Olhares
Realidades Paralelas: acreanos adotam novos hábitos no ambiente virtual durante a pandemia
Publicado há
3 anos atrásem
por
RedaçãoO crescimento no uso de aparelhos eletrônicos durante a pandemia de Covid-19 fez com que a sociedade migrasse a uma realidade paralela, mas que trouxe reflexos na vida real
Por Guilherme Limes, Renato Menezes e Gabriel Vercoza Alves
Quem nunca deu uma stalkeada em alguma rede social e, quando se deu conta, viu que aquela olhadinha custou um tempo que, simplesmente, voou? Durante este período de pandemia ocasionada pela Covid-19, o isolamento social provocado pelo vírus fez com que este tipo de prática se intensificasse ainda mais, justamente porque as pessoas procuravam outras formas de se distrair dentro da própria casa.
No entanto, a mudança não foi somente neste hábito. O home office, as aulas na modalidade de ensino à distância, as compras online e tantas outras atribuições que tiveram de ser reformuladas para os moldes virtuais, fizeram com que as pessoas se inserissem, de forma ainda mais intensa, em uma cultura de telas onde as luzes artificiais nos fazem ficar vidrados em frente aos aparelhos eletrônicos, tanto para fins profissionais, como para se esquivarem da realidade.
De acordo com dados do mês de março de 2021 emitidos pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), são mais de 240 milhões de telefones celulares no Brasil, sendo quase 113 celulares para cada 100 habitantes. Somente em Rio Branco (AC), são 475.779 unidades, o que dá uma média de 115 aparelhos para cada 100 pessoas.
Com relação ao tráfego de usuários na Internet, a Anatel registrou um aumento entre 40 a 50% neste período de pandemia pelo fato de as pessoas começarem a usar a ferramenta para fins de estudo, trabalho, compras e entretenimento de forma ainda mais intensa. Na prática, houveram picos 11 terabytes por segundo em 2020, o que é quase o triplo da média registrada em 2019, que configura 4,69 terabytes.
Tais relatórios mostram o quão as telas e os conteúdos que elas transmitem têm atuado como um método bastante eficaz para realizar qualquer tipo de coisa, principalmente quando há restrições de deslocamento. Porém, fatores como estresse, compulsividade, vício em redes sociais, falta de concentração e baixa autoestima são alguns dos prejuízos que vêm acompanhado da facilidade e dinamicidade dos aparelhos eletrônicos e aplicativos, e que podem refletir no bem estar e em relações interpessoais.
PANDEMIA E COMPRAS ONLINE
Apesar de o e-commerce não ser uma novidade, o percentual de pessoas que passaram a aderir às compras online cresceu de forma considerável. Segundo um levantamento feito pela Ebit/Nielsen divulgado em 2021, 13 milhões de brasileiros passaram a aderir ao comércio eletrônico em 2020, o que configura um aumento de 23% de consumidores com relação ao ano anterior. No total, foram 17,9 milhões de consumidores a mais do que em 2019. Além disto, foram movimentados mais de R$ 87 bilhões em vendas nesta modalidade, justamente por conta do fechamento das lojas físicas devido à pandemia.
A estudante Meline Melo começou a fazer compras online através dos aplicativos desde 2017, porém, com mais intensidade em 2020. Ela contou que é, praticamente, um vício ficar olhando os produtos diariamente e que, apesar de não ser possível experimentar ou ver o produto físico, o preço e a variedade de itens acabam influenciando no ato de comprar.
“A pandemia intensificou este estilo de compra porque teve um certo momento em que todas as lojas estavam fechadas. Então, as pessoas tiveram que recorrer às compras online, e também acaba sendo mais cômodo. Eu, por exemplo, não encontro nada relacionado a k-pop no estado, mas na internet é mais fácil achar”, enfatizou.
A youtuber Luz Clarita Araújo também destacou a comodidade como um fator decisivo na hora de comprar. Ela começou a pedir produtos durante a pandemia e falou que nunca tinha feito isso antes por medo de dar errado ou de não receber o pedido.
