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Enfrentamento do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Acre durante pandemia do Covid 19

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Por Gercineide Maia

Durante a pandemia do Covid 19 o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) de Rio Branco-Acre se adapta para realizar o Atendimento Educacional Especializado (AEE) aos alunos da educação básica

O Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Acre (NAAS/H-AC), implementado em 2006 pelo Programa do Ministério de Educação (MEC), mesmo com o isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19, se adapta à nova realidade e busca alternativas para realizar identificação e acompanhamento pedagógico aos alunos matriculados na educação básica.

De acordo com o Censo Escolar de 2020, há mais de 24 mil alunos matriculados com altas habilidades/superdotação na educação especial, um índice bem menor do que o estimado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que varia de 5% a 8% da população que poderia ser identificada, quando talentos são desperdiçados e/ou ignorados na sociedade.

Em entrevista, a técnica de enfermagem Elivânia Gonçalves, 45 anos, mãe do estudante Seillor Sanatiel, 10 anos de idade, identificado com superdotação, conta que seu filho desde pequeno já apresentava inteligência acima da média e quando procurou a Secretaria municipal de educação de Rio Branco-AC, não foi ouvida. “Na época, eu fiquei muito chateada porque eu quis me fazer ouvir, eu quis falar na escola, fui à secretaria e eles não deram atenção, disseram que iam mandar uma equipe e nunca mandaram”, declara.

Estudante Seillor Sanatiel, 10 anos de idade, em aulas remotas durante a pandemia

Gonçalves relata que poderia estar equivocada, mas sentiu muitas vezes que as pessoas não deram muita atenção pelo fato do menino ser filho de uma técnica de enfermagem pobre e negra, que pensava em saber   alguma coisa. “Eles achavam que era entusiasmo de mãe e não era, infelizmente as pessoas querem ver para crer, não pararam para me ouvir e constatar, a prova é tanto que eu queria muito que acontecesse o processo de aceleração dele na escola, mas não foi possível e só entreguei nas mãos de Deus”, relata a mãe.

“Em nenhum momento me conformei com o ocorrido e nem com a série em que meu filho foi matriculado, principalmente, quando ele começou a estudar o ensino fundamental, pois já era um autodidata, inclusive aprendeu a ler sozinho”, esclarece a técnica de enfermagem.

Segundo Gonçalves, em 2019 tudo começou a mudar quando conheceu o NAAS/H Acre, por indicação de uma professora. “Fomos bem recebidos e desde então começou o processo de investigação, um estudo que resultou em um parecer favorável em que meu filho tem superdotação”, revela com muita alegria.

Vinculado a Divisão da Educação Especial da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes – (SEE/AC), o NAAH/S, localizado em Rio Branco-AC,  já identificou desde a sua implantação mais de 600 estudantes com altas habilidades/superdotação, no ano letivo de 2021, por exemplo, atendeu 136 estudantes, afirma Taís Galdino chefe do NAAH/S -AC.

De acordo com Taís Galdino, este núcleo tem por finalidade promover políticas de educação inclusiva e o atendimento às necessidades educacionais específicas dos alunos com altas habilidades e superdotação na educação básica do estado, sendo uma referência para a comunidade educacional e para todos os municípios, principalmente no que se refere ao serviço de Atendimento Educacional Especializado (AEE) para estes estudantes.

Para atender aos alunos com essas características, o NAAS/H-AC atualmente está organizado em sua sede própria com o Atendimento Educacional Especializado em interface com às escolas e conta com o trabalho de professores de áreas específicas como Matemática, Língua Portuguesa, Ciência da Natureza, Química, Música, Artes Visuais. Além desses profissionais, “o núcleo dispõe de docentes que integram a área pedagógica, de professores que realizam formação/capacitação, elaboram e analisam o material didático específico para atendimento e acompanhamento dos estudantes”, informa a chefe do NAAS/H-AC.

Na realidade, o NAAH/S Acre é o único setor de educação do Estado que realiza o serviço de AEE em contraturno do ensino regular específico para investigação/identificação e acompanhamento pedagógico de alunos com características de altas habilidades/superdotação (AH/SD), de forma multidisciplinar e especializada em salas de recurso multifuncional específico no atendimento dos estudantes com AH/SD no prédio do referido núcleo, sendo um trabalho em conjunto com as escolas e as famílias que encontram no NAAH/S um atendimento voltado diretamente para esses alunos público-alvo da educação especial,  assegura.

