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Lei Joca: o que muda nas viagens de avião com pets no Brasil

Ainda sem uma legislação padronizada no Brasil, o Projeto de Lei tramita no Congresso Nacional e visa implementar rastreamento e responsabilização das companhias por danos.

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Por Maria Niélia Magalhães, Gabriela Queiroz Mendonça e Sérgio Henrique Corrêa

Vestida com um delicado vestidinho rosa e laços azuis no pelo, “Pituca”, uma cachorrinha de porte pequeno, não passa despercebida pelos corredores dos aeroportos. A tutora, Maria Antônia Queiroz, já viajou diversas vezes com sua fiel companheira e, apesar das exigências, nunca enfrentou grandes obstáculos.

 “Sempre o mesmo padrão: carteira de vacinação, medicação em dia e bolsa adequada. Só seguir as regras”, conta Maria Antônia, com tranquilidade. Porém, ela reconhece que ainda há pontos a melhorar: “Não existem poltronas específicas para quem viaja com pet. Isso faz falta. Seria importante para o conforto deles também”, destaca.

Casos como o de Pituca evidenciam uma demanda cada vez maior por um transporte aéreo mais seguro e digno para os animais de estimação. 

Segundo dados da Agência Gov, somente em 2023 as companhias aéreas brasileiras transportaram cerca de 80 mil pets em voos comerciais. Desse total, aproximadamente 90% fizeram a viagem na cabine de passageiros, mostrando o quanto os tutores priorizam o conforto e a segurança de seus companheiros durante o trajeto.

O transporte de animais domésticos ainda não tem uma legislação padronizada no Brasil. Enquanto o Projeto de Lei conhecido como ‘Lei Joca’ ainda tramita no Congresso Nacional, as companhias aéreas seguem operando de acordo com seus próprios regulamentos. A aprovação da lei e sua regulamentação pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) prometem mudanças significativas, mas até lá, cada viagem exige atenção redobrada dos tutores.

Foto: Imagem ilustrativa

A origem da Lei Joca

O Projeto de Lei nº 13/2022 que visa regulamentar o transporte aéreo de cães e gatos, teve autoria do deputado Alencar Santana Braga (PT-SP). Ele foi apresentado na Câmara dos Deputados motivado pelo caso da cadela Pandora, que desapareceu durante uma conexão de voo no Aeroporto de Guarulhos e só foi encontrada 45 dias depois. O episódio evidenciou a falta de regulamentação e segurança no transporte de animais domésticos, o que preocupa tutores e defensores dos animais. 

A proposta original visava obrigar empresas de transporte de passageiros (aéreo, terrestre e fluvial) a oferecer rastreamento durante todo o trajeto do animal, até a entrega ao tutor e garantir acomodações com padrões mínimos de bem-estar para os pets, conforme normas veterinárias. 

A justificativa reforça que o serviço de transporte de animais, mesmo sendo cobrado (pode custar mais de R$1.200 dependendo do destino e companhia), não tinha garantia de segurança suficiente para os animais e tutores. 

O debate ganhou força após o caso de Joca, um golden retriever que morreu em abril de 2024 ao ser enviado para o destino errado por uma companhia aérea. A tragédia gerou comoção nacional e acelerou a tramitação do Projeto de Lei.

Ao chegar ao Senado, o projeto ganhou novo fôlego. A relatora Margareth Buzetti (PSD-MT) apresentou um projeto substitutivo robusto, que unificou o PL 13/2022 com outras três propostas que tramitam em conjunto, ampliando significativamente o alcance do Projeto, que lá ganhou o apelido de “Lei Joca”. 

Entre as principais medidas do projeto estão:

  • Transporte adequado ao porte e função do animal;
  • Treinamento obrigatório de equipes e equipamentos específicos;
  • Rastreamento contínuo para voos longos ou com conexões;
  • Responsabilização civil das companhias aéreas por danos aos animais, independentemente de culpa.

Em entrevista à Rádio Senado, concedida à jornalista Carla Benevides em 06/05/2025, a senadora Margareth Buzetti ressaltou a importância da regulamentação da Lei Joca e destacou os avanços mais significativos:  “Esse é o maior avanço da lei aprovada, agora existe a obrigatoriedade do transporte de cães e gatos na aviação. Além disso, para os cães de grande porte, determinamos que haja monitoramento constante e condições ideais no porão, garantindo o bem-estar dos animais durante toda a viagem”.