“Eu sempre tive vontade, mas não tinha coragem. Comecei comprando presente de aniversário em maio e fui continuando. Hoje eu não posso ver uma oferta que já quero comprar”, falou.
CRESCIMENTO DO TIK TOK
A extensão das telas não se limitou apenas ao e-commerce. O aplicativo TikTok, por exemplo, virou um fenômeno na quarentena. De acordo com o relatório emitido pela empresa App Annie, que monitora o desempenho de aplicativos, o crescimento absurdo de downloads fez com que esta tecnologia chinesa figurasse como o mais baixado do ano de 2020. O tempo gasto pelos mais de 1 bilhão de usuários ativos no app cresceu 325% ano a ano, com uma média de 5h por mês, superando o Facebook pela primeira vez.
Ainda de acordo com o monitoramento, o motivo que indica o crescimento do TikTok foi a pandemia, que fez com que as pessoas migrassem a uma rede social que promovesse diversão, criação de conteúdo e socialização com outros usuários.
Dados mais recentes dos desempenhos de aplicativos divulgados pela consultoria Sensor Tower, mostram que o Brasil foi o país que mais inseriu usuários na plataforma no mês de abril de 2021, com 7,6 milhões de novos membros de um total de quase 60 milhões de downloads no mundo.
A FEBRE DA GERAÇÃO Z
A estudante de direito Luísa Longo foi uma das que aderiu ao app do momento. Ela conta com mais de 35 mil seguidores no TikTok e disse que começou no aplicativo de forma despretensiosa, apenas como um passatempo na quarentena e sem intenção de postar e gravar vídeos, por ter vergonha.
O primeiro vídeo dela que viralizou foi de quando coloriu o cabelo sozinha em casa. Apesar de o conteúdo ter sido sendo postado sem áudio sem querer, isso não foi um problema, visto que conseguiu mais de 2 milhões de views e quase 300 mil curtidas. O segundo foi exatamente com o mesmo vídeo, mas dessa vez com áudio, que obteve repercussão similar.
Ela falou que em 2020 estava muito viciada em assistir os vídeos da plataforma e costumava usar por horas, afetando os afazeres diários, principalmente durante as aulas online que necessita de atenção. “Se eu abro o aplicativo, eu vejo um vídeo. Aí eu vou ver, já tem passado 30 minutos e eu estou rolando a timeline, meu for you, e continuo assistindo”.
Para a estudante, o TikTok virou um fenômeno porque ele formula conteúdos muito específicos para cada pessoa, a partir da aba “for you”, que significa “para você”.
“O algoritmo é muito específico, então acho que esta questão de poder se conectar com as coisas que você gosta e com as pessoas que curtem as mesmas coisas que você, assistir coisas que estão ligadas ao seu estilo de vida, etc., foi uma das coisas que levaram a esta febre”, ressaltou.
A influenciadora digital Bia Araújo também viu sua conta disparar no período de pandemia. Atualmente, ela acumula 2,4 milhões de seguidores no TikTok e disse que começou a gravar vídeos, de forma despretensiosa, sobre customização, não imaginando a dimensão que tomaria.
Para a tiktoker, a plataforma se tornou um fenômeno e conquistou os brasileiros por falta de entretenimento neste período de pandemia. Ela também falou que costuma fazer conteúdos voltados à culinária e que pode ter sido isto que a fez conquistar um público grande, já que é mais comum ver vídeos de dança.
“A plataforma é um meio fácil de se crescer porque qualquer vídeo pode viralizar. Mas o que me fez conquistar seguidores foi meu conteúdo ‘diferente’, por não ser algo tão normal no app no começo, e também a constância porque muitos começam, mas acham que não vai dar certo e desistem”, pontuou.
“NO TRABALHO, CONSIGO RENDER MAIS”
As rotinas de trabalho também foram afetadas durante a pandemia. No Núcleo Telessaúde Acre que atua com serviços de saúde à distância, a cirurgiã-dentista e coordenadora de campo, Caroline Oliveira, conta que algumas atribuições que, anteriormente, eram realizadas de forma presencial, tiveram de ser concentradas nos moldes virtuais. Reuniões e webpalestras que costumavam acontecer e ser transmitidas no próprio Núcleo, precisaram ser replanejadas para garantir a segurança dos palestrantes.
