Cotidiano
Reciclagem e redução de lixo: iniciativas que impulsionam a sustentabilidade.
Conheça Exemplos de Projetos em Rio Branco que viabilizam a Reciclagem e a Reutilização de Materiais para Preservar o Meio Ambiente.
Publicado há
2 anos atrásem
por
Redação
Por: Dayanna Lopes e Ana Michele
Nos últimos anos, a crescente conscientização sobre a importância da sustentabilidade tem impulsionado mudanças significativas em diversos setores da sociedade. Entre essas mudanças, a reciclagem e a redução do lixo têm se destacado como estratégias fundamentais para a preservação do meio ambiente.
Nesta reportagem, traremos exemplos de empresas que aderem a políticas de gestão de resíduos e que priorizam a reciclagem e a reutilização de materiais.
A reciclagem é um processo que transforma resíduos descartados em novos produtos, reduzindo a necessidade de matéria-prima virgem e minimizando a quantidade de resíduos enviados para aterros sanitários. Ela desempenha um papel crucial na redução da exploração dos recursos naturais e na diminuição da poluição ambiental. Além disso, a reciclagem contribui para a economia ao criar empregos e impulsionar a indústria de reciclagem.
A reciclagem ganha destaque como uma abordagem sustentável para lidar com a crescente quantidade de resíduos gerados pela sociedade moderna. Segundo dados publicados pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) em 2020, a quantidade de Resíduos Sólidos gerados no Brasil aumentou de 66,7 milhões de toneladas em 2010 para 79,1 milhões em 2019, representando uma diferença de 12,4 milhões de toneladas. O mesmo estudo diz ainda que cada brasileiro produz, em média, 379,2 kg de lixo por ano, o que corresponde a mais de 1 kg por dia.
No Acre destacam-se empresas que trabalham com separação de lixo e logística reversa.
Projeto Catar

Desde sua criação em 2005, o Projeto CATAR vem se destacando como uma iniciativa que une forças entre catadores de lixo e a Prefeitura de Rio Branco em prol de um objetivo comum: promover a reciclagem e transformar resíduos em oportunidades. Com o apoio de aproximadamente trinta catadores, esse projeto simples, mas altamente eficaz, tem feito a diferença na cidade, gerando benefícios tanto para o meio ambiente quanto para a vida das pessoas envolvidas.
O catar funciona de forma cooperativa. Os catadores são peças-chave no processo, coletando materiais recicláveis, tanto de residências como de calçadas, pontos públicos e instituições da região. Em seguida, esses materiais são entregues ao projeto, que os prensa e os encaminhados para empresas que utilizam esse material.
Além de contribuir para a limpeza e o cuidado com o meio ambiente, o Projeto CATAR também desempenha um papel fundamental na melhoria das condições de vida dos catadores envolvidos. Ao fornecer uma fonte de renda digna e sustentável, o projeto oferece uma nova perspectiva de vida para esses profissionais, reconhecendo seu papel essencial na construção de uma cidade mais sustentável e consciente.
Há mais de 30 anos, Seu Raimundo Francisco Figueiredo da Silva, carinhosamente conhecido como Risadinha, dedica-se a uma nobre missão: a coleta de materiais recicláveis. Sua incansável jornada em prol da sustentabilidade ambiental tem sido um exemplo inspirador para muitos.

Atualmente, Risadinha concentra seus esforços na coleta de plástico, ferro e alumínio. Todos esses materiais são armazenados em sua casa e recolhidos pelo projeto Catar. Ele explica que o ferro que coleta é utilizado na confecção de camburões, e para isso, ele recolhe diversos tipos de objetos em ferro, desde fogões velhos até peças desgastadas. Todo o ferro coletado por ele é encaminhado para outros estados, como Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde é reciclado e reintroduzido na cadeia produtiva.
No que diz respeito ao plástico, Risadinha concentra-se principalmente em coletar garrafas pets e embalagens de produtos de limpeza. Ele ressalta que esse material é destinado a se transformar em caixas d’água, mas, lamentavelmente, não recebe o tratamento adequado em Rio Branco. O projeto Catar é responsável por triturar esse material e enviar para outros estados, onde são devidamente processados e reciclados.

