Siga a Catraia

Cotidiano

6 anos sem padre Paolino

Publicado há

em

Por Pamela Caetano, Márcio Levi e Ediogley Levi

Vaticano autoriza processo que pode levar a beatificação do religioso

Baldassari era conhecido e respeitado pela defesa que fazia dos mais necessitados – Foto Uol

Padre Paolino Maria Baldassari morria, no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), no dia 8 de abril de 2016, vítima de falência múltipla dos órgãos, depois de passar 11 dias internado, aos 90 anos de idade. Nessa data, o Acre perdia um dos maiores líderes religiosos do último século.

Sua partida comoveu pessoas de diversos segmentos da sociedade. Autoridades e populares compareceram para dar seu último adeus ao religioso, na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, localizada no município de Sena Madureira, a cerca de 154 km da capital Rio Branco. A pedido do padre em vida, seu corpo foi sepultado nas dependências da Igreja.

O religioso era muito reverenciado na região, dezenas de pessoas passavam diariamente pela sede da Igreja para ter contato com o padre. Além dos ensinamentos espirituais, Baldassari sempre ajudava os fiéis com receitas de remédios naturais, extraídos da floresta, ensinamentos que adquiriu durante suas viagens missionárias pelos rios da região, em contato com os povos indígenas e ribeirinhos. Nascido na Itália, o padre já estava em Sena Madureira há quase meio século. 

Seis anos após sua morte, o legado do “missionário da floresta”, como era carinhosamente chamado pela comunidade, permanece vivo. Diariamente, fiéis visitam seu túmulo para realizar suas preces e em busca de medicamentos naturais à disposição em um espaço reservado na sede da igreja.

Desde sua morte, algumas medidas por parte do poder público foram realizadas no intuito de manter viva a memória e os ensinamentos de Padre Paolino. Recentemente, um memorial que leva seu nome foi entregue pela prefeitura do município à administração da igreja. Segundo o prefeito do município, Mazinho Serafim, o memorial é apenas uma das ações concretas em homenagem ao líder religioso.

Local reúne livros, quadros, fotografias, presentes recebidos entre outras curiosidades da vida do religioso – Foto Ascom/PMSM

“Entregamos o Memorial Padre Paolino para a administração da igreja há cerca de dois meses. Lá é possível conhecer melhor a história desse homem incrível que foi o padre Paolino. Além disso, sancionamos a lei que criou a maior comenda do município, a medalha que leva o nome dele. Ele foi um homem que só fazia o bem, era um santo, vamos sempre buscar fazer o possível para que sua memória e legado esteja sempre presente”, comentou o prefeito.

Governador do Estado Gladson Cameli foi a primeira pessoa a receber a honraria – Foto Neto Lucena

Para o jornalista Jota Guimarães, profissional que acompanhou de perto o trabalho do religioso por mais de 30 anos, Padre Paolino era alguém que pensava sempre além do seu tempo, e a educação era um dos pilares de sua vida.

“Paolino deixou um legado indiscutível para a população da região. Ele construiu mais de sessenta escolas, e por bom tempo ele pagava o salário dos professores, para implantar nos locais mais distantes o processo de alfabetização. Boa parte dessas escolas, após fundadas e já funcionando acabaram sendo transferidas para o poder público e hoje fazem parte da rede de ensino. Ele foi quem mais combateu o analfabetismo na região do Purus. Em Sena Madureira, independente do credo religioso, é possível identificar em quadros de fotografias a presença do padre em um momento feliz da família. Sua história de vida nos remete ao pensamento de que fazer o bem é a verdadeira essência de viver bem”, disse o jornalista.

Paolino pode ser beatificado pelo Vaticano

Recentemente uma informação chamou atenção da comunidade católica e dos meios de comunicação locais: o processo de beatificação de Padre Paolino. No entanto, para que o procedimento seja firmado, alguns critérios devem ser apresentados. Um deles é a constatação de dois milagres realizados com o auxílio do padre, a respeito de situações comprovadas em que a ciência já teria descartado um resultado positivo.

Para buscar identificar algum milagre com ajuda do religioso, a direção da Igreja Nossa Senhora da Conceição, do município de Sena Madureira, encarregada de atender às exigências do Vaticano, deu início em 21 de maio de 2022, à primeira fase do processo na prática.

