Ex-estudantes, professores e pessoas impactadas pela história do site falam sobre a importância do projeto para a universidade e comunidade externa. Foto: A Catraia
Por Victor Manoel*
Com um balanço da gestão do reitor da Universidade Federal do Acre (Ufac) Jonas Filho na capa, A Catraia publicava sua primeira edição em 2004. Criado como um projeto para aproximar o ambiente de uma redação da Universidade, o jornal passou por diversas fases, logotipos, greves, uma pandemia e colaborações ao longo dos anos. Em 2025, mais uma turma de acadêmicos se torna “catraieira” e assume a produção para contar novas histórias.
Em sua primeira fase, o jornal era publicado uma vez por ano, pois a disciplina de Jornal Laboratório – que à época se chamava Produção e Veiculação em Jornalismo Gráfico -, ocorria anualmente. Dificuldades para produzir duas edições por semestre levaram a reformulações ao longo dos anos. Com a reestruturação do curso, foi criado a disciplina de Jornal Laboratório 2 para dar continuidade ao trabalho. No entanto, durante a pandemia, o impresso deu lugar ao formato digital.
O modelo online possibilitou uma publicação mais ágil, tornando os textos acessíveis em menos tempo. Os acadêmicos passaram a ver seus nomes publicados com mais rapidez, compartilhar suas produções com a família e acompanhar o próprio desenvolvimento do produto final com maior facilidade.
Layout atual do site do A Catraia. Foto: Reprodução
A editora-chefe do site de notícias A Gazeta.Net, Gisele Almeida, relembra a influência do A Catraia em todo o mercado de comunicação do estado:
“Eu acredito que ele tem um potencial muito grande para ir além. Então, é muito importante para nós, como jornalistas, acadêmicos e profissionais da comunicação, termos esse contato, produzirmos matérias e vivenciarmos essa experiência dentro de A Catraia. Isso é essencial para ganharmos mais experiência e vivenciarmos a prática, porque, muitas vezes, acontece de estarmos no curso e sentirmos falta dessa vivência. Ele nos aproxima disso, nos coloca em contato com a produção de matérias, a publicação e a presença nas redes sociais”, conta.
Além de aprimorar a construção do texto, a prática tornou a escrita mais objetiva e direta, segundo a entrevistada. Ao lidar com fontes que utilizam linguagem técnica, foi essencial contextualizar e simplificar a informação para garantir uma leitura acessível. Ela também destaca a importância do contato com as fontes, do discernimento sobre o momento adequado para usá-las e da diferenciação entre “pauta fria” e “pauta quente”.
“Ele nos aproxima disso, nos coloca em contato com a produção de matérias, a publicação e a presença nas redes sociais”
Gisele almeida
“Por exemplo, algumas pautas que colocamos em A Catraia precisavam ser publicadas logo, porque no dia seguinte já perderiam relevância”, explica Almeida.
A nascente
A professora de Jornalismo Juliana Lofego ressalta que as primeiras edições enfrentaram diversos desafios. Questões técnicas eram mais complexas, já que não havia câmeras digitais, e os recursos disponíveis eram limitados. Com o tempo, os aplicativos evoluíram, mas, no início, a produção era “muito mais artesanal”, afirma.
“Os primeiros jornais foram feitos, literalmente, na marra. Ainda assim, a primeira turma conseguiu produzir, e a tradição era que cada turma lançasse dois jornais a cada semestre. Sempre foi muito desafiador produzir o jornal, pois não há uma verba específica nem condições ideais para sua realização […] O objetivo sempre foi permitir que os alunos participassem ativamente da montagem do jornal, pensando na linha editorial, nas pautas, na fotografia, nos títulos e nos próprios textos”, declara a docente.
Uma das matérias da primeira edição do A Catraia foi o perfil de Dona Arlete, vendedora histórica de bomboniere na Ufac. Foto: Acervo
Devido à pandemia de Covid-19 e à falta de recursos, o A Catraia migrou do impresso para o digital. Apesar dos desafios do ensino remoto e da limitação na troca de ideias entre professores e alunos, entre junho e dezembro de 2021 foram publicadas mais de 80 produções, entre matérias e perfis, elaboradas em duplas ou trios, lembra Maria Fernanda Arival, editora-chefe do site entre 2021 e 2022 e atualmente integrante da assessoria de comunicação da Secretária de Turismo e Empreendedorismo do Acre (Sete).