A Anac será a responsável por definir os detalhes técnicos, como peso, tamanho e número de animais permitidos por voo, garantindo que as regras sejam aplicadas com segurança e eficiência.

Cuidados veterinários antes de embarcar

Para a médica veterinária Paula Backer, da Clínica Clinivet, os tutores devem se preparar para garantir a segurança e o bem-estar do pet durante as viagens aéreas.

“Antes de embarcar para qualquer viagem, é necessário que o animal passe por uma avaliação clínica para verificar se está apto a viajar. As companhias aéreas exigem geralmente a guia de trânsito assinada por um médico veterinário, vacina antirrábica administrada pelo menos 30 dias antes da viagem, além do controle de pulgas e carrapatos”, orienta a médica veterinária.

Ela também ressalta cautela no uso de medicações.“Calmantes ou sedativos podem causar efeitos adversos, então jamais devem ser administrados por conta própria.”

A médica destaca ainda que animais com determinadas condições de saúde podem ter restrições para voar: “Animais com problemas respiratórios ou doença cardíaca descompensada, podem ser impedidos de viajar devido à descompressão da cabine, e a duração da viagem”.

A aprovação da Lei Joca ainda é aguardada com expectativa e sua regulamentação promete transformar a forma como os pets são transportados no Brasil. Até lá, cabe aos tutores se informarem e às companhias aéreas reforçarem seus protocolos para garantir viagens seguras,. aAfinal, cada pet é uma vida preciosa que merece cuidado e respeito.

Foto:  ABEAR – Manual de Viagem Aérea para Animais Domésticos, 1ª edição, 2025.

Leia o texto completo do projeto no site do Senado:
Senado Federal – Projeto de Lei nº 13/2022 

Agência Brasil – Aprovação no Senado

Redação

Cotidiano

Filhos? Não, obrigada! 

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Por Fernanda Maia, Gabriel Vitorino, Jhenyfer de Souza

“Eu vou concordar com o que Machado de Assis fala: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” A frase escrita pelo escritor no século XIX ressoa hoje na voz de Mariany Santana, natural do Piauí, que aos 23 anos decidiu fazer laqueadura e escolheu romper de vez com a possibilidade de ser mãe. 

Marieny enxerga a ausência de filhos não como uma falta, mas sim uma escolha de quais  batalhas deseja enfrentar na sua vida. E esse pensamento não é isolado, assim como ela, cada vez mais mulheres questionam o destino que lhes foi imposto culturalmente por gerações: a maternidade. 

O desejo de se opor à maternidade era um tabu, mas hoje ganha corpo em estatísticas e debates, que são explicados por dados que apontam não só para o medo da instabilidade econômica que dificulta a criação de filhos mas também para uma geração que, pela primeira vez, sente mais liberdade em reivindicar o direito de dizer, sem culpa, “não quero ser mãe”. 

Além disso, dados mostram o crescimento do movimento de mulheres que pensam da mesma forma. Pesquisas do Censo 2022 (IBGE) mostraram que o percentual de mulheres com 50 a 59 anos que não tiveram filhos subiu para 16,1%, em comparação com os anos 2000 que era de apenas 10,0%. Além disso, a pesquisa demonstra que em 2010, o maior índice de fecundidade era visto no grupo de 20 a 24 anos. Já em 2022, esse pico se deslocou para a faixa de 25 a 29 anos. Esse envelhecimento é causado pela redução na fecundidade entre as mulheres mais jovens.

A PNAD 2019 revelou que 10% das mulheres em idade reprodutiva declararam não desejar filhos, isso coincide com a queda expressiva na taxa de fecundidade que era de 6,3 filhos por mulher em 1960 e chegou a 1,6 em 2022, abaixo do nível de reposição populacional (2,1).

Maternidade é escolha

Na sociedade existe há alguns séculos a necessidade de impor aos gêneros seus respectivos papeis, muito influenciados pela herança de uma cultura machista que restringia as mulheres à procriação e cuidados com o lar. Hoje notamos certas mudanças nesse contexto, mulheres estão conquistando cada vez mais os seus espaços fora do âmbito familiar e possuem reflexão cada vez maior sobre suas aptidões e desejos. 

A maternidade foi muitas vezes associada a estereótipos que reduziram a mulher a papéis naturais de fragilidade e dedicação exclusiva ao cuidado com os outros. Essa visão ficou enraizada nas estruturas sociais, com as mulheres vistas como cuidadoras, responsáveis pelo lar, pela gestação e pela criação dos filhos, o que reforçava que a realização da mulher estava necessariamente ligada à maternidade.

