Ufac
Laboratórios na Ufac: como a falta de equipamentos afeta a educação dos alunos
Planejamento Estratégico da universidade precisa tratar da defasagem como ponto crucial
Publicado há
2 anos atrásem
por
Redação
Por: Amanda Oliveira, Kerolayne França e Vitória Lima
A falta de equipamento para as aulas práticas na Universidade Federal do Acre (Ufac) é umas das maiores dificuldades encontradas para garantir um ensino de qualidade, colocando em risco o futuro dos próximos profissionais no mercado de trabalho.
A Lei Orçamentária Anual referente a 2021 — sancionada em 2022, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, trouxe cortes para as universidades federais, sendo impossível seguir com as solicitações que os centros acadêmicos faziam para repor equipamentos. Porém, em 2023, a verba foi novamente reemitida pelo atual presidente Lula, e mesmo assim os laboratórios da instituição continuam apresentando falta de equipamentos.
Realizamos uma pesquisa virtualmente através do Google Forms com os alunos da Ufac, e identificamos com as 25 respostas, que 82,6% dos laboratórios apresentam falta de equipamentos e 69,6% dos professores/alunos precisaram tirar do próprio bolso para comprar materiais para as aulas práticas. Ainda conforme a pesquisa, 84,8% dos alunos se sentem prejudicados e 45,7% acreditam em uma melhoria até a conclusão do curso.

A atual coordenadora do curso de jornalismo, Tatyana Sá de Lima, relatou que nesses dois anos de mandato, foram abertos dois processos para requisição de equipamentos novos, mas a dificuldade enfrentada para serem aprovados é a falta de verba e burocracia. Esses processos passam por diversos setores e quando existe a possibilidade desses equipamentos serem adquiridos, os solicitados há um ano, já estão defasados. A lista de solicitação precisa ser atualizada novamente.
A coordenadora conta também que existe pouco empenho em atender o curso de jornalismo, não só na área de equipamentos, mas também de estrutura, um exemplo citado foi que o bloco está há vários anos sem quiosque e sem xerox. Impactando os alunos de ciências sociais e de humanas. “Estamos entrando para o quarto ano sem esses atendimentos, já aconteceu de ficarmos sem água no bloco, questões como essas são reportadas à prefeitura do campus, e atendidas de certa maneira dentro do prazo deles”.
Tatyana fala sobre a importância de uma ação dos próprios alunos, podendo ser apenas isso eficaz para que esse problema de equipamentos e estrutura possa ser visto pela reitoria. “O centro acadêmico dos estudantes com a atlética precisa estar bem estruturado e contar com o apoio dos professores e coordenadores para lutar, cobrar e protestar de uma forma organizada, conseguindo melhorias para o curso”.
No dia 06 de julho de 2023, o Centro Acadêmico Edson Martins (CAEM) do curso de jornalismo, com os outros centros acadêmicos da Ufac, realizaram uma reivindicação de verba. Questionando o fato da universidade receber 9,3 milhões de reais do Ministério da Educação e Cultura (MEC) para recomposição orçamentária, e não prestar contas publicamente do destino desse dinheiro, sendo que os equipamentos dos laboratórios de ensino da Ufac necessitam de renovação.
Em uma conversa com a tesoureira do CAEM, Isabelle Caroline Freitas, ficou claro que eles pretendem fazer uma nova reunião com os coordenadores, colegiado, professores e alunos do curso de jornalismo, para recolher suas assinaturas e fazer mais uma solicitação de novos equipamentos para os laboratórios. Destacando ainda “por ser um curso noturno e muitas pessoas estarem ocupadas no dia, fica difícil realizar uma grande mobilização”.
A esperança de ter melhoria nos laboratórios chega a ser impossível para o professor doutor e pesquisador do curso de física da Ufac, José Carlos de Oliveira (conhecido como Ponciano), que expressa em sua fala à decepção de não poder contar muito com a universidade sobre o reparo dos equipamentos e materiais para uso dos alunos. “A mais de quarenta anos tiro do meu bolso para continuar minhas pesquisas e aulas práticas, já que a reitoria não desembolsa 20 milhões de reais só para restaurar os laboratórios do curso, visto que em 2014 o ex-reitor da universidade, Minoru Kinpara, prometeu essas melhorias e não mudou muita coisa”.


