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Saúde

Impacto da pandemia na Coreia do Sul

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Por Andreana Lucas e Souza e Ycla Araújo

O novo vírus covid-19 se tornou um dos maiores e mais graves casos sanitários do século XXI. Era esperado que em resposta a essa nova doença, os países adotassem métodos de amenizar os impactos causados pela doença.

Em diversas pesquisas, a Coreia do Sul aparece como um país que teve um trabalho bem-sucedido no controle contra o coronavírus. Nos primeiros dois meses da crise, o país se destaca mantendo uma baixa taxa de letalidade, em comparação a outros países no mesmo período, sem a necessidade de fechar fronteiras e comércios, mesmo sendo fronteira com a China, onde se iniciou às infecções. Como mostra o gráfico a seguir do site “Our World in Data” que registra e faz  mapeamento dos casos da doença no mundo desde de o começo da pandemia:

Comparativo dos países no início da pandemia em 2020

Muitos métodos foram organizados para que houvesse uma facilidade em detectar os infectados, como tecnologias de rastreamento, além do governo ter distribuído equipamentos de segurança e testes individuais para a população.

Entretanto, a propagação do vírus não diminui com o passar dos dias, e o crescimento de infectados acontece em todo o mundo e mesmo com os cuidados da Coreia, os números continuam a subir.

O mundo neste momento de primeira “onda”, passa por um momento de grande caos por conta do grande número de pessoas que contraíram, enquanto a Coreia se organiza em três formas de combate considerando: as características governamentais e de saúde no país, a evolução da, até então, epidemia e medidas e métodos de resposta à covid-19. Todas elas são levando em consideração situações como a infraestrutura, cobertura populacional com atenção à saúde, a taxa de médicos por habitantes, prestação de serviço, histórico do sistema de saúde. Tudo isso é levado em consideração o estudo desde a data do primeiro caso, a sua evolução até o centésimo caso, a letalidade e as medidas de vigilância no país.

Com todos esses cuidados, o país fecha o ano de 2020 com 1.029,57 casos registrados, enquanto nos Estados Unidos fecha com 182.680,86 e o Brasil com 36.278,43.

Casos confirmados em dezembro de 2021 onde coreia está abaixo dos outros países

A população coreana conta com mais de 52 milhões de habitantes, ocupando uma área de 100.210km e é a 13ª maior economia mundial. O sistema de saúde conta com dois subsistemas: 1) seguro de saúde com gerenciamento público, que cobre cerca de 96% da população; 2) o sistema de saúde público é custeado através do imposto e é voltado para os mais pobres, cobre cerca de 4%. O seguro adota a compra dos serviços nos meios privados e sua infraestrutura se destaca com a alta disponibilidade e qualidade de serviço.

O país já tinha uma estrutura para lidar em casos de situações epidemiológicas e investigações de surtos sanitários e a resposta usada foi com base no Plano Nacional de Gestão das Doenças Infecciosas. No início, a Coreia adotou medidas baseada em dados e na ciência, o protocolo assegurava uma atuação em conjunto com a participação da sociedade e lideranças. O primeiro alerta foi em 3 de janeiro de 2020, após a notificação do primeiro caso na China, o segundo alerta veio em 20 de janeiro com o primeiro caso registrado na Coreia do Sul. Esse caso foi registrado em uma mulher vinda da China, e ela foi interceptada logo no aeroporto. O terceiro alerta aconteceu em 27 de janeiro devido ao aumento de confirmados. Entre 20 de janeiro e 10 de fevereiro de 2020 mostra que os principais registros são da China, porém também acontece em países próximos como Singapura, Japão e Tailândia. A Coreia em 20 de fevereiro registra seu centésimo caso positivo é a primeira morte por covid-19.

Casos Confirmados onde a china está em destaque no início de 2020

Adotou-se também infraestruturas como: implantação de centros de triagem no nível distrital de avaliação dos sintomas, organização de unidades de terapia intensiva, definição de hospitais e alocação de especialistas em doenças respiratórios; implantação de leitos em espaços de hospitais de campanha em casos leves, qualificação dos profissionais, destinação de ações para proteção dos profissionais da saúde.

A comunicação social foi usada para incentivar a população sobre as questões de distanciamento e trabalho em casa, além do governo ter cancelado eventos públicos, restrição de viagens e o fechamento de escolas e universidades. As atualizações sobre as condições e avanços da pandemia eram atualizados constantemente nos sites do país, além do estado mandar mensagens de alerta aos celulares dos cidadãos. As divulgações de prevenção eram divulgadas constantemente para a população sul coreana.

