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Retratos: Serviço Delivery mantém crescimento mesmo após abertura de comércio

‘’Atualmente temos 10 entregadores para dar conta da demanda com precisão e fazer com que o pedido chegue com rapidez na casa do cliente.’’ afirma Maraya. / Foto: Ana Michele

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Foto: Ana Michele.

Conforme pesquisa realizada pela Kantar, houve um rápido crescimento no uso do serviço de delivery no Brasil, saltando de 80% em 2020 para 89% em 2022. O Instituto Foodservice Brasil (IFB) indica que o setor de delivery apresenta um crescimento em torno de 7,5% no ano de 2023.

Ana Michele, Tiago Soares

No dia 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declara Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional devido ao surto do novo coronavírus, uma doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2. Levando em consideração esse fato e os primeiros três casos confirmados de COVID-19 no estado do Acre, em 17 de março de 2020, a Prefeita do Município de Rio Branco, Socorro Neri, decreta Situação de Emergência em Saúde na cidade. Para conter a propagação da doença, várias medidas são implementadas. Além das práticas individuais de higiene, uma das principais recomendações emitidas pela OMS foi o estabelecimento do distanciamento social. As pessoas passam a evitar o contato físico e quem podia, se manteve sem sair de casa, o que consequentemente levou ao fechamento de empresas.Maraya Keury Melo Muniz é uma das pessoas que experienciou os impactos que vieram com a pandemia. Ela não só acompanhou de perto as transformações, como superou as dificuldades e cresceu com a empresa em que trabalha. Hoje, aos 20 anos, é gerente de um estabelecimento do ramo alimentício. Maraya conta que antes da pandemia, trabalhavam com dois pontos: um presencial e outro que já atendia através do “Delivery”, serviço de entrega em domicílio, onde o cliente realiza seu pedido através do celular ou computador, pagando e recebendo o produto sem sair de casa. Eles tinham um salão com mesas, cadeiras, pratos e talheres. As pessoas saiam para jantar, se reuniam com amigos e família, mas repentinamente, precisaram abrir mãos desses momentos para manter a própria saúde e das pessoas que amavam. Em consequência, o estabelecimento precisou fechar as portas, ficando apenas no atendimento delivery, que já era usado, mas não na proporção atual. Uma pesquisa encomendada pela VR Benefícios e realizada pelo Instituto Locomotiva mostra que, no Brasil, o serviço de delivery aumentou de 49% antes da pandemia para 81% após as medidas restritivas. Maraya, na época, era atendente. Ela conta que no início enfrentaram desafios para conseguir atender e se adaptar ao grande número de entregas que foram surgindo. ‘’ Não esperávamos que a quantidade de pedidos fosse aumentar de forma tão rápida.’’ relata. “É claro que a empresa busca sempre o melhor, mas não imaginávamos que cresceria tanto e de forma tão rápida. Foi como um ‘Boom’.’’ relembra Maraya.Com a rápida expansão, vieram problemas inesperados, como a dificuldade em manter os prazos de entrega no início, chegando ao ponto em que, em algumas ocasiões, não conseguir realizar as entregas a tempo. Maraya recorda de uma situação particular em que ficou claro que a capacidade de atender a todos os bairros de Rio Branco, mesmo em uma cidade não tão extensa, era uma tarefa difícil. “Foi nesse momento que optamos por limitar as entregas para determinados bairros, para podermos atender aos nossos clientes com rapidez e eficiência.’’Além de alterar as estratégias de atendimento e de entregas, foi preciso adotar medidas de higiene para garantir a segurança dos funcionários, entregadores e clientes. ‘’Foi exigido o uso de máscara para todos na cozinha, por mais que não tivessem em contato direto com os clientes.’’ O mesmo cuidado se aplicava aos entregadores. ‘’Mesmo com o capacete precisavam estar de máscara’’, relata Maraya. Além da máscara, o uso de álcool em gel era indispensável, assim como o hábito de sempre higienizar os alimentos após chegar do mercado. Outra mudança foi em relação ao pagamento. ‘’Ao invés do dinheiro, preferíamos sempre o pix ou pagamento por aproximação.’’ conta. Ela relata ainda que o atendimento começou sendo feito pelo WhatsApp. Mas para promover o serviço de entrega, optaram por utilizar outros meios, como o ‘Ifood’, uma empresa que atua no serviço de delivery de alimentos por meio de um aplicativo. “Também temos um sistema que tira pedidos online.’’ Essa forma de atendimento ajudou a alcançar e manter mais clientes, pois facilita o processo de pedidos, pagamento e acompanhamento das entregas. ‘’Temos um link onde o cliente realiza seu próprio pedido, coloca o endereço e forma de pagamento, e em seguida o pedido vai direto para a cozinha.’’ explica Maraya. Além de alterar a dinâmica de atendimento e investir na qualidade dos produtos, foi necessário também modificar a logística das rotas de entregas. ‘’Atualmente temos 10 entregadores para dar conta da demanda com precisão e fazer com que o pedido chegue com rapidez na casa do cliente.’’ afirma Maraya.

