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Histórias de vida

A fé de Sebastião

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Foto: Arquivo pessoal

“Assim foram concluídos o Céu e a Terra, como todo o seu exército. No sétimo dia, Deus já havia terminado a obra que determinara; nesse dia descansou de todo o trabalho que havia realizado. Então abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porquanto nele descansou depois de toda a obra que empreendera na criação.” Gênesis 2:2.

Por Hellen Lirtêz

Nas manhãs de sábado ele sempre cozinhava um ovo, claro, deixando a gema mole, às vezes comia cru. Para ele, as substâncias do ovo eram ótimas para a saúde. Após servir-se com um café bem reforçado, ele montava em sua bicicleta Monark vermelha, colocava a Bíblia amarrada na garupa e pedalava até a igreja que sempre frequentava, no bairro Floresta. Essa era a sua rotina no auge de seus oitenta e quatro anos. 

Em 1926, nascia a rainha do Reino Unido, Elizabeth II e também o primeiro ministro e presidente de Cuba, Fidel Castro. Nesse mesmo ano, no dia 20 de janeiro (dia de São Sebastião) também nascia na cidade de Boa Nova (BA) Sebastião Pinheiro dos Santos, o Tião. Na época, era muito comum fazer promessa com o nome dos filhos que nasciam em dia de santo, isso trazia conforto aos corações das mães, que acreditavam que aquilo iluminaria caminhos.

Sua infância foi marcada pela perda precoce de seu pai Júlio para a tuberculose. Mais tarde, com apenas 36 anos, sua mãe Amália também faleceu. Por morar numa cidade pequena e sem estrutura, sua primeira grande viagem foi a pé para o município de Feira de Santana, também na Bahia.  Nessa época, Lampião ainda estava vivo e reinava no cangaço. Ainda criança, cansou de ouvir tiros e escutar gritos. Uma das lembranças mais doces que ele trazia consigo eram referentes a sua avó materna, que foi alforriada aos 13 anos e viveu prósperos 120 anos. 

Desde 1981, o baiano que já havia rodado todo o Brasil resolveu estacionar de vez no Acre. Sebastião já havia morado em vários cantos, mas quis fincar suas raízes longe, no Norte, na fronteira do país. Ser nômade fazia parte de sua história, de quem ele era.  Em uma viagem ao Jequitinhonha (Minas Gerais), Tião conheceu Maria, moça também do interior, simples, que queria ter uma família.

Tião morava de frente para um cruzamento, na Travessa São Salvador, no bairro Sobral. Ele dedicou sua vida à estrada, à roça e ao comércio, mas antes de sua partida, dedicou-se à fé. Sua persona era inconfundível. Apesar das tatuagens do tempo, ele não parecia ter a idade que tinha, devido à sua proatividade. Era difícil não notá-lo passando na rua, mesmo que em silêncio. Ele era um senhor magro, alto e preto retinto. Seu cabelo só existia do lado esquerdo e do lado direito, pois no meio predominava uma careca brilhante. Mesmo com poucos cabelos ele molhava os crespos grisalhos que haviam lhe sobrado na cabeça e os penteava, principalmente nas tais manhãs de sábado. Na cômoda de seu quarto, o que predominava eram os papéis e seu perfume de lavanda, sempre lavanda. 

Na frente de sua casa funcionava um grande armazém, que ele usava para comprar alumínio. Com essa prática de compra ele ajudou muitas crianças que guardavam sacos e mais sacos de latinha para ele. Os poucos trocados ajudavam a matar a fome e comprar uns doces na banca da esquina. O trabalho era realizado com muito esmero. Cedo da manhã sua esposa Maria, com quem viveu mais de 40 anos de casado, fazia o café dos dois e se dividia durante o dia entre cuidar da casa, do almoço e servir água para amigos e conhecidos de Tião. Toda essa “lataria”, ferragens e peças de carro espalhadas no fundo do quintal denunciavam uma vida de movimento, de lembranças. 

Em 1970 houve um surto de tuberculose e Sebastião ficou rendido à terrível infecção bacteriana. A expectativa era de que ele se recuperasse logo, entretanto, a situação sempre se agravava. No hospital onde foi internado, em Minas Gerais, várias entidades religiosas levavam um pouco de fé até os leitos, por meio de orações e panfletos. Havia uma igreja em especial, que se destacava na quantidade de panfletos espalhados pelo hospital, a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Sebastião era espírita, entretanto, mal sabia ele que algo mudaria sua vida.