Ecoponto – Tucumã

O Ecoponto Tucumã foi inaugurado no dia 06 de outubro de 2017 pela prefeitura municipal de Rio Branco, pelo prefeito Marcos Alexandre, com o objetivo de haver um local adequado para descarte de matérias reaproveitáveis. De acordo com o projeto, deveriam ser construídos mais 14 ecopontos após esse.
Há três anos e seis meses, Éliton dos Santos Freire dedica-se ao trabalho no Ecoponto Tucumã. Nesse local, diversos materiais são recebidos diariamente e posteriormente separados pela equipe da Secretaria de Serviços Urbanos (SEMSUR) e encaminhados para cooperativas como o Projeto Catar, aterro de inertes ou para a Unidade de Tratamento de Resíduos Sólidos (UTRE). Éliton explica que o ecoponto possui uma logística reversa, responsável por separar os materiais e enviá-los para os destinos adequados.

No Ecoponto Tucumã, são aceitos todos os tipos de materiais recicláveis, exceto resíduos remanescentes, como lixo hospitalar, agentes químicos e restos de comida. Materiais como plástico, ferro, vidro, papel, madeira, lâmpadas, galhadas, pneus, entulhos, eletrônicos, pilhas e baterias são separados cuidadosamente e encaminhados a destinação adequada de cada material reciclável.
Uma das principais preocupações do ecoponto é o descarte correto dos materiais. Éliton destaca que esses materiais podem ser reutilizados de várias maneiras, os pneus por exemplo, podem ser utilizados como matéria na fabricação de asfalto e grama sintética. Os materiais como papel e garrafas pet, podem ser triturados para que possam ser reaproveitados de forma sustentável. Outros materiais, como o alumínio, precisam ser derretidos para dar origem a novos produtos.
Esses materiais coletados aqui podem ter destinos diferentes, no lugar de poluir o planeta durante muitos anos, as garrafas PET podem ser transformadas em vassouras e cortinas, enquanto os pneus podem ser usados para produzir lixeiras e até mesmo canteiros de hortas. O Ecoponto Tucumã demonstra o potencial criativo e sustentável dos materiais recicláveis.
No entanto, a realidade do Estado do Acre é desafiadora em relação à logística reversa. A redução de pontos de coleta adequada é um problema enfrentado pela região. De acordo com o projeto inicial, deveriam ter sido construídos quinze ecopontos, mas foi implementado apenas o Ecoponto Tucumã que está em funcionamento. Isso resulta em uma sobrecarga no local, pois toda a demanda da região está concentrada ali.
Devido à falta de infraestrutura local, a maioria dos materiais coletados no Ecoponto Tucumã são encaminhados a cooperativas, onde são separados e processados para posterior envio a outros Estados, para serem utilizados como matéria-prima. Infelizmente, não existe uma empresa local capaz de lidar com esse tipo de material, o que demonstra uma necessidade urgente de investimentos e parcerias no setor de reciclagem na região.
Além dos materiais recicláveis, o ecoponto também recebe entulhos, como capas de telhas e restos de obras. Esse tipo de resíduo é destinado a aterros, onde são utilizados como barreiras no solo, garantidos para a preservação ambiental.
Éliton enfatiza a importância de receber papel no Ecoponto Tucumã, pois muitas pessoas têm dificuldade em descartá-lo corretamente, acabando por queimá-lo ou descartá-lo de forma inadequada. O ecoponto oferece uma solução, recebendo papel e encaminhando-o diretamente para o setor de reciclagem especializado nesse material.
No entanto, devido às restrições de espaço, o Ecoponto Tucumã precisa controlar a quantidade de lixo recebido. Éliton ressalta que existem limites de caixas e, às vezes, não é possível receber grandes recursos de entulho de uma única pessoa. Para atender a demanda de forma mais eficiente, seria necessário implementar os outros 14 ecopontos planejados inicialmente, distribuindo-os estrategicamente pela cidade.
O Ecoponto Tucumã desempenha um papel fundamental na promoção da sustentabilidade e da conscientização ambiental na região. Éliton e sua equipe trabalham arduamente para garantir que os materiais recicláveis sejam direcionados para o processamento e a reciclagem. No entanto, é evidente que mais investimentos e parcerias são necessários para melhorar a infraestrutura de reciclagem e ampliar a logística reversa no Estado do Acre. Com mais recursos e apoio, a região poderá avançar em direção a uma economia circular, onde o desperdício é reduzido e os materiais recicláveis são valorizados e reinseridos na cadeia produtiva.
RECICLAGEM E EDUCAÇÃO – CENTRO EDUCACIONAL BALÕES ENCANTADOS
Um novo olhar para a educação sustentável e criativa.
Muitas vezes uma garrafa plástica, uma caixa de papelão ou papéis usados são materiais vistos como sem utilidades e diariamente são descartados como lixo. Mas eles podem ter um destino diferente. Uma mente criativa e consciente, aliada a uma boa vontade de fazer a diferença, é capaz de transformar esses itens inutilizados em objetos incríveis que podem mudar a forma como as pessoas veem o lixo e incentivar uma visão mais responsável e consciente sobre o consumo e a reutilização de materiais. Quando essas atitudes começam já na escola, acabam transformando pequenos seres humanos em adultos conscientes e responsáveis, mudando assim, o futuro de muitas crianças.
Um exemplo dessa ação na iniciativa privada é na instituição Balões Encantados, uma escola que atua em Rio Branco há mais de 10 anos. Com turmas desde o berçário até o fundamental 1, os alunos são ensinados desde pequenos a respeitarem o meio ambiente com atitudes que vão desde plantar uma árvore até reaproveitar materiais que seriam descartados.

