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Há 20 anos contando histórias, A Catraia inicia nova fase celebrando o passado e mirando no futuro

Em 2025, mais uma turma de acadêmicos se torna “catraieira” e assume a produção para contar novas histórias.

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Ex-estudantes, professores e pessoas impactadas pela história do site falam sobre a importância do projeto para a universidade e comunidade externa. Foto: A Catraia

Por Victor Manoel*

Com um balanço da gestão do reitor da Universidade Federal do Acre (Ufac) Jonas Filho na capa, A Catraia publicava sua primeira edição em 2004. Criado como um projeto para aproximar o ambiente de uma redação da Universidade, o jornal passou por diversas fases, logotipos, greves, uma pandemia e colaborações ao longo dos anos. Em 2025, mais uma turma de acadêmicos se torna “catraieira” e assume a produção para contar novas histórias.

Em sua primeira fase, o jornal era publicado uma vez por ano, pois a disciplina de Jornal Laboratório – que à época se chamava Produção e Veiculação em Jornalismo Gráfico -, ocorria anualmente. Dificuldades para produzir duas edições por semestre levaram a reformulações ao longo dos anos. Com a reestruturação do curso, foi criado a disciplina de Jornal Laboratório 2 para dar continuidade ao trabalho. No entanto, durante a pandemia, o impresso deu lugar ao formato digital.

O modelo online possibilitou uma publicação mais ágil, tornando os textos acessíveis em menos tempo. Os acadêmicos passaram a ver seus nomes publicados com mais rapidez, compartilhar suas produções com a família e acompanhar o próprio desenvolvimento do produto final com maior facilidade.

Layout atual do site do A Catraia. Foto: Reprodução

A editora-chefe do site de notícias A Gazeta.Net, Gisele Almeida, relembra a influência do A Catraia em todo o mercado de comunicação do estado:

“Eu acredito que ele tem um potencial muito grande para ir além. Então, é muito importante para nós, como jornalistas, acadêmicos e profissionais da comunicação, termos esse contato, produzirmos matérias e vivenciarmos essa experiência dentro de A Catraia. Isso é essencial para ganharmos mais experiência e vivenciarmos a prática, porque, muitas vezes, acontece de estarmos no curso e sentirmos falta dessa vivência. Ele nos aproxima disso, nos coloca em contato com a produção de matérias, a publicação e a presença nas redes sociais”, conta.

Além de aprimorar a construção do texto, a prática tornou a escrita mais objetiva e direta, segundo a entrevistada. Ao lidar com fontes que utilizam linguagem técnica, foi essencial contextualizar e simplificar a informação para garantir uma leitura acessível. Ela também destaca a importância do contato com as fontes, do discernimento sobre o momento adequado para usá-las e da diferenciação entre “pauta fria” e “pauta quente”.

“Ele nos aproxima disso, nos coloca em contato com a produção de matérias, a publicação e a presença nas redes sociais”

Gisele almeida

“Por exemplo, algumas pautas que colocamos em A Catraia precisavam ser publicadas logo, porque no dia seguinte já perderiam relevância”, explica Almeida.

A nascente

A professora de Jornalismo Juliana Lofego ressalta que as primeiras edições enfrentaram diversos desafios. Questões técnicas eram mais complexas, já que não havia câmeras digitais, e os recursos disponíveis eram limitados. Com o tempo, os aplicativos evoluíram, mas, no início, a produção era “muito mais artesanal”, afirma.

“Os primeiros jornais foram feitos, literalmente, na marra. Ainda assim, a primeira turma conseguiu produzir, e a tradição era que cada turma lançasse dois jornais a cada semestre. Sempre foi muito desafiador produzir o jornal, pois não há uma verba específica nem condições ideais para sua realização […] O objetivo sempre foi permitir que os alunos participassem ativamente da montagem do jornal, pensando na linha editorial, nas pautas, na fotografia, nos títulos e nos próprios textos”, declara a docente.