Entre Desafios e Entregas: A Jornada dos Motoboys na Pandemia

“Motoboy”, profissão que utiliza uma motocicleta para fazer entregas.”/Foto: Ana Michele

Elissandro Matos do Nascimento, assim como mais de 13 milhões de brasileiros em 2020, estava desempregado. No caso dele foi por opção. Decidiu sair do seu emprego como atendente. Foi tentar uma vaga como “motoboy”, profissão que utiliza uma motocicleta para fazer entregas.  Ao mesmo tempo que precisou se adaptar à nova ocupação, precisou se adaptar à nova rotina da pandemia e as exigências que surgiram com ela. Sua preocupação não era só entregar os pedidos no prazo, mas fazer isso de maneira segura para todos. E para garantir sua segurança e a dos clientes, passou a usar máscara constantemente, assim como álcool em gel. Com o distanciamento social imposto, ele precisou ter muito cuidado ao realizar as entregas. “Chegou um tempo em que tivemos até que usar luvas porque os clientes não queriam contato físico com a gente.” relata. Nos condomínios, que antes era preciso subir escadas para entregar na porta dos clientes, a entrada já não era mais permitida e as entregas eram feitas na portaria, medida tomada para minimizar o contato. ‘’Tinha clientes que nem abriam a porta para a gente. Tinha uma mesinha do lado de fora onde eu deixava o pedido”, conta. Essa nova dinâmica também se estendeu ao pagamento, a fim de evitar a troca direta de dinheiro. “Às vezes o dinheiro já estava em um saquinho amarrado”, explica.

 Além disso, outra dificuldade enfrentada por ele foi o aumento inesperado da demanda. Com o fechamento de estabelecimentos que antes atendiam presencialmente, o distanciamento social e a crescente preocupação com a saúde, as pessoas voltaram-se mais para as entregas em casa. “Quando comecei, fazíamos cerca de 50 a 60 entregas por dia, mas de repente, tudo mudou”, relata Elissandro. “A quantidade de pedidos aumentou de forma rápida, e passamos a fazer de 100 a 150 entregas em um dia.’’ Essa mudança repentina trouxe um desafio adicional à sua rotina já adaptada, exigindo agilidade e organização para cumprir todas as entregas com excelência.

Hoje, aos 34 anos, “Sandro”, como é chamado por seus colegas, superou esse momento desafiador e continua na mesma profissão. Há alguns dias mais estressantes que outros, dois ou mais clientes que não atendem a ligação ou demoram para pegar o pedido, mas apesar disso, ama o que faz. Uma pesquisa de Harvard realizada desde 1983, estudou mais de 700 profissões e estabeleceu as sete que mais causam insatisfação nos trabalhadores. Entregador está em primeiro lugar. Sandro não concorda. Essa pesquisa relaciona a infelicidade ao trabalho solitário. Porém, o que chamam de solidão, ele chama de liberdade. “Trabalho de motoboy é bom porque não tem ninguém no teu pé direto, falando o que tem que fazer.” afirma.