“Minha atuação como editora foi mais forte na primeira disciplina, quando recebia os textos dos meus colegas, revisava, discutia alterações com a professora, diagramava e postava no site. A oportunidade de participar de forma tão ativa nesse período do A Catraia foi, com certeza, muito proveitosa. Na época eu já tinha uma certa experiência com jornalismo digital pelo meu estágio em redação, mas consegui alinhar as duas práticas e aperfeiçoar cada vez mais meus conhecimentos nessa área tão importante no jornalismo do mundo atual”, revela sobre o período.
“O objetivo sempre foi permitir que os alunos participassem ativamente da montagem do jornal”
Juliana lofego
Com editorias comandadas por Guilherme Limes e Pamela Celina, Arival destaca a diversidade de pautas e perspectivas — inclusive, refletida no nome de uma das editorias do A Catraia. A professora Juliana Lofego também enfatiza a amplitude temática no universo “catraieiro”:
“Cada professor tem sua visão sobre a condução do projeto, mas a ideia original do Jornal Laboratório sempre foi fortalecer os estilos e as ideias dos alunos. Além da produção editorial, havia também um trabalho voltado ao layout do jornal, o que, em algumas edições, resultou na mudança da logomarca e das cores”, afirma.
Dos rios da sala de aula para o mar do mercado
“Eu digo que A Catraia foi um divisor de águas na minha carreira como jornalista, porque eu nunca tinha entrado em uma redação ou feito parte de nenhuma equipe nessa área do jornalismo. Sempre atuei com rádio e assessoria de comunicação, mas nunca havia trabalhado, de fato, em uma redação”, conta o editor-chefe do site de notícias ContilNet, Matheus Mello.
Ele entrou no veículo de comunicação que trabalha em 2022, e no A Catraia, Mello teve experiência com jornalismo online e impresso.
“Como já tinha essa experiência no digital de A Catraia, quando comecei no site, cheguei com uma noção clara do que era o jornalismo, do que era uma matéria, uma reportagem e, de fato, um portal de notícias. Por isso, digo que a experiência que tive em A Catraia foi essencial para moldar o profissional e o jornalista que sou hoje”, declara “Ter a oportunidade de viver essa experiência ainda na universidade nos ajuda muito quando entramos no mercado, porque já chegamos com outra mentalidade e com uma noção clara do que é um texto jornalístico e do que é uma reportagem”.
Os estudantes produzem suas fotos e textos, priorizando o estilo de cada um. Foto: Akenes Mesquita e Felipe Nascimento
Lofego ressalta a conexão do jornal laboratório com os veículos de comunicação do estado. Para a professora, a experiência vai além do aprendizado sobre o layout digital de um portal de notícias, permitindo que os estudantes abordem temas frequentemente ausentes na mídia tradicional.
“A disciplina foi pensada para que os alunos colocassem a mão na massa e escrevessem com a liberdade que dificilmente terão no mercado, onde os jornais pertencem a empresas e têm seus próprios interesses. Na Ufac, sempre discutimos pautas, a pertinência dos temas e questões éticas, mas, em geral, os alunos têm bastante liberdade para desenvolver seus trabalhos”.
“A oportunidade de participar de forma tão ativa nesse período do A Catraia foi, com certeza, muito proveitosa”
Maria fernanda arival
Após deixar o barco, o que se leva dele
Gisele Almeida relembra como as reuniões de pauta foram essenciais para ela entender as dinâmicas de um espaço profissional:
“Outra coisa importante foi perceber o valor das reuniões de pauta. Entender que cada pessoa dentro do site tem sua função e que todas juntas formam um corpo de trabalho integrado foi essencial. Saber conversar e dialogar é fundamental. Mesmo sendo profissionais da comunicação, a importância do diálogo se torna ainda maior. Também aprendemos a ter cuidado ao escolher e montar a capa. Lembro que até analisamos edições impressas para decidir o que iria na capa e como organizaríamos as matérias. Como era um trabalho em equipe, trabalhamos a questão da hierarquia da informação para organizar tudo direitinho”, diz.