Enquanto lutava contra a bactéria alojada em seu pulmão, ele teve uma revelação, de que um dia se tornaria um adventista do sétimo dia. Anos antes, Tião foi devoto ao espiritismo kardecista. Entretanto, aquela revelação mudou tudo. Enquanto esteve doente, fez uma promessa de que, caso ele se curasse, ele dedicaria sua vida àquela igreja. E assim aconteceu. Pouco tempo depois, ele sarou, ficou firme e forte e converteu-se para ser um adventista, acreditando que a presença daquela igreja era a principal responsável por sua cura.

Durante anos a fio ele e a esposa Maria guardavam os sábados com zelo, liam a bíblia e cantavam músicas do hinário em sua casa, sempre que o pôr-do-sol chegava nas tardes de sexta-feira.  Isso se repetiu várias e várias vezes, até que Maria morreu de ataque cardíaco na cozinha, enquanto fazia o almoço. Após a morte dela, ele não se recuperou e nem conseguia mais ser o mesmo. A sua solidão era tanta que ele ocupava-se fazendo coisas que não pareciam ser tão normais.  Os vizinhos diziam que ele havia enlouquecido, ficado “gagá” por causa da morte da esposa. Afinal, quem rega capim pela manhã?  A companhia que havia lhe sobrado era a da cachorra Pitchula e da bisneta, Hellen, que sempre lhe perguntava:

– Biso, porque você rega o capim?

 E ele sempre carismático respondia: – Pra crescer flor, uai.

Quando Maria morreu, foi como um soco em seu estômago. No dia dos finados era o dia de ir “ver” Maria. Ele sempre ia ao cemitério Morada da Paz, na fileira 6, lote 400. Em suas mãos, levava um lenço para sentar ao lado da lápide dela e dinheiro para comprar sorvete para a bisneta, que era sua fiel companheira e se sentava na grama ao seu lado, mesmo sem entender. Depois da morte da companheira, ele só falava isso: “quero ser enterrado junto dela, em cima dela”. Sebastião realmente conversava com a lápide, fazia carinho e passava horas exposto ao sol, preso neste ritual. 

Com o passar do tempo, ele se tornou um homem crítico, que usava um óculos de vidro grosso e tinha variados tipos de bíblia e livros evangélicos para ler.  Em seus cadernos ele sempre anotava pensamentos e fazia questão de desenhar a letra perfeitamente sobre a linha. Enganava-se quem achava que ele não era plenamente lúcido. O nome de Maria era apenas um “suspiro”. Tião tornou-se um homem solitário que dividia seu tempo entre dar comida para o cachorro e varrer a calçada no final da tarde. 

A educação era importante para ele, mesmo que as oportunidades nunca tivessem sido favoráveis. Apesar de suas diversas falas machistas, uma coisa chamava a atenção em sua relação com a bisneta mais velha: o incentivo para ser independente.

Sebastião: – Olha, primeiro você estuda, casa, compra uma casa, um carro, aí depois você compra um marido.

Bisneta: – Um marido?

Sebastião: – Isso, um marido. Porque aí ele nunca vai mandar em você, você que vai mandar nele e qualquer coisa você o expulsa sem nada. Tudo vai ser seu mesmo, você não vai perder nada.

Quando Hellen passou na terceira série, a primeira coisa que quis fazer foi comemorar com o bisavô. Era uma sexta-feira. Sebastião ficou tão feliz que disse: ”vou comprar fogos.” Aquelas foram suas últimas palavras, suas últimas emoções registradas pelas bisnetas. No sábado ele decidiu não ir de bicicleta à igreja. Pegou um ônibus e foi ao local onde havia se batizado no Acre, a Igreja Adventista Central. Ele fez o mesmo de sempre naquele dia, só que de um jeito diferente. Parecia que ele sabia o que estava por vir. Sebastião cumprimentou a todos, sentou, orou e nessa posição sentado ele ficou. A Bíblia estava aberta em salmos quando seus olhos fecharam durante aquele momento de fé. Aos oitenta e quatro anos ele partia, de forma silenciosa. Apenas ao final do culto, quando todos se levantaram, notaram que ele não se mexia. Sabe qual é a grande ironia de tudo isso? Ele morreu na igreja em que se batizou, justamente no dia em que guardou por mais de 30 anos, o sábado. Não havia melhor forma de morrer do que aquela para ele. 

E ainda houve quem duvidasse de que Tião era a alma daquela rua, daquele bairro. Logo após sua ausência, sua velha casa ficou ainda mais velha e as plantas e pés de fruta definharam no quintal. Sem ele, o capim na frente da casa ficou amarelado e, mais tarde, se tornou um jardim de flores roxas, como ele havia dito. Regar o capim nunca havia feito tanto sentido. 

