Em mais um Dia dos Namorados que medidas de distanciamento social são indicadas, o A Catraia preparou uma lista de 12 filmes para assistir a dois, independente de orientação sexual
Por Marcus V. Almeida e Pâmela Celina
O dia 12 de junho é especial para muitos casais, pois se comemora o dia dos namorados. Planejar uma programação especial para a data é algo bem comum. Lojas e restaurantes fazem promoções e ofertas exclusivas para a celebração. A verdade é que o capitalismo “reina” até mesmo no motivo da comemoração no Brasil ser em junho e não em fevereiro como em outros países.
Com o motivo exclusivamente comercial, o dia dos namorados foi escolhido para ser em junho por este ser um mês em que as vendas diminuem. Além disso, a escolha do dia 12 também tem uma motivação: é a véspera do dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro.
O responsável, então, pela “criação” do dia dos namorados no Brasil é João Dória (pai do atual governador de São Paulo João Dória Jr.), que foi contratado por uma empresa que tinha como objetivo melhorar as vendas do comércio do mês de junho.
Com o slogan “Não é só com beijos que se prova o amor!” a data começou a ficar popular e se tornou uma comemoração oficial do país.
Apesar dessa origem comercial, o amor é o ponto chave para o dia, principalmente no contexto atípico que estamos vivendo. Assim com o dia dos namorados chegando, o que fazer quando não podemos sair de casa por causa da pandemia (de novo)?
De alguns clássicos da Sessão da Tarde aos romances adolescentes dos streamings, preparamos uma lista de filmes para você passar o dia ao lado de quem você ama. A lista não foca em filmes com temática exclusiva dos dias dos namorados e, muito menos, nas premiações que tiveram (não somos sommelier de estatuetas). Buscamos apresentar filmes divertidos e que possam ser curtidos nessa data especial.
10 Coisas Que Odeio em Você (10 Things I Hate About You, 1999)
Bianca Stratford (Larisa Oleynik) só pode ter um namorado se sua irmã mais velha, Katharina (Julia Stiles), também estiver namorando. O problema é que ela não tem interesse nenhum em ter um relacionamento. Para resolver a situação, o pretendente de Bianca, Cameron (Joseph Gordon-Levitt), contrata Patrick Verona (Heath Ledger) para conquistar Katharina.
Lisbela e o Prisioneiro (2003)
Lisbela (Débora Falabella) é apaixonada pelos romances hollywoodianos e sonha um dia viver um amor de cinema. Leléu (Selton Mello) é um Don Juan trambiqueiro que vive indo de cidade em cidade para ganhar a vida. Ao chegar à cidade, Leléu e Lisbela se apaixonam perdidamente, mas precisam lidar com os problemas de suas vidas, com o casamento arranjado de Lisbela e com o matador corneado (Marco Nanini) que busca se vingar de Don Juan.
Trilogia Para Todos os Garotos Que Já Amei (To All The Boys, 2018-2021)
Quem nunca escreveu cartinhas ou bilhetes de amor não é? A trilogia baseada em livros com o mesmo nome, conta também com P.S. Ainda amo você e Agora e para sempre. A personagem principal é Lara Jean (Lana Condor) que tem o costume de escrever cartas de amor, mas nunca as envia. Porém, um dia, essas cartas são misteriosamente enviadas e sua vida é colocada de cabeça para baixo. Com os clichês de dramas adolescentes, a trilogia aborda o início e amadurecimento do relacionamento de Lara Jean e Peter Kavinsky (Noah Centineo), uma boa e leve comédia romântica.
Como se Fosse a 1ª Vez (50 First Dates, 2004)
Henry Roth (Adam Sandler) é um veterinário que vive no Havaí. Ele conhece e se apaixona, perdidamente, por Lucy Whitmore (Drew Barrymore). Até ai tudo bem, o problema é que Lucy sofre de perda de memória recente, fazendo com que ela se esqueça de tudo o que viveu no dia, toda vez que dorme. Obrigando Henry a conquista-la dia após dia, para poderem ficar juntos.