“Por se tratar de um ambiente em que temos que fazer divulgações, gravações e documentações, normalmente se torna um pouco mais cansativo. Fisicamente, a gente percebe que temos algumas delimitações físicas e, às vezes, até mentais de sobrecarga de trabalho. No final do dia, a gente sempre sente uma ardência na vista, mal estar, dor na colunae na cabeça”.
A cirurgiã-dentista conta também que se vê muito assídua quando o assunto é redes sociais, além de achar que estes instrumentos atuam como ferramentas que vieram para facilitar e simplificar funções mais burocráticas. Porém, acredita também que elas trazem alguns problemas, principalmente em questões de concentração.
“Eu acho que no trabalho presencial eu consigo render mais. Em casa, às vezes, tem outras coisas que nos tiram do foco, seja uma tarefa doméstica, um parente que chega, e até as próprias redes sociais mesmo quando a gente pega para olhar”, pontuou.
FADIGA NO ENSINO À DISTÂNCIA
Estresse e cansaço também são alguns dos problemas vivenciados pelo professor de português, Rodrigo Marques, que agora dá aulas em ensino remoto. De acordo com ele, é necessário adaptações constantes para que o ensino não se torne exaustivo para ambos os lados, já que há um sobrecarregamento de demandas que não condizem com a realidade atual.
“A experiência não tem sido fácil. Os obstáculos, que não são poucos, tem feito com que a gente tenha que se reinventar todo dia, além de uma maior carga de trabalho, de gastos extras com o nosso próprio recurso, da busca ativa aos alunos, e de trabalhar com ferramentas não democráticas e, muitas vezes, inacessíveis”, complementa.
“ESTUDAR EM CASA TEM SIDO UMA VANTAGEM E UMA DESVANTAGEM”
Para os estudantes, a realidade não foi diferente. Mesmo com a possibilidade de tirar dúvidas mais pontuais com os professores, a estudante do terceiro ano do ensino médio, Elis Vitória de Lima, disse que as aulas se tornaram “desafiadoras, vantajosas e desvantajosas”.
Ela relatou que já está se preparando para o vestibular e que vem se adaptando da maneira que pode durante este momento, apesar das desvantagens de precisar se esforçar para manter o foco e de não se dispersar durante as aulas. Para ela, a maior vantagem de estudar dentro de casa é a possibilidade de se preparar e de absorver os conteúdos dentro de seu próprio ritmo.
“Estudar em casa tem sido uma vantagem e uma desvantagem. Consigo procurar recursos que podem me ajudar e auxiliar durante esse processo, como os cursos online para os vestibulares, além de videoaulas que vem ajudando muito a compreender melhor que antes algumas disciplinas, principalmente para tirar algumas das minhas dúvidas mais frequentes”, explicou.
A CULTURA DA INSEGURANÇA
Sobre os impactos psicológicos que a cultura de telas, potencializada pela pandemia, teve na vida das pessoas, o psicólogo clínico e educacional, Álef Costa, disse que muitos pacientes dele desenvolveram transtornos de ansiedade, depressão e síndrome do pânico em decorrência dos conteúdos que consumiam nas redes sociais.
“Pessoas com depressão geralmente tem a crença de que não é capaz, de que não pode, de que é inferior a outros e imaginando um mundo do perfeccionismo, das pessoas perfeitas, do casal perfeito, do melhor emprego do mundo, e assim por diante, mas a gente sabe que na vida real não é assim”.
Ele falou que muitos usuários acabam usando as redes sociais como válvulas de escape para mostrar algo que não condiz com a realidade por fatores envolvendo insegurança e medo. Para isso, ele recomenda que a pessoa procure ajuda de um profissional.
