Cotidiano
Retratos: Serviço Delivery mantém crescimento mesmo após abertura de comércio
‘’Atualmente temos 10 entregadores para dar conta da demanda com precisão e fazer com que o pedido chegue com rapidez na casa do cliente.’’ afirma Maraya. / Foto: Ana Michele
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2 anos atrásem
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Redação
Conforme pesquisa realizada pela Kantar, houve um rápido crescimento no uso do serviço de delivery no Brasil, saltando de 80% em 2020 para 89% em 2022. O Instituto Foodservice Brasil (IFB) indica que o setor de delivery apresenta um crescimento em torno de 7,5% no ano de 2023.
Ana Michele, Tiago Soares
No dia 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declara Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional devido ao surto do novo coronavírus, uma doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2. Levando em consideração esse fato e os primeiros três casos confirmados de COVID-19 no estado do Acre, em 17 de março de 2020, a Prefeita do Município de Rio Branco, Socorro Neri, decreta Situação de Emergência em Saúde na cidade. Para conter a propagação da doença, várias medidas são implementadas. Além das práticas individuais de higiene, uma das principais recomendações emitidas pela OMS foi o estabelecimento do distanciamento social. As pessoas passam a evitar o contato físico e quem podia, se manteve sem sair de casa, o que consequentemente levou ao fechamento de empresas.Maraya Keury Melo Muniz é uma das pessoas que experienciou os impactos que vieram com a pandemia. Ela não só acompanhou de perto as transformações, como superou as dificuldades e cresceu com a empresa em que trabalha. Hoje, aos 20 anos, é gerente de um estabelecimento do ramo alimentício. Maraya conta que antes da pandemia, trabalhavam com dois pontos: um presencial e outro que já atendia através do “Delivery”, serviço de entrega em domicílio, onde o cliente realiza seu pedido através do celular ou computador, pagando e recebendo o produto sem sair de casa. Eles tinham um salão com mesas, cadeiras, pratos e talheres. As pessoas saiam para jantar, se reuniam com amigos e família, mas repentinamente, precisaram abrir mãos desses momentos para manter a própria saúde e das pessoas que amavam. Em consequência, o estabelecimento precisou fechar as portas, ficando apenas no atendimento delivery, que já era usado, mas não na proporção atual. Uma pesquisa encomendada pela VR Benefícios e realizada pelo Instituto Locomotiva mostra que, no Brasil, o serviço de delivery aumentou de 49% antes da pandemia para 81% após as medidas restritivas. Maraya, na época, era atendente. Ela conta que no início enfrentaram desafios para conseguir atender e se adaptar ao grande número de entregas que foram surgindo. ‘’ Não esperávamos que a quantidade de pedidos fosse aumentar de forma tão rápida.’’ relata. “É claro que a empresa busca sempre o melhor, mas não imaginávamos que cresceria tanto e de forma tão rápida. Foi como um ‘Boom’.’’ relembra Maraya.Com a rápida expansão, vieram problemas inesperados, como a dificuldade em manter os prazos de entrega no início, chegando ao ponto em que, em algumas ocasiões, não conseguir realizar as entregas a tempo. Maraya recorda de uma situação particular em que ficou claro que a capacidade de atender a todos os bairros de Rio Branco, mesmo em uma cidade não tão extensa, era uma tarefa difícil. “Foi nesse momento que optamos por limitar as entregas para determinados bairros, para podermos atender aos nossos clientes com rapidez e eficiência.’’Além de alterar as estratégias de atendimento e de entregas, foi preciso adotar medidas de higiene para garantir a segurança dos funcionários, entregadores e clientes. ‘’Foi exigido o uso de máscara para todos na cozinha, por mais que não tivessem em contato direto com os clientes.’’ O mesmo cuidado se aplicava aos entregadores. ‘’Mesmo com o capacete precisavam estar de máscara’’, relata Maraya. Além da máscara, o uso de álcool em gel era indispensável, assim como o hábito de sempre higienizar os alimentos após chegar do mercado. Outra mudança foi em relação ao pagamento. ‘’Ao invés do dinheiro, preferíamos sempre o pix ou pagamento por aproximação.’’ conta. Ela relata ainda que o atendimento começou sendo feito pelo WhatsApp. Mas para promover o serviço de entrega, optaram por utilizar outros meios, como o ‘Ifood’, uma empresa que atua no serviço de delivery de alimentos por meio de um aplicativo. “Também temos um sistema que tira pedidos online.’’ Essa forma de atendimento ajudou a alcançar e manter mais clientes, pois facilita o processo de pedidos, pagamento e acompanhamento das entregas. ‘’Temos um link onde o cliente realiza seu próprio pedido, coloca o endereço e forma de pagamento, e em seguida o pedido vai direto para a cozinha.’’ explica Maraya. Além de alterar a dinâmica de atendimento e investir na qualidade dos produtos, foi necessário também modificar a logística das rotas de entregas. ‘’Atualmente temos 10 entregadores para dar conta da demanda com precisão e fazer com que o pedido chegue com rapidez na casa do cliente.’’ afirma Maraya.