Mudanças de comportamento perduram

Mesmo com a reabertura dos estabelecimentos físicos, o delivery de alimentos continua sendo bastante usado. Conforme pesquisa realizada pela Kantar, empresa de consultoria da Inglaterra, houve um rápido crescimento no uso do serviço de delivery no Brasil, saltando de 80% em 2020 para 89% em 2022. O Instituto Foodservice Brasil (IFB) o que o setor de delivery apresenta um crescimento em torno de 7,5% no ano de 2023.

Ainda segundo a Kantar, além do hábito, essa mudança foi impulsionada pela busca por conveniência, sabor e prazer no consumo de refeições. Ela analisou que 70% dos brasileiros compram por conveniência e 55% dos que têm maior poder aquisitivo decidem experimentar novos pratos. Em uma análise mundial, ela determinou que as principais razões de realizarem compras de comida pelo delivery é por não ter que cozinhar em casa (25%) ou por preferir realizar suas refeições na comodidade do lar (15%). Após as restrições e o isolamento social, o delivery se tornou não apenas uma alternativa, mas uma escolha frequentemente preferida.

Para a pesquisadora Luci Praun, da Universidade Federal do Acre (UFAC), a pandemia favoreceu uma experimentação maior por parte das empresas, permitindo que elas testassem novas tecnologias, mercados e públicos. 

Dessa forma foi possível atingir consumidores que antes tinham uma resistência maior em relação à tecnologia, como as gerações mais velhas que por conta da pandemia e do isolamento social tiveram que fazer usos desses aparelhos cotidianamente, criando assim, novos hábitos sociais.

Cyber socialização e mudança de hábitos 

Ao tentarmos entender como a pandemia favoreceu o serviço de delivery através da mudança de costumes sociais, recorremos à professora Ana Letícia de Fiori da UFAC, pesquisadora do Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana (LabNAU) da USP.

Perguntamos a ela se a pandemia não potencializou, de alguma forma, o vínculo entre cibercultura e indivíduo pós-moderno, gerando alterações na forma de sociabilidade desse sujeito, ou a aceitação de práticas que antes não eram. 

Como exemplo temos a tentativa de substituir os livros didáticos por digitais, através da retirada do estado de São Paulo do PNDL (Programa Nacional de Livros Didáticos) em uma tentativa de aprofundamento de conteúdo.

A Prof. Fiori lembra que a virtualização de formas de sociabilidade, através da internet e das redes sociais gera o hábito de “estarmos em contato constante, e a acreditar que devemos estar. Temos dificuldade hoje de não consultar as redes sociais a cada instante, o que tem impacto nas nossas interações e em nossos lazeres.”

Jovens vão ao cinema e não conseguem ficar toda a sessão sem mexer no celular. O senso comum descreve isso como excesso de informação, mas na verdade de fato é excesso de estímulos.

Essas mudanças na sociabilidade criam uma geração mais caseira   mais adaptada a permanecer em casa, desde que haja um aparelho conectado à internet, a pandemia favoreceu esses costumes, complementa a Professora. 

É o que demonstra o relatório Covitel 2023, segundo ele os mais jovens, a geração Z, está bebendo menos álcool e voltando para casa antes da meia noite, se comparado aos millennials (pessoas que nasceram entre 1981 e 1985).

O setor de alimentação soube aproveitar essas mudanças através de aplicativos ou redes sociais, para não falir. O que antes era questão de sobrevivência através do empreendedorismo torna-se inovação e oportunidade e por que não, hábito social.      