No dia 19 de dezembro de 2009, o céu estava cinza, choveu o dia inteiro, como se o espaço ao redor também sentisse um pouco daquela dor. Ficaram os valores que havia depositado neste mundo. Assim, como Deus, no sétimo dia ele descansou.

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1 Comment

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  1. Teddy

    30 de julho de 2021 no 21:56

    História (e texto) maravilhosa!
    Vi um filme lendo isso. Parabéns e obrigado por compartilhar, Hellen!

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Histórias de vida

O Chefe deixou a calçada

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Por Ludymila Maia e Beatriz Mendonça 

A pequena loja, localizada perto das margens do Rio Acre, com várias bugigangas à mostra, está há pouco mais de um ano sem a fervorosa animação e presença do seu dono. O falecimento de Tancredo Lima de Souza, ocorrido no dia 23 de agosto de 2022, aos 69 anos, deixou uma lacuna profunda naqueles que o conheceram e amaram.

Tancredo Lima de Souza veio do interior de Pernambuco para Rio Branco, com seu pai e irmãos, e logo começou a trabalhar para ajudar no sustento da casa. Como era o mais proativo, logo ganhou o apelido de Chefe. Sempre dedicado, exerceu várias profissões, dentre elas seringueiro, motorista de ônibus e táxi, mas seu coração pertenceu ao comércio. 

Começou desde jovem vendendo picolé, e, com o passar dos anos, passou a vender vassouras e tabaco. Conseguiu um ponto de vendas no Centro da cidade, trabalhou para manter sua loja junto de sua esposa, Maria José, e expandiu cada vez mais seu comércio. Virou o famoso Bazar Chefe, popular pela variedade de produtos tradicionais expostos para que todos aqueles que passam pelo local possam ver.

Começou a atrair uma grande clientela, que buscava utensílios que só o Chefe tinha e todos eram encantados pela humildade e vigor do vendedor. Assim foi construído um legado, que durou mais de 50 anos com clientes fiéis e amigos saudosos, que ainda se emocionam ao visitar a loja e não ver o Chefe no comando.

Bazar Chefe, um dos comércios mais tradicionais e populares de Rio Branco. Foto: Ludymila Maia

A saudade bate particularmente naqueles que compartilharam o privilégio de chamá-lo de pai. Segundo seus filhos, Cleudo José e Cleide Sandra, o pai sempre os incentivou para seguir seus passos e também foi um grande exemplo de honestidade, humildade e integridade. Além disso, os filhos lembram de seu coração bondoso que ajudava a todos.

Na cidade, ele era conhecido como um comerciante exemplar, alguém que deixou sua marca nas ruas e nos corações daqueles que tiveram a sorte de cruzar seu caminho. Para sua filha, ele era muito mais do que um pai, era um mentor, um guia. 

Ao falar sobre ele, a emoção na voz, pois sua jornada serviu como uma escola prática para seus filhos, uma lição de vida transmitida através das experiências do dia a dia. Seu pai, um verdadeiro mestre do comércio, ensinou não apenas a vender produtos, mas também a construir relacionamentos duradouros. 

“Ele era o meu pilar”, diz seu filho, com a voz repleta de reverência. “Ele não apenas direcionava nossos negócios, mas também na vida. Suas palavras eram um farol, estabelecendo o caminho certo a seguir”. Mesmo que sua presença física agora seja uma lembrança, o impacto de seus conselhos continua a moldar suas escolhas e ações. 

Os dois filhos do Chefe, Cleudo José e Cleide Sandra.  Foto: Ludymila Maia

“Humildade” é uma palavra que surge constantemente quando se fala dele. Ele era um homem que tratava todos com respeito e compaixão, independentemente da posição na sociedade. Sua presença calorosa e sincera deixou uma marca indelével nas pessoas com as quais interagiu e, até hoje, elas sentem sua falta. 

A voz de Francisca Lima, irmã de Tancredo, ecoa com carinho e saudade, relembrando as memórias de um homem cuja vida foi repleta de histórias e ensinamentos. “Ah, meu irmão… Como é difícil falar dele”, suspira a irmã, com os olhos cheios de emoção. “Ele era tudo para nós, um alicerce em nossa família e também na família de sua mulher. Seu coração era grande o suficiente para abraçar o mundo inteiro.”