Essa associação entre mulher e maternidade está cada vez mais distante da realidade atual da mulher, que muitas vezes visa liberdade e independência feminina. Hoje, algumas mulheres buscam autonomia, crescimento pessoal, profissional , e desafiam as funções que as definiram apenas com base em papéis reprodutivos. Para algumas mulheres a maternidade não é mais vista como um destino inevitável, mas sim uma escolha. 

Pâmela Freitas palestrando sobre representações de mulheres e desconstruindo estereótipos. Foto: Arquivo Pessoal

A frase “não quero ser mãe” pode parecer simples, mas carrega um peso social imenso para quem decide dizê-la em voz alta, especialmente quando se é uma mulher jovem. Essa afirmação pode taxar a mulher que prefere não ser mãe como egoísta e colocando-a quase como vilã. 

Escolha Definitiva

Em posicionamento público, por meio de suas redes sociais, Mariany Santana relatou como a decisão definitiva encerrou de uma vez por todas a possibilidade de ter filhos.  O vídeo sobre sua experiência em fazer a laqueadura aos 23 anos viralizou e atingiu milhares de pessoas que se identificaram, discordaram ou se surpreenderam com sua posição convicta.

“Essa decisão de não ter filhos, ela não veio do dia para noite. Foi bem pensada. Começou com um sentimento de enxergar que a maternidade não era de fato para mim. A maternidade existe muito sacrifício, muda totalmente a dinâmica do casal, muda totalmente a mulher e é como se fosse um emprego vitalício. Então, eu vi que isso não era para mim”, contou Mariany.

Mariany testemunhou em sua própria família os sacrifícios da maternidade e decidiu que não queria seguir o caminho da criação dos filhos e optou pela cirurgia de laqueadura com o objetivo de realizar um método definitivo. 

Ela buscou um método com 100% de garantia e optou por remover as trompas, ao invés dos métodos anticoncepcionais tradicionais. “Viver numa família grande, observar os sacrifícios, saber que eu estava criando uma criança para o mundo e que talvez essa criança não seguisse os os meus passos, não seguisse os meus conselhos, eu não teria controle sobre ele, sobre o que viveríamos, sobre os perigos ao qual ele poderia se expor, tudo isso me fez optar por não ser mãe.”

Apesar de sua decisão ter sido recebida com mensagens de apoio da grande parte de seus familiares, Mariany conta que ao publicar em suas redes sociais sofreu julgamentos e até ataques online por suas opiniões: “É um hate desmedido, é desproporcional, eles se lamentam e dizem que eu sou egoísta.” 

Sem medo de se arrepender, Mariany segue firme em sua decisão. “Eu prefiro me arrepender por não não ter um filho do que ter um filho e me arrepender, eu tinha conhecimento sobre todos os métodos, sobre falhas, eu me mantive virgem para fazer a cirurgia, eu realmente estava firme.”

As Motivações

Os motivos por trás dessa escolha são diversos, e entre eles se encaixam questões econômicas, pois para a classe média, criar um filho até os 18 anos no Brasil custa em média R$ 1,4 milhão, segundo cálculos do IPC/FGV de 2023.  As mulheres também estão cada vez mais valorizando o direito de decidir priorizar as suas vidas pessoais ou suas carreiras profissionais e ter autonomia sobre o seu corpo sem se dedicar às renúncias que vêm junto com a maternidade. Uma pesquisa do LinkedIn em 2023 sobre carreira e maternidade mostrou que aproximadamente 68% das mulheres sem filhos enxergam a maternidade como um obstáculo profissional.

Pâmela Freitas na Ufac dialogando sobre jornalismo, filosofia, ciência e tecnologia. Foto: Arquivo Pessoal

A  jornalista acreana Pâmela Freitas, 30 anos, desde cedo também não se via como mãe e buscou conhecimento sobre as questões sociais e trabalhos que envolvem a maternidade como um todo, principalmente para as mulheres. 

A jornalista entende que ter filhos gera uma carga muito maior para a mãe. “Mesmo quando ela é casada e o pai é presente, a carga sempre é maior para a mulher, como basicamente tudo na vida. Então, eu acredito que, principalmente por esse motivo, por esse excesso de trabalho, por mais essa demanda, eu nunca tive vontade”, comentou Pâmela.