Com Amor, Simon (Love, Simon, 2018)
Simon Spier (Nick Robinson) é um adolescente gay de 17 anos que ainda não conversou com sua família ou amigos sobre sua orientação sexual. Quando uma situação desconfortável acontece e mensagens trocadas por e-mail, entre ele e outro colega que também não é assumido, são descobertas por um chantagista, Simon tem que lidar da melhor forma possível e sobreviver ao tempestuoso ambiente escolar. Baseado em livro de mesmo nome, a história do filme aborda de forma leve e simples o drama das descobertas e vivências adolescentes.
Alex Strangelove (2018)
Quase com uma premissa de mais um besteirol americano, Alex Truelove (Daniel Doheny) é um aluno exemplar que está no seu último ano do ensino médio e decidiu perder sua virgindade com sua namorada Claire (Madeline Weinstein). Contudo, ao conhecer e fazer amizade com Elliot (Antonio Marziale) um garoto gay, seguro de si e que não esconde seu interesse, Alex embarca em uma jornada de autodescoberta. O filme é uma comédia romântica adolescente que aborda, de maneira simples e natural, a descoberta do amor.
Você Nem Imagina (The Half of It, 2020)
Uma típica aluna deslocada, chamada Elli Chu (Leah Lewis), é uma escritora talentosa e tem o hábito de fazer a lição de casa dos colegas para ajudar com as contas de casa. Ela é secretamente apaixonada pela garota mais popular da escola, a bela Aster Flores (Alexis Lemire). Porém, de maneira inesperada, ela se une a Paul (Daniel Diemer) um atleta jogador de futebol que pede ajuda para escrever uma carta de amor para Ester, fazendo Elli entrar em conflito.
Up – Altas Aventuras (Up, 2009)
Carl Fredricksen (Edward Asner) é um senhor rabugento de 78 anos, que está sofrendo as investidas constantes de uma construtora que deseja comprar sua casa para construir um prédio. Para não perder a casa onde viveu com sua falecida esposa, Ellie (Elizabeth Docter), e consequentemente as memórias com ela, Carl enche a casa de balões para viajar rumo a uma floresta na América do Sul, local onde ele e Ellie sempre sonharam em morar. No entanto, sua viagem sofre uma brusca mudança quando ele descobre que, Russell (Jordan Nagai), um jovem escoteiro acaba indo junto em sua jornada.
A Princesa e o Sapo (The Princess and the Frog, 2009)
Tiana (Anika Noni Rose) sonha em ter seu próprio restaurante em Nova Orleans e para isso ela junta todo o dinheiro que consegue trabalhando. Para conseguir o montante que falta, ela trabalha na festa que sua amiga, Charlotte LaBouff (Jennifer Cody), está dando para tentar conquistar o príncipe Naveen (Bruno Campos). Devido a um incidente, Tiana e o Naveen são transformados em sapos e precisam aprender a confiar um no outro para poderem voltar a serem humanos.
Margarita com Canudinho (Margarita with a Straw, 2015)
Uma jovem indiana com paralisia cerebral deixa seu país para estudar na Universidade de Nova York. A jovem que se chama Laila (Kalki Koechlin) aproveita essa oportunidade para exercitar sua independência. Contudo, após sofrer uma rejeição amorosa, por parte de um colega, ela conhece uma ativista cega chamada Khanum (Sayani Gupta) e embarca numa jornada de descobertas.
P.S. Eu Te Amo (P.S. I Love You, 2008)
Holly Kennedy (Hilary Swank) é uma jovem bonita e feliz, mas que não se sente completamente realizada em seu trabalho. Ela se casou com o homem de sua vida, o divertido e apaixonado irlandês Gerry Kennedy (Gerard Buttler). Mas, ele fica doente e morre, deixando Holly com uma profunda depressão. Contudo, antes de morrer, Gerry deixa uma série de cartas para sua esposa. Sempre assinadas com “P.S. Eu te amo”, as mensagens são enviadas de forma surpreendente e buscam ajudar Holly no processo de recuperação.
