Brasil, ocupa 52° posição em pesquisa que analisa a habilidade de leitura de crianças do 4° ano do ensino fundamental.
Por, Tiago Soares de Souza
Foto . Tiago Soares. Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister, Editora 34
Os avarentos não creem numa vida futura, o presente é tudo para eles. Essa reflexão lança uma luz horrível sobre a época atual, onde, mais que qualquer outro tempo, o dinheiro domina as leis, a política e os costumes.
Balzac pode ter escrito Eugénie Grandet em pleno século XIX, mas suas personagens e temas permanecem atemporais: Pai Grandet e o dinheiro, Charles e o desejo de ascensão, Eugénie e o amor.
Mais do que simples ferramenta de ócio, um livro permite ao leitor a oportunidade de questionar-se através das personagens; o comportamento humano, a cultura e os costumes, e da mesma forma, a própria sociedade da qual faz parte.
Índices de leitura
Em uma pesquisa realizada pela IEA (Associação Internacional para a Avaliação de Conquistas Educacionais) em que as habilidades de leitura de crianças do 4º ano do ensino fundamental são analisadas, o Brasil ocupou a 52º posição de um total de 57 países analisados, sendo esta a primeira vez em que o país é inserido na pesquisa.
Para a Professora do curso de letras da Universidade federal do Acre (UFAC), Claudia Vanessa Bergamini, a posição ocupada pelo Brasil não pode ser facilmente modificada:
“Ler é um hábito a ser construído desde a infância, é possível construí-lo quando adolescente ou adulto, porém é mais difícil.”
A docente salienta que a construção de um leitor competente não pode ser delegado apenas á escola, mais deve ser feito em parceria com a família. Pois, a leitura não é apenas o habito de aprender a decifrar letras, ela começa bem cedo na vida do indivíduo com imagens e gestos “como ensinou Paulo Freire, a leitura do mundo precede a leitura da palavra.”
Outro ponto de fundamental importância para Bergamini, é de que a atividade de leitura em sala de aula, não raro ser usado como complemento para o ensino de gramática ou quando muito de interpretação de texto.
Em relação ao ensino médio, essa característica é medida pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), nela 50% dos estudantes brasileiros possuem nível 1 de leitura, de um total de 5.
Ao comentar esses dados o Prof. Dr. em Educação Pelegrino Santos Verçosa, diz que nos últimos anos, o Brasil tem investido de maneira uniforme em políticas de avaliação de larga escala. De modo que:
“Esses descritores indicam que nossos estudantes não estão bem, como é que nós estamos desenvolvendo essas práticas de leitura, se é pela via mais traumática da imposição curricular, da logica que os estudantes não possuem escolhas.”
Educação literária
A Professora Bergamini ao discorrer sobre a literatura, menciona que ela é ficção e nessa ficção ela permite que o leitor vivencie situações semelhantes ás da vida, ela é verossimilhante, é uma verdade semelhante ao que o homem vive, capaz de provocar sensações de dor, de alegria, de tristeza, de angústia, de euforia, de dúvida, enfim: “ao despertar sensações diversas, a literatura o humaniza, ensina-o e o amadurece.”
Pelo fato de a escola pública ser um local em que indivíduos dispares entre si, convivem, trocam ideias, socializam e adquirem sua própria identidade. A escola deveria ser o espaço de encantamento, de encontro de vivências e de experiências de modo que o aluno encontrasse um significado para os conteúdos ministrados e os utilizasse para sua vida.
Essa é a função da escola defendida pela Prof. Dra. em letras da UFAC, Gisela Maria de Lima Braga Penha. Ela é coordenadora do programa de residência pedagógica/ Capes de Língua portuguesa em Rio Branco.
O projeto trabalha com leitura literária em 3 escolas, tendo a participação de 18 bolsistas, que exercem a docência na educação básica da capital. Aproximando assim a educação superior da realidade educacional, além de promover a interligação entre pesquisa, ensino e extensão.
O projeto de educação literária está embasado no método K, desenvolvido por Lima, para ela “o texto literário é artístico, trabalha a linguagem em sua imensa capacidade de criar significações por meio de um jogo, o qual é capaz de criar plurissignificações.”
Essas plurissignificações seriam responsáveis pela interdisciplinaridade, capaz de estabelecer uma conexão entre as diferentes áreas do conhecimento. Dessa forma ao trabalhar o texto literário, o aluno pode aproximar-se um pouco da escola defendida por Edgar Morin: “a escola deveria ser escola de vida e educar para a vida.”