“É importante trabalhar a insegurança e a autossabotagem na terapia. Se você está internalizando estes pensamentos, é necessário tratar isso na psicoterapia”.
Sobre este assunto, os estudantes de jornalismo Renato Menezes, Guilherme Limes e Gabriel Verçoza convidaram a criadora de conteúdo Agatha Rosa e a modelo Isna Fernanda para um bate-papo sobre autoestima e redes sociais na pandemia em um podcast exclusivo para esta reportagem. Para conferir o bate-papo.
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Olhares
Para além da grade curricular: educação literária como janela para o aprendizado
Publicado há
1 ano atrásem
23 de agosto de 2023por
RedaçãoBiblioteca Pública do Estado do Acre recebe centenas de alunos diariamente – Foto: Inayme Lobo
Por Inayme Lobo, Luanna Lins, Maxmone Dias e Tiago Soares
Um recente estudo realizado pela Associação Internacional para Avaliação de Conquistas Internacionais (IEA) revelou que o Brasil ocupa a 52ª posição em habilidades de leitura, entre crianças do 4º ano do ensino fundamental, em um ranking com 57 países. Ainda de acordo com a pesquisa, 52% dos brasileiros mantêm o hábito de leitura, mas o país perdeu aproximadamente 4,6 milhões de leitores nos últimos anos. Enquanto um brasileiro lê, em média, quatro livros por ano, um canadense lê doze, por exemplo.
Uma análise do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avaliou estudantes entre 15 e 16 anos em 77 países, apontou que em 2019 metade dos alunos brasileiros alcançaram apenas o nível 2 de leitura, em uma escala de 1 a 6.
Segundo o programa, esses alunos são capazes de identificar a ideia principal de textos de tamanho moderado, mas enfrentam dificuldades em compreender conceitos abstratos e estabelecer distinções entre fatos e opiniões. Apenas 2% obtiveram as melhores notas em leitura, demonstrando habilidades mais avançadas de compreensão e análise de textos longos.
Diante desse cenário, a educação literária surge como uma ferramenta essencial para fomentar o desenvolvimento dos alunos e ampliar a grade curricular tradicional. Porém ainda existem entraves no contexto educacional, conforme explica o docente de Políticas Educacionais, da Universidade Federal do Acre (Ufac), Pelegrino Verçosa. Para ele, ainda contamos com motivos para que o desenvolvimento da leitura não seja dos melhores.
“Como é que estamos desenvolvendo as práticas de leitura, se a leitura ocorre pela via mais traumática que é a da imposição curricular, pela lógica de que os estudantes não possuem escolhas? Nós temos uma narrativa de que os estudantes podem escolher percursos formativos. Entretanto, isso não é verdadeiro, porque os estudantes não podem escolher. Eles leem aquilo que é oferecido para eles”, destaca o professor.
Alunos se reúnem para um momento literário na ala de HQs da Biblioteca Pública – Foto: Inayme Lobo
A leitura literária permite que os estudantes acessem diferentes mundos, ampliem sua capacidade imaginativa, desenvolvam empatia e construam repertórios culturais mais abrangentes. No entanto, é necessário um esforço conjunto para promover essa prática de maneira efetiva.
Segundo Pelegrino Verçosa, a gestão escolar também desempenha um papel fundamental ao criar um ambiente propício para a formação de leitores. É preciso considerar a realidade dos alunos, suas necessidades e características individuais, e oferecer literaturas diversificadas, incluindo obras clássicas e contemporâneas que dialoguem com suas experiências de vida.
Clubes de leitura
Dados apresentados em 2021 pela empresa Betalabs, plataforma de e-commerce e clubes de assinaturas, aponta que os clubes literários alcançaram 27% do mercado de clubes por assinatura, o que representou um aumento de 60% em relação ao ano de 2019.
A educação literária desempenha um papel crucial no desenvolvimento dos estudantes, indo além da grade curricular. É possível promover novos conhecimentos e o gosto pela leitura, por meio de projetos que ultrapassam os muros das escolas. Exemplo disso é o Clube de Leitores, criado em 2015 e gerenciado pela professora Maria da Conceição Silva, na Escola União e Progresso.