Além de incentivar as crianças a trabalharem com esses materiais, a própria equipe de professores e coordenação utilizam materiais recicláveis para recursos pedagógicos. Uma simples garrafa plástica que demoraria de 200 a 600 anos para se decompor no meio ambiente, de acordo com o ibama, nas mãos dessas crianças e profissionais, se transformam em boliche, foguete, potes para guardar materiais usados em sala, instrumentos musicais, recursos para contagens que podem ser utilizados em várias atividades e a lista vai longe! Não existe limite para a criatividade na hora de reaproveitar o lixo.
A instituição foi fundada em 2010 e pertence a uma congregação católica. A irmã Maria Juliana Silva de Almeida, além de pertencer a congregação, também é pedagoga e foi uma das primeiras freiras a cuidar da escola. Ela conta que desde o início, sempre valorizaram o reaproveitamento de materiais. No começo, além da questão ambiental, a prática era muito útil por motivos financeiros, já que na época não tinham tantos recursos. ‘’As crianças confeccionaram livros de histórias utilizando colagens e desenhos, inclusive, as primeiras prateleiras da biblioteca eram feitas de papelão.’’ Conta a irmã.
Mesmo com todo o desenvolvimento e acervos que a escola possui hoje em dia, não abandonaram a prática. De acordo com a coordenadora pedagógica Maria Auxiliadora Da Silva e Silva, 31 anos, o objetivo é ensinar as crianças a reduzirem a quantidade de lixo e fazer com que sejam adultos mais conscientes. ‘’Nossa intenção é fazer com que percebam que pequenas ações, como por exemplo, usar os dois lados de uma folha de papel, também é cuidar do meio ambiente.’’ Afirma Maria Auxiliadora.
Além de aplicar essas práticas na escola, também incentivam que adotem esses comportamentos em casa. ‘’Muitos pais não tiveram ou não tem essa consciência relacionado ao cuidado com o descarte do lixo, com o tempo que cada tipo de material leva para se decompor e até mesmo com a redução do consumo. Então sempre propomos atividades para que os pais possam trabalhar com a criança em casa utilizando materiais que seriam jogados fora.’’ Ressalta Maria Auxiliadora.