A pandemia foi um acontecimento traumático que causou muitas perdas, e dentre estas estão os equipamentos dos laboratórios de física e jornalismo da universidade, que ficaram inutilizáveis em período de quarentena, fazendo com que ficassem inutilizáveis, devido ao tempo guardado nos laboratórios.
O vice-coordenador do curso de engenharia civil, Júlio Roberto, destacou que existem mais de quinze equipamentos de topografia que servem para medir o relevo. Porém, “somente três estão funcionando, tudo isso porque ficaram dois anos parados”.
Existem ainda problemas na estrutura dos laboratórios, sendo eles as goteiras do laboratório de desenhos, que quando chove molha os materiais e causa mofo nas paredes. Além do piso do laboratório de computadores, que está descolando, podendo causar tropeços e quedas.


Segundo o pró-reitor de planejamento da Ufac, Alexandre Hid, para o problema dos equipamentos, os alunos têm a liberdade de entrar com os trâmites necessários para tentar uma solução. “Cada caso é um caso, dependendo do tipo de material, sendo necessário inicialmente o curso verificar a existência do material no almoxarifado”. Na sua inexistência, solicitar com antecedência, por meio de processo orientado pela Pró-Reitoria de Administração, com a aquisição obedecendo aos prazos previstos.
Como já há diversos processos solicitando material e até laboratório, o coordenador afirma que os documentos podem não ter tido retorno por “falha em especificações e até dificuldades para contratação de profissional ou empresa qualificada para a manutenção. O SEI possibilita o acompanhamento dos processos passo a passo, possibilitando a verificação de eventual falha de instrução ou dificuldade de contratação”.
Neste ano, a Ufac está realizando o planejamento estratégico 2024 – 2033, que busca qual caminho a universidade deve trilhar, realizando pesquisas para encontrar possíveis obstáculos no âmbito acadêmico, como o funcionamento da distribuição de recursos. Tendo em vista esse planejamento, é essencial que essa defasagem nos laboratórios seja um dos principais pontos a serem trabalhados, uma vez que a prática é a experiência que os alunos terão antes do mercado de trabalho.
O documento que será produzido conta com o apoio dos centros acadêmicos da universidade para haver uma orientação exata do que fazer nos próximos anos. O pró-reitor de planejamento da Ufac, Alexandre Hid, destacou a importância da comunidade acadêmica nessa construção. “No Planejamento Estratégico definem-se objetivos da instituição em consonância com sua missão institucional a fim de construir o futuro desejado. Assim, a participação da comunidade universitária e externa é importante considerando este viés”.
É importante que as representações da universidade estejam unidas nessa frente. A defasagem de equipamentos não é um problema atual, mas de décadas, alguns pontos vêm sendo melhorados ao longo dos anos. A maioria dos cursos possui uma estrutura, contudo, a distribuição de recursos e levantamento do que exatamente cada laboratório precisa ter, sempre está sendo feita de forma prioritária. Não é conveniente que os estudantes fiquem sem experiência prática e/ou precisem utilizar do próprio dinheiro para conseguir ter esses momentos de estudos, de imensa importância.

A professora de fotografia do curso de Jornalismo da Ufac, Aleta Dreves, afirma que o curso exige experiências práticas para formação profissional dos discentes.
“Penso que os laboratórios do curso de jornalismo são importantes para a formação completa do nosso aluno, pois nosso curso exige muito da prática e não apenas de produção textual, acredito que nossos alunos estão com essa deficiência quase que total nesse momento. Desde a primeira turma de jornalismo temos uma formação deficitária em se tratando das práticas com equipamentos profissionais. Hoje temos uma vantagem, bons celulares fazem milagre, mas não podemos contar que cada aluno possa ter um bom celular”, disse.
A professora também acredita que os laboratórios e equipamentos do curso de Jornalismo não seriam aprovados caso houvesse uma avaliação do Ministério da Educação (MEC).
“Se tivéssemos hoje uma visita do MEC, certamente nossos laboratórios não passariam na avaliação. Enquanto essa visita não vem, a universidade parece não entender a obrigatoriedade da aquisição e reestruturação dos laboratórios”, afirmou.
Segundo a professora Aleta Dreves, “é preciso oferecer aos alunos a oportunidade do manuseio de equipamentos profissionais da profissão que escolherem seguir”.