O protocolo de isolamento não contava com o fechamento das fronteiras, no entanto o sistema de rastreamento por meio de um aplicativo no celular era bastante eficaz aos viajantes que passavam ou retornavam ao país. Os identificados por suspeita ou confirmados positivos eram colocados em quarentena domiciliar e aos estrangeiros, o governo disponibiliza centros públicos para abrigo sem cobrar taxa durante os dias de isolamento.

Os centros de triagem na modalidade drive-thru tiveram o objetivo de ampliar diagnósticos e reduzir a exposição dos profissionais, os testes levam em média 10 minutos para serem realizados e os resultados enviados por mensagem aos pacientes no prazo de três dias. Regiões de difícil acesso, foram desenvolvidos veículos com cabines capacitados para a entrada nesses lugares para a realização dos exames. Além disso, uma linha telefônica também foi criada com atendimento 24h para triagem e orientação, conduta e direcionamento dos casos. Todas essas atenções foram essenciais para para que o ritmo de infecções não fosse extremas, que mesmo sem fechar o país e nem impor o lockdown, a população teve a consciência dos cuidados e se pode observar uma diminuição de mobilidade nos centros de transporte público, como em estações que reduziu 40,6% entre janeiro e março e foi observado que o uso de bicicletas se mostrou maior nesse período.

A Coréia do Sul buscou a diversificação das vacinas, podendo ser essa uma das justificativas do início da imunização quase três meses depois do Reino Unido, que foi o pioneiro na vacinação em dezembro de 2020 . Nisso, em fevereiro de 2021 a imunização foi iniciada para a população sul coreana com as primeiras doses da Pfizer-BioNTech e foram priorizadas e destinadas aos profissionais da saúde que estavam na linha de frente  no combate a covid-19. Pelo gráfico a seguir, podemos perceber constantemente que o país se mostrou estável nos registros de novos casos da doença e relação como países como o Brasil, Estados Unidos e o Reino Unido:

Estabilidade de casos confirmados na Coreia do Sul

Comparativo da Coreia do Sul com o Brasil

Como a imagem também mostra, o aumento de casos no Brasil enquanto se tem o declínio dos outro países devido a imunização no nosso país ter iniciado tardiamente e lentamente, visto que o interesse público não foi respeitado pelos responsáveis da aquisição e distribuição da vacina,  o que resultou além do grande número de várias vidas brasileiras perdidas, como também o colapso na economia. Os impactos vão muito além da saúde no Brasil  o que não podem ser mensurados e não existem as expectativas de reestruturação e estabilidade. Enfim imunização no país iniciou em março de 2021 e demorou cerca de nove meses para alcançar 75% da população com a primeira dose da vacina, como mostra o gráfico a seguir com o espelho de vacinação do mês de novembro do mesmo ano:

Comparativo de doses aplicadas entre os países em novembro de 2021

Se realizarmos um comparativo da imagem percebemos que na Coréia do Sul quase a mesma porcentagem já estava na segunda dose do imunizante evidenciando como os coreanos mais uma vez souberam direcionar as medidas públicas contra o covid-19 o que refle atualmente nos registros dos países analisado, sendo assim a Coreia do Sul está em primeiro lugar na imunização de seu país, como mostra o gráfico abaixo do site Our World in Data:

Em 2022 Coreia permanece na frente com a imunização e aplicação de doses da vacina

Disso tudo, a Coreia do Sul investiu majoritariamente em medidas ao combate a doença covid-19  e os impactos causados por ela. Com providências compensatórias e de proteção social destinadas a reduzir o impacto econômico e garantir que a vida dos cidadãos seja preservada, o governo anunciou um orçamento  com o qual foi aprovada uma série de planejamentos fiscais, incluindo garantias de crédito, apoio de emergência às famílias, empresas de turismo e indústrias de exportação.

Em comparação com o Brasil, que teve ações tardias e lentas no combate à doença, os coreanos sulistas mostraram forma de lidar com uma crise epidemiológica  com combinações de vigilâncias, tecnologias, inteligências artificiais e monitoramento, ou seja, conjunto de ensinamentos baseados na experiência sul-coreana com o objetivo de controle e manejo da doença.