Entre Desafios e Entregas: A Jornada dos Motoboys na Pandemia

Elissandro Matos do Nascimento, assim como mais de 13 milhões de brasileiros em 2020, estava desempregado. No caso dele foi por opção. Decidiu sair do seu emprego como atendente. Foi tentar uma vaga como “motoboy”, profissão que utiliza uma motocicleta para fazer entregas. Ao mesmo tempo que precisou se adaptar à nova ocupação, precisou se adaptar à nova rotina da pandemia e as exigências que surgiram com ela. Sua preocupação não era só entregar os pedidos no prazo, mas fazer isso de maneira segura para todos. E para garantir sua segurança e a dos clientes, passou a usar máscara constantemente, assim como álcool em gel. Com o distanciamento social imposto, ele precisou ter muito cuidado ao realizar as entregas. “Chegou um tempo em que tivemos até que usar luvas porque os clientes não queriam contato físico com a gente.” relata. Nos condomínios, que antes era preciso subir escadas para entregar na porta dos clientes, a entrada já não era mais permitida e as entregas eram feitas na portaria, medida tomada para minimizar o contato. ‘’Tinha clientes que nem abriam a porta para a gente. Tinha uma mesinha do lado de fora onde eu deixava o pedido”, conta. Essa nova dinâmica também se estendeu ao pagamento, a fim de evitar a troca direta de dinheiro. “Às vezes o dinheiro já estava em um saquinho amarrado”, explica.
Além disso, outra dificuldade enfrentada por ele foi o aumento inesperado da demanda. Com o fechamento de estabelecimentos que antes atendiam presencialmente, o distanciamento social e a crescente preocupação com a saúde, as pessoas voltaram-se mais para as entregas em casa. “Quando comecei, fazíamos cerca de 50 a 60 entregas por dia, mas de repente, tudo mudou”, relata Elissandro. “A quantidade de pedidos aumentou de forma rápida, e passamos a fazer de 100 a 150 entregas em um dia.’’ Essa mudança repentina trouxe um desafio adicional à sua rotina já adaptada, exigindo agilidade e organização para cumprir todas as entregas com excelência.
Hoje, aos 34 anos, “Sandro”, como é chamado por seus colegas, superou esse momento desafiador e continua na mesma profissão. Há alguns dias mais estressantes que outros, dois ou mais clientes que não atendem a ligação ou demoram para pegar o pedido, mas apesar disso, ama o que faz. Uma pesquisa de Harvard realizada desde 1983, estudou mais de 700 profissões e estabeleceu as sete que mais causam insatisfação nos trabalhadores. Entregador está em primeiro lugar. Sandro não concorda. Essa pesquisa relaciona a infelicidade ao trabalho solitário. Porém, o que chamam de solidão, ele chama de liberdade. “Trabalho de motoboy é bom porque não tem ninguém no teu pé direto, falando o que tem que fazer.” afirma.
Mudanças de comportamento perduram
Mesmo com a reabertura dos estabelecimentos físicos, o delivery de alimentos continua sendo bastante usado. Conforme pesquisa realizada pela Kantar, empresa de consultoria da Inglaterra, houve um rápido crescimento no uso do serviço de delivery no Brasil, saltando de 80% em 2020 para 89% em 2022. O Instituto Foodservice Brasil (IFB) o que o setor de delivery apresenta um crescimento em torno de 7,5% no ano de 2023.
Ainda segundo a Kantar, além do hábito, essa mudança foi impulsionada pela busca por conveniência, sabor e prazer no consumo de refeições. Ela analisou que 70% dos brasileiros compram por conveniência e 55% dos que têm maior poder aquisitivo decidem experimentar novos pratos. Em uma análise mundial, ela determinou que as principais razões de realizarem compras de comida pelo delivery é por não ter que cozinhar em casa (25%) ou por preferir realizar suas refeições na comodidade do lar (15%). Após as restrições e o isolamento social, o delivery se tornou não apenas uma alternativa, mas uma escolha frequentemente preferida.
Para a pesquisadora Luci Praun, da Universidade Federal do Acre (UFAC), a pandemia favoreceu uma experimentação maior por parte das empresas, permitindo que elas testassem novas tecnologias, mercados e públicos.