Uma das matérias da primeira edição do A Catraia foi o perfil de Dona Arlete, vendedora histórica de bomboniere na Ufac. Foto: Acervo

Devido à pandemia de Covid-19 e à falta de recursos, o A Catraia migrou do impresso para o digital. Apesar dos desafios do ensino remoto e da limitação na troca de ideias entre professores e alunos, entre junho e dezembro de 2021 foram publicadas mais de 80 produções, entre matérias e perfis, elaboradas em duplas ou trios, lembra Maria Fernanda Arival, editora-chefe do site entre 2021 e 2022 e atualmente integrante da assessoria de comunicação da Secretária de Turismo e Empreendedorismo do Acre (Sete).

“Minha atuação como editora foi mais forte na primeira disciplina, quando recebia os textos dos meus colegas, revisava, discutia alterações com a professora, diagramava e postava no site. A oportunidade de participar de forma tão ativa nesse período do A Catraia foi, com certeza, muito proveitosa. Na época eu já tinha uma certa experiência com jornalismo digital pelo meu estágio em redação, mas consegui alinhar as duas práticas e aperfeiçoar cada vez mais meus conhecimentos nessa área tão importante no jornalismo do mundo atual”, revela sobre o período.

“O objetivo sempre foi permitir que os alunos participassem ativamente da montagem do jornal”

Juliana lofego

Com editorias comandadas por Guilherme Limes e Pamela Celina, Arival destaca a diversidade de pautas e perspectivas — inclusive, refletida no nome de uma das editorias do A Catraia. A professora Juliana Lofego também enfatiza a amplitude temática no universo “catraieiro”:

“Cada professor tem sua visão sobre a condução do projeto, mas a ideia original do Jornal Laboratório sempre foi fortalecer os estilos e as ideias dos alunos. Além da produção editorial, havia também um trabalho voltado ao layout do jornal, o que, em algumas edições, resultou na mudança da logomarca e das cores”, afirma.

Dos rios da sala de aula para o mar do mercado

“Eu digo que A Catraia foi um divisor de águas na minha carreira como jornalista, porque eu nunca tinha entrado em uma redação ou feito parte de nenhuma equipe nessa área do jornalismo. Sempre atuei com rádio e assessoria de comunicação, mas nunca havia trabalhado, de fato, em uma redação”, conta o editor-chefe do site de notícias ContilNet, Matheus Mello.

Ele entrou no veículo de comunicação que trabalha em 2022, e no A Catraia, Mello teve experiência com jornalismo online e impresso. 

“Como já tinha essa experiência no digital de A Catraia, quando comecei no site, cheguei com uma noção clara do que era o jornalismo, do que era uma matéria, uma reportagem e, de fato, um portal de notícias. Por isso, digo que a experiência que tive em A Catraia foi essencial para moldar o profissional e o jornalista que sou hoje”, declara “Ter a oportunidade de viver essa experiência ainda na universidade nos ajuda muito quando entramos no mercado, porque já chegamos com outra mentalidade e com uma noção clara do que é um texto jornalístico e do que é uma reportagem”.

Os estudantes produzem suas fotos e textos, priorizando o estilo de cada um. Foto: Akenes Mesquita e Felipe Nascimento

Lofego ressalta a conexão do jornal laboratório com os veículos de comunicação do estado. Para a professora, a experiência vai além do aprendizado sobre o layout digital de um portal de notícias, permitindo que os estudantes abordem temas frequentemente ausentes na mídia tradicional.

“A disciplina foi pensada para que os alunos colocassem a mão na massa e escrevessem com a liberdade que dificilmente terão no mercado, onde os jornais pertencem a empresas e têm seus próprios interesses. Na Ufac, sempre discutimos pautas, a pertinência dos temas e questões éticas, mas, em geral, os alunos têm bastante liberdade para desenvolver seus trabalhos”.