Houve um evento, realizado no auditório da Escola Messias Rodrigues, marcado com inúmeras homenagens ao padre e prestigiado por centenas de pessoas da comunidade católica. E teve como ponto de partida a formação de um grupo de pessoas que ficaram à frente das buscas e análises dos milagres.  

Frei Ivan Siqueira, que acompanha os trabalhos, falou o que significa o momento do processo. “Essa fase é muito importante porque será fomentada a devoção do povo. Serão distribuídos folhetos com a imagem do Padre Paolino e suas orações. É uma forma de identificar suas obras”, comentou o frei.

Folheto será distribuído para a comunidade em geral – Foto Ascom

Ainda segundo Ivan Siqueira, o grupo formado pela igreja tem entre seus integrantes, padres canonistas e pessoas da sociedade civil, e o processo não tem tempo determinado para terminar. “Uma vez que surgir notícias de algum milagre, inicia-se a fase de estudos para saber se de fato o relatado ocorreu. Isso leva muito tempo”, finalizou o Frei Ivan Siqueira.

Continue lendo
Clique para comentar

Deixe sua mensagem

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Avaliação

Cerca de 17 mil animais são vítimas de abandono no Acre e número aumenta a cada ano

Publicado há

em

Por Arielly Casas, Lucas Sousa e Gabriela Queiroz

O município de Rio Branco registra um número de quase 17 mil animais abandonados, segundo o Centro de Zoonoses da Prefeitura de Rio Branco. Esse dado também reflete uma realidade nacional, na qual 25% dos cães e 26% dos gatos estão em situação de abandono, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Um exemplo é o caso de Mimoso, mascote adotado pela clínica veterinária Cães & Cia. Um dos médicos veterinários da clínica, Denis Costa, conta que o gato foi levado há mais de um ano pelo cuidador que o abandonou. O animal estava com uma miíase (infestação da pele por larvas de moscas que se alimentam do tecido do hospedeiro) na cabeça.

Costa também relata que foi um caso difícil de tratar e que ninguém acreditava na recuperação. Agora, após 18 meses, Mimoso está totalmente recuperado.

“O mascote que nós temos aqui, ninguém acreditava que estaria vivo. Era um caso em que ninguém confiava, e agora ele está esbanjando saúde”, disse o veterinário.

Na imagem, o veterinário Denis e o mascote Mimoso. Foto: Lucas Sousa

Esse não é o único registro de casos assim. Trata-se de uma questão alarmante, que cresce cada vez mais e configura um crime previsto na legislação brasileira. Segundo o artigo 32 da Lei Federal nº 9.605/1998, o abandono e os maus-tratos contra animais são crimes, com pena de três meses a um ano de detenção, além de multa. Em 2020, houve uma modificação, aumentando a pena para dois a cinco anos de reclusão, conforme a Lei Federal nº 14.064/2020.

ONGs

Um dos maiores desafios enfrentados pelos ativistas de Organizações Não Governamentais (ONGs) é o alto custo dos tratamentos para os animais resgatados. Vanessa Facundes, presidente da ONG Patinha Carente, explica que a organização não consegue realizar o resgate de todos os animais devido as dívidas acumuladas com as clínicas veterinárias.

“Gostaríamos de poder resgatar todos, mas temos dívidas muito altas nas clínicas veterinárias particulares”, argumentou a presidente da ONG.

Projeto de Lei

No Acre, dos 24 deputados estaduais, Emerson Jarude (NOVO) defende a causa animal e já possui um projeto de ação em parceria com a Universidade Federal do Acre (Ufac): o Projeto Cuidar, que tem como objetivo atender aos animais de rua. Instituições e ONGs que realizam trabalhos com esse foco também serão beneficiadas pelo projeto.

Jarude também anunciou o lançamento de um novo projeto: o Pet Farm (Farmácia de Pet), que será uma extensão do Projeto Cuidar.

“O Pet Farm é uma forma de conseguirmos disponibilizar medicamentos para os animais e auxiliarmos após o tratamento feito dentro desse projeto”, afirmou.

Poder público

A equipe de reportagem tentou contato com o Centro de Zoonoses da Prefeitura de Rio Branco para comentar a situação, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para qualquer posicionamento ou esclarecimento por parte do poder público.

A crescente população de animais abandonados em Rio Branco evidencia a urgência de políticas públicas efetivas, parcerias institucionais e o engajamento da sociedade civil. Proteger os animais é também um dever social e legal, que exige mais do que boa vontade, é preciso ação.