Tecnologia e literatura
O Acre é o segundo estado brasileiro que mais investiu parte de sua receita na educação, foram 23% dos recursos investidos, dentre eles estão: laboratórios de informáticas, reajuste de salários e kits de informática, além de tablets para os alunos do ensino médio.
Para o Prof. Dr. em Educação Pelegrino Santos Verçosa, esses investimentos são de certa forma tardios, além de não haver sistemas de ensino estadual ou municipal com planejamento adequado para a incorporação desses equipamentos.
“Equipamento por equipamento sem saber utilizar, sem desenvolvimento de práticas de ensino e aprendizagem que de fato tenham significado para o aprendizado do estudante, isso não faz muito sentido”, salienta Verçosa.
Segundo Pelegrino é necessário articular a tecnologia com outras perspectivas de formação do sujeito, pensar no projeto pedagógico como um todo.
Nesse sentido o aspecto dinâmico da literatura contemporânea defendido pela Prof. Bergamini, pode ser aproveitado para seduzir os alunos para a companhia dos livros como um todo, ampliando assim a visão deles sobre a vida e sobre o outro.
Foto .Tiago Soares. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano ás nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu. Érico Veríssimo. Capa, Companhia das letras
Ela complementa que ao ler, vivemos o conflito da personagem; a dor diante da morte; a alegria diante de uma conquista; o ódio a depender das circunstâncias; a euforia; o contentamento; o descontentamento. São infindas as sensações que o leitor pode vivenciar e nesse vivenciar lendo é que amaduremos.
Em uma parte da entrevista a Prof. Gisela Maria sintetiza o proposito de uma educação literária:
“Deveria seguir nesse caminho: mostrar a nossa humanidade e, ao fazê-lo, resgatar algo que ficou um pouco esquecido em nosso mundo tecnológico e líquido: a complexidade humana.
Ao manter viva a culinária típica do Acre, cozinheiro conquista turistas e moradores com sua famosa rabada no tucupi.
No Mercado do Bosque, um prato típico do Acre ganhou status de tradição: a rabada. Preparada há mais de três décadas por Antônio Felinto Alves,, eleviu seu nome atrelado à rabada, além de ser também o Toinho do Tacacá.
A iguaria se tornou referência gastronômica para acreanos e turistas. Seu Antônio iniciou sua trajetória aprendendo com Dora, uma cozinheira tradicional também muito conhecida pelos acreanos. Com o tempo, decidiu seguir carreira solo e consolidar seu próprio negócio. Hoje, acumula 35 anos de experiência e 18 certificados na área gastronômica.
“Quanto mais a gente se aprofunda nos temperos, no jeito de preparar, melhor fica. O segredo da rabada perfeita é cozinhar com carinho e amor, não apenas vender por vender”, afirma. Mesmo com décadas de tradição, Toinho também se adaptou às modernidades. O iFood tornou-se parte fundamental do negócio. “Nos tempos de friagem, chegamos a 90 ou 100 pedidos por dia. Nosso ponto forte é no aplicativo”, explica.
A fama atravessa fronteiras. Segundo ele, os turistas que chegam ao Acre procuram diretamente por seus pratos. “O pessoal, quando vem aqui, me fala que vai levar rabada para Brasília, Goiânia, Santa Catarina. Nosso sabor viaja junto com eles”, relata com orgulho.
Para o comerciante, o segredo do sucesso é manter a fé e a dedicação:“Quando o pessoal diz que está ruim, eu não concordo. Se você tem saúde e acorda enxergando, já é motivo para agradecer a Deus. O resto a gente corre atrás.”
A dor em palavra: Gabe Alódio prepara “A Casa de Vidro”
Após a estreia visceral com Fogo em Minha Pele, autora acreana lança novo romance que mistura silêncio, fragilidade e arquitetura emocional. Foto: Rafaela Rodrigues
O segundo livro de um autor, na maioria dos casos, revela muito mais do que o primeiro.
Se a estreia é a urgência de se apresentar ao mundo, a obra seguinte já nasce sob a consciência de que o público, e a própria autora, esperam algo. É nesse momento que Gabe L. Alódio, escritora acreana de 29 anos, se encontra com “A Casa de Vidro”, romance que será lançado em setembro e lançado em Rio Branco no dia 16 de outubro, às 19h, no Cine Teatro Recreio.
O título não é literal. Trata-se de uma metáfora clara, assumida pela autora, para a fragilidade e a exposição do ego. A casa é moderna, cercada por vidro, mas cada detalhe arquitetônico foi mentalmente desenhado antes da primeira frase. Ela descreve: “Sei onde a luz atravessa os cômodos, onde a vista se abre e onde qualquer pedra provocaria a primeira rachadura. Vejo a Casa de Vidro como uma metáfora para a própria escrita, transparente na linguagem, mas vulnerável na exposição dos temas abordados”.