Portanto os impactos da pandemia do novo vírus covid-19 foram bem menores do que os que foram causados no Brasil, tantos de casos quanto a mortes causadas na Coreia do Sul ao todo foram 719 mil casos registrados e 6.501 mortes desde o início da pandemia, já no território brasileiro foram 23,6 mil casos e 622 mil mortes, ou seja, dez vezes mais que na coreia do sul. Mesmo que haja o comparativo de habitantes é nítido como as ações de combate interferiram na vida da população de cada país. Neste caso temos dois países que agiram de formas diferentes e os resultados mostram como as medidas tomadas ajudam ou pioram a situação.

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Saúde

As dores silenciosas das mulheres com endometriose

Para a Sociedade Brasileira de Endometriose, o diagnóstico da doença ainda é um desafio. Foto: Reprodução

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Por Beatriz Mendonça

Um momento significativo para todas as meninas é o dia do seu primeiro período menstrual. É o marco da mudança de fases, da infância para adolescência, e, por isso, se torna uma memória que permanece na mente por muitos e muitos anos. Naturalmente, não é algo fácil, sair da inocência infantil para a intensidade dos anos de adolescência, com muitos questionamentos e hormônios à flor da pele. 

Mas para algumas mulheres, esse é o início de uma vida com dores e sintomas que afetam suas vidas negativamente. Esse é o caso de Vanderleia Dias e Tácita Muniz, ambas diagnosticadas com endometriose e que começaram a sentir os sintomas, principalmente as dores de cólicas intensas, desde os primeiros ciclos menstruais. “Além de fluxo intenso, os primeiros dias eram de muita dor, inchaço, enjoo, dor nas pernas e, mais nova, muitos desmaios por conta da queda de pressão”, relata Tácita Muniz.

Nascida em Cruzeiro do Sul, Tácita Muniz é jornalista e foi diagnosticada com endometriose aos 24 anos, após seus sintomas ficarem mais graves: “Chegou ao ponto de ir várias vezes ao pronto atendimento e tomar Tramal na veia pra tentar aliviar. Isso começou a afetar diretamente meu trabalho e minha vida pessoal”, conta.

O caminho até o diagnóstico foi longo e teve início quando a jornalista fazia uma reportagem sobre mulheres que sonhavam em engravidar. Ela identificou seus sintomas com os de uma das mulheres, que tinha o diagnóstico de endometriose.

A partir daí, Tácita enfrentou um desafio comum entre as mulheres que compartilham a condição, o de conseguir o diagnóstico. “Fiz todo exame que você imaginar e não dava nada. Endoscopia, de sangue, raio-X, e ainda ouvia algumas vezes que era muito estranho eu relatar uma dor tão forte e não aparecer nada nos exames”, relembra.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Endometriose, ainda é um desafio o diagnóstico da doença, estudos revelam que há uma grande demora entre o início dos sintomas e o resultado oficial. 

Tradicionalmente, em textos ou livros, é considerado que a investigação é feita através de cirurgia e biópsia para o estudo do caso. Porém, atualmente, com o histórico ginecológico e análise dos sintomas é possível saber se a pessoa possui a doença ou não. Exames de imagem, como ressonância magnética, também podem auxiliar nesse processo.

Afinal, o que é endometriose?

No filme “Endometriose, a minha dor não é normal”, da diretora Marcia Paraiso, os médicos Claudio Crispi e Kárin Rossi explicam que é necessário entender a endometriose como uma doença inflamatória. Ela ocorre devido ao crescimento do tecido do endométrio – camada interna da cavidade uterina – crescer fora do útero, e afetar outros órgãos como ovários, tubas, intestino, bexiga, rins e entre outros. “Fora do seu habitat natural, ele é um corpo estranho, e o seu organismo então passa a brigar com ele, ele não pode estar ali. E esta briga dos nossos anticorpos com esse corpo estranho passa a dar uma reação inflamatória”, explica Claudio Crispi.

Segundo o Ministério da Saúde, ainda não são compreendidas as causas da endometriose, mas as hipóteses levantam fatores genéticos, hormonais e imunológicos. Já os principais sintomas da doença são cólicas menstruais intensas, bem como dor crônica na pelve, dores durante a relação sexual e problemas intestinais e urinários.

O tratamento é feito de acordo com fatores como a gravidade de sintomas, idade, extensão e localização da doença e entre outros. Dentre as opções estão o uso de anticoncepcionais, medicamentos para alívio dos sintomas, implante do DIU hormonal e, em alguns casos, procedimento cirúrgico. 