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Ufac
Startups na Ufac
Comunidade acadêmica desenvolve pesquisas que fortalecem o empreendedorismo na Amazônia. Foto: Autores
Publicado há
2 dias atrásem
22 de agosto de 2025por
Redação
Por Emily Cristina, Mariana Moreira e Franciele Julião
A busca pela liderança e fomento ao empreendedorismo são alguns dos fatores que incentivam acadêmicos da Universidade Federal do Acre (Ufac) a apostarem em iniciativas como startups para expandir seus conhecimentos e práticas para além dos muros da instituição.
As startups são empresas baseadas em tecnologias digitais, que surgem a partir de ideias inovadoras. Ao transformar pesquisas e projetos em novos empreendimentos, os estudantes criam novas oportunidades no mercado de negócios.
Espaços disponibilizados na universidade, como o SebraeLab e órgãos como o Núcleo de Gestão do Conhecimento e da Tecnologia (NGCTEC) e o Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) são aliados importantes para o apoio dessas iniciativas.
Segundo o coordenador do NGCTEC e assessor de comunicação da Ufac, Gilberto Lobo, estudantes de todos os cursos podem participar, desenvolver suas ideias e procurar a instituição para auxiliar no seu crescimento, com divulgação de bolsas em parceria com o Sebrae no Acre, Ifac e outras instituições.
Inaugurado na universidade em 2018, o SebraeLab tem o objetivo de incentivar e estimular a criatividade e a inovação como apoio essencial para os estudantes se inserirem no ambiente empresarial. A iniciativa tem 37 startups em diferentes estágios de desenvolvimento, dentro dos campus. Para participar, os universitários devem apresentar uma proposta baseada em pesquisa, com a possibilidade de ser transformada em um modelo de negócio.

Espaço é um fortificador da tecnologia dentro do campus. Foto: Autores
Identidade regional
O estúdio Moonlight Games está entre os destaques de projetos inovadores. Liderado por André Lucas, que desenvolve o jogo Carbon Zero, o game propõe uma reflexão sobre as mudanças climáticas e seus impactos no cotidiano, conectando entretenimento digital e questões urgentes da atualidade.
O projeto nasceu durante uma competição estudantil e cresceu com a ajuda do Sebrae, que oferece suporte técnico e orientação para a estruturação do estúdio como uma startup.
“A gente quer criar algo que seja marcante e mostre a capacidade que a nossa região tem. Trabalhamos com temas ambientais e sociais que fazem parte da nossa realidade aqui no Norte”, explica André Lucas.
A professora do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza da Ufac, Almecina Balbino Ferreira, enfatiza que a inovação não se limita às áreas tecnológicas, mas pode ser aplicada em diversas áreas do conhecimento.
“É importante frisar que a inovação não se dá apenas nas áreas tecnológicas e biológicas, mas nas áreas sociais de ciências sociais que podem entrar com outras metodologias. Você pode inovar com processos e com métodos”, afirma.

Almecina Ferreira é professora da Ufac. Foto: Autores
Outro projeto promissor busca enfrentar deficiências nutricionais com uma solução sustentável: um suplemento alimentar com alto teor proteico, feito a partir de plantas nativas da Amazônia. O produto está sendo desenvolvido com suporte da Ufac em pesquisas laboratoriais. “O objetivo é suprir demandas nutricionais da população como ingredientes que temos aqui na região, mas que ainda são poucos explorados”, destaca Rayane Silva.

Trabalho objetiva suprir as necessidades da população da região. Foto: Autores
Avanços e desafios
João Pedro dos Santos está à frente de uma proposta inovadora: a criação de um bioproduto à base de cravo-de-defunto, planta medicinal com potencial para controlar micro-organismos patogênicos em áreas contaminadas.
A ideia é que o produto possa ser aplicado em áreas inutilizadas e contribua com a recuperação de espaços afetados. “A Ufac tem nos ajudado com áreas de cultivo e laboratórios para análise química. O Sebrae entra com a parte de modelagem do negócio”, conta João Pedro.
Apesar do entusiasmo, os jovens enfrentam desafios importantes. Um deles é a defasagem curricular em cursos da área de tecnologia, como aponta André Lucas: “Nosso curso tem grade de 2012. Para uma área que muda tão rápido, isso é muito ultrapassado. Faltam disciplinas atualizadas e práticas que realmente preparem a gente para o mercado.”