Dessa forma foi possível atingir consumidores que antes tinham uma resistência maior em relação à tecnologia, como as gerações mais velhas que por conta da pandemia e do isolamento social tiveram que fazer usos desses aparelhos cotidianamente, criando assim, novos hábitos sociais.
Cyber socialização e mudança de hábitos
Ao tentarmos entender como a pandemia favoreceu o serviço de delivery através da mudança de costumes sociais, recorremos à professora Ana Letícia de Fiori da UFAC, pesquisadora do Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana (LabNAU) da USP.
Perguntamos a ela se a pandemia não potencializou, de alguma forma, o vínculo entre cibercultura e indivíduo pós-moderno, gerando alterações na forma de sociabilidade desse sujeito, ou a aceitação de práticas que antes não eram.
Como exemplo temos a tentativa de substituir os livros didáticos por digitais, através da retirada do estado de São Paulo do PNDL (Programa Nacional de Livros Didáticos) em uma tentativa de aprofundamento de conteúdo.
A Prof. Fiori lembra que a virtualização de formas de sociabilidade, através da internet e das redes sociais gera o hábito de “estarmos em contato constante, e a acreditar que devemos estar. Temos dificuldade hoje de não consultar as redes sociais a cada instante, o que tem impacto nas nossas interações e em nossos lazeres.”
Jovens vão ao cinema e não conseguem ficar toda a sessão sem mexer no celular. O senso comum descreve isso como excesso de informação, mas na verdade de fato é excesso de estímulos.
Essas mudanças na sociabilidade criam uma geração mais caseira mais adaptada a permanecer em casa, desde que haja um aparelho conectado à internet, a pandemia favoreceu esses costumes, complementa a Professora.
É o que demonstra o relatório Covitel 2023, segundo ele os mais jovens, a geração Z, está bebendo menos álcool e voltando para casa antes da meia noite, se comparado aos millennials (pessoas que nasceram entre 1981 e 1985).
O setor de alimentação soube aproveitar essas mudanças através de aplicativos ou redes sociais, para não falir. O que antes era questão de sobrevivência através do empreendedorismo torna-se inovação e oportunidade e por que não, hábito social.
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Cotidiano
Aquífero do Segundo Distrito de Rio Branco: riqueza invisível sob ameaça urbana
Estudos recentes apontam que o aquífero ocupa uma área de 122,46 km². Foto: cedida
Publicado há
15 horas atrásem
13 de outubro de 2025por
Redação
Por Júlio Queiroz e Karina Paiva
No subsolo do Segundo Distrito de Rio Branco está uma das maiores reservas estratégicas de água da capital acreana: o Aquífero Rio Branco. Pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac), como Evandro José Linhares Ferreira, Alexsande de Oliveira Franco, Frank Arcos e Jessiane Pereira, têm alertado sobre a importância desse manancial subterrâneo, e destacando que ele possui alta vulnerabilidade à contaminação em razão da ocupação urbana desordenada e da falta de saneamento básico.

Estudos recentes apontam que o aquífero ocupa uma área de 122,46 km², abrangendo os seguintes bairros: Loteamento Praia do Amapá, Taquari, Comara, 6 de Agosto, Santa Inês, Loteamento Santa Helena, Loteamento Santo Afonso, Belo Jardim 1 e 2, Cidade Nova, Santa Terezinha, Residencial Rosa Linda, Vila da Amizade, Vila Acre, Mauri Sergio, Areal, Vila do Dner e Quinze, e possui capacidade de abastecer mais de 3,2 milhões de pessoas com 200 litros de água por dia.
Ainda assim, apenas cerca de 7% de sua descarga natural é utilizada atualmente para o consumo humano. Para os pesquisadores da Ufac, a ausência de políticas públicas efetivas coloca em risco a qualidade da água, já que análises laboratoriais têm identificado contaminação por nitratos, coliformes e metais como ferro e manganês.
O poder público municipal, por sua vez, tem divulgado avanços em projetos de captação subterrânea, mas sem execução plena. Em 2012, a imprensa local noticiou a realização de estudos preliminares, e em 2019 a Prefeitura anunciou que avançava em planos para aproveitar o potencial hídrico do aquífero. Já em 2014, o Governo do Estado divulgou que a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) continuaria o plano de exploração, mas até hoje a utilização em larga escala não saiu do papel.
Esse contraste entre a urgência apontada pelos pesquisadores e a morosidade administrativa revela o desafio de transformar ciência em política pública.
Potencial e desafios
De acordo com o modelo de gestão elaborado pela CPRM em 2010, a recarga anual do Aquífero Rio Branco é de aproximadamente 587 mm/ano, com rápida recuperação dos poços (em até uma hora). Isso torna o manancial um recurso estratégico, capaz de complementar o abastecimento em períodos de estiagem do Rio Acre.