Desafios enfrentados

Tanto o ensino remoto quanto o ensino híbrido trazem grandes desafios para às escolas e para os núcleos de altas habilidades/superdotação.  “O trabalho nesse período de afastamento social se apresentou de forma desafiadora em muitos aspectos e refletiu em todas as áreas na equipe do NAAS/H-AC e, consequentemente, nos alunos e suas famílias, que precisaram adaptar-se à nova realidade”, declara Taís Galdino, chefe do núcleo.

Diante disso, a equipe do núcleo procurou amenizar os impactos do distanciamento social propondo novas estratégias de atendimento.  “Dentre essas estratégias, estão as oficinas de enriquecimento curricular de forma remota por área de interesse, o que estimulou mais a participação dos estudantes, bem como possibilitou realizar o agrupamento de estudantes por áreas afins, a troca de conhecimento e novas aprendizagens”, ressalta Galdino.

“Sob orientação da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE), em meados de outubro de 2021, o NAAS/H passa também a realizar o   acompanhamento pedagógico de seus alunos forma híbrida”, explica.

 Segundo Jeane Machado, professora de elaboração e análise de material didático específico para o atendimento e acompanhamento dos alunos e apoio aos professores de AEE do NAAH/S, com a pandemia da covid 19, o núcleo de atividades teve que se adequar ao atendimento processo de identificação e avaliação com os alunos para esse novo formato.

“O ensino remoto é mantido para atender boa parte dos alunos que optou, por uma série de motivos, por esse atendimento através de plataformas digitais, que chega também aos municípios e o ensino no modelo híbrido que contempla uma outra parcela de alunos que são acompanhados diretamente no núcleo”, ressalta.

Marcia Helena Leão, professora do Atendimento Educacional Especializado para Altas Habilidades/Superdotação, disse que nesse período todos tiveram que adquirir novas competências para darem continuidade ao atendimento dos alunos.  “Não foi algo fácil, porém, hoje vemos a importância do atendimento, mesmo que remoto, aos nossos alunos com AH/SD”, acrescenta a professora.  

“Iniciamos com a adequação dos nossos instrumentos de triagem e avaliação, que foram transformados em material digital. Desde a indicação, matrícula e atendimento, passamos a utilizar plataformas digitais para comunicação e disponibilização dos conteúdos aos alunos”, exemplifica a professora Márcia Helena Leão.

Segundo a professora, os atendimentos individuais e em grupo são agendados com a família do aluno pelo whatsApp. “Os atendimentos em grupos de enriquecimento, por exemplo, foram ofertados por meio de oficinas de curiosidades que envolveram assuntos atuais e de interesse dos alunos. Nesses atendimentos foi possível perceber a criatividade, o envolvimento com a tarefa e habilidade acima da média dos estudantes em processo de identificação”, conclui.

O domínio dos conceitos trabalhados nos módulos e uso das tecnologias da informação e comunicação empregadas durante as oficinas de curiosidades pelas crianças durante a pandemia foi o que mais chamou a atenção da professora Geciane Martins.  “Os alunos trabalham com inovação, são muito observadores, questionadores, interagem bastante, são responsáveis, pontuais, capricham nas tarefas, querem mostrar o que produzem e ver o desenvolvimento deles me deixa muito feliz enquanto profissional”, declara a professora.

De acordo com a professora, “a pandemia ao passo que trouxe vários desafios também trouxe inovação e para o aluno que é autodidata foi muito benéfica, porque com o uso da tecnologia, eles voaram, se desenvolveram consideravelmente”.

Para Martins, é importante que os pais acompanhem o desenvolvimento de seus filhos para que eles se sintam seguros.  Durante esse processo, disse que criou um laço, um vínculo muito grande com a família de seus alunos.  “Consegui me conectar com os alunos com os pais e mães também e todos eles gostam muito de mim. Respeitando os protocolos, fui à casa deles deixar e buscar tarefas”, finaliza a professora.

Maiores dificuldades enfrentadas

A falta  de acesso aos recursos tecnológicos, da necessidade de domínio das ferramentas digitais por parte dos alunos, disponibilidade de alguns estudantes devido as atividades da escola regular; problemas familiares e de saúde, devido a esse momento, ineficiência e lentidão dos meios de comunicação (rede telefônica e internet), resistência e o desânimo de alguns alunos em receber o atendimento nesse período e realizar atividades práticas à distância, foram umas das dificuldades enfrentadas pelo NAAS/H-AC nesse período de pandemia, relata Taís Galdino, chefe do núcleo.