Ufac
Com apoio da Motorola, Pavic-Lab forma nova geração de cientistas da computação pela Ufac
Com R$ 12 milhões de investimento da Motorola, Pavic-Lab conta com infraestrutura moderna, incluindo estações de trabalho e ambientes colaborativos. Foto: Luanna Lins/Ufac
Publicado há
1 semana atrásem
15 de agosto de 2025por
Redação
Por Bruno Firmino, Carlos Alexandre, Inayme Lobo e Luanna Lins
Como exemplo do potencial tecnológico e acadêmico que emerge da região Norte do Brasil, destaca-se o Centro de Pesquisa Aplicada e Treinamento de Novas Tecnologias em Visão e Inteligência Computacional (Pavic-Lab), da Universidade Federal do Acre (Ufac). O projeto já alcançou dezenas de estudantes e pesquisadores oferecendo infraestrutura de ponta e um programa estruturado de formação acadêmica e técnica, com foco em visão computacional.
O PAVIC-Lab é resultado de uma parceria entre a Ufac, a Motorola, a Flextronics e a Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão Universitária no Acre (Fundape), viabilizada por meio da Lei de Informática (Lei nº 8.248/1991).
Instalado no campus-sede da UFAC em Rio Branco, o laboratório é voltado à pesquisa aplicada nas áreas de visão computacional e inteligência artificial. Com investimento superior a 9 milhões de reais até 2024, o espaço oferece estrutura de ponta para que estudantes de graduação e pós-graduação desenvolvam soluções tecnológicas com aplicações em áreas como saúde, agricultura, meio ambiente e sensoriamento remoto.
Apesar do apoio privado, o Pavic-Lab mantém independência acadêmica e tem como foco a formação científica e técnica. Foto: Luanna Lins/Ufac
O laboratório é coordenado pela professora Ana Beatriz Alvarez, que destaca o papel transformador do projeto para os estudantes envolvidos. O ambiente do PAVIC reúne bolsistas da graduação, mestrado e também alunos externos, que participam de treinamentos técnicos com certificação de 300 horas. Os projetos desenvolvidos no espaço se concentram no aprimoramento de imagens digitais, com aplicação de algoritmos de inteligência artificial para remover sombras, neblinas ou melhorar áreas degradadas, sempre com potencial de aplicação prática em problemas reais da Amazônia e de outras regiões.
Para a professora Ana Beatriz, o diferencial do PAVIC está na autonomia científica e no incentivo à produção de conhecimento. “A Motorola não define o que pesquisamos. Nossa autonomia científica é total”, afirma. A estrutura avançada, que inclui uma GPU Farm exclusiva, garante condições ideais para o desenvolvimento de pesquisas complexas que antes não eram possíveis na universidade.
Professora Ana Beatriz Alvarez destaca a importância dos incentivos à tecnologia para o desenvolvimento científico na região. Foto: Luanna Lins/Ufac
O impacto do laboratório pode ser medido em números. Ao completar três anos de atividade, o PAVIC Lab já se consolida como um dos núcleos mais produtivos da UFAC. O laboratório contabiliza 26 publicações científicas, muitas delas em periódicos classificados entre A1 e A4 no sistema Qualis CAPES, além de sete dissertações de mestrado e cerca de 11 trabalhos de conclusão de curso. Os alunos também têm participado de conferências científicas nacionais e internacionais. Segundo a professora Ana Beatriz, coordenadora do projeto, o PAVIC responde atualmente por cerca de 47 por cento das publicações do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da UFAC, o que demonstra a importância do centro para a consolidação da pesquisa em tecnologia dentro da universidade.
Atualmente, o laboratório está em reforma para ampliar sua área física e atender à crescente demanda de estudantes. A nova configuração prevê espaços dedicados para grupos de estudo, produção técnica e reuniões, tornando o ambiente mais dinâmico e colaborativo.
Enquanto expande sua infraestrutura, o PAVIC-Lab também amplia suas perspectivas. Com a quarta turma do treinamento técnico em andamento e novos projetos em fase de submissão. Mais do que formar programadores ou cientistas, o laboratório ajuda a construir novas trajetórias de vida baseadas em pesquisa, colaboração e pertencimento.