Mesmo com a perspectiva de melhora, o tratamento também é um processo desafiador. “Tive muitos efeitos colaterais. Desde o aumento de peso, miopia pelo uso excessivo do hormônio, perda de cálcio e eu fiquei muito inchada. Muito mesmo”, conta Tácita. Além do seu acompanhamento com o médico ginecologista, ela defende que é um tratamento que necessita ser feito com uma equipe multidisciplinar, como psicólogos e nutricionistas. “Eu passei por muitas fases. O sobrepeso, e eu ter que me reconhecer em outro corpo, por questões estéticas e também funcionais. É uma doença que só quem convive sabe. Então, é difícil você explicar o motivo de não estar bem. E os acompanhamentos médicos, dietas, são cansativos”, completa.

O suporte no tratamento

De acordo com a Sociedade Brasileira de Endometriose, 1 em cada 10 mulheres sofrem com endometriose no Brasil. Os números do Sistema Único de Saúde (SUS) revelam que de 2022 para 2024, houve um aumento de 76,24% no número de atendimentos de atenção primária relacionados ao diagnóstico de endometriose, contabilizando 145.744 atendimentos em 2024. Isso mostra um avanço recente no diagnóstico da doença, principalmente através da rede pública.

Vanderleia Dias, de 32 anos, relata como começou a ter sintomas muito cedo, com um fluxo menstrual muito intenso e as dores de cólicas intensas. Apesar dos anos com os sintomas, ela só veio ter o diagnóstico dois anos atrás. “Como a maioria dos brasileiros, a gente vai seguindo a vida de acordo com o fluxo da correria da vida, vai levando. Quando sente aquilo no mês, diz ‘eu vou me consultar’, vou atrás, mas isso acaba nunca acontecendo”, comenta. Mesmo com o diagnóstico, Vanderleia ainda não iniciou o tratamento, principalmente pelo valor elevado, em torno de 5 a 6 mil reais por ano.

No Acre, um ambulatório especializado em endometriose foi inaugurado em abril de 2025, na Fundação Hospitalar Governador Flaviano Melo (Fundhacre). A iniciativa partiu da médica especializada Fernanda Bardi, que também coordena o ambulatório, frente às queixas observadas pelas pacientes diagnosticadas com a doença. A proposta recebeu prontamente apoio da gestão do hospital e da Secretaria de Saúde do Estado (Sesacre), e em poucas semanas o projeto foi efetivado.

Conforme orientações da Sesacre, para ter acesso ao serviço é necessário o encaminhamento obtido em uma unidade básica de saúde (UBS), que avalia os sinais e sintomas da endometriose e direciona a paciente para o tratamento na Fundação Hospitalar. Nos 5 meses de funcionamento desde a inauguração, mais de 100 pessoas foram atendidas pelo serviço. “Esse número mostra a importância desse espaço, que garante diagnóstico e tratamento adequado para mulheres que, muitas vezes, sofrem em silêncio com dores intensas. Nosso compromisso é ampliar cada vez mais esse cuidado, oferecendo acolhimento e qualidade de vida às pacientes”, declara Soron Steiner, presidente da Fundhacre.

Sobre a implantação do ambulatório, Vanderleia e Tácita concordam: é um grande avanço. “Eu achei fundamental. Além de toda a dificuldade, é um tratamento bem caro, porque os exames, medicamentos, enfim, tudo, é bem caro. Além disso, amplia o debate sobre a doença e faz com que mais pessoas conheçam e consigam identificar os sintomas”, afirma a jornalista. 

Redação

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Saúde

Quem cuida de quem cuida? 

A realidade invisível dos cuidadores de idosos no Acre

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Por Raquel de Paula, Elis Caetano e Tales Gabriel

O envelhecimento da população já é uma realidade que impacta a rotina das famílias e a estrutura social brasileira. No Acre, segundo dados do Censo Demográfico 2022 do IBGE, entre 2010 e 2022 o número de pessoas com 65 anos ou mais no estado cresceu 64,9%, passando de 31.706 (4,3% da população) para 52.297 idosos, que hoje representam 6,3% dos acreanos. 

No mesmo período, a proporção de crianças até 14 anos recuou de 33,7% para 26,6%,com isso, o índice de envelhecimento, que mede o número de idosos para cada 100 crianças, chegou a 23,8 em 2022, quase o dobro do registrado em 2010.