“A oportunidade de participar de forma tão ativa nesse período do A Catraia foi, com certeza, muito proveitosa”

Maria fernanda arival

Após deixar o barco, o que se leva dele

Gisele Almeida relembra como as reuniões de pauta foram essenciais para ela entender as dinâmicas de um espaço profissional: 

Outra coisa importante foi perceber o valor das reuniões de pauta. Entender que cada pessoa dentro do site tem sua função e que todas juntas formam um corpo de trabalho integrado foi essencial. Saber conversar e dialogar é fundamental. Mesmo sendo profissionais da comunicação, a importância do diálogo se torna ainda maior. Também aprendemos a ter cuidado ao escolher e montar a capa. Lembro que até analisamos edições impressas para decidir o que iria na capa e como organizaríamos as matérias. Como era um trabalho em equipe, trabalhamos a questão da hierarquia da informação para organizar tudo direitinho”, diz.

A Catraia produziu diversas matérias e denúncias que mobilizaram comunidade acadêmica e guardou memória de perfis emblemáticos da sociedade de Rio Branco. Para Maria Fernanda Arival existe uma em especial que a modificou como profissional:

“Minha amiga e colega de profissão, Camila Gomes, era minha dupla e decidimos escrever sobre o dono da loja Bazar Chefe. Não imaginávamos que aquela seria a última vez que alguém conseguiria registrá-lo em vida. Meses depois, o “seu Chefe”, como era chamado, faleceu, e todos os jornais usaram a foto da nossa produção para ilustrar as matérias que informavam seu falecimento”, relembra.

Matheus Mello encerra sua fala com uma reflexão sobre o papel do site no curso de Jornalismo, destacando como a experiência aprimora habilidades e discursos que os estudantes levam para diferentes áreas de suas vidas:

A Catraia é o coração do nosso curso, porque todo bom profissional precisa passar por uma redação. Mesmo que depois siga para a TV, o rádio ou a assessoria, todo jornalista precisa ter essa vivência, pois a redação é a alma da profissão. O texto é a essência do nosso trabalho. Fico muito feliz por ter feito parte dessa história e por ter saído do curso com a certeza de que todo aluno é um antes e outro depois de passar por A Catraia”, conclui.

*Editor-chefe da edição 2025 do Jornal A Catraia

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De volta à cadeira da escola

Educação de Jovens e Adultos ajuda a transformar cenário da educação e reduzir o analfabetismo funcional no Acre. Foto: Sandro Giron

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Por Paula Amanda e Thaynar Moura

Você já deve ter se deparado com um comentário nas redes sociais que achou estar fora de contexto. O que parece ser apenas uma questão de interpretação, na verdade pode revelar um problema mais profundo: o analfabetismo funcional. 

O analfabetismo funcional se refere a pessoas que, embora consigam ler e escrever de forma básica, têm dificuldades de interpretar ou compreender textos ou resolver situações cotidianas. Essa condição afeta o desenvolvimento pessoal, social e profissional de 1 a cada 3 brasileiros entre 15 e 64 anos.

Dados apresentados pelo Departamento da Educação de Jovens e Adultos do Acre (EJA) mostram que, de acordo com o Censo Demográfico de 2022, o índice de pessoas analfabetas no estado é 12,1%. 

O recorte utilizado é de pessoas com mais de 15 anos, isto é, quem não foi alfabetizado ou quem não concluiu este processo. Neste contexto, quase 50% dessa população teve o primeiro contato com a escola, mas desistiu, não concluindo o ensino infantil e fundamental.

O chefe do EJA, Jessé Dantas, explica que o maior índice se concentra na zona rural, especialmente entre a população ribeirinha, e que os desafios estão em fazer com que esses jovens e adultos apliquem o aprendizado em situações do dia a dia. 

“Na EJA a gente procura colocar o que eles estão aprendendo em atividades práticas, situações rotineiras. Coisas que são necessárias para que eles compreendam o mundo em que vivem. Por exemplo, ler uma notícia e conseguir compreender qual o tema central, o que está se discutindo”, frisou. 