Equipe do Pavic-Lab levou experiência do Acre ao Congresso Internacional de Engenharia Eletrônica e Aplicações (Elecon 2023) em Cusco, Peru. Foto: Cedida
Nova geração de pesquisadores
O laboratório já coleciona conquistas coletivas com cerca de 26 artigos científicos publicados, parcerias internacionais e ex-alunos que seguem para o mestrado com uma base sólida em pesquisa aplicada.
Entre os talentos revelados pelo Pavic está Thuanne Paixão, pesquisadora plena, formada em Sistemas de Informação com mestrado em Ciência da Computação. Ela conta: “Quando ingressei no projeto, estava desenvolvendo minha pesquisa de mestrado sobre controle de um sistema robótico de coluna lombar 3D. Graças ao laboratório, consegui divulgar esse trabalho em conferências nacionais e internacionais. E hoje, atuo orientando alunos e contribuindo com artigos científicos”.
Thuanne Paixão apresentou seus estudos em eventos nacionais e internacionais após experiência no laboratório. Foto: Luanna Lins/Ufac
Outro destaque é Clécio Elias Silva, atualmente mestrando em Ciência da Computação, que também iniciou no Pavic durante a sua graduação: “Meu primeiro projeto foi um classificador de padrões em imagens de ultrassom pulmonar. Depois, segmentei nódulos cancerígenos em imagens de mama e trabalhei com doenças em folhas de café. Hoje, pesquiso a reconstrução de ambientes internos 3D. Tudo isso graças à base que recebi no Pavic”.
Clécio Elias iniciou no Pavic ainda na graduação e hoje desenvolve pesquisas em reconstrução de ambientes 3D no mestrado. Foto: Luanna Lins/Ufac
Descobrindo-se pesquisadora
A transformação promovida pelo projeto também é visível na trajetória de Emili Bezerra, um exemplo de como o investimento em pesquisa científica pode transformar trajetórias. Ela entrou no Pavic no último ano da graduação em Engenharia Elétrica sem qualquer experiência em pesquisa, programação ou leitura técnica em inglês, mas rapidamente encontrou seu caminho no geoprocessamento e desenvolveu uma pesquisa sobre ilhas de calor em Rio Branco, tema que resultou em seu trabalho de conclusão de curso.
Emili Bezerra foi aprovada em doutorados após publicar sete artigos e hoje pesquisa no ITA, levando a ciência acreana a outros estados. Foto: Cedida
Mais do que aprendizado técnico, Emili destaca o crescimento pessoal que viveu no projeto. “Aprendi a lidar com frustrações e a resolver problemas com o que tinha em mãos. Foi ali que percebi que eu podia ser pesquisadora, uma possibilidade que nunca imaginei”. Ao longo do mestrado, orientado pela professora Ana, Emili publicou sete artigos e, posteriormente, foi aprovada em diversos programas de doutorado, optando pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP), onde segue em uma nova linha de pesquisa.
Para ela, o Pavic tem papel essencial na promoção da ciência na região Norte: “Foi minha porta de entrada, não só pelo suporte financeiro, mas pelo ambiente de troca e descoberta. Aprendi a trabalhar em equipe, desenvolver minhas ideias e trocar experiências com outros profissionais”.
Quanto ao potencial da vida acadêmica, ela aconselha: “Se você gosta de ler e se desafiar, entre para a pesquisa. Não é um universo fácil, frustrante muitas vezes, mas é incrível quando tudo dá certo. Graças ao Pavic conseguimos várias publicações, participamos de eventos, viajamos para outros estados e até mesmo outro país, foi uma experiência transformadora.
Ufac
A vida de quem sai de casa para estudar
Longe da família, alunos de municípios do interior encaram os desafios de permanecer no ensino superior
Publicado há
2 semanas atrásem
11 de agosto de 2025por
Redação
Por Yana Vitória
Conquistar uma vaga em uma universidade pública representa, para muitos jovens do interior, somente o primeiro passo de um desafio ainda maior. Após vencer o Enem, começa a batalha pela permanência: deixar a casa da família, mudar-se para a capital ou para um município próximo e enfrentar o peso financeiro, emocional e social de um projeto de vida que, muitas vezes, depende do apoio de políticas públicas para não ser interrompido.
