Em 10 anos, consumo da bebida energética aumentou 237%
Por AmandaOliveira, Kerolayne França e Vitória Lima
O levantamento da plataforma Cupom Válido, divulgado em 2023, coletou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e apontou que o Brasil está em 2.º lugar, quando se trata de países em que a população mais frequenta academia no mundo. O Brasil possui uma média de 21% de habitantes que frequentam academia, ficando atrás apenas da China, que possui a porcentagem de 24%. A atividade mais comum do público que frequenta esse espaço é a musculação, com isso é importante a conscientização dos tipos de pré-treino utilizados, como o energético.
Foto: Cláudio Angelim/ Arquivo pessoal
Para compreender um pouco sobre o tema, realizamos uma pesquisa por meio do Google Forms, para levantar resultados sobre o uso do energético, os malefícios e o conhecimento que a sociedade praticante ou não de musculação tem sobre essa bebida. A faixa etária dos entrevistados varia de 15 a 55 anos. A pesquisa mostra que 6,9% das pessoas utilizam energético durante o treino, enquanto 20,7% afirmaram que consomem a bebida às vezes para treinar.
O consumo do energético vem crescendo bastante nos últimos anos, conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir). Em 2020, por exemplo, os brasileiros consumiram em média 151 milhões de litros. Em comparação com 2010, o número era de 63,7 milhões. Em 10 anos, houve o aumento de consumo de quase 237%. Em sua composição, o energético apresenta cafeína e taurina, que agem como estimulantes e servem para que o indivíduo permaneça “alerta”, por isso o uso da bebida para os praticantes de musculação.
Energético aliado a outras substâncias
Os pré-treinos são uma combinação de ingredientes que ajudam a aumentar o desempenho no momento de treinar. Além do energético, é bastante comum usar creatina, uma substância usada como suplemento para aumentar a eficiência dos músculos. Muitas pessoas acabam realizando a mistura dessas substâncias considerando que pode haver uma melhora bem mais eficiente, na prática dos exercícios.
Foto: Vitoria Lima / Arquivo pessoal
O professor de educação física Abib Junior, preparador físico no clube profissional Santa Cruz Esporte Clube, que atua há cinco anos na área, acredita que o energético misturado a outras substâncias pode ser prejudicial. “A questão é o uso do energético aliado a outras substâncias, pois ajudam no aceleramento do coração”, afirmou.
Abib também não indica o uso da bebida e explica para quem consome sobre a necessidade de um controle maior. “Tenho amigos que usam e que já passaram mal pelo uso excessivo de energético, não indico o consumo para treinar, pois não é necessário, só precisamos de uma boa alimentação. Mas, para quem consome é preciso ter um controle no uso”, frisou.
Marcivani Oliveira, nutricionista esportiva há dois anos, relata sobre as consequências dessas misturas, “a mistura do energético com outras substâncias como, gengibre, chá-verde ou creatina, podem acarretar palpitações, dores de cabeça, ansiedade, agitação, insônia, tremedeira, irritabilidade e desconforto gástrico”.
Foto: Blog Na Medida/ Reprodução
Efeitos que a bebida energética provoca no corpo humano
O artigo “A ação da bebida energética na frequência cardíaca independente da capacidade funcional” explica que “doses de cafeína de até 400mg/dia ou até 200 mg em dose única são consideradas seguras do ponto de vista cardiovascular. No entanto, com frequência adicionam-se substâncias como taurina, guaraná, vitaminas e minerais que podem potencializar o efeito da bebida energética e, consequentemente, aumentar o risco de eventos adversos”. Porém, nem todas as pessoas procuram ter acesso a esta informação e acabam descobrindo após consumir a bebida em excesso.
É comum ouvir alguém dizer que precisa tomar um energético quando necessita de energia corporal para ter disposição, porém geralmente não se tem atenção para a quantidade que pretende ingerir. E esse foi o caso da Maria Patrini de Oliveira, que falou sobre a experiência que teve ao ingerir em excesso o energético antes e durante uma atividade de musculação na academia. “A sensação que tive foi como se meu coração fosse sair pela boca de tanto palpitar, minhas mãos não paravam de tremer enquanto levantava os halteres e eu acreditava que era por conta da musculação que exige muito do corpo, só fui perceber que isso foi causado pelo energético que tomei porque aconteceu outros episódios depois desse e neles eu também tinha tomado”, contou.
Foto: Maria Patrini / Arquivo pessoal
A pesquisa acadêmica abaixo aponta que 13,8% de pessoas já passaram mal após consumir energético, 55,2% negaram ter passado mal em algum e 31% sequer tomam a bebida energética.
Foto: Gráfico Google Forms / Arquivo pessoal
Segundo o médico Mateus Cunha, a bebida energética pode provocar graves efeitos negativos no corpo humano, principalmente em pessoas gestantes, idosos, crianças, diabéticos e quem tem hipertensão ou problemas cardíacos, pois a bebida possui substâncias que acarretam danos mais sérios a esses organismos.
Mateus também explicou que “é normal sentir o coração bater aceleradamente porque a bebida aumenta o fluxo sanguíneo que leva gás oxigênio para o coração e solta o gás carbônico para fora do organismo e o coração trabalha dobrado para bombear todo esse sangue, e então durante todo o trabalho duro do organismo os efeitos vão ser mãos trêmulas, coração acelerado e respiração ofegante que para quem não está acostumado acaba sendo preocupante. Mas o ideal é beber bastante água e se deitar até o efeito passar.” E sobre o consumo antes e durante quaisquer atividades físicas, Mateus Cunha alertou que “é importante ter acompanhamento de um médico ou nutricionista que ajude sobre essa questão do que pode ou não usar antes de uma atividade física, porque o corpo e a mente precisam estar preparados para qualquer situação”.
Equilíbrio no uso
Segundo Marcivani, nutricionista esportiva, o energético pode sim ser utilizado como pré-treino, porém com algumas restrições. “Depende do paciente. Se ele tiver problemas cardíacos e de ansiedade, o energético deve ser evitado”. Marcivani também relata que libera a bebida aos seus pacientes se a pessoa não possuir contraindicação. “Libero uma lata de 250ml, mas se o cliente tem uma sensibilidade maior a cafeína eu libero dependendo do horário do treino, se for pela tarde eu não libero, porque esse paciente já pode ter tomado uma quantidade excessiva de cafeína”.
Foto: Marcivani Oliveira / Arquivo pessoal
Dessa forma, percebe-se que há sim casos nos quais o energético afeta o corpo humano, mas isso depende muito da sensibilidade da pessoa quanto ao seu uso e sobretudo da quantidade com que a bebida é consumida, é como o ditado que diz “tudo demais faz mal”, com o energético não é diferente. A bebida pode e é em certos casos indicada para o uso de praticantes de musculação e esportes, porém de forma controlada e baseada na saúde física do indivíduo. Com o equilíbrio, é possível que o energético seja um aliado no dia a dia, o indicado é que se beba com consciência e busque o auxílio de um profissional para uma melhor qualidade de vida utilizando a bebida.