Jessé Dantas destaca os desafios de fazer educação para jovens e adultos no Acre. Foto: Paula Amanda

Dona Eliete Cruz é uma dessas pessoas que se superou e voltou a sonhar depois da alfabetização. Aos 74 anos ela decidiu mudar sua vida e buscar a escolarização, pois o seu grande sonho é fazer uma faculdade. 

“Tenho irmãos e sobrinhos que são professores e eles me incentivaram muito, e eu me dediquei, fiz as provas e passei. Agora estou fazendo o pré-enem e quero muito fazer o Enem e cursar artes cênicas”, contou.  

Aos 74 anos, Eliete Cruz agora sonha em fazer Artes Cênicas. Foto: arquivo pessoal

No Brasil mais da metade dos analfabetos têm mais de 60 anos

Dados levantados pelo IBGE mostram que em 2024 existiam 5,1 milhões de analfabetos com 60 anos ou mais no país. Isso corresponde à 14,9% do total dos idosos no Brasil e mais da metade da totalidade de analfabetos.

Já entre os mais jovens, os percentuais diminuem progressivamente: 9,1% entre pessoas com 40 anos ou mais, 6,3% entre aquelas com 25 anos ou mais e 5,3% na população com 15 anos ou mais.

Confira as taxas de analfabetismo por estado do Brasil:

  • Alagoas – 14,3%
  • Piauí – 13,8%
  • Paraíba – 12,8%
  • Ceará – 11,7%
  • Maranhão – 11,4%
  • Sergipe – 10,8%
  • Rio Grande do Norte – 10,4%
  • Pernambuco – 10,1%
  • Bahia – 9,7%
  •  Acre – 9,3%
  • Rondônia – 5,1%
  • Tocantins – 6,6%
  • Pará – 6,5%
  • Amapá – 5,4%
  • Amazonas – 4,9%
  • Minas Gerais – 4,4%
  • Roraima – 4%
  • Espírito Santo – 3,9%
  • Mato Grosso – 3,8% 
  • Mato Grosso do Sul – 3,7%
  • Goiás – 3,6%
  • Paraná – 3,5%
  • Rio Grande do Sul – 2,4%
  • São Paulo – 2,3%
  • Rio de Janeiro – 2%
  • Santa Catarina – 1,9%
  • Distrito Federal – 1,8%

O Acre registrou, em 2022, a maior taxa de analfabetismo da região Norte entre pessoas de 15 anos ou mais: 12,1% ou seja 73.835 pessoas que não sabem ler nem escrever.

Embora a taxa de analfabetismo funcional tenha caído no ano de 2024, registrando cerca de 64,8 mil pessoas, equivalente a 9,3% da população, o Acre ainda lidera a maior taxa de analfabetos da região Norte, o que evidencia que saber ler e escrever formalmente não é o mesmo que interpretar e aplicar no dia a dia.

Redação

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Histórias de vida

Mulheres que fazem acontecer: a força do trabalho manual no empreendedorismo acreano

Elas não apenas produzem: elas plantam, moldam, carregam, vendem e resistem. Em um cenário onde empreender não é só uma escolha, mas uma forma de sobrevivência, mulheres do Acre estão transformando o que têm — terra, cimento, fruta, memória — em renda, autonomia e permanência. Muitas fazem isso com as próprias mãos. Outras, com apoio da família. Mas todas compartilham algo em comum: a decisão de permanecer criando.

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Por Thaynar Moura

Elas não apenas produzem: elas plantam, moldam, carregam, vendem e resistem. Em um cenário onde empreender não é só uma escolha, mas uma forma de sobrevivência, mulheres do Acre estão transformando o que têm — terra, cimento, fruta, memória — em renda, autonomia e permanência. Muitas fazem isso com as próprias mãos. Outras, com apoio da família. Mas todas compartilham algo em comum: a decisão de permanecer criando.