Para Taís Galdino, apesar de todos as dificuldades, o núcleo buscou alternativas para a eficiência no trabalho, tendo consciência de que vários fatores interferem e fogem do alcance da gestão nesse período de pandemia. Um exemplo que pode ser citado é que foi realizada a impressão do material para os alunos que não tinham acesso à internet e em alguns casos ocorreu a visita na casa do estudante com os devidos cuidados, seguindo protocolos, normas de higienização e distanciamento.

Com apenas 10 anos de idade e uma desenvoltura incrível na comunicação, Seillor Sanatiel aprova o ensino híbrido. “Eu acho que o ensino híbrido foi pelo menos a salvação, porque durante o ensino virtual a essência é perdida, a gente se sente mais desmotivado”. 

“Dentro da sala de aula, por exemplo, se uma criança que não quer fazer uma atividade na aula presencial, ela terá que fazer porque no próximo dia já terá aula de novo, só que na aula virtual a pessoa pode não mandar. No caso, a professora cuida de muitas coisas para poder ter tempo para encarregar-se de atividade específica de uma criança e isso faz com que a criança não se desenvolva”, analisa.

Referente ao que conseguiu produzir durante os estudos nesse período, Sanatiel ressalta que se sentiu bem em saber que enviou suas produções, ter aprendido e entendido o que a professora havia dado, o que lhe causou uma boa sensação. 

Além disso, acrescenta que não teve dificuldades em realizar as atividades, pois já produzia textos, poemas e agora experimenta produzir textos em inglês para melhorar as suas habilidades.

Professora Márcia Helena Leão disse que apesar das dificuldades como o acesso à tecnologia pelos alunos em processo de identificação, dentre outros fatores, o que mais chamou a sua atenção nesse período foi a capacidade de utilização das ferramentas de mídia e informática nas áreas investigadas como o inglês, música, desenho digital, dentre outros componentes curriculares.

Como ocorre a identificação, avaliação e acompanhamento

A indicação dos estudantes para o processo de investigação das características de AH/SD pode ocorrer pela autoindicação, indicação das escolas, indicação pela família e indicação de amigos/conhecidos.

O núcleo disponibiliza um link de indicação no qual podem solicitar a investigação e o acompanhamento com esses estudantes na fase escolar (educação básica). Pela escola a indicação ocorre via ofício, a família e o estudante podem também solicitar o atendimento para o processo de identificação das características na sede do núcleo.

 Formulário de Indicação para o processo de identificação em AH/SD – https://encurtador.com.br/dlrRX

Após receber a indicação a equipe do núcleo entra em contato com a família e a escola para iniciar o processo de investigação das características de AH/SD, que pode durar de seis meses a um ano ou mais.

O aluno Seillor Sanatiel, por exemplo, iniciou o processo de identificação no mês de setembro de 2019 e recebeu o parecer em agosto de 2021 na área criativa produtiva, tem domínio e amplo conhecimento em várias áreas. “Destaca-se na linguagem e comunicação, além da facilidade de aprendizagem de outras línguas, em especial, o inglês, que está aprendendo através de conversa on-line em jogos e aplicativos”, afirma a professora Márcia Helena do Atendimento Educacional Especializado do NAAS/H.

“Sanatiel quando chegou no NAAS/H já apresentava facilidade em comunicação, desenvoltura e conhecimento em várias áreas e a partir do processo de identificação ele apresentou outras características como aprendizagem rápida, facilidade de expor os conhecimentos adquiridos de forma dinâmica (divertida) e o uso da língua estrangeira (inglês)”, enfatiza.

Para o estudante Seillor, o NAAS/H-AC é uma escola só que melhor e que se tivesse que optar, escolheria estudar neste núcleo. “Em geral, ele trabalha várias habilidades que não são trabalhadas na escola em si, é mais interativo do que a escola normal e se eu fosse estudar tudo, seria melhor no NAAS/H do que na minha escola normal, sinceramente”, acrescenta.

Depois que eu descobri que tenho habilidades, eu melhorei em certas partes. No NAAS/H você passa a si valorizar e a ser valorizado, reconhece.