Nele, os membros do clube leem os livros de diversos gêneros indicados pela docente e no fim do mês se reúnem para falar sobre a obra escolhida, indicando-a para mais leitores. Ex-alunos da escola e outras pessoas da comunidade também participam da iniciativa.
Estudantes se reúnem na Escola União e Progresso para debater sobre os livros – Foto: Inayme Lobo
Outras instituições de ensino também têm implementado esse tipo de atividade, como é o caso da Escola Estadual Senador Adalberto Sena. O aluno Paulo Eduardo, de 18 anos, que também é diretor social do grêmio estudantil e integrante do clube da leitura da unidade, fala sobre a variedade de gêneros textuais que são abordados pelo grupo.
Ouça a experiência do estudante Paulo Eduardo no clube de leitura escolar
Os estudantes Paulo Eduardo, Kayky e Thavyne integram o clube do livro da escola estadual Senador Adalberto Sena. Foto: Inayme Lobo
Além dos clubes de leitura em ambientes escolares, o Acre também conta com iniciativas que abarcam a comunidade. Exemplo disso é o Prateleira, considerado primeiro clube do livro no Acre. Há pouco mais de um ano, o projeto tem incentivado o gosto pela leitura e, principalmente, ampliado a comunidade a conhecer mais sobre as obras e autores acreanos.
A jornalista Karolini Oliveira, que é coordenadora do projeto, conta que a iniciativa surgiu devido ao seu interesse em compartilhar leituras sobre a literatura acreana com a comunidade e não apenas no meio acadêmico. Foi a partir daí que a jovem inscreveu o Prateleira em um edital da Fundação Garibaldi Brasil. Na época, o projeto foi contemplado e recebeu apoio da instituição, porém hoje segue de forma independente.
“Quando começamos como Clube de Leitura, em 2022, jamais imaginávamos o alcance que teríamos em tão pouco tempo. Foram mais de seis mil pessoas atingidas com apenas uma publicação nas redes sociais. Todo mês recebemos sugestões de leitores sobre qual livro acreano será o escolhido, então é feita uma votação online, pelo instagram do clube do livro Prateleira”, explica a jornalista.
A jovem ainda destaca que o clube está sempre aberto para receber novos membros. Segundo ela, os interessados podem se inscrever de forma online, por meio de formulário.
Olhares
Mulheres mais velhas no relacionamento: ainda é um tabu?
Publicado há
2 anos atrásem
10 de junho de 2022por
RedaçãoPor Gisele Almeida e Lucas Thadeu
O relacionamento entre uma mulher mais velha e um homem mais novo ainda carrega um grande preconceito na sociedade brasileira. Dessa forma, é muito comum mulheres mais velhas passarem por constrangimentos pelo simples fato de se relacionarem com homens mais novos. Contudo, quando o fato ocorre ao contrário, em que o homem é mais velho, as reações das pessoas são alternadas, mas há uma maior aceitação.
A reportagem realizou uma enquete com 33 pessoas, por meio de um formulário compartilhado nas redes sociais para saber mais sobre a opinião das pessoas a respeito desse tabu. No questionário, 90,9% já presenciaram algum tipo de preconceito com mulheres mais velhas no relacionamento conjugal.
Outro dado que chama atenção é a aceitação, pois 81,8% acham normal quando o homem tem de 7 a 10 anos de diferença de idade entre a namorada ou esposa. Contudo, quando perguntado ao contrário, se é normal que uma mulher tenha essa diferença de idade, 51,5% não acham que seja normal. Por fim, 66,7% dos internautas acham que a mulher mais velha sofre mais preconceito que os homens quando o assunto é idade.
Alcimar Souza, caseiro, de 47 anos, manteve um relacionamento com uma mulher que era 12 anos mais velha que ele por quase 10 anos. Ele relata que o preconceito esteve muito presente: “às vezes a gente ia em alguns lugares, e quando chegávamos lá perguntavam se era a minha mãe ou porque estava casado com ela. Eu ficava triste com aquela situação, pois era muito preconceito em quase todos os lugares que eu ia”, relembra.