Esse crescimento no número de idosos, embora menos acelerado que em outras regiões do país, indica um aumento na demanda por cuidados e uma redução no número de jovens disponíveis para desempenhar essa função, o que amplia a sobrecarga de quem exerce essa atividade.

Nesse cenário, está a história de Juliette Silva, cuidadora formada em um curso de três meses, que deixou Rio Branco há dois anos e se mudou para Goiânia em busca de melhores condições de trabalho. 

“A minha rotina diária como cuidadora hoje é uma carga horária 12/36 diurno, trabalho autônomo para uma agência de cuidadores aqui em Goiânia. Vim em busca de ganhar um valor melhor, pois em Rio Branco a profissão é mais desvalorizada”, afirma. 

Suas atividades diárias incluem administrar medicações via oral, dar banho, cuidar da higiene, trocar fraldas, fornecer alimentação e garantir o banho de sol. Mesmo com formação técnica, ela avalia que “mudaria nossa vida a valorização do nosso trabalho. Que pudéssemos ter nossos direitos trabalhistas reconhecidos como profissionais que somos. Infelizmente, nossa profissão é registrada em carteira como uma função doméstica. Isso é muito injusto.”

Juliette considera o cuidado com idosos uma missão, mas destaca o custo emocional envolvido, que afeta diretamente a saúde física e mental de quem cuida. “Nossa profissão é linda, vai além de uma profissão. Eu costumo dizer que é uma missão. Mas, infelizmente, existem muitos cuidadores que são explorados por famílias, que desviam as funções e sobrecarregam o cuidador, pedindo para fazer outras tarefas além de cuidar do idoso.”.

O relato de Juliette reflete a rotina de muitos cuidadores, marcada por jornadas extensas, múltiplas responsabilidades, baixa segurança trabalhista e vulnerabilidade emocional. Grande parte atua como autônomo ou é formalmente enquadrada como empregado doméstico, o que reduz direitos como jornada regulamentada, descanso remunerado, FGTS e contribuição para aposentadoria.

Embora o Estatuto da Pessoa Idosa estabeleça direitos como assistência à saúde e à dignidade, o cuidador, figura essencial nesse processo, ainda carece de políticas públicas específicas. O Ministério da Saúde oferece cursos e capacitações por meio da UNA-SUS, mas a abrangência dessas ações para cuidadores familiares ou autônomos, especialmente no interior do Acre, é limitada.

Sobrecarga

A ausência de uma rede de apoio estruturada tem reflexos diretos na saúde física e emocional de quem cuida. A psicóloga e psicanalista Sara Saraiva destaca que os impactos sobre a saúde mental dos cuidadores já estão implícitos na própria pergunta que norteia este trabalho: “Quem cuida de quem cuida?”. Segundo ela, é comum que esses profissionais, e também familiares que assumem a função, acabem esquecendo de cuidar de si mesmos.

“Surge aquela sensação de: Se eu não fizer, quem vai fazer? Mas também é preciso pensar: E quem faz por mim?”, afirma.

Essa dedicação exclusiva, explica Saraiva, pode gerar estresse e um sentimento de culpa excessiva por não se permitir descansar, por sentir-se cansado ou, até mesmo, por não querer cuidar em determinados momentos.

“Muitos acabam se perdendo de si e passam a viver quase que integralmente a vida da pessoa assistida”, acrescenta.

De acordo com a psicanalista, essa sobrecarga emocional e física, quando acumulada, pode desencadear crises de estresse intenso, quadros de ansiedade e até depressão. Para ela, prevenir o adoecimento exige a atuação conjunta da família, da sociedade e do poder público.

“No caso de cuidadores familiares, é fundamental dividir tarefas e responsabilidades. Também é necessário oferecer suporte psicológico e acompanhamento dentro da rede pública de saúde. A prevenção começa com a conscientização: entender que, embora cuide do outro, essa pessoa também precisa de cuidado, acolhimento e de olhar para si, lembrando que sua vida não se resume àquele que ela assiste”, conclui.

Rede de apoio

Além de profissionais autônomos, o Acre também conta com iniciativas coletivas que tentam suprir a carência de apoio. É o caso do Anjos do Cuidado, grupo fundado por Benedita do Anjos Silva, que hoje reúne mais de 200 cuidadoras e técnicos. Ela conta que a ideia nasceu de forma espontânea e cresceu rapidamente.