A Catraia produziu diversas matérias e denúncias que mobilizaram comunidade acadêmica e guardou memória de perfis emblemáticos da sociedade de Rio Branco. Para Maria Fernanda Arival existe uma em especial que a modificou como profissional:
“Minha amiga e colega de profissão, Camila Gomes, era minha dupla e decidimos escrever sobre o dono da loja Bazar Chefe. Não imaginávamos que aquela seria a última vez que alguém conseguiria registrá-lo em vida. Meses depois, o “seu Chefe”, como era chamado, faleceu, e todos os jornais usaram a foto da nossa produção para ilustrar as matérias que informavam seu falecimento”, relembra.
Matheus Mello encerra sua fala com uma reflexão sobre o papel do site no curso de Jornalismo, destacando como a experiência aprimora habilidades e discursos que os estudantes levam para diferentes áreas de suas vidas:
“A Catraia é o coração do nosso curso, porque todo bom profissional precisa passar por uma redação. Mesmo que depois siga para a TV, o rádio ou a assessoria, todo jornalista precisa ter essa vivência, pois a redação é a alma da profissão. O texto é a essência do nosso trabalho. Fico muito feliz por ter feito parte dessa história e por ter saído do curso com a certeza de que todo aluno é um antes e outro depois de passar por A Catraia”, conclui.
Por meio do NAI, Ufac avança em inclusão e acessibilidade para estudantes com necessidades específicas
Estudantes com necessidades específicas enfrentam constantes desafios nas universidades brasileiras. Na Universidade Federal do Acre (Ufac), o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) foi criado para desempenhar um papel fundamental no processo de inclusão, garantindo que esses acadêmicos tenham acesso à educação com as adaptações necessárias para sua permanência e desenvolvimento na instituição.
Buscando garantir um ambiente com mais acessibilidade, a universidade implementa adaptações e suporte para estudantes autistas e com outras necessidades.
Por Niélia Magalhães, Sérgio Henrique Corrêa e Gabriela Queiroz Mendonça
Estudantes com necessidades específicas enfrentam constantes desafios nas universidades brasileiras. Na Universidade Federal do Acre (Ufac), o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) foi criado para desempenhar um papel fundamental no processo de inclusão, garantindo que esses acadêmicos tenham acesso à educação com as adaptações necessárias para sua permanência e desenvolvimento na instituição.
Criado em 2008, o NAI procura executar políticas de inclusão e acessibilidade, oferecendo suporte pedagógico e promovendo ações de ensino, pesquisa e extensão voltadas para estudantes com deficiência e neurodivergência.
A Ufac conta, atualmente, com 100 estudantes cadastrados no banco de dados do NAI. O suporte oferecido inclui adaptações acadêmicas, como tempo maior para realização de avaliações, provas em locais silenciosos, enunciados mais objetivos e intervalos em avaliações longas. Alunos que necessitam de assistência extra podem contar com monitores selecionados via edital, embora muitos prefiram somente ajustes no ambiente acadêmico.
“Cada estudante neurodivergente tem suas particularidades, portanto, o que é adotado para um pode não ser necessário para outro. O importante é garantir que cada um tenha suas necessidades respeitadas”, explica Carla Simone, coordenadora do NAI.
Segundo a coordenadora, a universidade avançou na instalação de pisos táteis, rampas, elevadores e banheiros adaptados, além da implementação de intérpretes de Libras e recursos audiovisuais para alunos com deficiência auditiva ou visual.
“Apesar dos avanços, um dos principais desafios enfrentados pelos alunos com TEA na Ufac ainda é a falta de conhecimento da comunidade acadêmica sobre o transtorno. Frases como ‘mas você não tem cara de autista’ impactam diretamente a experiência dos estudantes, levando muitos a adiar a busca por suporte por medo de julgamentos e falta de empatia”, enfatiza Carla Simone.