“É maravilhoso falar de um aluno que você identificou com altas habilidades, pois ele passou muitas vezes desapercebido na escola, e hoje você vê um potencial incrível de conhecimento que necessita apenas de incentivo, de investimento”, declara a professora Márcia Helena Leão.

O papel da família

A família exerce um papel de fundamental importância no desenvolvimento da superdotação ou talentos. “Contribui com as informações para a realização do processo de investigação das características de AH/SD, incentivando estudante a participar das atividades e acompanhamento realizado pelo núcleo, proporcionando um ambiente estimulador para o reconhecimento das dos filhos e sendo um parceiro do NAAH/S nas atividades propostas”, afirma Taís Galdino, chefe do NAAS/H-AC.

Professora Jeane Machado fala que no NAAS/H todo o processo de investigação também é feito com a família e defende o quanto é de fundamental importância que esta esteja disposta a participar.  “Se não houver essa parceria, não há como acontecer o processo de investigação e isso dificulta bastante fazer a orientação do aluno também identificado”, acrescenta.

“A família é a base para tudo, por isso é importantíssimo o seu envolvimento, pois fazemos apenas uma parte de toda uma vida futura”, declara Márcia Helena.

A professora expõe que, neste período de atendimento remoto e híbrido, foi essencial a participação da família, pois todo o planejamento e execução das atividades são realizadas por meio da consulta e autorização dos responsáveis.

Existe uma parceria do NAAS/H-AC com família que se sente orientada e acolhida. “Nós nos sentimos muito acolhidos e consideramos muito importante a participação da família nesse processo e esse núcleo de altas habilidades/superdotação se tornou referência para nós”, afirma Elivânia Gonçalves.

“A professora Márcia, por exemplo, passou a ser um membro da família e o NAAS/H-AC representa uma esperança de que o nosso filho Seillor vai conquistar algo importante, porque é através desse núcleo que eu vejo as portas se abrindo para ele, se não fosse núcleo de atividades de altas habilidades/superdotação eu não saberia nem o que fazer em relação a esse conhecimento que ele tem”, declara a mãe.

Serviços ofertados

O Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Acre (NAAS/H-AC), oferta os seguintes serviços:

  • Atendimento educacional Especializado específico aos alunos com características de AH/SD na educação básica, preferencialmente da rede pública do estado;
  • Formação específica na área das AH/SD aos profissionais da educação através de cursos, palestras, oficinas;

A título de informação, no Acre, a formação inicial e continuada para os profissionais da educação básica e comunidade na área de altas habilidades/superdotação e apoio pedagógico às escolas também é ofertado pelo Núcleo de Atividades de Altas Habilidades e Superdotação – NAAS/H, de Cruzeiro do Sul que integra o Centro Apoio à Inclusão Said Almeida Filho.

Este núcleo atende   aos municípios vizinhos como Porto Walter, Marechal Thaumaturgo, Tarauacá, Rodrigues Alves, Mâncio Lima, Feijó e Jordão, conforme o documento orientador do MEC e orientação da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE-AC)

Após decreto governamental o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação retornou as atividades de forma presencial e continua com o atendimento remoto para atender os municípios do Estado. O NAAS/H-AC funciona em dois turnos, na Estrada Alberto Torres, 825, Conjunto Mariana, Rio Branco–AC/CEP: 69.919-202/TEL: 3227-2994/E-mail: naahsacre2@gmail.com

Você também pode encontrá-lo nas Redes Sociais:

Blog: www.naahsacre.blogspot.com,

Instagram:  naahsacre

Facebook: naahs.acre

Cotidiano

Mulheres jornalistas superam dificuldades e levantam questões importantes para a sociedade

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Um estudo realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) mostrou que em 2021 49% das mulheres jornalistas sofreram ataques de gênero sendo desqualificadas com ofensas e xingamentos. No meio digital, o número sobe para 56,76%. Em uma área historicamente dominada por vozes masculinas, apesar das dificuldades as mulheres estão se destacando cada vez em maior número e trazendo à luz temáticas importantes para a sociedade.

Juliana Lofêgo, professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre, diz que a presença das mulheres está influenciando na cobertura de questões sociais, culturais e políticas. Para Lofêgo, elas têm desempenhado um papel significativo em destacar questões de violência contra mulheres e assédio, garantindo que essas problemáticas não sejam esquecidas ou minimizadas pela mídia. “Com o avanço do movimento feminista e as mudanças sociais, as mulheres jornalistas têm sido influenciadas a trazer à tona essas questões, mesmo que isso não tenha sido comum no início de suas carreiras”, complementa.