Continue lendo

Cotidiano

Do papel às telas: a transição do jornal impresso acreano para o digital

Publicado há

em

por

Por Ana Luiza Pedroza, Ádrya Miranda, Daniel de Paula e Wellington Vidal

 

O jornal impresso, símbolo histórico e cultural no Acre, começa a se despedir lentamente do cotidiano da população. A era digital assume o protagonismo, apostando em novos formatos de levar acesso à informação, no entanto, sem apagar o legado construído pelo impresso na história acreana.

Apesar dos esforços para reinventar o jornalismo local, a transição do impresso para o digital trouxe grandes desafios. No Acre, essa movimentação ocorreu de forma tardia, mas com a contribuição de jornalistas que se desdobram diariamente para acompanhar as mudanças no modo de noticiar, mantendo o compromisso social com a população.

Entre os obstáculos, a pandemia de Covid-19 foi um dos que aceleraram o declínio dos jornais impressos em todo o país, e no Acre não foi diferente. O A Gazeta, um dos veículos mais populares do estado, foi diretamente impactado.

Rotativa, máquina utilizada na impressão dos jornais A Gazeta. Foto: Ádrya Miranda

Fundado em 1985, sob direção de Silvio Martinello e Elson Martins, o jornal se destacou pelo jornalismo investigativo e de cunho social, sendo pioneiro em projetos editoriais gráficos com diagramação no impresso acreano. Foi por meio de suas páginas que os acreanos acompanharam coberturas históricas, como o assassinato do sindicalista Chico Mendes.

Em 1998, tornou-se o primeiro jornal a circular em cores no estado, com até 3.500 exemplares vendidos em dias movimentados, segundo Silvio. Apesar das inovações com o jornal impresso, o veículo enfrentou as adaptações tecnológicas do século 21. O portal online, criado ainda nessa fase, tinha estrutura simples, servindo apenas para replicar, de forma reduzida, as notícias do jornal físico.

À esquerda, Maíra Martinello; ao fundo, Paula Martinello; e à direita, Silvio Martinello. Foto: Arquivo pessoal

A edição impressa teve o seu fim em 2021, após uma expressiva queda nas vendas. Paula Martinello, jornalista do A Gazeta do Acre, relata que a migração definitiva para o digital foi desafiadora e impulsionada pela pandemia. “Foi um processo muito gradativo, porque o trabalho online não é fácil. É muita concorrência, é um outro tipo de público e perfil de consumo da notícia”, comenta.

Para os jornalistas do A Gazeta, hoje, A Gazeta do Acre, o desafio não foi apenas adaptar-se ao ambiente online, mas reinventar a rotina de produção jornalística sem abrir mão da credibilidade construída. Segundo Maíra Martinello, foram necessárias estratégias para garantir a sobrevivência e a relevância no meio digital, que exige mais agilidade, versatilidade e presença em todas as plataformas.

“A gente foi entrando nesse mundo online, digital. Claro que tem pontos positivos, como o custo mais baixo, a praticidade e a democratização do acesso à informação. Mas a era digital exige muito mais do jornalista, que hoje precisa escrever, gravar vídeo, áudio, editar, usar várias ferramentas ao mesmo tempo”, explica.

A transição da notícia do impresso para o ambiente digital, embora tenha sido impactante para todo o campo jornalístico, foi recebida de maneira diferente por cada veículo, conforme suas particularidades. Outro nome importante da imprensa acreana, como o jornal O Rio Branco, também enfrentou esses momentos de transformação.

Portal de notícias oriobranco.net. Foto: Ádrya Miranda

Mendes também reforça a necessidade dos jornalistas manterem seu compromisso social, mesmo diante das mudanças impostas pela era digital. “Se vocês forem jornalistas e pretenderem ser responsáveis, não esperem que a notícia chegue até vocês. Vocês têm que ir atrás da notícia”, conclui.

Essa transformação também é percebida por leitores que acompanharam de perto o auge das edições impressas no Acre. “Porque o jornal é um documento, então ele vai ficar ali para sempre”, comenta o jornalista e leitor assíduo Gleilson Miranda, de 55 anos, ao destacar que o jornal impresso carrega um valor que vai além da notícia do dia, mas também a documentação de histórias.

Segundo ele, com o jornal impresso era possível encontrar experiências afetivas, que marcavam seu momento de leitura.