Para estudantes autistas, um avanço importante foi a criação da Sala Aquário, um espaço no Restaurante Universitário reservado para refeições em um ambiente mais silencioso e confortável. “Essa foi uma conquista do Coletivo Autista, garantindo um espaço adequado para os alunos que sofrem com sobrecarga sensorial”, destaca a coordenadora.
No entanto, Carla Simone enfatiza que a inclusão é um processo contínuo e que ainda há muito a ser feito. “O essencial é garantir que os estudantes com deficiência que ingressam na universidade tenham condições de acessar, permanecer e concluir seus cursos com dignidade”, afirma.
Capacitação e conscientização
Um dos pontos de atenção do NAI é a formação da comunidade acadêmica. Atualmente, o núcleo já realiza capacitação para monitores que atuam diretamente no suporte aos estudantes, mas ainda não há um programa estruturado para professores e servidores.
A partir do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2025-2029, a Ufac pretende implementar treinamentos para docentes e técnicos, promovendo maior sensibilização sobre a inclusão e as necessidades dos estudantes neurodivergentes.
O NAI trabalha em parceria com diversos setores da universidade e instituições externas para encaminhar alunos a serviços assistenciais, previdenciários e de saúde, além de organizar palestras e eventos sobre acessibilidade e inclusão.
Arte: Agência Câmara
O futuro da inclusão na UFAC
Quando questionada sobre os próximos passos do NAI, Carla Simone aponta que as principais metas incluem:
Atendimento eficaz e de qualidade aos estudantes com deficiência;
Criação de um laboratório de tecnologia assistiva;
Promoção de formações continuadas para docentes, técnicos e estudantes;
Ampliação das ações já existentes, garantindo um impacto maior na universidade.
A coordenadora também reforça que a construção de um ambiente acadêmico mais inclusivo não depende apenas da gestão institucional. “Ter um olhar mais humanizado para todos, independentemente de cor, raça, religião, gênero ou deficiência, é essencial. A universidade precisa ser um espaço acolhedor para todos os diferentes”, conclui.
Entendendo o Transtorno do Espectro Autista (TEA)
O TEA afeta o neurodesenvolvimento, impactando a comunicação, linguagem, interação social e comportamento. O diagnóstico precoce é essencial para estimular a independência e melhorar a qualidade de vida. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma rede de cuidados para o atendimento integral das pessoas com TEA.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam 70 milhões de pessoas com autismo no mundo. No Brasil, a estimativa é de que 2 milhões de pessoas possuam algum grau do transtorno.
A geração Z, as pessoas nascidas entre 1990 e 2012, chegam ao mercado de trabalho trazendo mudanças em alguns dos padrões antes estabelecidos. Os integrantes da geração millennial, ou seja, os nascidos entre 1980 e 1990, são os que mais se mostram resistentes a enfrentar os desafios apresentados por esses novos profissionais.
Por Andriw Yago, João Marcelo, Pedro Henrique e Wayllo Cardozo*
A geração Z, as pessoas nascidas entre 1990 e 2012, chegam ao mercado de trabalho trazendo mudanças em alguns dos padrões antes estabelecidos. Os integrantes da geração millennial, ou seja, os nascidos entre 1980 e 1990, são os que mais se mostram resistentes a enfrentar os desafios apresentados por esses novos profissionais.
Ana Cristina Vale, 33 anos, psicóloga e atuante na área de Recursos Humanos durante 12 anos, diz que a geração Z enxerga o trabalho como algo passageiro, já a geração anterior não, é uma geração que quer construir uma carreira sólida, naquele ambiente que se encontra: “São pessoas que se esforçam, têm iniciativa, comprometimento, desenvolvem perfis e habilidades todos os dias, já a geração atual não”, complementa.
No Relatório de Tendência de Gestão de Pessoas 2025, desenvolvido pelo Ecossistema GPTW e Great People, dentre os participantes, 76% apontaram a geração Z como o maior desafio para a gestão de pessoas. Segundo a revista Forbes, entre os profissionais da geração Z, 58% querem trabalhar de forma híbrida ou remota e recusariam ofertas de emprego ou promoções que os fizessem trabalhar presencialmente todos os dias. Além disso, 15% destacam a questão dos processos, planejamento e foco estratégico e desejam ter lideranças inspiradoras, tratamento mais humano e reconhecimento.