Consuela Araújo é jornalista formada pela Ufac e atua na área de assessoria de imprensa, ela relata que como jornalista mulher enfrentou estereótipos de gênero e discriminação ao longo da carreira, principalmente fora do jornalismo. Já no telejornalismo, outro campo onde atuou,  diz ter sido bem acolhida por colegas e pela comunidade, entretanto considera que a busca pela igualdade de oportunidades continua sendo uma luta constante. Araújo aconselha as futuras profissionais a buscarem aprimoramento, construir uma rede de contatos sólida e manter a paixão pela verdade e pela narrativa honesta. “Acreditar na importância do jornalismo local é essencial para contribuir significativamente para a sociedade acreana”, afirma. 

Servidora concursada do Estado, a jornalista Andreia Nobre relata que um grande desafio que enfrentou na carreira profissional foi quando se tornou mãe, pois teve que conciliar a maternidade e o trabalho. Ela acredita que esse seja um desafio para as mulheres em qualquer carreira e também para as que trabalham no setor privado.

Apesar das contribuições significativas das mulheres para abordar agendas importantes a serem discutidas na sociedade, a desconfiança em relação a sua capacidade profissional ainda é uma realidade. Ana Paula Melo, estudante do terceiro período do curso de Jornalismo, trabalha como estagiária no jornal Cidade Alerta, ela diz que percebeu que há um preconceito dentro da universidade pelo fato de ser uma mulher estudante de Jornalismo.

“Já vi algumas pessoas torcerem a cara num tom de desconfiança quando falo que faço Jornalismo. Alguns já dizem que somos compradas, e, às vezes, por ser mulher, dizem que ao invés de buscar informações, buscamos fofoca. Em rodinha de amigos, embora ainda seja estagiária, já fui questionada se algum político me paga para fazer matéria sobre ele. Será se eu não tenho capacidade para escrever sobre política? São reflexões que sempre me questiono, afinal, ser mulher é ter a sua capacidade sempre questionada”. Ela acredita que o maior desafio é alcançar credibilidade equivalente a dos homens e enfatiza a importância de inserir mais mulheres em posições de liderança nos veículos de comunicação. 

Texto produzido pelos acadêmicos Ana Caroline Santiago, Adriely Gurgel, Maria Eduarda Melo, Rian Pablo de Oliveira e Júlia Andrade. A produção faz parte da disciplina Fundamentos do Jornalismo.

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Integração dos povos originários na mídia é instrumento de luta e resistência

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Formação para juventude dos povos originários acreanos em projeto da Ufac alia luta por direitos com visibilidade na mídia 

Por Sarah Helena e Tácila Matos

A maior parte das narrativas que circulam hoje sobre a história dos povos originários é contada ainda através do ponto de vista colonizador, ou seja, não partem do olhar indígena. Desta forma, estereótipos e violências são passadas à frente, sem que uma reflexão seja feita.

Em contraponto, a comunicação indígena vem se fortalecendo cada vez mais nos últimos anos, dentro de mídias como a rádio, cinema, internet, redes sociais e imprensa, a fim de transformar essa realidade. 

O acreano Tarisson Nawa, pertencente ao povo Nawa, do Vale do Juruá, jornalista da Defensoria Pública da União e doutorando em Antropologia Social, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que apenas com a Constituição Federal de 1988 o estado passa a reconhecer as formas de governo indígena e, a partir daí, surgem várias organizações representando seus povos.

Com o nascimento e estruturação dessas organizações, bem como o maior acesso a tecnologias digitais a partir dos anos 2000, o jornalista diz que a comunicação se tornou uma área chave de atuação dos povos para reconhecimento de direitos.“E aí você vai ter alguns setores de comunicação sendo formados dentro dessas organizações indígenas para fortalecer e amplificar as vozes dos povos indígenas pelos próprios povos indígenas” acrescenta.

Ele também afirma que a inclusão no sistema de cotas foi fundamental para a entrada dos povos originários no ensino superior e a comunicação se beneficiou com isso. Mas ainda é pouco, visto que existem, segundo ele, apenas cerca de 30 indígenas jornalistas formados no Brasil inteiro. 