No atual momento, ele está com outra companheira e é 7 anos mais velho. Souza afirma que a reação das pessoas com esse relacionamento é totalmente contrária ao de antes. “Ninguém nunca comentou nada relacionado à idade, é bem tranquilo”, conclui.
Quem também passou pela mesma situação foi a Luciana Azevedo, de 43 anos, conferente de depósito, que vive uma união estável há 10 anos e é 10 anos mais velha que o companheiro. Ela afirma que no início conseguiu o apoio da família e pessoas próximas, mas foi no trabalho que ela passou por uma situação desconfortante. “Uma vez, uma pessoa que trabalhava comigo falou assim: teu filho veio aqui. Aí eu falei: que bom, quando eu estava nascendo, eu já estava grávida dele”, relembra.
Além das mulheres passarem por situações como essas citadas anteriormente, elas também podem sofrer com a não aceitação dos familiares e amigos. Diferente de Azevedo, a engenheira agrônoma Leilane Benício (28 anos), diz que sofreu com a falta de apoio no início de seu relacionamento. Ela é 9 anos mais velha que seu marido Dhomini (19 anos). “Logo no início do relacionamento foi bastante o número de pessoas que não apoiavam.”
Ela também afirmou que as pessoas sempre ficam surpresas quando descobrem a diferença de idades e que a reação muitas vezes vem em conjunto com comentários e indagações preconceituosas. “A mulher é muito julgada quando é vista com um homem mais jovem que ela. Logo de cara já falam: está querendo terminar de criar? Ou está bancando tudo?”
Voz dos especialistas
A psicóloga e psicoterapeuta reichiana Patrícia Coube explica porque casos como esses acontecem. “Esse estranhamento, o próprio tabu, é resultado de uma educação/cultura que permanece propagando a “naturalização” de uma condição: homens mais velhos mais meninas mais novas = natural/normal, em detrimento e até ridicularização do inverso. O tabu permanece enquanto há consentimento da sociedade em manter tais padrões”, explica.
Além disso, ela também salienta que o Estado do Acre é um local bastante conservador, pois impera a normalização de atos que não eram para ser considerados normais. “Adultério, pedofilia, homofobia… entre outros desvios de conduta… muitas destas situações passam uma falsa ideia de um estado com mais liberdade. Aqui, ainda nos deparamos com expressões do tipo: essa é para casar, essa é para curtir. O fato de existir mulheres que se relacionam com homens mais jovens, não significa que não haja preconceito”, conclui Coube.
Administradora e especialista em gerontologia, que é o estudo dos fenômenos fisiológicos, psicológicos e sociais relacionados ao envelhecimento do ser humano, Marizete Melo destaca outro fato que pode agregar nesse tabu. “As mulheres sofrem mais por conta de uma visão estereotipada das pessoas, a causa disso é o machismo.”
Outro aspecto ressaltado é a supervalorização da juventude associada à beleza presente na sociedade, o que afeta as mulheres maduras. “Além das alterações no corpo feminino em seu envelhecimento, também contribuem para o fator da insegurança e baixa estima. A mulher se sente com uma estima um pouco abalada por conta de seu corpo não ser o mesmo”, explica.
Mulher mais nova no relacionamento
E quando a situação ocorre com a mulher sendo mais jovem? Então, a psicóloga Coube afirma que não é porque a mulher é mais nova que não irá sofrer algum tipo de preconceito. Como a jornalista, Camila Holsbach, de 33 anos, que é 16 anos mais nova que o marido, Márcio Bleiner, de 49. Eles estão juntos há quase 15 anos, se conheceram por meio da rádio em que ele trabalhava, era radialista, e ela o ouvia todos os dias.
A jornalista relembra que no início do relacionamento as pessoas ficavam criticando-a, por ela ter 19 anos e ele 35. “Tinha gente que falava pro Bleiner que ele precisa de uma mulher de verdade, não de uma “menina”. Diziam que eu não ia dar conta, que quando ele precisasse de verdade de uma companheira eu sairia fora. Bem… todos equivocados! Estamos, há quase 15 anos, firmes e fortes – e vencendo”, destaca.