Em uma sociedade cada vez mais consumista, pequenas atitudes sustentáveis já são suficientes para gerar transformações ao nosso redor. ‘’ Diminuímos bastante o lixo quando pegamos os resíduos e transformamos em brinquedos ou materiais que podem ser bastante úteis. Muitos pais compram um brinquedo, a criança usa duas vezes, quebra e eles imediatamente compram outro. Já fizemos uma campanha pedindo para que não comprem brinquedo de pilha, pois elas agridem a natureza. O consumismo só serve para deixar o planeta mais doente.’’ Complementa a irmã Maria Juliana. A escola utiliza materiais reciclados e promove campanhas junto aos pais, para que os alunos criem brinquedos a partir de resíduos sólidos.
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Cotidiano
Da teoria à prática: o que muda quando o estudante vira professor
Publicado há
3 dias atrásem
31 de outubro de 2025por
Redação
Por Jhenyfer Souza e Gabriel Vitorino
Conciliar a vida acadêmica com a docência, lidar com baixos salários e ainda enfrentar a falta de reconhecimento são desafios comuns para quem escolhe a carreira de professor em Rio Branco. Apesar disso, a procura por profissionais cresce e abre espaço para trajetórias que começam ainda durante a graduação. É o caso de Izabele Alves, de 21 anos, que cursa o sétimo período da licenciatura em Letras Inglês na Universidade Federal do Acre (Ufac) e já ministra aulas online.
Ela decidiu o curso por conta da afinidade com o idioma e pela admiração que tinha pelos professores. No entanto, a estudante reconhece que a visão inicial que tinha sobre o mercado de trabalho mudou ao longo da formação.
“Quando eu entrei na faculdade, eu tinha uma visão bem estereotipada do trabalho do professor. A partir do momento que comecei a procurar emprego como professora de Inglês, percebi que existe grande procura em Rio Branco”, conta Izabele Alves. Com essa experiência ela percebeu que há portas abertas na área, pois muitas pessoas querem fazer curso ou contratar um professor particular.
A estudante destaca ainda que o ensino remoto facilita a conciliação entre trabalho e graduação, mas admite que há períodos em que a carga se torna pesada. Outro ponto de atenção é a baixa remuneração, especialmente quando há vínculo com escolas particulares. Segundo ela, o acúmulo de funções é frequente.
“O professor de inglês acaba precisando assumir outras disciplinas ou preparar materiais pedagógicos. Isso acontece muito e o salário nem sempre compensa”, explica.
O cenário apontado pela graduanda dialoga com dados do Censo Escolar, que revelam a fragilidade da carreira docente no Acre. Mais de 69% dos professores da rede básica atuam com contratos temporários, chegando a 75% na rede estadual. Além disso, mesmo com nível superior, o salário-base de um professor licenciado no estado gira em torno de R$ 2,6 mil para 40 horas semanais, segundo o levantamento.
Esses números contrastam com a alta demanda da profissão. Em 2025, por exemplo, o governo abriu um processo seletivo com mais de 18 mil vagas temporárias para professores em todo o estado, sinalizando que o mercado está aquecido, mas ainda preso à instabilidade dos contratos.
Experiência
A realidade vivida por Izabele Alves dialoga com a de Renata da Silva, 30 anos, professora formada em Letras Inglês pela Ufac. Diferente da estudante, Renata começou a trabalhar durante o segundo período da graduação, experiência que tornou a transição para a vida profissional menos abrupta. Apesar disso, ela também reconhece as dificuldades da profissão. Para a professora, o maior choque está na diferença entre teoria e prática.
“Na faculdade, tudo é muito didático, até utópico. A teoria diz que o aluno vai aprender conforme o período estipulado, mas sabemos que não é assim, especialmente no Acre, onde o contato com o inglês fora da sala de aula ainda é bem restrito”, explica ela.