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Cerca de 17 mil animais são vítimas de abandono no Acre e número aumenta a cada ano

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Por Arielly Casas, Lucas Sousa e Gabriela Queiroz

O município de Rio Branco registra um número de quase 17 mil animais abandonados, segundo o Centro de Zoonoses da Prefeitura de Rio Branco. Esse dado também reflete uma realidade nacional, na qual 25% dos cães e 26% dos gatos estão em situação de abandono, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Um exemplo é o caso de Mimoso, mascote adotado pela clínica veterinária Cães & Cia. Um dos médicos veterinários da clínica, Denis Costa, conta que o gato foi levado há mais de um ano pelo cuidador que o abandonou. O animal estava com uma miíase (infestação da pele por larvas de moscas que se alimentam do tecido do hospedeiro) na cabeça.

Costa também relata que foi um caso difícil de tratar e que ninguém acreditava na recuperação. Agora, após 18 meses, Mimoso está totalmente recuperado.

“O mascote que nós temos aqui, ninguém acreditava que estaria vivo. Era um caso em que ninguém confiava, e agora ele está esbanjando saúde”, disse o veterinário.

Na imagem, o veterinário Denis e o mascote Mimoso. Foto: Lucas Sousa

Esse não é o único registro de casos assim. Trata-se de uma questão alarmante, que cresce cada vez mais e configura um crime previsto na legislação brasileira. Segundo o artigo 32 da Lei Federal nº 9.605/1998, o abandono e os maus-tratos contra animais são crimes, com pena de três meses a um ano de detenção, além de multa. Em 2020, houve uma modificação, aumentando a pena para dois a cinco anos de reclusão, conforme a Lei Federal nº 14.064/2020.

ONGs

Um dos maiores desafios enfrentados pelos ativistas de Organizações Não Governamentais (ONGs) é o alto custo dos tratamentos para os animais resgatados. Vanessa Facundes, presidente da ONG Patinha Carente, explica que a organização não consegue realizar o resgate de todos os animais devido as dívidas acumuladas com as clínicas veterinárias.

“Gostaríamos de poder resgatar todos, mas temos dívidas muito altas nas clínicas veterinárias particulares”, argumentou a presidente da ONG.

Projeto de Lei

No Acre, dos 24 deputados estaduais, Emerson Jarude (NOVO) defende a causa animal e já possui um projeto de ação em parceria com a Universidade Federal do Acre (Ufac): o Projeto Cuidar, que tem como objetivo atender aos animais de rua. Instituições e ONGs que realizam trabalhos com esse foco também serão beneficiadas pelo projeto.

Jarude também anunciou o lançamento de um novo projeto: o Pet Farm (Farmácia de Pet), que será uma extensão do Projeto Cuidar.

“O Pet Farm é uma forma de conseguirmos disponibilizar medicamentos para os animais e auxiliarmos após o tratamento feito dentro desse projeto”, afirmou.

Poder público

A equipe de reportagem tentou contato com o Centro de Zoonoses da Prefeitura de Rio Branco para comentar a situação, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para qualquer posicionamento ou esclarecimento por parte do poder público.

A crescente população de animais abandonados em Rio Branco evidencia a urgência de políticas públicas efetivas, parcerias institucionais e o engajamento da sociedade civil. Proteger os animais é também um dever social e legal, que exige mais do que boa vontade, é preciso ação.

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Cotidiano

Do papel às telas: a transição do jornal impresso acreano para o digital

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Por Ana Luiza Pedroza, Ádrya Miranda, Daniel de Paula e Wellington Vidal

 

O jornal impresso, símbolo histórico e cultural no Acre, começa a se despedir lentamente do cotidiano da população. A era digital assume o protagonismo, apostando em novos formatos de levar acesso à informação, no entanto, sem apagar o legado construído pelo impresso na história acreana.

Apesar dos esforços para reinventar o jornalismo local, a transição do impresso para o digital trouxe grandes desafios. No Acre, essa movimentação ocorreu de forma tardia, mas com a contribuição de jornalistas que se desdobram diariamente para acompanhar as mudanças no modo de noticiar, mantendo o compromisso social com a população.