Como indígena jornalista, Nawa expressa seu desejo de que os povos originários deixem de ser apenas personagens das notícias e passem a ser os autores e fontes especializadas nas mais diversas áreas de profissão e que a partir dessa presença, as representações negativas na mídia se transformem em positivas. “O que a gente vê hoje, é uma atuação muito forte dos comunicadores indígenas para tentar superar essa deficiência na comunicação enfrentada pelos povos indígenas do ponto de vista profissional técnico”, diz.

“A comunicação indígena ganhou o mundo”

Rasu Inu Bake Huni Kui, professor e doutorando no Programa de Pós-graduação em Linguagem Identidade (PPGLI), acrescenta que “começou lá com os jesuítas, depois veio os antropólogos, missionários, sociólogos e várias outros pesquisadores, e entraram nas comunidades e começaram a escrever sobre os povos indígenas. Nessa época poucos indígenas falavam o português (…) E o pesquisador acabava entendendo do jeito dele”.

Apesar do contexto histórico de invisibilidade e estereotipação dos povos nativos nas mídias tradicionais, os comunicadores já reconhecem os avanços por eles alcançados e o início de uma mudança maior neste cenário.

Os alunos do projeto de extensão da Ufac, Comunicadores Indígenas, mantêm uma visão otimista da trajetória dos direitos e integração na mídia. Morador da Terra indígena Nukini, no município de Mâncio Lima, Unhepa Nukini afirma que “é necessário reconhecer que a comunicação indígena ganhou o mundo. Se você reparar, o Instagram, Facebook, tudo tem indígena trabalhando na comunicação”. Samsara Nukini concorda: “hoje o que eu vejo é que nós somos uma potência mesmo, nós todos, não só os povos indígenas, mas quem protege a Floresta Amazônica, quem é em prol desse grande verde do nosso Brasil”. 

A coordenadora do projeto, professora Juliana Lofego, do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre (Ufac), pontua a centralidade do projeto: “Os indígenas são pouco representados na mídia tradicional, então, é um fortalecimento para a visibilidade fazerem comunicação a partir das vozes deles. Para terem essa consciência de que a voz deles é importante e que eles podem fazer a própria mídia”.   

O projeto propõe uma série de atividades formativas no âmbito da comunicação digital, a fim de fortalecer a juventude indígena, mais inclinada e ligada às tecnologias, para que possam usar diferentes plataformas como apoio nas lutas por direitos. 

Formação de Comunicadores Indígenas no Acre

Nos últimos anos a Comissão Pró-Indígena do Acre (CPI-Acre) tomou a iniciativa de fortalecer o cenário da comunicação indígena no estado. O projeto Curso Comunicadores Indígenas teve início em 2021, com idealização de Vera Olinda e Leilane Marinho, respectivamente, coordenadora e assessora de imprensa da CPI-Acre, e da professora Juliana Lofego, que oficializou o projeto de extensão na Ufac em 2022. 

As atividades começaram em dezembro de 2021, em meio a pandemia, com aulas básicas de noções da comunicação. A cada ano, o projeto adicionava novas oficinas, para desenvolver habilidades de redes sociais, fotografia, edição de vídeos, etc

A 4ª Oficina de Comunicadores Indígenas (2023) contou com a participação de 13 indígenas dos povos Manchineri, Huni Kuĩ, Yawanawá, Nukini e Puyanawa, das Terras Indígenas: Rio Gregório, Mamoadate, Kaxinawá do Alto Rio Jordão, Poyanawa, Nukini e Kaxinawá da Praia do Carapanã e contou com a colaboração da produtora paraense Na Cuia na assessoria às redes sociais.

A última edição, realizada em setembro de 2023, teve como objetivo a montagem de dois produtos: o Podcast Vozes da Floresta e a criação da Rede de Comunicadores Indígenas do Acre. O primeiro, com narração e trilha sonora feitas pelos próprios alunos, está disponível no Spotify e a Rede teve definição de diretrizes e confecção de perfil nas redes sociais disponibilizado na plataforma Instagram (links ao final). Além disso, também promoveu a mostra de audiovisuais indígenas do Acre, o “Cinedebate: vozes da floresta”, no bloco de Jornalismo da Ufac. 