Renata Silva ressalta que a área segue desvalorizada, tanto pela baixa remuneração quanto pelas condições de trabalho. Segundo ela, o aprendizado do inglês exige mais do que livro e professor.
“Deveriam haver ambientes mais imersivos e ferramentas adequadas, mas muitas vezes isso não é acessível. A valorização peca e não só em questão de salário”.
Outro ponto levantado pela profissional é a concorrência com pessoas que dominam o idioma, mas não possuem formação específica. Para ela, a vivência universitária traz diferenciais que vão além da gramática e da conversação.
“A formação em Letras nos prepara para lidar com alunos neurodivergentes, com diferentes contextos familiares, além de oferecer base em fonética, linguística aplicada, educação especial. Isso faz diferença no trabalho em sala de aula”, afirma.
Apesar das dificuldades, Renata segue motivada pela interação com os alunos e pela dimensão cultural que o ensino da língua possibilita. “Ensinar inglês vai além da gramática, envolve pontos de vista, debates, diferenças. Isso enriquece a gente também”, diz.
O contraste entre as experiências de Izabele e Renata revela uma realidade marcada por dificuldades, mas também por reconhecimento e oportunidades. Esse debate é essencial quando o assunto é o mercado de trabalho, já que boa parte dos estudantes acabam sendo muito otimistas quanto às oportunidades que terão. Aqueles que já são profissionais e possuem anos de experiência percebem, cedo ou tarde, a fragilidade de sua posição no mercado.
A segurança e a estabilidade são muitas vezes varridas pela visão que as grandes e pequenas empresas têm de lucro, valorizando profissionais mais novos na área, com rotatividade maior, favorecendo o acúmulo de experiências à estabilidade financeira e a segurança no ambiente de trabalho. Com isso, muitos profissionais que se encontram no mercado há mais tempo acabam tendo dificuldade em se manterem neste contexto.
Ao se pensar na realidade do mercado de trabalho e em como as novas gerações criam expectativas profissionais, o debate acaba sendo mais profundo quando se envolve adaptação às novas referências e tecnologias que passam a interferir nas práticas, no cenário da sociedade da informação.
Vale refletir se o mercado de fato é receptivo e possui muitas oportunidades, ou se ele vê o estudante universitário como mão de obra barata de fácil acesso, mas com prazo de validade.
Cotidiano
O futuro da escrita na era digital
Entre teclados e telas, especialistas destacam que a escrita à mão ainda fortalece memória, criatividade e identidade cultural. Foto: Gabriela Queiroz
Publicado há
5 dias atrásem
29 de outubro de 2025por
Redação
Por Maria Niélia Magalhães, Sérgio Corrêia e Gabriela Queiroz
Das cartas que cruzaram continentes aos aplicativos de mensagens instantâneas, a transição da escrita manual para a digital reflete mais do que uma evolução tecnológica — revela uma transformação profunda em como nos comunicamos, aprendemos e até mesmo como processamos informações. Enquanto especialistas debatem os impactos cognitivos e culturais dessa mudança, neurologistas, educadores e alunos avaliam os prós e contras de cada meio.
“Quando o aluno escreve à mão, ele pensa melhor no que está registrando, organiza o que é mais importante”, afirma a professora Cyndi de Oliveira Moura, 29 anos, formada em Letras pela Universidade Federal do Acre – Ufac e docente de Língua Portuguesa no ensino fundamental. Ela observa no dia a dia os efeitos da escrita manual: “alunos que anotam no caderno conseguem relembrar mais facilmente aquilo que foi explicado em sala.”
Ela destaca que a caligrafia também está ligada à criatividade, pois exige atenção e paciência. Mas nota que os estudantes atuais enfrentam dificuldades: “Eles são impacientes e querem escrever tão rápido quanto pensam. A escrita exige paciência e reflexão, mas o uso excessivo das telas acelera demais o pensamento.”
Apesar disso, a professora não vê a tecnologia como inimiga, e sim como ferramenta que precisa ser equilibrada com a escrita manual: “Os recursos digitais ampliam possibilidades, mas sem criticidade se limitam a cópias rápidas e informações superficiais. O ideal é equilibrar os dois mundos: o papel ajuda a refletir, enquanto a tecnologia prepara para o século XXI.”

Foto: Gabriela Queiroz
O advento da tecnologia digital transformou profundamente a maneira como registramos e comunicamos ideias. Se por um lado a digitação se tornou predominante pela sua praticidade e velocidade, por outro, a escrita manual resiste como prática fundamental – não por nostalgia, mas por seu impacto comprovado na cognição e no desenvolvimento cerebral.
A voz do estudante
Para Letícia Kelly, aluna do 2º ano do ensino médio de uma escola pública em Rio Branco, a escrita à mão continua sendo indispensável no seu processo de aprendizagem. “Eu prefiro escrever no caderno, porque fazer anotações melhora minha memória. Quando escrevo no celular, não consigo guardar tanto na mente”, afirma.
Elaborar pequenos textos e mapas mentais no papel facilita a memorização de detalhes importantes, segundo Kelly. “Infelizmente, as pessoas estão abandonando a escrita à mão, e isso é muito ruim, pois terão uma memória mais curta. Eu não consigo parar de escrever à mão, porque me ajuda a memorizar as coisas”, completa a estudante.