Da colheita ao pote: Lucilene e a trajetória de um doce feito com raízes

Foto: Thaynar Moura

Lucilene Nonata, de 58 anos, vive com o marido em um sítio no interior do Acre. Foi ali que, há cerca de duas décadas, ela decidiu começar a fazer doces com frutas do próprio quintal. “Meus filhos estavam entrando na adolescência e eu queria fazer algo meu, que também ajudasse na renda da casa”, conta.

A escolha pelo doce não foi aleatória: os pais de Lucilene já faziam compotas com frutas temporãs, e o marido, cearense, também gostava de preparar receitas simples. “Foi natural. Começamos com o que a gente tinha: cupuaçu, mamão, banana. O leite vinha do vizinho.”

Foto: Arquivo pessoal  
Foto: Arquivo pessoal

Hoje, mesmo com o pomar envelhecido e parte da matéria-prima comprada de produtores vizinhos, o processo segue artesanal. Tudo é feito por Lucilene e o esposo, desde a limpeza até o ponto do doce. A venda acontece em feiras e comércios locais, e o contato com o público é parte do valor do produto. “As pessoas perguntam se é a gente mesmo que faz. Criamos laços. Muitos viram amigos.”

A formalização veio com apoio do Sebrae, que orientou desde o registro como MEI até a criação dos rótulos e da tabela nutricional. “O Sebrae foi nosso primeiro e melhor parceiro. Nos abriu portas e deu acesso a linhas de crédito, cursos e assistência técnica”, relata.

Foto: Thaynar Moura

Apesar dos avanços, o desafio é constante: o alto custo dos insumos e a concorrência com produtos industrializados. “É difícil competir. Nosso estado não é rico. Mas a gente vai atravessar essa fase também”, afirma Lucilene. E para outras mulheres que pensam em empreender, ela é direta: “Somos guerreiras. Se cada dia traz um leão, que venham os leões.”

Concreto, família e criação: a arte que resiste com Elizabete e Maria Eliane

Elizabete Monteiro tem 25 anos e voltou ao Acre em 2025, depois de concluir a graduação em Curitiba. Junto com a mãe, Maria Eliane, de 61, criou o negócio “Arte em Concreto”, voltado à produção manual de peças decorativas feitas a partir de cimento, areia, pedrita e moldes reaproveitados.

Foto: Arquivo Pessoal

“O gosto pelo artesanal sempre veio da minha mãe. Quando ela ia passar um tempo comigo, ficava procurando o que fazer com as mãos”, lembra Elizabete. A dupla começou estudando técnicas no YouTube e fazendo testes em casa, até descobrir formas de agregar valor às peças — como a inclusão de plantas e o uso criativo do concreto na decoração.

O trabalho é familiar. Elizabete e a mãe cuidam da produção. O pai ajuda nas feiras. A irmã apoia na divulgação digital. “É algo muito em família, e cada um colabora do seu jeito”, afirma.

Entre os maiores desafios, Elizabete destaca o início do processo. “É preciso vencer o medo de começar. Mostrar o que você faz e lidar com o marketing exige constância.”Atualmente, participa da associação “Elas Fazem Acontecer”, formada por mulheres empreendedoras que organizam feiras e dão suporte às expositoras. “Faz diferença. A gente se sente parte de algo.”

Foto: Arquivo pessoal

A empresa começou a vender peças há cerca de um mês, e uma das metas de Elizabete é investir mais na divulgação pelo Instagram. “Hoje, se você quer saber de algo de uma loja, já vai direto no Instagram. Quero turbinar as postagens.”

Para ela, o mercado de decoração artesanal está crescendo. “As pessoas querem peças com identidade, que sejam únicas.” E para outras mulheres que sonham empreender: “Persistam. Se você ama o que faz, o retorno vem. Mas é preciso estar atenta às novidades e criar com propósito.”