Corra! (Get Out, 2017)
Chris (Daniel Kaluuya) é um jovem fotógrafo negro que viaja com sua namorada caucasiana, Rose (Allison Williams), para conhecer a família da jovem. Inicialmente, Chris considera o comportamento estranho dos familiares como uma tentativa de aceitar que ela namore um homem negro. Mas com o tempo, o fotógrafo descobre que ele não foi levado até lá para conhecer a família de sua namorada. Uma ótima escolha para esse dia tão especial.
Esperamos que gostem e aproveitem bastante esse dia especial!
Entre o vai e vem das águas do rio Acre, Antônio Viana encontrou na catraia mais que um sustento: encontrou um novo rumo para a vida. Há 25 anos, depois de perder o comércio, ver portas se fecharem e a tristeza quase vencer, foi no balanço das águas, com o remo nas mãos e a tradição da família no coração, que ele se reergueu. Hoje, mesmo com pontes, carros e aplicativos de transporte ocupando o espaço de antes, Antônio segue firme: “Eu amo o que faço. É honesto, é tradição. Não tenho vergonha de dizer para ninguém que sou catraieiro.”
O ano era 2000 quando a vida de Antônio parecia encalhada. O comércio que sustentava a família havia quebrado, as dívidas se acumulavam e a situação quase o empurrou para a depressão. Foi então que um amigo lhe estendeu a mão e o convidou para trabalhar como catraieiro. O serviço era duro, das cinco da manhã às seis da tarde, por apenas oito reais ao dia. Às vezes o pagamento atrasava, outras vezes nem vinha. Mas a vida, aos poucos, voltou a se movimentar. “Eu passei um tempo difícil, quase peguei depressão. Mas foi aqui, na catraia, que eu achei um rumo de novo. Peguei gosto pelo trabalho e nunca mais larguei”, conta.
Ser catraieiro, para Antônio, é mais que uma profissão, é herança. Seu tio e até parentes distantes que foram figuras históricas da família, como o poeta e pintor Hélio Melo, também viveram do remo. A catraia foi, durante décadas, o elo que ligava margens, pessoas, mercadorias e sonhos. Antes das pontes, era nas pequenas embarcações que a cidade respirava os famosos portos. “Antigamente o porto era cheio de movimento, vinha peixe, banana, melancia, jerimum. Os ribeirinhos desciam com os batelões cheios. Hoje, o que a gente vê são só umas duas, três canoas”, afirma.
Foto: Autores
As pontes chegaram, os carros e as motos tomaram espaço, os aplicativos de transporte mudaram a rotina da cidade e a catraia perdeu seu público. O que antes era a principal forma de atravessar o Acre hoje é quase peça de museu, viva apenas nas margens onde o tempo ainda passa mais devagar. “Tem gente que diz que prefere pagar um Uber do que pagar três reais para atravessar. Mas aqui, se você chegar sem um centavo, eu levo do mesmo jeito. Quero ver se o Uber faz isso”, diz Antônio, com o orgulho de quem sabe o valor que seu trabalho carrega, mesmo quando a sociedade parece esquecer.
Mesmo com os dias de baixa, com o corpo já cansado e a saúde exigindo cuidados, Antônio insiste em permanecer. Para ele, não é apenas sobre ganhar dinheiro, é sobre significado, sobre amor àquilo que construiu sua história. “Tem gente que tem vergonha do que faz. Eu, não. Eu digo com orgulho: sou catraieiro. Tudo o que eu tenho, construí aqui, com o remo na mão e a cabeça erguida.”