Na Universidade Federal do Acre (Ufac), essa realidade é vivida principalmente pelos estudantes vindos do interior, que precisam buscar em Rio Branco e Cruzeiro do Sul cursos inexistentes em suas cidades de origem. A política de assistência estudantil tenta amenizar essas dificuldades, mas enfrenta limitações para garantir condições adequadas a todos.
A precariedade do transporte público, a distância das zonas rurais e a ausência de políticas que atendam plenamente esses alunos deixam muitos em situação de vulnerabilidade. Há quem passe o dia inteiro fora de casa para assistir a poucas horas de aula. Outros, sem conseguir arcar com o custo das passagens, acabam prejudicando sua frequência. E há ainda quem precise deixar sua cidade, o emprego e a família para tentar a sorte na capital, muitas vezes sem o apoio necessário para se manter.
“A gente sabe que não consegue alcançar todo mundo que precisa”, reconhece Cydia de Menezes Furtado, diretora de Apoio Estudantil da Ufac. Segundo ela, a universidade atua com recursos do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), cuja maior parte — entre 60% e 65% — é destinada à manutenção dos Restaurantes Universitários (RUs). O restante se divide entre bolsas e auxílios, conforme o número de estudantes de cada campus. “Tentamos contemplar o maior número possível de estudantes, mas há limites impostos pelo orçamento”, explica.
Apoios e limites
Entre os principais auxílios estão o auxílio moradia, voltado a quem vive longe da família, e o auxílio-transporte intermunicipal, destinado a estudantes de cidades próximas, como Bujari, Porto Acre e Senador Guiomard. Além deles, o passe estudantil garante acesso ao transporte urbano em Rio Branco.
Em Cruzeiro do Sul, a Ufac mantém uma residência estudantil com 26 vagas, destinada a alunos em situação de vulnerabilidade. O espaço oferece moradia, bolsa mensal, transporte, refeições gratuitas no RU e suporte social e psicológico.
Na capital, entretanto, a iniciativa não foi replicada, com a justificativa de que manter uma residência estudantil exige boa estrutura, equipe e orçamento. “A universidade passa a ser responsável pelos moradores, incluindo alimentação e acompanhamento social. Por isso, em Rio Branco, optamos por conceder o auxílio moradia em dinheiro, uma alternativa mais viável dentro da nossa realidade orçamentária”, afirma Cydia Furtado.
Ainda assim, a diretora admite haver uma cobrança constante dos alunos para que a Ufac também ofereça moradia na capital, onde a demanda é muito maior.
Luta pela permanência
A busca por oportunidades em Rio Branco exige dos estudantes mais do que adaptação. Requer estratégias de sobrevivência. A trajetória de Sandy Andrade, estudante de Engenharia Florestal, retrata bem essa realidade. Natural de uma comunidade rural de Boca do Acre, ela precisou se mudar para a capital ainda no ensino médio, diante da falta de oferta educacional em sua cidade.
“Tive que correr atrás. Morei com parentes, depois fui para apartamento, sempre tentando me manter. Trabalhei, procurei estágio, vendi produtos. O custo de vida aqui é alto. Os auxílios ajudam, já fui contemplada algumas vezes e pude contar com o valor da bolsa para o aluguel, além de fazer minhas refeições no RU. Mas é preciso coragem para enfrentar tudo isso. E quem não tem família em Rio Branco sente ainda mais”, relata Sandy.
O relato de Sandy, assim como o de tantos outros estudantes, reflete um cotidiano onde a permanência universitária está ligada à luta diária. Histórias de jovens que vendem doces, fazem trabalhos informais ou dependem de familiares para conseguir continuar estudando são comuns e revelam que, apesar dos esforços institucionais, a assistência ainda não supre as reais necessidades.
Embora garantido por lei, o apoio estudantil depende diretamente dos repasses federais. A Ufac participa de fóruns nacionais e reforça a necessidade de revisão da matriz orçamentária, especialmente para as regiões norte e nordeste, onde os índices de vulnerabilidade social são mais elevados.
Além das bolsas e auxílios, a universidade mantém estágios remunerados e busca alternativas para evitar a evasão, apostando em ações que garantam a permanência e a conclusão dos cursos.
Entre o esforço diário, o cansaço e a resistência, estudantes do interior seguem buscando formas de permanecer na universidade, enfrentando as incertezas de um sistema que ainda não consegue garantir segurança a quem deixou sua terra natal em busca de um futuro melhor.

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