O sepultamento de Tancredo não apenas trouxe lágrimas à sua família, mas também testemunhou o amor e o respeito que ele inspirou em toda a comunidade. “No dia em que o Chefe faleceu, ainda de madrugada, começou a chegar gente das fazendas, do interior, do seringal”, descreve sua irmã, destacando a influência imensa que ele teve. 

“Eu preferi não ver o Chefe”, admite ela, uma vez que a perda ainda é difícil de aceitar. “Ele foi nosso pai e nossa mãe, desde muito cedo ele assumiu as responsabilidades, sempre cuidou muito da gente, era tudo para nós, lembro de quando eu e minha irmã ficamos mocinhas ele comprava até batom para gente só porque sabia que nós gostávamos.” 

Uma paixão peculiar pela culinária emerge nos relatos da irmã, que com um sorriso afetuoso diz: “Lembro que meu irmão adorava peixe, ele gostava muito, sempre comia tambaqui até dizer chega.” Era na simplicidade da vida que o famoso Chefe do Novo Mercado Velho encontrou sua alegria, seja vendendo picolés nas ruas, ou incansavelmente juntando centavos para sua primeira banquinha. Nunca teve vergonha de sua história e  se orgulhava de seu passado. Apesar de não ter terminado seus estudos, foi um grande aprendiz da vida e também um grande professor para aqueles que o conheceram.

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Histórias de vida

Rua do Trapiche

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Por Andriny Silva

Hoje chamada rua Ricardo Campelo, outrora rua do Trapiche, recebeu esse nome pois, de acordo com quem mora lá, há alguns anos a população precisava andar por cima de estruturas de madeira, os chamados trapiches, pois havia muita lama.

Esta rua fica localizada no bairro Boa Vista, na Baixada da Sobral, uma ampla região que abriga 18  bairros, assim como diversos comércios, escolas, órgãos públicos, entre outros tipos de estabelecimentos. A região é como se fosse uma outra cidade dentro de Rio Branco.

Também chamada “Baixada do Sol’’, esse nome foi criado para evitar que chamassem de “Sobral’’ todos os diferentes bairros que são cortados pela estrada de mesmo nome. É um espaço que abriga muitas pessoas que vieram de outros municípios e, assim como o sol, nasceu para  todos.

Antigamente a região era bem diferente do que é hoje, era uma fazenda e, pouco a pouco, casas foram construídas e formando diversos bairros e ruas. Nesse tempo, havia muita lama, contrastando com a visão atual, em que a maioria das ruas são cobertas por asfalto ou pelos  tradicionais tijolos. 

A dona de casa Luziete Mesquita da Costa, de 43 anos, é uma entre as diversas pessoas que saíram de seus locais de origem e hoje tem como lar a Baixada da Sobral, sendo  moradora dessa região há quase 30 anos. 

Ela vivia na zona rural mas,aos 14 anos, começou a morar com a irmã mais velha, Izalete, que já era residente do bairro João Paulo. O objetivo de Luziete era estudar, porém, a vida tomou outro rumo e ela acabou estudando apenas até a oitava série. 

Quando ela chegou, ainda existiam os trapiches e muita lama, assim como a vida, que é cheia de mudanças, ela viu a rua feita de lama se transformar em tijolos. E a rua também  acompanhou as mudanças de sua vida, viu quando conheceu seu primeiro esposo, o  nascimento de seus três primeiros filhos,viu o seu divócio, e o nascimento dos dois  outros filhos que vieram depois., e até hoje vê os sonhos de Luziete, que almeja terminar de reformar sua  casa e ver seus filhos formados, se realizando. E a rua segue vendo,  a cada dia, todo o trajeto da vida de Luziete e de outros moradores. 

A vendedora de doces regionais Andressa da Costa Silva tem 27 anos e mora na região há 17, sendo  12 deles  como moradora da rua Ricardo Campelo.  Ela tinha apenas dez anos de idade quando seus pais resolveram se separar e metade  de sua família, da parte materna, morava espalhada pela região da Baixada da Sobral. 

Na época em que chegou, muitas ruas ainda eram de trapiche e a área era   conhecida como periférica, Sua vida foi, praticamente, toda na Sobral, nas regiões de Boa Vista  e João Paulo,chegando a morar em várias ruas por conta das muitas mudanças. 

Quando,  enfim, se instalou na rua Ricardo Campelo, não tinha saneamento básico, havia muito  mato e esgoto a céu aberto, entretanto, hoje em dia o local está mais valorizado, e ganhou melhor estrutura, como a mudança da rua de trapiche para tijolos

A rua Ricardo Campelo já foi conhecida como rua das flores. Também foi conhecida por ser muito perigosa, lar de confrontos entre facções. Atualmente, porém, a onda de  violência reduziu. 