Uhnepa Nukini foi um dos primeiros a participar do projeto, desde o ano de 2021, hoje ele já auxilia os mais novos, enquanto continua no desenvolvimento das ferramentas de comunicação. Ele fala que alguns, no início, eram tímidos, mas ao longo do tempo isso mudou. “A gente foi trabalhando isso (a timidez) aos poucos e os meninos tão se soltando, a gente vê isso, cada dia evoluindo mais dentro deles. E eles tão querendo trabalhar com comunicação, isso é bonito (…). A gente vê isso nas apresentações, no andamento dos trabalhos, no esforço de sair de territórios, que gasta quase dois dias pra chegar num município e depois pegar carro, avião, pra chegar em Rio Branco, deixando famílias lá”. 

Alunos participando da Oficina na Comissão Pró-Indígena do Acre. Foto: Sarah Helena

CPI- Acre também tem papel de estimular jovens indígenas nas lutas políticas

A jovem comunicadora, Samsara Nukini, da Aldeia Panã, Terra Indígena Nukini, chegou à CPI-Acre em maio de 2023. Além dos ensinamentos sobre comunicação e tecnologia, ela relata que somente após ingressar é que tomou conhecimento de questões políticas importantes como a tese do Marco Temporal, ação que tramitou no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal (STF) e que diz respeito às condições para demarcação de territórios indígenas. A partir disso, Samsara Nukini viu a importância das manifestações também pelas redes sociais, já que nem todos poderiam reivindicar os direitos presencialmente em Brasília. 

O projeto está se expandindo para além do planejado. “A gente volta pro território, leva as informações, e vai lá e trabalha. Hoje tem a possibilidade de criar coletivos, hoje já tem o coletivo da aldeia da Messiany, que é Huni Kuin, ela tem o coletivo das mulheres e partiu desse projeto da comunicação. Hoje, dentro do território Nukini, a gente tá dando andamento na criação do projeto de comunicação da Saga Produção Território. É um grupo que a gente tá fazendo de juventude, são 16 participantes. Hoje é metade homem, metade mulher […]”, conta o aluno Uhnepa Nikini. 

Projeto proporciona troca de conhecimentos entre indígenas e não indígenas, “É um momento de sair da nossa bolha”, diz colaboradora do projeto

A estudante do curso de Jornalismo da Ufac e colaboradora do projeto, Ludymila Maia, afirma que sua experiência com os comunicadores indígenas lhe proporcionou esclarecimento, possibilitando que enxergasse outras realidades: “é um momento de sair da nossa bolha”. 

Ela reforça o quanto a rotina de trabalho e estudos na cidade nos prende a nossa própria narrativa e impede de olhar além, de enxergar as dores e causas daqueles que vivem uma realidade diferente. Além disso, ainda critica a sociedade, que tende a “olhar com maus olhos uma coisa que eles nem entendem”. 

Sobre isso, a professora Lofego afirma  sempre ter cuidado com a escuta, de tentar entender quais são as demandas e as experiências dos diferentes povos, para enfim, trazer um conteúdo para ser aplicado nas atividades do projeto. 

Nesta questão, ela tem como inspiração a CPI-Acre, já com 40 anos de experiência na educação indígena, com formação de professores e agentes agroflorestais, bem como no trabalho chamado de “experiência de autoria”, incentiva publicações didáticas, pesquisas, relatórios e audiovisuais indígenas, com valorização da línguas maternas.  

Cine-debate com o antropólogo Terri Aquino e a turma dos comunicadores indígenas. Foto: Ila Verus

O conjunto das oficinas de comunicação apresentou aos jovens indígenas participantes outras formas de resistir, de lutar e fazer incidência política, mostrando ao mundo sua cultura, suas causas e o cotidiano de seus territórios, através da internet, redes sociais e mídias digitais. 

Além disso, também apresentou aos bolsistas, colaboradores e professores, novas perspectivas e oportunidades de expandir seus horizontes e também aprender com seus alunos. Como disse a professora Juliana Lofego: “ é um aprendizado pra gente também, de entender que eles vêem uma comunicação muito mais conectada com a natureza, e que a gente, enquanto cidadão urbano, se descolou disso”. 

A jovem comunicadora Samsara Nukini reflete sobre a importância do projeto, “pra mim foi ajudar a proteger o meu território, ajudar como liderança, como usar a tecnologia, como usar um aparelho celular, como usar redes sociais em prol do meu território, em prol da ajuda dos povos indígenas.” 