Entre os obstáculos, a pandemia de Covid-19 foi um dos que aceleraram o declínio dos jornais impressos em todo o país, e no Acre não foi diferente. O A Gazeta, um dos veículos mais populares do estado, foi diretamente impactado.

Rotativa, máquina utilizada na impressão dos jornais A Gazeta. Foto: Ádrya Miranda

Fundado em 1985, sob direção de Silvio Martinello e Elson Martins, o jornal se destacou pelo jornalismo investigativo e de cunho social, sendo pioneiro em projetos editoriais gráficos com diagramação no impresso acreano. Foi por meio de suas páginas que os acreanos acompanharam coberturas históricas, como o assassinato do sindicalista Chico Mendes.

Em 1998, tornou-se o primeiro jornal a circular em cores no estado, com até 3.500 exemplares vendidos em dias movimentados, segundo Silvio. Apesar das inovações com o jornal impresso, o veículo enfrentou as adaptações tecnológicas do século 21. O portal online, criado ainda nessa fase, tinha estrutura simples, servindo apenas para replicar, de forma reduzida, as notícias do jornal físico.

À esquerda, Maíra Martinello; ao fundo, Paula Martinello; e à direita, Silvio Martinello. Foto: Arquivo pessoal

A edição impressa teve o seu fim em 2021, após uma expressiva queda nas vendas. Paula Martinello, jornalista do A Gazeta do Acre, relata que a migração definitiva para o digital foi desafiadora e impulsionada pela pandemia. “Foi um processo muito gradativo, porque o trabalho online não é fácil. É muita concorrência, é um outro tipo de público e perfil de consumo da notícia”, comenta.

Para os jornalistas do A Gazeta, hoje, A Gazeta do Acre, o desafio não foi apenas adaptar-se ao ambiente online, mas reinventar a rotina de produção jornalística sem abrir mão da credibilidade construída. Segundo Maíra Martinello, foram necessárias estratégias para garantir a sobrevivência e a relevância no meio digital, que exige mais agilidade, versatilidade e presença em todas as plataformas.

“A gente foi entrando nesse mundo online, digital. Claro que tem pontos positivos, como o custo mais baixo, a praticidade e a democratização do acesso à informação. Mas a era digital exige muito mais do jornalista, que hoje precisa escrever, gravar vídeo, áudio, editar, usar várias ferramentas ao mesmo tempo”, explica.

A transição da notícia do impresso para o ambiente digital, embora tenha sido impactante para todo o campo jornalístico, foi recebida de maneira diferente por cada veículo, conforme suas particularidades. Outro nome importante da imprensa acreana, como o jornal O Rio Branco, também enfrentou esses momentos de transformação.

Portal de notícias oriobranco.net. Foto: Ádrya Miranda

Mendes também reforça a necessidade dos jornalistas manterem seu compromisso social, mesmo diante das mudanças impostas pela era digital. “Se vocês forem jornalistas e pretenderem ser responsáveis, não esperem que a notícia chegue até vocês. Vocês têm que ir atrás da notícia”, conclui.

Essa transformação também é percebida por leitores que acompanharam de perto o auge das edições impressas no Acre. “Porque o jornal é um documento, então ele vai ficar ali para sempre”, comenta o jornalista e leitor assíduo Gleilson Miranda, de 55 anos, ao destacar que o jornal impresso carrega um valor que vai além da notícia do dia, mas também a documentação de histórias.

Segundo ele, com o jornal impresso era possível encontrar experiências afetivas, que marcavam seu momento de leitura.

“O jornal é impresso, tem esse charme, tem essa coisa de você sentar, tomar um café e folhear as páginas, lendo as principais notícias. Isso era muito bom para a época. Hoje você tem essa notícia mais rápida. Notícia que chega muito rápido”, afirmou Gleilson, ao relembrar as sensações que os impressos lhe proporcionaram.