“O jornal é impresso, tem esse charme, tem essa coisa de você sentar, tomar um café e folhear as páginas, lendo as principais notícias. Isso era muito bom para a época. Hoje você tem essa notícia mais rápida. Notícia que chega muito rápido”, afirmou Gleilson, ao relembrar as sensações que os impressos lhe proporcionaram.

A transição dos jornais impressos para os portais digitais no Acre marca uma mudança profunda no modo de fazer e consumir jornalismo. Conhecer a história da imprensa local, com a contribuição das edições do A Gazeta e O Rio Branco, é essencial para entender o papel que esses veículos tiveram na formação da identidade e da memória do estado.

Edição impressa O Rio Branco. Foto: Arquivo Espaço Cultural Palhukas

Para Narciso Mendes, atual proprietário da TV Rio Branco, o impresso no Acre carrega o legado de muitas figuras marcantes da história local. No entanto, a migração do jornal impresso O Rio Branco para o meio online não teve o mesmo peso como teve para os demais veículos.

Continue lendo

Cotidiano

Mulheres jornalistas superam dificuldades e levantam questões importantes para a sociedade

Publicado há

em

por

Um estudo realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) mostrou que em 2021 49% das mulheres jornalistas sofreram ataques de gênero sendo desqualificadas com ofensas e xingamentos. No meio digital, o número sobe para 56,76%. Em uma área historicamente dominada por vozes masculinas, apesar das dificuldades as mulheres estão se destacando cada vez em maior número e trazendo à luz temáticas importantes para a sociedade.

Juliana Lofêgo, professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre, diz que a presença das mulheres está influenciando na cobertura de questões sociais, culturais e políticas. Para Lofêgo, elas têm desempenhado um papel significativo em destacar questões de violência contra mulheres e assédio, garantindo que essas problemáticas não sejam esquecidas ou minimizadas pela mídia. “Com o avanço do movimento feminista e as mudanças sociais, as mulheres jornalistas têm sido influenciadas a trazer à tona essas questões, mesmo que isso não tenha sido comum no início de suas carreiras”, complementa.

Consuela Araújo é jornalista formada pela Ufac e atua na área de assessoria de imprensa, ela relata que como jornalista mulher enfrentou estereótipos de gênero e discriminação ao longo da carreira, principalmente fora do jornalismo. Já no telejornalismo, outro campo onde atuou,  diz ter sido bem acolhida por colegas e pela comunidade, entretanto considera que a busca pela igualdade de oportunidades continua sendo uma luta constante. Araújo aconselha as futuras profissionais a buscarem aprimoramento, construir uma rede de contatos sólida e manter a paixão pela verdade e pela narrativa honesta. “Acreditar na importância do jornalismo local é essencial para contribuir significativamente para a sociedade acreana”, afirma. 

Servidora concursada do Estado, a jornalista Andreia Nobre relata que um grande desafio que enfrentou na carreira profissional foi quando se tornou mãe, pois teve que conciliar a maternidade e o trabalho. Ela acredita que esse seja um desafio para as mulheres em qualquer carreira e também para as que trabalham no setor privado.

Apesar das contribuições significativas das mulheres para abordar agendas importantes a serem discutidas na sociedade, a desconfiança em relação a sua capacidade profissional ainda é uma realidade. Ana Paula Melo, estudante do terceiro período do curso de Jornalismo, trabalha como estagiária no jornal Cidade Alerta, ela diz que percebeu que há um preconceito dentro da universidade pelo fato de ser uma mulher estudante de Jornalismo.

“Já vi algumas pessoas torcerem a cara num tom de desconfiança quando falo que faço Jornalismo. Alguns já dizem que somos compradas, e, às vezes, por ser mulher, dizem que ao invés de buscar informações, buscamos fofoca. Em rodinha de amigos, embora ainda seja estagiária, já fui questionada se algum político me paga para fazer matéria sobre ele. Será se eu não tenho capacidade para escrever sobre política? São reflexões que sempre me questiono, afinal, ser mulher é ter a sua capacidade sempre questionada”. Ela acredita que o maior desafio é alcançar credibilidade equivalente a dos homens e enfatiza a importância de inserir mais mulheres em posições de liderança nos veículos de comunicação. 

Texto produzido pelos acadêmicos Ana Caroline Santiago, Adriely Gurgel, Maria Eduarda Melo, Rian Pablo de Oliveira e Júlia Andrade. A produção faz parte da disciplina Fundamentos do Jornalismo.

Continue lendo

Mais Lidas