Foto: Ila Verus

Redes Sociais indígenas

Rede de Comunicadores Indígenas do Acre- @comunicadoresindigenasdoac Comissão Pró-Indígenas do Acre- @proindigenasacre 

Coletivo dos Estudantes Indígenas da Ufac- @ceiufac 

Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira- @coiabamazonia

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Cotidiano

“Pacto Brutal” e o efeito da mídia em casos de intolerância religiosa

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Documentário relembra crime dos anos 90 pautado em preconceito ao considerar a religião dos acusados fator motivador

Por Gabrielly Martins

No cenário midiático, é possível observar como a forma de veicular notícias pode impulsionar pautas imprudentes e agravar crimes de intolerância religiosa. Uma análise crítica dessas ocorrências podem ser visualizadas no documentário “Pacto Brutal – O Assassinato de Daniella Perez”, lançado em 2022, que além de evidenciar uma tragédia pessoal, expõe o papel da mídia na reprodução deste problema.

A cobertura em cima do caso, sensacionalista, distorce os fatos ao apontar a religião de matriz africana do casal de assassinos como fator motivador. Ao destacar estereótipos e simplificar discursos, a mídia contribui para a criação de um ambiente agressivo à comunidade praticante de religiões afrodescendentes. 

O documentário é assertivo ao convidar para as entrevistas a estudiosa em religiões Rose Rodrigues, para falar sobre essas crenças, ritualísticas e a não ligação das religiões de matriz africana com o crime cometido. Ela reitera que estimular esse olhar de preconceito para o crime é, acima de tudo, tirar a responsabilidade dos autores e depositá-las na fé do outro. 

Rose Rodrigues, estudiosa em religiões, foi convidada ao documentário “Pacto Brutal – O Assassinato de Daniella Perez”. /Imagem: HBO MAX

 Preconceito e desrespeito

As manchetes do  mês dedicado à luta contra o crime de racismo e à valorização da história do povo negro, em novembro de 2023, foram marcadas por uma significativa incidência de casos de intolerância religiosa. Pedrinho, jogador do Atlético-MG e adepto do Candomblé, foi alvo de desrespeito e preconceito em comentários nas redes sociais, após uma derrota do time. A insatisfação com o resultado da partida pareceu motivar o comportamento criminoso. 

Para Laiela Santos, escritora e militante do Movimento Feminista Negro, em matéria para o site Cult, a demonização e a criminalização religiosa vem do que foi implantado na sociedade desde o período de escravização e exploração dos negros, o que gerou marginalização da cultura e fé do povo africano. O meio encontrado para sustentar esse manifesto sociocultural foi a anexação ao catolicismo, o que originou a Umbanda.

Segundo o IBGE, menos de 1% dos brasileiros praticam religiões como a Umbanda e o Candomblé, o que justifica o baixo conhecimento da população sobre essas crenças. Isso leva a um fato, o de que a população não busca informações sobre essas religiões, impedindo que a grande massa entenda os valores e costumes desses grupos, e que atos tão violentos quanto o que vitimou a atriz brasileira não condizem com a realidade.

O processo de catequização e evangelização estabelecido no Brasil pelos missionários europeus não destruiu as manifestações de resistência do povo afro-brasileiro, como os que levam a fé no Candomblé adiante desde a época da invasão dos portugueses. Isso mostra que o combate à intolerância não é uma característica particular do momento atual e reforça que a resistência deve se manter de forma primordial.

Para Cassia Iasmin Marinho, professora de História pela Universidade Federal do Acre (Ufac), pós-graduanda em Criminologia na Faculdade Venda Nova do Imigrante (Faveni) e integrante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi/Ufac),  mesmo neste espaço de resistência e diversidade, o preconceito velado ainda é recorrente no imaginário religioso de grande parte da população. “Para algumas pessoas, é mais crível se apresentados elementos obscuros para explicar uma ação que apesar de hedionda, é humana”, explica a pesquisadora. 

A pesquisadora ainda complementa que a sociedade dos anos 90 não se diferencia tanto da atual quando se fala do preconceito contra religiões de matriz africana, e salienta que há uma absurda discriminação por serem consideradas “do demônio” por outros grupos religiósos, somente pela crença de que realizam sacrifícios e demais  inverdades. “Tudo isso está ancorado em um racismo estrutural, que crê não haver problemas em demonizar manifestações religiosas de matriz africana. Pelo contrário, acham ser o certo”, finaliza.

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