Estudante de Jornalismo, Diogo José, de 19 anos, é estagiário há um ano em um site local e diz priorizar em suas escolhas profissionais o ambiente de trabalho: “O ambiente é primordial, pois não vou ficar em um local que eu não tenha os mesmos ideais ou que as pessoas desse ambiente não pensem da mesma forma que eu”.
Sobre as diferenças entre a geração millennial e a geração Z no ambiente de trabalho, Diogo observa que não há como negar que há uma diferença discrepante. Eles vão ser priorizados pois já estão contratados na empresa, e por atuarem no mercado há mais tempo eles têm mais noção, e quando o estagiário se dá bem com essa galera, acaba criando um vínculo de aprendizado que é muito importante:
“Atualmente tenho uma relação muito boa em meu ambiente de trabalho, e isso é graças aos meus supervisores, que são muito comunicativos, perguntam se estou entendendo e se estão ajudando, então toda essa questão do diálogo me ajuda muito”.
Camila Holsbach, 36 anos, é editora-chefe de um site jornalístico onde as duas gerações estão em constante interação e cita que a relação entre ambas vai além das obrigações do trabalho, já que sempre vai existir a troca de experiência de vida entre os millenials e a geração Z.
“Nossa relação com a turma da geração z na redação é bem tranquila. Não se limita somente ao trabalho pelo trabalho, é uma relação de troca de informações e aprendizado, todo mundo ensina e todo mundo aprende, não existe um “detentor de todo o saber”. Acredito que a cada geração que nasce, nasce também a necessidade de mudanças e adaptações. O mundo não é o mesmo que o de uma década atrás, e não será o mesmo que o de hoje daqui a 10 anos “, completa.
A gestora de RH, Ana Cristina Vale, ressalta que iniciar no mercado de trabalho não é fácil, porque você vai sair de uma zona de conforto e entrar numa área que de fato exige muito.
“É onde você vai criar hábitos responsáveis e conhecer outras pessoas que possam também abrir outras portas. Eu acredito que é levar a sério até o último dia, para que você saia de lá deixando a sua marca, e assim as pessoas sempre ao falar de você vão ter a memória do bom profissional que você foi”, finaliza.
*Texto produzido na disciplina Fundamentos do Jornalismo sob supervisão do professor Wagner Costa
Coletivo acreano de teatro rompe estereótipos e aborda temas diversos nos palcos
As artes cênicas, das quais o teatro faz parte, reúnem milhares de entusiastas em diversas instituições de ensino, desde escolas de artes até universidades. Esse cenário se repete na Universidade Federal do Acre, onde o curso de Artes Cênicas se destaca por formar novos talentos e promover o desenvolvimento do teatro na região.
O teatro ocidental tem suas raízes na Grécia Antiga, onde era realizado em homenagem aos deuses, especialmente a Dionísio, divindade associada ao vinho e a diversão. Essas celebrações teatrais evoluíram ao longo do tempo, tornando-se parte fundamental da cultura grega e influenciando profundamente a forma como a sociedade contava histórias e se expressava artisticamente.
Com o passar dos séculos, o teatro se consolidou como uma das mais importantes manifestações artísticas da humanidade. Grandes autores contribuíram para o desenvolvimento dessa arte, entre eles o inglês William Shakespeare, considerado um dos dramaturgos mais influentes da história. Suas peças, como Romeu e Julieta, Hamlet e Macbeth, tornaram-se clássicos e continuam a ser encenadas em todo o mundo.
As artes cênicas, das quais o teatro faz parte, reúnem milhares de entusiastas em diversas instituições de ensino, desde escolas de artes até universidades. Esse cenário se repete na Universidade Federal do Acre, onde o curso de Artes Cênicas se destaca por formar novos talentos e promover o desenvolvimento do teatro na região.
