenvolvido sob orientação do professor Franciso Aquinei, criado originalmente a partir da disciplina de Redação Jornalística 1.
Do Isolamento à Cidadania: A travessia da defensoria pelas comunidades do Acre
Notícias
Cresce o número de acidentes e lesões nas ruas de Rio Branco no 1º Trimestre de 2025
Publicado há
5 meses atrásem
13 de junho de 2025por
Redação
Número de mortes cai 41%, mas ocorrências aumentam e imprudência ainda preocupa autoridades e população
Por Ana Flávia Santos, Gabriela Fintelman, Luísy Xavier, Patrícia Pinheiro e Pedro Amorim
No primeiro trimestre de 2025, Rio Branco registrou 676 acidentes de trânsito, com um aumento de 3% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram contabilizadas 656 ocorrências. Os dados são da Coordenadoria de Engenharia e Estatística de Trânsito do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/AC) e apontam para um cenário ainda preocupante na capital acreana.
Desse total, 261 resultaram em vítimas não fatais, com 310 pessoas lesionadas. Por outro lado, o número de vítimas fatais apresentou uma queda significativa: foram sete vítimas fatais de janeiro a março deste ano, contra 12 no mesmo período do ano passado — uma redução de aproximadamente 41,7%.
Embora o recuo nas mortes seja um sinal positivo, o cenário ainda está longe de ser considerado seguro nas vias da capital. Mesmo quando os acidentes não resultam em fatalidades, os efeitos são visíveis, como os engarrafamentos, pessoas feridas, danos materiais e prejuízos emocionais.
Perfil de vítimas no trânsito
Segundo dados do Detran divulgados em 2016 e que permanecem como a base mais recente disponível —, homens representavam 69,6% das vítimas de acidentes em Rio Branco, enquanto as mulheres correspondiam a 30,16%. A faixa etária mais atingida era de 18 a 29 anos, com predominância de condutores (74,11%), seguidos por passageiros (17,46%) e pedestres (8,42%).
As motocicletas estavam envolvidas em 55,09% dos acidentes com vítimas, enquanto os automóveis lideravam os acidentes sem vítimas, com 64,45%.
A maioria dos casos envolvia colisões (79,9%) e atropelamentos (9,75%), com maior incidência nos horários de pico: entre 5h30 e 7h, 11h e 12h, e 18h e 19h.
Em uma entrevista para o jornal Folha Nobre em janeiro deste ano, a coordenadora de Educação do Detran, Cléia Machado, destacou que o grupo mais vulnerável no trânsito são primeiramente os pedestres e em segundo os ciclistas. Embora os dados mais recentes disponíveis sejam de 2016, não há evidências de mudanças significativas no perfil das vítimas.
“Os pedestres e ciclistas são os mais vulneráveis no trânsito, por isso precisam ter atitudes que protejam a vida. Aqui no Parque Ipê, por exemplo, os pedestres devem utilizar as vias para pedestres, assim como o ciclista deve transitar na ciclovia e sempre utilizar os equipamentos de segurança”, afirma.
Imprudência lidera causas de acidentes na capital
De acordo com o Detran, cerca de 90% dos acidentes registrados na capital são causados por imprudência no trânsito. Além disso, em âmbito nacional, estudos realizados pelo Ministério dos Transportes indicam que a imprudência dos motoristas é responsável por 53,7% deles no Brasil.
Entre os comportamentos de risco mais comuns estão excesso de velocidade, avanço de sinal vermelho e ultrapassagens perigosas. O advogado de trânsito Sandro Oliveira alerta que o problema não se resume à falta de conhecimento: “A falta de educação está diretamente ligada aos acidentes. Muitos motoristas agem como se estivessem certos, mesmo quando claramente estão errados”, comenta.
Outro fator preocupante é o crescimento da frota de veículos em Rio Branco. Entre 2020 e 2024, o número de automóveis registrados saltou de 186.723 para 217.962 — um aumento de 16,75%. A expansão, sem melhorias proporcionais na infraestrutura, contribui para congestionamentos, cruzamentos perigosos e aumento nos índices de acidentes.
As vias mais perigosas da capital
Segundo o Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran), os cruzamentos são os locais com maior incidência de acidentes, principalmente nos horários de pico e em vias de grande fluxo. Entre janeiro e março de 2025, as dez vias com maior número de ocorrências somaram 148. A Avenida Ceará lidera o ranking com 30 ocorrências no trimestre.
Além de fatores comportamentais, a ausência de sinalização adequada em trechos movimentados da capital também contribui para o risco nas vias. Para o advogado, o papel do poder público é fundamental nesse cenário.
“Cabe ao poder público garantir a sinalização horizontal e vertical conforme determina o artigo 80 do CTB [Código de Trânsito Brasileiro]. Sem isso, a responsabilidade pela segurança nas vias fica comprometida”, pontua.
Vozes das ruas: o olhar de quem vive o trânsito
Para além dos dados e estatísticas, as experiências cotidianas de quem enfrenta o trânsito todos os dias oferecem uma visão concreta e urgente da realidade. “Os principais desafios são nas ruas, com muitos motoqueiros imprudentes”, relata Jeferson Bessa, motorista de aplicativo.

Ele também aponta a precariedade da malha viária como um agravante: “Há várias ruas em Rio Branco que precisam de atenção do governo porque estão com muitos buracos, alguns sendo quase impossíveis de passar de moto, principalmente quando chove”, enfatiza.