O casal tem quatros filhos, um do relacionamento deles e os outros três são do relacionamento anterior do seu marido. Apesar da diferença de idade, isso nunca foi um empecilho para Holsbach.
“Acho que a diferença de idade foi uma das principais coisas que me fez gostar ainda mais dele. Nunca gostei de me relacionar com pessoas da minha faixa etária, então, pra mim, foi tranquilo. Mas havia os “olhares tortos”.” Ela conta, rindo, que algumas vezes se considera “mais velha” do que ele. “Continuamos nos dando muito bem e achando que a diferença de idade nunca foi um empecilho, mas um fator que contribuiu muito para termos dado tão certo”, concluiu.
Pontas de esperança
Apesar das evidências de um preconceito estrutural em muitas sociedades, existem casais que podem contar uma história diferente, como é o caso do jornalista Márcio Souza, que é 6 anos mais jovem que a esposa Emanuele Souza. Eles não relataram vivências de preconceito em relação à diferença de idade, e consideram que boa parte dos preconceitos sociais decorre de uma estrutura educacional familiar, pois a educação e respeito ao próximo vêm de casa.
“Acreditamos que depende muito da criação. Parafraseando um velho ditado: comentários de casa vão à rua. Se existe preconceito, machismo, homofobia, racismo no dia a dia da família (breves comentários, frases, palavras cheias de estereótipos, por exemplo) sem dúvida isso vai refletir no comportamento fora. Por isso, tentamos ser o mais didáticos possível e libertos desses estereótipos ao responder uma pergunta para nossa filha,” diz Souza.
Eles contam que a idade em nenhum momento foi um tabu, seus amigos e familiares nunca os criticaram por isso. “Não sofremos ou enfrentamos preconceito de ninguém do nosso ciclo de amizade. Os familiares, no entanto, pensaram que a Manu estava grávida, por causa da rapidez”, diz ele sobre o namoro rápido antes do casamento. “No mais, só comentários como “o leite tá caro” ou “melhor comprar leite do que remédio”.”
No caso da professora Katianny Andrade (14 anos mais velha que seu parceiro), ela conta que não encontrou problema de opinião preconceituosa das pessoas, mas que ela em si teve receios. “De início eu fui bem sincera de que eu não queria me relacionar com ele. Eu que tinha preconceito… Nós mulheres ligamos muito pra vaidade”, concluiu.
Olhares
Acre: um Estado sexagenário com muitas histórias para contar
Publicado há
3 anos atrásem
16 de maio de 2022por
RedaçãoPor Marcos Jorge Dias
Não há como escrever sobre o Estado do Acre sem pensar nas estórias que minha avó contava nas noites iluminadas por lamparinas. Seu olhar lacrimoso e distante, refletido nas chamas bruxuleantes, nos conduzia ao passado com os nossos ancestrais. Os homens mortos nas “correrias” e as mulheres caçadas a dente de cachorro, amansadas e estupradas, para procriar mão de obra para os seringais. Lembranças que a cada dia se diluem na fumaça das queimadas.
O Território se fez Estado… com muita luta!
O Acre era um pedaço esquecido e isolado do Brasil. O Tratado de Petrópolis, aprovado por Lei federal de 25 de fevereiro de 1904 e regulamentada por decreto presidencial de 7 de abril de 1904, incorporou o Acre como território brasileiro. “O Movimento Autonomista começou imediatamente com a criação do Território do Acre. O próprio assassinato do Plácido de Castro foi um resultado dessa disputa”, conta o historiador Marcos Vinícius das Neves. As insatisfações geradas contra a União fizeram com que os acreanos se revoltassem, dando início a insurreições. A luta pela autonomia acreana não se deu só por conquista dos direitos políticos de seus cidadãos, mas também, pela possibilidade do desenvolvimento econômico e qualidade de vida dos acreanos. Até que em 15 de Junho de 1962 foi sancionada pelo Presidente da República João Goulart a Lei 4.070, que elevou o Acre à categoria de Estado. Em outubro de 1962 foi eleito o primeiro governador do Estado do Acre, José Augusto de Araújo.