Foto: Autores
Ao olhar o rio, Antônio vê um tempo que já não existe, mas que insiste em permanecer, mesmo que só na memória de quem viveu. Vê as corridas de catraieiros no 7 de setembro, os passageiros leais, a amizade que atravessa as margens junto com as embarcações. Vê também o risco de tudo isso desaparecer, engolido pelo silêncio e pela pressa de uma cidade que olha pouco para o próprio passado.
“A catraia é tradição. Podem fazer dez, cem pontes aqui, que ainda vai ter gente atravessando com a gente. O pessoal gosta, mesmo os poucos que restaram. E enquanto Deus me der força, eu continuo aqui.”
Foto: Autores
O remo corta a água devagar, levando mais um passageiro ao outro lado. Para quem olha de fora, pode parecer só uma travessia, para Antônio, é a reafirmação de uma vida inteira dedicada ao rio, ao trabalho honesto, à história de um Acre que começou sobre as águas e que, apesar de tudo, ainda respira nelas.
Música e identidade: jovens acreanos se constroem através dos ritmos
Do forró e reggae de fronteira ao trap, funk e MPB, a juventude do Acre encontra na música uma forma de expressão, pertencimento e resistência. Foto: cedida
A música que escolhemos ouvir não é apenas uma questão de gosto. Ela carrega nossas histórias, desejos, pertencimentos e até nossas contradições. No Acre, a juventude tem construído sua identidade a partir de uma combinação singular de ritmos, que vão desde gêneros tradicionais até influências contemporâneas e internacionais.
Os jovens acreanos transitam entre o forró, o brega romântico e o sertanejo universitário, estilos que, historicamente, marcaram a cena local, e novos gêneros como o funk, o trap e até o K-pop refletem tanto suas raízes regionais quanto suas conexões com fenômenos culturais globais.
Outro estilo marcante é o chamado “reggae de fronteira”, típico das regiões próximas ao Peru e à Bolívia. Embora menos visível nos meios digitais, esse gênero ainda ressoa em festas e encontros culturais, compondo a memória afetiva de muitos jovens. Essa convivência entre o tradicional e o moderno mostra como a identidade musical juvenil no Acre é múltipla, viva e em constante transformação.
A música, nesse contexto, se transforma em ferramenta de expressão pessoal e coletiva, reafirmando a identidade desses jovens em múltiplos espaços, do bairro às plataformas globais. Paula Amanda, jornalista, cantora e já jurada de festivais de música em Rio Branco, destaca que espaços como o Mercado Velho, a Expoacre e os festivais locais ainda têm papel fundamental na formação cultural.
“A gente percebe a predominância dos jovens nesses espaços. É um lugar que influencia, sim, na identidade, porque eles estão tendo acesso de ouvir aquele repertório, ouvir aquele estilo musical e de conhecer outras pessoas que também consomem aquele estilo. Isso é de grande importância dentro dessa construção de identidade, porque eles têm alguém para se espelhar, para ter como referência”, afirma Paula Amanda.
Paula Amanda é jornalista e cantora. Foto: cedida
Ela reforça ainda que cada geração encontra na música um reflexo do seu tempo. “A geração antes de nós tinha um gênero musical que gostava e hoje os adolescentes também têm um estilo, uma identidade, um jeito de se vestir e algo para ouvir. Cada geração tem seu espaço no mundo para consumir o que gosta.”
A forma como essa música é consumida também revela muito sobre os hábitos e dinâmicas culturais dessa juventude. Segundo dados da pesquisa Cultura nas Capitais, realizada pela JLeiva Cultura & Esporte com 600 pessoas em Rio Branco entre 19 de fevereiro e 17 de maio de 2025, o celular é hoje o principal meio de acesso à música, sendo utilizado por 85% dos entrevistados. Em seguida, aparecem o som portátil (75%), o carro (41%), o rádio (33%), o computador (27%), o CD ou DVD (16%) e, ainda, o vinil (3%).