A decisão de não ter filhos também esbarra em políticas públicas que ainda tratam a maternidade como uma inevitabilidade. Métodos permanentes de contracepção, como a laqueadura, seguem cercados de exigências e burocracias, especialmente para mulheres jovens.  

“Eu acredito que essa informação não chega de forma equivalente para todo mundo, e isso é um problema, porque faz com que muitas mulheres acabem engravidando por não saber como se prevenir ou por não ter acesso à cirurgia de laqueadura, por exemplo”, desabafou Pâmela. 

No caso de Pamela, a decisão de não ser mãe não surgiu de um trauma ou evento isolado, mas de uma consciência desenvolvida ao longo da vida. Desde a juventude, Pâmela nunca se enxergou em narrativas tradicionais de casamento, filhos e rotina doméstica, enquanto muitas mulheres são ensinadas a sonhar com um berço no quarto e uma criança nos braços, ela sempre sonhou com estudos, idiomas, profissão e liberdade de escolhas.

“Eu quero ser professora universitária, eu queria trabalhar como jornalista, como assessora de imprensa para pegar bagagem, para levar para sala de aula quando eu me tornar uma professora. Eu gosto de estudar, estudar idiomas como um agregador pessoal e profissional. Então, meus planos de vida estão sempre voando”, destacou Pâmela.

Por onde passa, ela evita dar margem a julgamentos. “As pessoas que mais importam para mim são as que eu falo abertamente sobre isso. Outras pessoas eu comento sobre, mas nunca dou abertura para elas me criticarem.” Ainda assim, ela reconhece que o julgamento existe, não direcionado a si, mas presente na sociedade.

Realidade sem filtro

Há uma romantização da maternidade, que ignora as renúncias que ela impõe, filhos são sim, fonte de amor, mas também exigem tempo, dinheiro, disposição emocional e física, recursos esses que muitas mulheres hoje em dia preferem direcionar a si mesmas, aos seus projetos de vida, ou mesmo à liberdade de viver sem grandes vínculos familiares. Pâmela compreende isso com clareza, para ela ter filhos nunca fez parte de um ideal de realização. 

Mulheres que não querem ser mães. Foto: Arquivo pessoal

Mais do que não desejar a maternidade, Pâmela e Mariany também rejeitam a experiência da gestação como os impactos causados no corpo, o risco à saúde que surge e as cobranças sociais que se impõem às mães desde o pré-natal até a vida adulta da criança.“Eu não queria ter que sofrer durante a maternidade, sentir enjoo, correr risco de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, eu não queria ter que parir”, disse Mariany. “Eu não quero a gestação, sabe? Aquelas mudanças no corpo, aquela transformação que passa no corpo da mulher quando ela engravida”, endossa Pâmela.

É nesse ponto que a sociedade frequentemente desumaniza a mulher que escolhe não ser mãe, quando a define como “incompleta” ou “egoísta”, mesmo quando a escolha está baseada em racionalidade, planejamento e autoconhecimento. Para muitas, inclusive, a cobrança de uma herança biológica torna-se um peso, outras querem deixar seu legado em suas ações, em suas profissões, nos vínculos afetivos que constroem voluntariamente, e não na continuidade de um sobrenome.

“Eu acredito que nós podemos ser o melhor que podemos para as pessoas que amamos. Essa é a marca que eu quero deixar”, relatou Mariany.

Além da questão da informação e do acesso aos métodos contraceptivos que aparecem com força nos relatos, as entrevistadas destacam o quanto a desigualdade pode impactar diretamente sobre a vida de mulheres que, como elas, não querem filhos. 

Pâmela também reflete sobre outras desigualdades que atravessam esse debate: enquanto mulheres cis hétero são pressionadas a serem mães, casais homoafetivos enfrentam preconceito ao desejarem a parentalidade. “Quando você é uma pessoa LGBT e decide que quer adotar um filho, a sociedade tem uma reação oposta, eles acreditam que você não poderia fazer isso. Totalmente preconceituoso”.

Enquanto o debate sobre o tema cresce na sociedade, especialmente nas redes sociais e nas universidades, mulheres como Mariany e Pamela seguem abrindo caminhos para que a maternidade deixe de ser um destino automático e passe a ser, de fato, uma escolha. Mais do que rejeitar a maternidade, a escolha de mulheres é sobre liberdade. Sobre poder dizer “não” a um modelo pronto, e sim a uma vida construída com consciência e autonomia. Em suas palavras, ecoam não só as experiências, mas os pensamentos  de uma geração que ousa fazer perguntas onde antes só havia respostas prontas.