Atividade da aluna do 2º ano do Ensino Médio, Letícia Kelly. Foto: Maria Niélia
Não se trata de idealizar o passado ou desconsiderar os avanços tecnológicos. Afinal, todos nós aproveitamos a agilidade das mensagens instantâneas para nos conectar com quem está longe. No entanto, especialistas alertam: a caligrafia ativa regiões do cérebro relacionadas à memória e à criatividade de um modo que o teclado não consegue replicar.
Cenário Internacional
Pesquisas recentes confirmam que a escrita manual continua exercendo um papel fundamental no aprendizado. Um estudo norueguês, citado pela DW Brasil na reportagem Escrever à mão ajuda no aprendizado, aponta estudo, mostrou que escrever manualmente aumenta a atividade cerebral justamente nas regiões ligadas à memória e ao processamento motor e visual, favorecendo uma compreensão mais profunda e duradoura do conteúdo.
Já a BBC Brasil, em Como escrita à mão beneficia o cérebro e ganha nova chance em escolas, destaca a visão da neurocientista Claudia Aguirre, que afirma que escrever em cursivo, especialmente em comparação com digitar, ativa caminhos neurais específicos que otimizam o aprendizado e o desenvolvimento da linguagem.
A Finlândia, país reconhecido por seu sistema educacional inovador, retirou a caligrafia do currículo obrigatório em 2016, priorizando o ensino de digitação (The Guardian, 2015). Nos Estados Unidos, discussões semelhantes ganharam força nos últimos anos. Essas mudanças, no entanto, não ocorrem sem controvérsias.
À medida que escolas e estudantes se adaptam às demandas de um mundo digital, pesquisadores seguem investigando como equilibrar tradição e inovação. Por um lado, alguns educadores defendem a adaptação aos novos tempos, por outro, especialistas em neurociência e desenvolvimento cognitivo alertam para as perdas associadas à diminuição da escrita manual.
O melhor de ambos
Enquanto isso, a ciência segue confirmando: escrever à mão é muito mais que um gesto cultural – é uma ferramenta poderosa para moldar o cérebro e expandir as fronteiras do pensamento. A pergunta que permanece não é apenas sobre qual método de escrita é mais eficiente, mas como podemos integrar o melhor de ambos para promover uma aprendizagem mais rica e significativa.
Não se trata, portanto, de uma disputa entre o antigo e o moderno, mas de reconhecer que ambas as formas de escrita — a manual e a digital — podem coexistir e se complementar. Como bem ilustram a professora Cyndi e a estudante Letícia, escrever à mão continua a ser um exercício de paciência, reflexão capaz de transformar informação em conhecimento.
No fim, o que importa é lembrar: escrever não é apenas registrar palavras — é processar ideias, construir sentidos e, acima de tudo, permanecer humano em um mundo em constante transformação.
Cotidiano
Você sabia que o e-Título foi idealizado por uma acriana?
Rosana Magalhães, hoje aposentada, trabalhou na Justiça Eleitoral desde 1994. Foto: Arquivo do TRE/AC
Publicado há
1 semana atrásem
24 de outubro de 2025por
Redação
Por Francisca Samiele e Amanda Silva
Talvez pouca gente saiba, mas uma das ferramentas digitais mais importantes da Justiça Eleitoral no Brasil foi criada por uma mulher acriana. O e-Título, versão digital do título de eleitor, que ajudou a modernizar a forma como milhões de brasileiros votam, foi idealizado por Rosana Magalhães, na época, secretária de tecnologia do Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC).
Considerando que até 1932 as mulheres sequer tinham direito ao voto no Brasil, é irônico pensar que tenha sido justamente uma mulher a idealizar essa tecnologia, considerada essencial para o exercício da democracia ter se tornado tão prático.

A idealizadora do e-Título
Rosana Magalhães, hoje aposentada, trabalhou na Justiça Eleitoral desde 1994 e acompanhou a evolução do sistema de votação, do papel à urna eletrônica. Como analista de sistemas, ela percebeu que o título de papel era um documento que dificultava o acesso a alguns serviços da Justiça Eleitoral e a atualização de dados para muitas pessoas.
“Ele (título) não tinha foto e não tinha dados atualizados como estado civil, grau de escolaridade, nome em caso de mudança após casamento. Era um documento estático. […] Era um papel que molhava e não tinha muita durabilidade”, explicou Rosana Magalhães. A servidora comenta que foi observando essas limitações que surgiu a ideia do e-Título, um documento digital que pudesse atualizar automaticamente informações do eleitor e simplificar processos como emissão de certidão de quitação eleitoral.