Além dos dispositivos, o uso de plataformas digitais é expressivo: 68% escutam música pelo YouTube, 44% usam o Spotify e 34% recorrem ao TikTok. Esses dados indicam que os jovens não apenas ouvem música, mas a consomem de maneira interativa. Eles compartilham faixas, criam conteúdos, remixam sons e participam ativamente das tendências que surgem nas redes sociais.
Plataformas digitais e novos sons
Abigail Sunamita, cantora, jornalista e assessora de comunicação, explica que os aplicativos mudaram completamente o acesso. “Antigamente, pra você ouvir uma música, era pela rádio, CD ou fita. Hoje, com um simples clique no Spotify ou no YouTube, a pessoa consegue acessar aquela música, colocar na playlist e o mundo inteiro pode ouvir. Isso é de grande importância porque os jovens têm o celular na mão e o acesso é imediato”, explica.
Abigail fala sobre suas experiências na música.Foto: cedida
Sobre os estilos em alta, Sunamita destaca a influência das trends digitais. “Os jovens acreanos estão sendo muito bombardeados pelas trends do TikTok. Essas músicas do auge, de gêneros diversos, muitas vezes resgatadas de tempos antigos, acabam voltando. Mas um gênero que eu percebo muito intenso na vida dos jovens é o funk, o trap e até a MPB, que tem tido um resgate muito forte”, comenta.
Rap como resistência e pertencimento
Além do entretenimento, a música também é ferramenta de resistência e de voz para os jovens, especialmente nas periferias. Kaemizê, rapper e beatmaker de Rio Branco, conta que começou ainda na escola. “A música entrou na minha vida por volta de 2014, quando ouvi ‘Linhas Tortas’, do Gabriel, o Pensador. A partir dali, senti que podia fazer rap. Foi uma grande inspiração”, explica o rapper.
Para ele, o rap cumpre uma função social importante. “Através da música eu li meu primeiro livro. O rap me trouxe essa responsabilidade de cantar algo que eu vivia, mas de forma consciente para quem está ouvindo. Isso me faz refletir até hoje sobre a mensagem que passo”, relata.
Kaemizêreforça papel social do hip-hop. Foto: cedida
O rapper também lembra que o estilo musical influencia diretamente no comportamento e na moda. “Hoje a moda streetwear faz parte da identidade do hip hop. Quando você vai numa escola fazer apresentação e o moleque te vê com uma calça larga, um tênis, isso impacta na vida de quem vê”, conclui Kaemizê.
Música Huni Kuin: ancestralidade e resistência na juventude indígena
Para os jovens indígenas do Acre, como Yubé-Warderson Rodrigues Domingos Kaxinawá, estudante de música da Universidade Federal do Acre (Ufac) e membro do povo Huni Kuin, a música é mais do que arte: é uma ponte para a ancestralidade, um espaço de resistência e uma ferramenta para ocupar espaços na sociedade.
Ele explica como a música indígena, especialmente a Huni Kuin, contribui para a construção da identidade dos jovens e dialoga com outros estilos musicais sem perder sua essência. “A música Huni Kuin ajuda a gente a ser reconhecido, respeitado e a ocupar espaços na arte e na música”, afirma Yubé-Warderson.
Ele destaca que os 17 povos indígenas do Acre possuem tradições musicais diversas, cada uma com sua força cultural. “Não é só o Huni Kuin. Temos referências como o Mapu, que está na mídia, gravando com artistas famosos e participando de novelas, mas há outros povos e artistas que também fortalecem nossa identidade através da música”, comenta.
Yubé-Wardersondestaca importância da música para os jovens. Foto: cedida
Para ele, a música indígena carrega uma espiritualidade única, conectada aos antepassados e à floresta. “Nossas músicas falam dos elementos da natureza, pedem cura, força e paz. Não é como outras músicas que falam, por exemplo, da beleza de uma pessoa. É algo sagrado, com uma história e uma ancestralidade por trás”, destaca.