Redação

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Avaliação

Cerca de 17 mil animais são vítimas de abandono no Acre e número aumenta a cada ano

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Por Arielly Casas, Lucas Sousa e Gabriela Queiroz

O município de Rio Branco registra um número de quase 17 mil animais abandonados, segundo o Centro de Zoonoses da Prefeitura de Rio Branco. Esse dado também reflete uma realidade nacional, na qual 25% dos cães e 26% dos gatos estão em situação de abandono, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Um exemplo é o caso de Mimoso, mascote adotado pela clínica veterinária Cães & Cia. Um dos médicos veterinários da clínica, Denis Costa, conta que o gato foi levado há mais de um ano pelo cuidador que o abandonou. O animal estava com uma miíase (infestação da pele por larvas de moscas que se alimentam do tecido do hospedeiro) na cabeça.

Costa também relata que foi um caso difícil de tratar e que ninguém acreditava na recuperação. Agora, após 18 meses, Mimoso está totalmente recuperado.

“O mascote que nós temos aqui, ninguém acreditava que estaria vivo. Era um caso em que ninguém confiava, e agora ele está esbanjando saúde”, disse o veterinário.

Na imagem, o veterinário Denis e o mascote Mimoso. Foto: Lucas Sousa

Esse não é o único registro de casos assim. Trata-se de uma questão alarmante, que cresce cada vez mais e configura um crime previsto na legislação brasileira. Segundo o artigo 32 da Lei Federal nº 9.605/1998, o abandono e os maus-tratos contra animais são crimes, com pena de três meses a um ano de detenção, além de multa. Em 2020, houve uma modificação, aumentando a pena para dois a cinco anos de reclusão, conforme a Lei Federal nº 14.064/2020.

ONGs

Um dos maiores desafios enfrentados pelos ativistas de Organizações Não Governamentais (ONGs) é o alto custo dos tratamentos para os animais resgatados. Vanessa Facundes, presidente da ONG Patinha Carente, explica que a organização não consegue realizar o resgate de todos os animais devido as dívidas acumuladas com as clínicas veterinárias.

“Gostaríamos de poder resgatar todos, mas temos dívidas muito altas nas clínicas veterinárias particulares”, argumentou a presidente da ONG.

Projeto de Lei

No Acre, dos 24 deputados estaduais, Emerson Jarude (NOVO) defende a causa animal e já possui um projeto de ação em parceria com a Universidade Federal do Acre (Ufac): o Projeto Cuidar, que tem como objetivo atender aos animais de rua. Instituições e ONGs que realizam trabalhos com esse foco também serão beneficiadas pelo projeto.

Jarude também anunciou o lançamento de um novo projeto: o Pet Farm (Farmácia de Pet), que será uma extensão do Projeto Cuidar.

“O Pet Farm é uma forma de conseguirmos disponibilizar medicamentos para os animais e auxiliarmos após o tratamento feito dentro desse projeto”, afirmou.

Poder público

A equipe de reportagem tentou contato com o Centro de Zoonoses da Prefeitura de Rio Branco para comentar a situação, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para qualquer posicionamento ou esclarecimento por parte do poder público.

A crescente população de animais abandonados em Rio Branco evidencia a urgência de políticas públicas efetivas, parcerias institucionais e o engajamento da sociedade civil. Proteger os animais é também um dever social e legal, que exige mais do que boa vontade, é preciso ação.

Luan Correia

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Cotidiano

Do papel às telas: a transição do jornal impresso acreano para o digital

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Por Ana Luiza Pedroza, Ádrya Miranda, Daniel de Paula e Wellington Vidal

 

O jornal impresso, símbolo histórico e cultural no Acre, começa a se despedir lentamente do cotidiano da população. A era digital assume o protagonismo, apostando em novos formatos de levar acesso à informação, no entanto, sem apagar o legado construído pelo impresso na história acreana.

Apesar dos esforços para reinventar o jornalismo local, a transição do impresso para o digital trouxe grandes desafios. No Acre, essa movimentação ocorreu de forma tardia, mas com a contribuição de jornalistas que se desdobram diariamente para acompanhar as mudanças no modo de noticiar, mantendo o compromisso social com a população.