Luziete e Andressa, de formas particulares, possuem uma boa relação com seus vizinhos. Andressa, conversa, se dá bem e acha os vizinhos super harmoniosos. Luziete, por outro lado, não é de ficar conversando, mas não tem nenhum problema com seus  vizinhos. Ela acredita que cada um vive sua vida tranquilamente, sem problema nenhum, se dá super bem com todos, mas com cada qual no seu canto. 

Luziete gosta do local onde mora e não pretende mudar. Andressa, por outro lado, gosta  do seu bairro em geral, gosta da facilidade em questão de transporte público e gosta do  fato de andar pouco e logo encontrar padarias, açougues, frutarias, escolas e paradas de  ônibus, porém, apesar de gostar de onde mora, acredita que a vida é repleta de mudanças  e ela pretende se mudar futuramente. 

Para conhecer a região:

TORRES, Gilmar. Conheça a Baixada da Sobral. Blog fala baixada, Rio Branco, 2018.  Disponível em: <http://falabaixada.blogspot.com/p/conheca-baixada-do-sol_30.html>.  Acesso em: 01 set. 2022 de Setembro.

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Histórias de vida

Os 60 anos do Quinari: entre história, estórias e fofocas

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Por Felipe Souza

Uma cidade pequena, vizinha da capital acreana, com pouco mais de 22 mil habitantes e muitas histórias para contar. Considerado por muitos um local pacato, já foi uma vila antes de receber o título de município, pela Constituição Estadual de 01 de março de 1963, completando 60 anos em 2023.

A cidade leva o nome de José Guiomard dos Santos, um político mineiro que atuou  no Acre. Ele foi governador do território entre 1946 e 1950, e eleito deputado federal logo em seguida, em 1951, quando apresentou o projeto de lei para elevar o Acre de território federal a Estado, medida concretizada em 1962. No mesmo ano, foi eleito senador.

No entanto, o município até os dias de hoje ainda é conhecido pelo nome enquanto vila: Quinari. Por muitos, visto como um lugar sem futuro, por outros, como lar e aconchego. Cidades pequenas podem, muitas vezes, te laçar e criar uma ligação eterna, que te faz ficar preso lá. Senador Guiomard pode ser, e é, uma dessas cidades.

Imagem: Felipe Souza

Crianças brincando na rua, pessoas passeando com animais, estudantes saindo ou indo para a escola, um certo trânsito de veículos – talvez grande o suficiente para a existência de um semáforo, o que realmente veio a acontecer recentemente, são coisas comuns de se verem por lá.

Pela falta de entretenimento, a população sempre faz as mesmas coisas: tomar açaí na El Shaday local, comer pastel em uma lanchonete ao lado, ir à pracinha situada no Centro da cidade, e, aos finais de semana, para quem gosta, ouvir pagode no ‘Deck Quinari’.

Imagem: Felipe Souza

Reclamações são frequentes por lá, tanto das ruas sem pavimentação, quanto da vizinhança fofoqueira (ou seria a cidade inteira?). Uma cidade pequena pode ter dessas coisas; pessoas que você nunca viu sabem mais de sua vida do que você mesmo.

Imagem: Felipe Souza

Com um único hospital, o Ary Rodrigues, a população geralmente enfrenta grandes filas para um atendimento. Apesar disso, as Unidades Básicas de Saúde estão em abundância por lá, com cerca de 12, contando zona urbana e rural, assim como as farmácias, que são pelo menos oito no pequeno território.

Nos últimos anos, desde a eleição de 2020, com a gestão atual, muitos eventos passaram a acontecer na localidade. Eventos que não aconteciam há muito tempo como, por exemplo, a Expoquinari, uma versão mais modesta da Expoacre, para a população “quinariense”.

Até mesmo histórias (ou estórias) de terror assolam a pequena cidade acreana. Há boatos que, em determinada curva próxima à entrada da cidade, existe um fantasma de uma mulher viúva, que vaga em busca de seu marido. Há relatos de que, sim, ela existe e gosta de assombrar os caminhoneiros, que passam por ali à noite. A “assombração”  é conhecida como Mulher de Branco.

Apesar de tudo, Senador Guiomard é, para muitos, lar, aconchego e casa. De reclamações não pode se safar, até porque seres humanos habitam lá. E quem sabe, possa comemorar muitas outras décadas com gente “presepeira”, pois, segundo os moradores, Quinari é Hollywood.

Imagem: Felipe Souza

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