A transição dos jornais impressos para os portais digitais no Acre marca uma mudança profunda no modo de fazer e consumir jornalismo. Conhecer a história da imprensa local, com a contribuição das edições do A Gazeta e O Rio Branco, é essencial para entender o papel que esses veículos tiveram na formação da identidade e da memória do estado.

Edição impressa O Rio Branco. Foto: Arquivo Espaço Cultural Palhukas

Para Narciso Mendes, atual proprietário da TV Rio Branco, o impresso no Acre carrega o legado de muitas figuras marcantes da história local. No entanto, a migração do jornal impresso O Rio Branco para o meio online não teve o mesmo peso como teve para os demais veículos.

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Cotidiano

Mulheres jornalistas superam dificuldades e levantam questões importantes para a sociedade

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Um estudo realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) mostrou que em 2021 49% das mulheres jornalistas sofreram ataques de gênero sendo desqualificadas com ofensas e xingamentos. No meio digital, o número sobe para 56,76%. Em uma área historicamente dominada por vozes masculinas, apesar das dificuldades as mulheres estão se destacando cada vez em maior número e trazendo à luz temáticas importantes para a sociedade.

Juliana Lofêgo, professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre, diz que a presença das mulheres está influenciando na cobertura de questões sociais, culturais e políticas. Para Lofêgo, elas têm desempenhado um papel significativo em destacar questões de violência contra mulheres e assédio, garantindo que essas problemáticas não sejam esquecidas ou minimizadas pela mídia. “Com o avanço do movimento feminista e as mudanças sociais, as mulheres jornalistas têm sido influenciadas a trazer à tona essas questões, mesmo que isso não tenha sido comum no início de suas carreiras”, complementa.

Consuela Araújo é jornalista formada pela Ufac e atua na área de assessoria de imprensa, ela relata que como jornalista mulher enfrentou estereótipos de gênero e discriminação ao longo da carreira, principalmente fora do jornalismo. Já no telejornalismo, outro campo onde atuou,  diz ter sido bem acolhida por colegas e pela comunidade, entretanto considera que a busca pela igualdade de oportunidades continua sendo uma luta constante. Araújo aconselha as futuras profissionais a buscarem aprimoramento, construir uma rede de contatos sólida e manter a paixão pela verdade e pela narrativa honesta. “Acreditar na importância do jornalismo local é essencial para contribuir significativamente para a sociedade acreana”, afirma. 

Servidora concursada do Estado, a jornalista Andreia Nobre relata que um grande desafio que enfrentou na carreira profissional foi quando se tornou mãe, pois teve que conciliar a maternidade e o trabalho. Ela acredita que esse seja um desafio para as mulheres em qualquer carreira e também para as que trabalham no setor privado.

Apesar das contribuições significativas das mulheres para abordar agendas importantes a serem discutidas na sociedade, a desconfiança em relação a sua capacidade profissional ainda é uma realidade. Ana Paula Melo, estudante do terceiro período do curso de Jornalismo, trabalha como estagiária no jornal Cidade Alerta, ela diz que percebeu que há um preconceito dentro da universidade pelo fato de ser uma mulher estudante de Jornalismo.

“Já vi algumas pessoas torcerem a cara num tom de desconfiança quando falo que faço Jornalismo. Alguns já dizem que somos compradas, e, às vezes, por ser mulher, dizem que ao invés de buscar informações, buscamos fofoca. Em rodinha de amigos, embora ainda seja estagiária, já fui questionada se algum político me paga para fazer matéria sobre ele. Será se eu não tenho capacidade para escrever sobre política? São reflexões que sempre me questiono, afinal, ser mulher é ter a sua capacidade sempre questionada”. Ela acredita que o maior desafio é alcançar credibilidade equivalente a dos homens e enfatiza a importância de inserir mais mulheres em posições de liderança nos veículos de comunicação. 

Texto produzido pelos acadêmicos Ana Caroline Santiago, Adriely Gurgel, Maria Eduarda Melo, Rian Pablo de Oliveira e Júlia Andrade. A produção faz parte da disciplina Fundamentos do Jornalismo.

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