“Eu criei esse grupo porque, depois que me formei como técnica, fui trabalhar em uma família e, com o tempo, as pessoas foram conhecendo meu trabalho e me chamando para cuidar de outros pacientes. Chegou um momento em que eu não conseguia dar conta sozinha, então comecei a convidar colegas”, explica. 

No início, era um grupo de WhatsApp com três ou quatro pessoas, atualmente são 232 profissionais prestando serviços em hospitais e domicílios. São atendidos pacientes que precisam de ajuda para se locomover, acompanhar consultas ou até viajar. “Tudo começou pequeno, mas virou uma rede de apoio muito importante”, afirma a técnica.

Para Benedita dos Anjos, um dos maiores desafios é a falta de planejamento das famílias.“Muitos só pensam em contratar um cuidador quando o idoso já está debilitado ou quando a família já está emocionalmente sobrecarregada. Se houvesse essa contratação preventiva, o cuidado seria melhor para todos”.

Apesar da rotina intensa e da pouca valorização profissional, cuidadores também precisam de atenção e cuidado, como mostram as iniciativas que apostam em solidariedade e compreensão.

Redação

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Saúde

Aumento da busca por dietas radicais levanta alertas sobre os riscos à saúde

Nos últimos anos, a busca por dietas radicais para emagrecimento rápido tem se intensificado, principalmente com o impacto das redes sociais, onde promessas de perda de peso acelerada ganham visibilidade. Essas dietas, muitas vezes extremamente restritivas, podem levar a resultados imediatos, mas, segundo especialistas, podem acarretar sérios riscos à saúde. Em busca de um corpo magro em um curto espaço de tempo, muitas pessoas optam por eliminar tipos de alimentos ou reduzir drasticamente a ingestão calórica, sem considerar as consequências a longo prazo.

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Por Raquel de Paula e Antônia Liz 

Nos últimos anos, a busca por dietas radicais para emagrecimento rápido tem se intensificado, principalmente com o impacto das redes sociais, onde promessas de perda de peso acelerada ganham visibilidade. Essas dietas, muitas vezes extremamente restritivas, podem levar a resultados imediatos, mas, segundo especialistas, podem acarretar sérios riscos à saúde. Em busca de um corpo magro em um curto espaço de tempo, muitas pessoas optam por eliminar tipos de alimentos ou reduzir drasticamente a ingestão calórica, sem considerar as consequências a longo prazo.

O nutricionista Ítalo Oliveira alerta que as dietas radicais podem causar uma série de efeitos colaterais negativos. “O indivíduo pode apresentar fraqueza, tontura, dores de cabeça, cansaço, mau humor, indisposição, dificuldade de concentração e até desmaios. Além disso, essas dietas sobrecarregam órgãos como fígado e rins e podem resultar em carências nutricionais graves, como anemia”, afirma. 

As dietas radicais representam um perigo cada vez maior. Foto: Reprodução

O especialista destaca ainda que a redução drástica de calorias desacelera o metabolismo, prejudicando a produção de hormônios essenciais, como T3 e leptina, que regulam o controle do peso e a sensação de fome. “Isso pode levar à perda de massa muscular e, consequentemente, ao efeito sanfona, no qual o peso perdido é rapidamente recuperado, muitas vezes com aumento de gordura corporal maior”, completa o nutricionista.

Além dos danos físicos, a saúde mental também pode ser severamente afetada pelas dietas restritivas. Ítalo Oliveira ressalta que a falta de carboidratos, por exemplo, impacta a serotonina, o hormônio responsável pelo bem-estar, gerando mudanças de humor, ansiedade e até transtornos alimentares. 

“Dietas radicais aumentam os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, o que pode causar compulsões alimentares, irritabilidade e perda de foco, prejudicando também o desempenho físico, principalmente no esporte”, explica.

Magreza extrema é tema de debates na atualidade. Foto: Reprodução

O especialista alerta que a solução para uma perda de peso saudável deve ser baseada na reeducação alimentar aliada à prática regular de exercícios físicos, evitando métodos extremos. A chave é adotar um déficit calórico moderado e ajustável, sem eliminar grupos alimentares essenciais.

 “A ingestão de proteínas deve ser priorizada para preservar a massa muscular, enquanto carboidratos e gorduras precisam ser distribuídos estrategicamente para garantir energia e equilíbrio hormonal. O treinamento de força, combinado com atividades aeróbicas, deve ser ajustado de acordo com as necessidades individuais”, conclui. 

Redação

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