Entre os obstáculos, a pandemia de Covid-19 foi um dos que aceleraram o declínio dos jornais impressos em todo o país, e no Acre não foi diferente. O A Gazeta, um dos veículos mais populares do estado, foi diretamente impactado.

Rotativa, máquina utilizada na impressão dos jornais A Gazeta. Foto: Ádrya Miranda

Fundado em 1985, sob direção de Silvio Martinello e Elson Martins, o jornal se destacou pelo jornalismo investigativo e de cunho social, sendo pioneiro em projetos editoriais gráficos com diagramação no impresso acreano. Foi por meio de suas páginas que os acreanos acompanharam coberturas históricas, como o assassinato do sindicalista Chico Mendes.

Em 1998, tornou-se o primeiro jornal a circular em cores no estado, com até 3.500 exemplares vendidos em dias movimentados, segundo Silvio. Apesar das inovações com o jornal impresso, o veículo enfrentou as adaptações tecnológicas do século 21. O portal online, criado ainda nessa fase, tinha estrutura simples, servindo apenas para replicar, de forma reduzida, as notícias do jornal físico.

À esquerda, Maíra Martinello; ao fundo, Paula Martinello; e à direita, Silvio Martinello. Foto: Arquivo pessoal

A edição impressa teve o seu fim em 2021, após uma expressiva queda nas vendas. Paula Martinello, jornalista do A Gazeta do Acre, relata que a migração definitiva para o digital foi desafiadora e impulsionada pela pandemia. “Foi um processo muito gradativo, porque o trabalho online não é fácil. É muita concorrência, é um outro tipo de público e perfil de consumo da notícia”, comenta.

Para os jornalistas do A Gazeta, hoje, A Gazeta do Acre, o desafio não foi apenas adaptar-se ao ambiente online, mas reinventar a rotina de produção jornalística sem abrir mão da credibilidade construída. Segundo Maíra Martinello, foram necessárias estratégias para garantir a sobrevivência e a relevância no meio digital, que exige mais agilidade, versatilidade e presença em todas as plataformas.

“A gente foi entrando nesse mundo online, digital. Claro que tem pontos positivos, como o custo mais baixo, a praticidade e a democratização do acesso à informação. Mas a era digital exige muito mais do jornalista, que hoje precisa escrever, gravar vídeo, áudio, editar, usar várias ferramentas ao mesmo tempo”, explica.

A transição da notícia do impresso para o ambiente digital, embora tenha sido impactante para todo o campo jornalístico, foi recebida de maneira diferente por cada veículo, conforme suas particularidades. Outro nome importante da imprensa acreana, como o jornal O Rio Branco, também enfrentou esses momentos de transformação.

Portal de notícias oriobranco.net. Foto: Ádrya Miranda

Mendes também reforça a necessidade dos jornalistas manterem seu compromisso social, mesmo diante das mudanças impostas pela era digital. “Se vocês forem jornalistas e pretenderem ser responsáveis, não esperem que a notícia chegue até vocês. Vocês têm que ir atrás da notícia”, conclui.

Essa transformação também é percebida por leitores que acompanharam de perto o auge das edições impressas no Acre. “Porque o jornal é um documento, então ele vai ficar ali para sempre”, comenta o jornalista e leitor assíduo Gleilson Miranda, de 55 anos, ao destacar que o jornal impresso carrega um valor que vai além da notícia do dia, mas também a documentação de histórias.

Segundo ele, com o jornal impresso era possível encontrar experiências afetivas, que marcavam seu momento de leitura.

“O jornal é impresso, tem esse charme, tem essa coisa de você sentar, tomar um café e folhear as páginas, lendo as principais notícias. Isso era muito bom para a época. Hoje você tem essa notícia mais rápida. Notícia que chega muito rápido”, afirmou Gleilson, ao relembrar as sensações que os impressos lhe proporcionaram.

A transição dos jornais impressos para os portais digitais no Acre marca uma mudança profunda no modo de fazer e consumir jornalismo. Conhecer a história da imprensa local, com a contribuição das edições do A Gazeta e O Rio Branco, é essencial para entender o papel que esses veículos tiveram na formação da identidade e da memória do estado.

Edição impressa O Rio Branco. Foto: Arquivo Espaço Cultural Palhukas

Para Narciso Mendes, atual proprietário da TV Rio Branco, o impresso no Acre carrega o legado de muitas figuras marcantes da história local. No entanto, a migração do jornal impresso O Rio Branco para o meio online não teve o mesmo peso como teve para os demais veículos.

Redação

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