“E outra coisa que observei durante toda essa minha experiência de vida na Justiça Eleitoral é a dificuldade que as pessoas tinham em atualizar seus dados e, quando perdiam o título de eleitor, ficavam numa fila enorme perto da eleição”, relembra.
O e-Título foi lançado em dezembro de 2017 e o projeto foi desenvolvido junto ao TRE-AC após aprovação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A primeira versão, desenvolvida em cerca de 40 dias, foi disponibilizada nas lojas de aplicativos e preparada para uso nacional, sendo adotado pelos estados de forma gradual.
O e-Título é acessível para pessoas com deficiência visual, baixa visibilidade ou daltônicas e também é permite acessar vários serviços, tais como:
• Apresentação de justificativa eleitoral no dia das Eleições e após o pleito;
• Consulta ao histórico de justificativas eleitorais;
• Consulta ao local de votação;
• Emissão de certidão de quitação e de crimes eleitorais;
• Geração do Título Eleitoral em formato PDF para impressão;
• Cadastrar mesária ou mesário voluntários;
• Emissão de declaração de trabalhos eleitorais;
• Geração de código de autenticação para sistemas parceiros;
• Consulta a débitos eleitorais;
• Pagamento de eventuais débitos eleitorais por Pix ou por meio da emissão de boleto.
Veja como o título de eleitor evoluiu ao longo dos anos:




Reações às mudanças
O e-Título trouxe mudanças significativas para os eleitores. Alguns se adaptaram muito bem, mas também tem quem ainda prefere o documento à moda antiga.
Para a assistente administrativa Janara Cristina Dutra Nogueira, 37 anos, a mudança é bem-vinda. “Para mim, a maior vantagem é a praticidade. Não preciso mais andar com o título de papel, ele fica no celular. Também dá para ver meu local de votação, regularizar situação eleitoral e até justificar voto se eu estiver fora”, explica.
A pedagoga Katiane Lima, também considera a mudança um bom progresso. “O aplicativo trouxe praticidade, oferecendo acesso rápido e fácil às informações, sem necessidade de buscar documentos físicos. A transição de papel para digital trouxe mudanças de mentalidade e aprendizado necessário para usar novas tecnologias”.
Mas nem todos os usuários que passaram pela transição do papel ao digital se adaptaram completamente, como é o caso da funcionária pública Iêda Fernandes, de 69 anos. “Tenho algumas dificuldades com a tecnologia… Já utilizei em alguns momentos, mas não me senti tão segura. Para utilizar como ferramenta principal, devo aprender mais sobre as funcionalidades. Preciso me tornar mais tecnológica”.
A aposentada Junisseia Souza de Lima enfatiza sua preferência pelo título em papel: “sabe por que eu não gosto de botar no telefone as coisas? Porque às vezes a gente é roubada, basta puxar o telefone para olhar e o ‘cabra’ vem e toma. A gente não fica tranquila andando com telefone, eu não fico. Então, com a cédula de votação, é melhor papel, eu gosto. Eu não gosto de sair preocupada com o telefone, então, para evitar isso, prefiro o de papel.”
Já a professora de português Gleiciany Florêncio de Araújo, de 34 anos, sugere algumas atualizações: “Para mim, uma grande melhoria no aplicativo seria se ele também pudesse ser usado offline, porque algumas vezes o sinal da internet é fraco e não dá para entrar no aplicativo”.
Progresso
A idealizadora do projeto ressalta que o e-Título continua evoluindo e pode, futuramente, incluir funcionalidades como coleta de biometria pelo próprio aplicativo.

O e-Título trouxe benefícios para os eleitores e para a Justiça Eleitoral. Agora, muitas situações podem ser resolvidas diretamente pelo aplicativo, o que diminui filas e tempo de espera. O uso digital reduz custos com impressão de títulos e certidões, e o aplicativo pode ser usado por eleitores em qualquer lugar do Brasil ou no exterior.
“O principal impacto para a sociedade, para a justiça eleitoral e para a sociedade também é a economia que teve de muitos milhões para emissão de título eleitoral, já que não há mais necessidade de imprimir”, afirma Rosana Magalhães. E ela repete uma frase que Caetano Veloso disse no dia do lançamento do e-Título: “É incrível a força que as coisas parecem ter quando elas precisam acontecer.”
Conheça um pouco da trajetória das mulheres na luta por seus direitos políticos AQUI.
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