Teatro Candeeiro está há 10 anos em atividade. Foto: Reprodução
Foi no contexto acadêmico que surgiu o Coletivo Teatro Candeeiro, fundado em setembro de 2016 por alunos do curso. Idealizado pelos professores, Nolram Rocha e Micael Cortês, o grupo se consolidou como um espaço de experimentação teatral, permitindo aos estudantes explorarem diferentes estéticas, práticas cênicas e desenvolverem dramaturgias autorais.
Abrem-se as cortinas
Com quase 10 anos de atuação, o coletivo já realizou diversos espetáculos, desde peças autorais como “Depois de Dora” e “Afluentes Acreanas” até os de popularidade nacional e internacional, como “Liberdade, Liberdade” e “Romeu e Julieta”. A co-fundadora e diretora da companhia, Jaqueline Chagas, fala sobre os trabalhos desenvolvidos: “Tentamos trazer para o palco algo que tem nos inquietado e que acreditamos que é uma oportunidade para o público ter um olhar diferente sobre determinada situação”.
Para a artista, trabalhar com teatro é satisfatório e caótico ao mesmo tempo.
Jaqueline Chagas é co-fundadora do coletivo. Foto: Reprodução/Instagram
“Quando falo de caótico é justamente este pré espetáculo, a insegurança se o elenco irá até o fim, se teremos dinheiro para fazer o que estamos pensando e se o público irá gostar, são camadas pouco faladas, mas que estão presentes em quem vive de teatro”. Apesar dos desafios, a paixão pela arte traz motivação e ver o público ir ao teatro e apreciar o trabalho é algo prazeroso.
Detrás da coxia
Jaqueline também é a diretora do novo espetáculo do Teatro Candeeiro, intitulado “ELE”, que estreia no dia 30 de março e segue nos dias 06, 12 e 13 de abril, na Usina de Artes João Donato, às 19h. A produção tem como tema central as pessoas em situação de rua, ELE é o personagem principal que não tem nome mas existe, tem uma história e passa por aventuras e adversidades ao longo da montagem.
A obra começou a ser escrita em 2020, motivada pela observação da autora do número de pessoas em situação de rua e a reflexão sobre o cenário em um momento tão delicado como a pandemia de covid19. A montagem é um projeto desafiador, independente, que foi realizado em sete semanas e tem uma proposta diferente das feitas anteriormente.
Cartaz da peça “ELE”. Foto: Reprodução
A produção visa levar para os palcos a temática do aumento de pessoas em situação de rua. O Brasil possui uma população em situação de rua de aproximadamente 227 mil pessoas, refletindo um aumento expressivo nos últimos anos. No Acre, esse contingente soma 303 indivíduos, resultando em uma taxa de 36,5 pessoas em situação de rua para cada 100 mil habitantes. Os dados são de 2023.
Dados do Brasil em Mapas, baseados em estatísticas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de agosto de 2023, indicam que o número de pessoas vivendo nessa condição no país é mais de dez vezes superior ao registrado em 2013. Esse crescimento está diretamente relacionado a fatores estruturais, como os impactos socioeconômicos da pandemia de Covid-19.
Aplausos e aplausos
O espetáculo narra a trajetória de ELE, uma pessoa que, apesar de todas as adversidades, conseguiu se tornar o protagonista de sua própria história. ELE não tem nome, mas isso não o torna menos real. Pelo contrário, conhecê-lo será uma jornada que se estenderá por dias e, quando menos se esperar, você saberá exatamente quem ELE é.
Pessoas em situação de rua são uma discussão emergente em Rio Branco. Foto: Juan Diaz/ContilNet
“É totalmente diferente do que já fizemos nesses oito anos de existência, quem já assistiu nossos espetáculos vai entender logo de primeira e quem vai assistir pela primeira vez, vai ser surpreendido. É um desafio psicológico para o espectador”, dizem os organizadores da peça nas redes sociais.
Serviço:
Ingressos
R$ 30 (inteira)
R$ 15 (meia)
Lote promocional: Todos pagam meia-entrada até 24 de março.
Adquira seu ingresso antecipado
@teatrocandeeiro | (68) 99229-8226
Ficha Técnica
Direção e dramaturgia: Jaqueline Chagas
Elenco: Ajotta, Bia Araújo, Julia Aimee e Felipe Nicolli