Como estudante de música na Ufac, Yubé-Warderson reflete sobre o aprendizado formal e a riqueza da música indígena. “Na universidade, aprendemos sobre ritmo, melodia, o que é considerado música no contexto ocidental. Mas, para nós, a música indígena é diferente. Ela está nos rituais, nas dietas, nos batismos, nos cantos dos anciãos e especialistas das aldeias. Nossa inspiração vem dos mais velhos, da nossa origem, não apenas de quem está na mídia”, enfatiza o estudante.
Sobre a integração da música indígena com outros estilos, ele acredita que a adaptação é natural e não compromete a força cultural. “No mundo atual, tudo se transforma, até a música indígena. Podemos usar instrumentos ocidentais, mas a essência permanece. As letras continuam espirituais. É uma criatividade que fortalece nossa resistência, porque mostramos quem somos em novos espaços, sem perder nossa história”, esclarecer.
Yubé-Warderson também destaca a importância de valorizar os artistas que vivem nas aldeias, muitas vezes invisibilizados pela mídia. “Nossa maior inspiração vem dos anciãos, dos nossos pais e tios, que cantam nas comunidades. Eles são a base da nossa música, mesmo que não apareçam na mídia. É de lá, do nosso território, que tiramos força para levar nossa cultura adiante”, destaca.
Desafios da cena musical acreana
Spartakus MC, rapper, historiador e membro do Centro Acreano de Hip-Hop, complementa a análise ao falar sobre os obstáculos de produzir música no Acre.
“A primeira dificuldade sempre foi a falta de acesso à tecnologia: estúdios, softwares, computadores. Isso era surreal há 15 ou 20 anos. Hoje melhorou, mas os equipamentos de qualidade ainda são muito caros. A gente consegue fazer muito com muito pouco”, alega o historiador.
Ele também aponta a carência de incentivo público. “Os apoios vêm por meio de editais, e nem todos conseguem chegar. O poder público incentiva pouco, e até o próprio público consome pouco o que é local”, conclui. Para ele, muitas vezes o que vem de fora é mais valorizado. E, com isso, nem todos reconhecem o valor e a qualidade da música e dos grupos locais que acompanham gerações de acreanos.
Ao manter viva a culinária típica do Acre, cozinheiro conquista turistas e moradores com sua famosa rabada no tucupi.
No Mercado do Bosque, um prato típico do Acre ganhou status de tradição: a rabada. Preparada há mais de três décadas por Antônio Felinto Alves,, eleviu seu nome atrelado à rabada, além de ser também o Toinho do Tacacá.
A iguaria se tornou referência gastronômica para acreanos e turistas. Seu Antônio iniciou sua trajetória aprendendo com Dora, uma cozinheira tradicional também muito conhecida pelos acreanos. Com o tempo, decidiu seguir carreira solo e consolidar seu próprio negócio. Hoje, acumula 35 anos de experiência e 18 certificados na área gastronômica.
“Quanto mais a gente se aprofunda nos temperos, no jeito de preparar, melhor fica. O segredo da rabada perfeita é cozinhar com carinho e amor, não apenas vender por vender”, afirma. Mesmo com décadas de tradição, Toinho também se adaptou às modernidades. O iFood tornou-se parte fundamental do negócio. “Nos tempos de friagem, chegamos a 90 ou 100 pedidos por dia. Nosso ponto forte é no aplicativo”, explica.
A fama atravessa fronteiras. Segundo ele, os turistas que chegam ao Acre procuram diretamente por seus pratos. “O pessoal, quando vem aqui, me fala que vai levar rabada para Brasília, Goiânia, Santa Catarina. Nosso sabor viaja junto com eles”, relata com orgulho.
Para o comerciante, o segredo do sucesso é manter a fé e a dedicação:“Quando o pessoal diz que está ruim, eu não concordo. Se você tem saúde e acorda enxergando, já é motivo para agradecer a Deus. O resto a gente corre atrás.”