E aí chegaram os “paulistas”
Nas décadas de 70 e 80 do século passado a região foi cenário das grandes disputas pela posse da terra entre seringueiros e os chamados “paulistas”. Hoje, nas margens da Rodovia, que requer constante manutenção pelo DNIT, estão consolidadas as grandes fazendas de gado, plantios de milho e de cana-de açúcar, que já estão sendo substituídas pela soja.
Durante os 20 anos (1999-2019) em que o Partido do Trabalhadores governou o Acre, foram feitos grandes investimentos estruturais na região: Zona de Processamento de Exportação-ZPE (Senador Guiomard); Usina Álcool Verde (Capixaba); Fábrica de preservativos NATEX, indústria de beneficiamento de madeiras e polo moveleiro (Xapuri); polo moveleiro de Epitaciolândia; Fábrica de ração, frigorífico Dom Porquito, abatedouro Acreaves e pousada Ecológica (Brasiléia), entre outros investimentos na área de produção, conservação ambiental e desenvolvimento sustentável na Reserva Extrativista Chico Mendes que abrange 4 municípios da região. Há época foi construído um projeto político que deu base ao sonhado desenvolvimento sustentável.
Contudo, vários problemas de gerenciamento nos complexos projetos que envolviam: estrutura, gestão de pessoal, administração financeira e etc., acrescidos com a arrogância e vaidade de alguns “reis e faraós” que assumiram as chefias do governo e do partido, contribuíram para o fracasso das iniciativas que consumiram milhões em recursos humanos e financeiros, nacionais e estrangeiros.
Atualmente, passados 60 anos de elevação à condição de Estado, o Acre vive momentos de profundas incertezas e continua na busca de um modelo de desenvolvimento econômico que atenda as demandas das suas diferentes camadas sociais. Enquanto isso… a boiada vai passando!
No começo… Havia o cantar dos pássaros, o assobio do vento, o piar das corujas, o estalar das sementes, o gotejar da chuva nas folhas, o barulho da água correndo por meio dos grotões. O vento trazia da floresta os sons dos invisíveis. Quando a tarde ia caindo – levando o sol no rumo do oriente – tinha o banho no rio, a lua nascendo brilhante. E começava a noite. Passava a rasga mortalha, gritava o gogó de sola na beira da mata. E na roda em volta da fogueira, sob a luz azulada da lua, as estórias eram contadas.
Foi no tempo em que a terra não tinha dono, não tinha fronteiras e os rios corriam cheios na época das chuvas e fazia praia no tempo da friagem. O povo que vivia na mata não tinha doença e não brigava entre si. Os papagaios comiam no mesmo barreiro que o caititu. Os brabos vinham em bandos. Subindo a correnteza em ubá grande que roncava sem parar. Espantavam as araras das ingazeiras da beira do rio e matavam tudo que viam. Socó, quatipuru e jaçanã quem nem serve para comer, virava embiara. E assim começou o fim.
Numa noite em que a lua não veio e o povo dormia na sacupema da grande samaúma ouviu-se um espoco e depois o clarão na mata escura. Depois as cargas quentes de chumbo, entrando nas carnes dos que dormiam sem saber o que estava acontecendo.
Os brabos naquela noite mataram todos os guerreiros, velhos, curumins, e as mulheres que não conseguiram amarrar. O cheiro de sangue misturado com pólvora correu a mata. Os que puderam correram para o centro e se esconderam. Mas os brabos tinham pau de fogo que matava de longe. Tinham sede de sangue e do leite que descia da seringueira quando era cortada. Mas isso foi num tempo que ficou pra trás. Dias, Marcos Jorge. “Estórias do Aquiry & Outros Mundos”, Editora Xapuri, 2017. Literatura, Mitos e Lendas
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