Arte, dedicação e persistência: de uma conversa entre amigas ao ateliê em casa – o sonho de Adriana 

Adriana Balica, 32 anos, é proprietária da FazerArt Personalizados, um ateliê montado na própria casa, onde ela cuida de tudo: do atendimento à criação das artes e à embalagem personalizada. “A FazerArt nasceu numa conversa entre amigas, juntando minha paixão pelo trabalho manual. Hoje, faço tudo sozinha,” conta.

Para Adriana, empreender é uma jornada que exige atenção constante. “Empreender é uma tarefa extremamente difícil, pois temos que dominar um pouquinho de cada coisa e estar sempre atenta a todos os detalhes. Há dias e dias, há altos e baixos, assim como a nossa vida”, reflete.

Foto: Thaynar Moura

Assim como as outras mulheres desta reportagem, Balica destaca o apoio do Sebrae. “O Sebrae sempre esteve de portas abertas pra ajudar, tirar dúvidas, oferecer cursos, palestras e concursos. Sempre que posso, participo.”

E sobre tecnologia? Ela brinca: “Não uso nenhuma tecnologia avançada, eu acho, kkk.”

Para quem pensa em empreender, Adriana tem um conselho: “Lute! Lute pelos seus sonhos. Deus não coloca sonho no nosso coração que a gente não possa alcançar. É difícil, cansativo, cheio de desafios, mas vale a pena! ”

Onde termina o produto, começa a história

Fonte: DataSebrae (Relatórios trimestrais de Empreendedorismo Feminino, 2022–2024)

As histórias de Lucilene, Elizabete e Adriana, não são exceções. Elas representam milhares de mulheres no Brasil e no Acre que vivem daquilo que fazem, cultivam ou aprendem. Os dados mais recentes reforçam o que as histórias contam: empreender, para muitas mulheres, é uma decisão moldada pela necessidade, mas sustentada pela criatividade e pelo trabalho diário.  Que trabalham com o corpo, com a memória e com o tempo.

No Acre, o número de mulheres à frente de negócios oscilou nos últimos três anos. Segundo dados do DataSebrae, em 2022, eram 23.564 empreendedoras no estado. Em 2023, esse número caiu para 20.453, representando 23,7% do total de donos de negócios. No entanto, em 2024, houve uma leve recuperação: 21.350 mulheres atuavam como donas de negócio no estado no 4º trimestre, o que representa  25,1% dos empreendedores locais.

Fonte: DataSebrae – Relatórios trimestrais 2023–2024 

Esse avanço percentual, frente aos 23,7% registrados no ano anterior, revela uma retomada gradual da presença feminina no mercado.

Em números nacionais, 42% dos empregadores ou trabalhadoras por conta própria no Brasil são mulheres — um universo de 10,4 milhões de empreendedoras que movimentam a economia com pequenos negócios, muitas vezes construídos no quintal, na sala de casa ou em uma feira.

O aumento na participação percentual indica que as mulheres seguem ocupando espaço, criando soluções e sustentando seus negócios com o que têm – seja terra, concreto ou papel.

Redação

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Por meio do NAI, Ufac avança em inclusão e acessibilidade para estudantes com necessidades específicas

Estudantes com necessidades específicas enfrentam constantes desafios nas universidades brasileiras. Na Universidade Federal do Acre (Ufac), o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) foi criado para desempenhar um papel fundamental no processo de inclusão, garantindo que esses acadêmicos tenham acesso à educação com as adaptações necessárias para sua permanência e desenvolvimento na instituição.

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Buscando garantir um ambiente com mais acessibilidade, a universidade implementa adaptações e suporte para estudantes autistas e com outras necessidades.

Por Niélia Magalhães, Sérgio Henrique Corrêa e Gabriela Queiroz Mendonça

Estudantes com necessidades específicas enfrentam constantes desafios nas universidades brasileiras. Na Universidade Federal do Acre (Ufac), o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) foi criado para desempenhar um papel fundamental no processo de inclusão, garantindo que esses acadêmicos tenham acesso à educação com as adaptações necessárias para sua permanência e desenvolvimento na instituição.