Da intensidade ao silêncio
Em Fogo em Minha Pele (2024), livro de estreia, Gabe apresentou uma poesia narrativa marcada pela intensidade física e emocional, algo que remete à lírica confessional e a um certo intimismo da tradição modernista.
Já em A Casa de Vidro, essa energia se desloca para o silêncio e para a construção de atmosfera. A autora se aproxima de estratégias de escritores como Marguerite Duras ou Joan Didion, que sabem que a ausência pode ser mais expressiva que a presença.
A protagonista, Sophia, vive isolada com o marido numa casa que funciona como personagem. A narrativa gira em torno da tensão entre manter e perder o controle. Como descreve a própria Gabe, é como equilibrar crises carregando uma bandeja cheia de xícaras empilhadas.
Publicado em 2024, Fogo em Minha Pele apresentou a escrita visceral e confessional de Gabe, marcada por desejo, corpo e memória. Foto: divulgação
Referências cruzadas
O material visual que a autora preparou para orientar a capa é revelador. A arquitetura modernista da Casa Samambaia, de Lota de Macedo Soares, convive com as aranhas de Louise Bourgeois, símbolos de criação e aprisionamento. Há também Maria Callas, figura que sintetiza glória e abandono, e a presença de Dionísio, que remete à ligação entre vinho, prazer e destruição. É uma curadoria imagética que mostra a amplitude de referências da autora, em diálogo com artes visuais, música e mitologia.
Entre o fogo e o vidro
Se o primeiro livro era fogo, ardente e direto, marcado por desejo e paixão, o segundo é vidro: calculado, transparente, mas pronto para quebrar e cortar fundo. Essa mudança revela maturidade narrativa, sem perder a visceralidade que caracteriza a autora.
O desafio agora será ver como A Casa de Vidro dialoga com o leitor. Como diz Gabe: ˜Escrever é fácil, viver é difícil”. Talvez este novo livro seja justamente um gesto de habitar esse difícil, transformando-o mais uma vez em palavra.
A cada segunda-feira, o campus da Universidade Federal do Acre (Ufac) vira palco para a Batalha da Ufac. Criada por um grupo de idealizadores da cena local, entre eles o estudante de Psicologia Davi Nogueira, a batalha é um espaço aberto para jovens expressarem suas histórias e críticas sociais por meio do rap.
O formato das batalhas de rap no Brasil surgiu no início dos anos 2000, inspirado por movimentos internacionais, e se consolidou em grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo.
Em Rio Branco, os eventos vem ganhando força desde a Batalha do Palácio, considerada a mais antiga da cidade, que era realizada às sextas-feiras na praça do Palácio Rio Branco.
Hoje o cenário local conta com eventos como a Batalha da Pista, do Santa Cruz e, principalmente, a Batalha da Ufac, que acontece no Teatro de Arena, conhecido como Coliseu, ao lado do Centro de Convivência.
Davi Nogueira destaca que o objetivo da batalha na universidade é democratizar o acesso à arte e trazer a comunidade para dentro do campus.
“Muita gente achava que não podia entrar aqui. O Coliseu da Ufac é o lugar ideal, com estrutura e visibilidade para um evento cultural”, explica.
Para os participantes, o evento é muito mais que uma disputa de rimas. Apache Shaft, MC que frequenta a batalha, conta que o encontro representa um espaço seguro para trocar experiências, fazer amizades e fortalecer a cultura local. “É meu abrigo nas segundas-feiras. Quanto mais rap, mais cultura, menos crime”, afirma.
Entre o público, o humorista e influenciador Rafael Barbosa valoriza o clima acolhedor da batalha e ressalta a necessidade de maior apoio para o evento crescer. “Aqui tem muita poesia e sentimento, mas faltam som adequado e divulgação do poder público”, sugere.
Momento em que os artistas fazem as batalhas. Foto: Felipe Salgado
Mais do que um show de talentos, a Batalha da Ufac é um importante instrumento de transformação social. Ao abrir as portas da universidade para a periferia, o evento reforça a ideia de que a cultura hip hop pode mudar vidas e fortalecer a autoestima de jovens, muitas vezes marginalizados.
Realizada de forma independente, a batalha conta com apoios voluntários e busca parceiros para ampliar sua estrutura. Na primeira edição, o evento lotou o Coliseu e conquistou mais de mil seguidores nas redes sociais antes mesmo de acontecer: um marco para o rap acreano.