Essa dificuldade também foi vivida por João Gustavo Rocha, vendedor externo da empresa Acrepan, que teve prejuízo após cair em um buraco encoberto pela água da chuva. “Era uma rua bem esburacada e todos os buracos estavam com água. Não dava pra ver o quão fundo eles eram. Acabei batendo em um buraco no carro da empresa e quebrou um pouco do para-choque. A empresa ficou no prejuízo” relata.
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Bairro Sobral, Rio Branco – AC. Foto: Hélio Vitalino
Ele também avalia que a desinformação sobre regras e deveres no trânsito ainda é um entrave. “A maioria dos motoristas não está bem-informada. Falta conscientização da população, e mais investimento do governo em educação para o trânsito. Muitas autoescolas também não oferecem uma formação de qualidade”, conclui.
Como prevenir acidentes e contribuir para um trânsito mais seguro
Diante dos números alarmantes e dos relatos de quem vivencia diariamente os desafios nas vias de Rio Branco, a prevenção se torna indispensável. Confira algumas orientações que podem ajudar a salvar vidas durante a rotina de trânsito.
- Respeite os limites de velocidade e a sinalização;
- Nunca dirija sob efeito de álcool ou outras substâncias;
- Use sempre o cinto de segurança e capacete, no caso de motociclistas;
- Evite o uso do celular ao volante;
- Mantenha a manutenção do veículo em dia, especialmente pneus e freios;
- Esteja atento às condições da pista, principalmente em dias de chuva.
Além da responsabilidade individual, o papel da população também é fundamental na fiscalização cidadã. Irregularidades no trânsito, buracos em vias públicas e comportamentos de risco podem – e devem – ser denunciados.
Canais de Denúncia e Contato:
- RBTrans (Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito): (68) 3212-7040
- Detran/AC: (68) 3229-5500, site: www.detran.ac.gov.br
- Ouvidoria da Prefeitura de Rio Branco: 0800 647 1311
- Polícia Militar (em caso de emergência ou flagrante de infração): 190, site: www.pm.ac.gov.br
As orientações seguem recomendações da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), que reforçam a importância da educação, fiscalização e boas práticas para a redução de acidentes. Somente com a união entre poder público, condutores e pedestres será possível transformar Rio Branco em uma cidade mais segura para todos.
Notícias
Empreendedorismo, arte e ativismo: narrativas de resistência de mulheres periféricas no primeiro podcast original A Catraia
Os 3 episódios do programa mergulham nas experiências de mulheres periféricas na capital acreana, explorando como o ativismo, a arte e o empreendedorismo social se entrelaçam como formas concretas de existir e transformar a realidade.
Publicado há
5 meses atrásem
6 de junho de 2025por
Redação
Produção explora como mulheres de Rio Branco constroem caminhos de autonomia e dignidade, utilizando o empreendedorismo e a arte para resistir à exclusão
Por: Victor Manoel
A realidade social e econômica apresenta desafios únicos em Rio Branco, especialmente para grupos minorizados que enfrentam barreiras estruturais no acesso a direitos básicos, inclusive no mercado formal. Nesse contexto, o empreendedorismo surge não apenas como um meio de subsistência, mas como uma poderosa ferramenta de resistência, emancipação política e busca por autonomia e dignidade.
É essa força e criatividade que impulsionam o podcast “Trabalhar e Resistir”, projeto do curso de Jornalismo da Ufac, realizado no âmbito do jornal laboratório A Catraia, que busca ouvir essas narrativas de luta e superação. Os 3 episódios do programa mergulham nas experiências de mulheres periféricas na capital acreana, explorando como o ativismo, a arte e o empreendedorismo social se entrelaçam como formas concretas de existir e transformar a realidade.
Uma das vozes do podcast é da Luar Maria, atriz e estudante, que compartilha a dura realidade enfrentada pela população trans no Acre. Ela aponta a falta de seriedade e compreensão por parte de algumas gestões públicas em relação às necessidades dessa população e destaca a precariedade do acesso à saúde e a ligação entre empregabilidade e saúde. Luar ressalta que a luta por direitos e a busca por meios de subsistência andam juntas. Para ela, falta “seriedade no sentido de realmente tocar o que o recorte das secretarias está faltando”, e é preciso acreditar que essas políticas são cruciais para entender e avançar.
O podcast também apresenta Vands, artivista e empreendedora de ilustrações da periferia. Ela vê sua arte não apenas como expressão, mas como uma ferramenta de ativismo e uma forma de gerar renda, conectando seu trabalho a questões de justiça social, ambiental e direitos humanos. Transformar sua arte em empreendimento foi um passo natural, mas cheio de desafios práticos no contexto periférico. Vands define seu “artivismo” como a união da arte com o ativismo e considera “resistência”, pois fala de questões importantes e é criada “em um contexto em que (…) o capitalismo incentiva muito a gente a consumir sem pensar”.
Para oferecer um panorama mais amplo, o podcast incluiu a perspectiva institucional com Julci Ferreira, analista do Sebrae Acre e gestora de projetos como o Plural, focado em grupos sub-representados e pessoas em situação de vulnerabilidade. Julci explica a abordagem do Sebrae para o empreendedorismo inclusivo, buscando integrar esses grupos e dar a eles “luz e autoridade para se verem como empreendedores”. Ela afirma que “a ideia do Sebrae não é número, não é abrir CNPJ. A ideia do Sebrae é cada vez mais desenvolver ideias de negócio”.
Ouça “Trabalhar e Resistir: Vozes Periféricas do Empreendedorismo no Acre” no Spotify: https://open.spotify.com/show/6un2SKAou6c8OfkehlAv5Q?si=0572cdc289e345c3
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