Criado em 2008, o NAI procura executar políticas de inclusão e acessibilidade, oferecendo suporte pedagógico e promovendo ações de ensino, pesquisa e extensão voltadas para estudantes com deficiência e neurodivergência. 

A Ufac conta, atualmente, com 100 estudantes cadastrados no banco de dados do NAI. O suporte oferecido inclui adaptações acadêmicas, como tempo maior para realização de avaliações, provas em locais silenciosos, enunciados mais objetivos e intervalos em avaliações longas. Alunos que necessitam de assistência extra podem contar com monitores selecionados via edital, embora muitos prefiram somente ajustes no ambiente acadêmico.

“Cada estudante neurodivergente tem suas particularidades, portanto, o que é adotado para um pode não ser necessário para outro. O importante é garantir que cada um tenha suas necessidades respeitadas”, explica Carla Simone, coordenadora do NAI.

Segundo a coordenadora, a universidade avançou na instalação de pisos táteis, rampas, elevadores e banheiros adaptados, além da implementação de intérpretes de Libras e recursos audiovisuais para alunos com deficiência auditiva ou visual.

“Apesar dos avanços, um dos principais desafios enfrentados pelos alunos com TEA na Ufac ainda é a falta de conhecimento da comunidade acadêmica sobre o transtorno. Frases como ‘mas você não tem cara de autista’ impactam diretamente a experiência dos estudantes, levando muitos a adiar a busca por suporte por medo de julgamentos e falta de empatia”, enfatiza Carla Simone.

Para estudantes autistas, um avanço importante foi a criação da Sala Aquário, um espaço no Restaurante Universitário reservado para refeições em um ambiente mais silencioso e confortável. “Essa foi uma conquista do Coletivo Autista, garantindo um espaço adequado para os alunos que sofrem com sobrecarga sensorial”, destaca a coordenadora.

No entanto, Carla Simone enfatiza que a inclusão é um processo contínuo e que ainda há muito a ser feito. “O essencial é garantir que os estudantes com deficiência que ingressam na universidade tenham condições de acessar, permanecer e concluir seus cursos com dignidade”, afirma.

Capacitação e conscientização

Um dos pontos de atenção do NAI é a formação da comunidade acadêmica. Atualmente, o núcleo já realiza capacitação para monitores que atuam diretamente no suporte aos estudantes, mas ainda não há um programa estruturado para professores e servidores.

A partir do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2025-2029, a Ufac pretende implementar treinamentos para docentes e técnicos, promovendo maior sensibilização sobre a inclusão e as necessidades dos estudantes neurodivergentes.

O NAI trabalha em parceria com diversos setores da universidade e instituições externas para encaminhar alunos a serviços assistenciais, previdenciários e de saúde, além de organizar palestras e eventos sobre acessibilidade e inclusão.

Arte: Agência Câmara

O futuro da inclusão na UFAC

Quando questionada sobre os próximos passos do NAI, Carla Simone aponta que as principais metas incluem:

  • Atendimento eficaz e de qualidade aos estudantes com deficiência;
  • Criação de um laboratório de tecnologia assistiva;
  • Promoção de formações continuadas para docentes, técnicos e estudantes;
  • Ampliação das ações já existentes, garantindo um impacto maior na universidade.

A coordenadora também reforça que a construção de um ambiente acadêmico mais inclusivo não depende apenas da gestão institucional. “Ter um olhar mais humanizado para todos, independentemente de cor, raça, religião, gênero ou deficiência, é essencial. A universidade precisa ser um espaço acolhedor para todos os diferentes”, conclui.

Entendendo o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O TEA afeta o neurodesenvolvimento, impactando a comunicação, linguagem, interação social e comportamento. O diagnóstico precoce é essencial para estimular a independência e melhorar a qualidade de vida. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma rede de cuidados para o atendimento integral das pessoas com TEA.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam 70 milhões de pessoas com autismo no mundo. No Brasil, a estimativa é de que 2 milhões de pessoas possuam algum grau do transtorno.

Redação

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