Pesquisadores x Poder Público
Enquanto pesquisadores da Ufac defendem o monitoramento constante e o uso controlado do aquífero, a Prefeitura de Rio Branco e o governo do Acre têm enfatizado a continuidade dos estudos, mas sem definir prazos concretos para exploração sustentável.
Essa divergência evidencia a necessidade de integração entre ciência e gestão pública, de forma a garantir segurança hídrica para as futuras gerações.

Foto: cedida
A CPRM é uma empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia, responsável por produzir e divulgar informações geológicas, hidrológicas e ambientais do território brasileiro.
No caso do Aquífero Rio Branco, a CPRM foi a instituição que realizou estudos técnicos de mapeamento, testes de bombeamento e modelagem hidrogeológica, servindo de base para o Plano de Manejo do Aquífero citado.
Em resumo: a CPRM é quem faz a “radiografia do subsolo” e fornece dados científicos para que estados e municípios consigam planejar a exploração sustentável da água subterrânea.
Outro entendimento
O diretor-presidente do Saerb, Enoque Pereira de Lima, explicou que não há comprovação da existência de um aquífero em Rio Branco, mas sim um lençol freático raso capaz de atender demandas residenciais e comerciais em pequena escala.
Segundo ele, estudos realizados até 400 metros de profundidade não identificaram aquífero, apenas pontos de água confinada de difícil recarga, com capacidade de renovação anual de cerca de 20%. Para verificar a viabilidade, o Saerb pretende perfurar três poços profundos — dois no Segundo Distrito e um no Panorama — avaliando volume, qualidade da água e resistência do solo, podendo expandir as perfurações caso os resultados sejam positivos.
Sobre o abastecimento, Enoque destacou que a cidade depende integralmente do Rio Acre, cuja turbidez e sazonalidade dificultam o tratamento, sobrecarregando o sistema no período seco.
A produção atual das duas ETAs é de até 1.600 litros por segundo, mas falhas em bombas, motores e adutoras causam intermitência em determinados bairros, especialmente no Segundo Distrito, totalmente dependente da ETA 2.
O dirigente ressaltou ainda o alto desperdício doméstico e a falta de conscientização dos moradores como fatores que agravam a escassez, reforçando que, em situações críticas, a prioridade é garantir água para hospitais e unidades de saúde.
Invisível aos olhos dos moradores, o Aquífero Rio Branco pode ser a chave para garantir segurança hídrica à capital acreana. Mas, se por um lado representa abundância, por outro traz o alerta: sem gestão integrada e responsável, esse tesouro subterrâneo pode se transformar em mais uma vítima da urbanização desordenada.
Cotidiano
Curativo 100% biodegradável leva estudantes do Ifac à COP30
Publicado há
4 dias atrásem
10 de outubro de 2025por
Redação
Por Fernanda Maia, Gabriel Vitorino e Jhenyfer Souza
No Instituto Federal do Acre (Ifac) em Sena Madureira, estudantes desenvolveram um curativo biodegradável feito a partir da taboca, espécie de bambu abundante na região amazônica.
O projeto será apresentado na prévia da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontece este ano em Belém (PA), em novembro, e pretende mostrar ao mundo uma alternativa sustentável para a proteção das feridas.
A ideia surgiu a partir de estudos feitos durante o doutorado do professor Marcelo Ramon, graduado em Química pela Universidade Federal de Alagoas – Ufal. Doutor em Biodiversidade e Biotecnologia com ênfase em Nanobiotecnologia pela Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal. Ele percebeu que a substância extraída da taboca, carboximetilcelulose (CMC), podia formar uma película semelhante ao plástico. O material, que parecia inviável por ser solúvel em água, se tornou a chave para um curativo capaz de se dissolver em contato com sangue ou secreções.
Além disso, apesar de ser considerada uma praga por produtores rurais devido aos espinhos, a taboca foi escolhida por apresentar vantagens ecológicas. O professor destaca que o Acre detém a maior concentração ‘tabocal’.
‘’A taboca cresce muito rápido, até 20 centímetros por dia. Em cinco anos, você já tem uma floresta recomposta. Tem taboca na África e Ásia, mas nada se compara ao que temos na Amazônia. E dentro da Amazônia, o Acre é o estado que mais concentra essa espécie”, explicou.
Curativo
O curativo foi reforçado com nanogotículas extraídas de óleos de copaíba e andiroba, que são conhecidos por suas propriedades antibacterianas e anti-inflamatórias.
Segundo Ramon, essa combinação ajuda na cicatrização e cria um produto sustentável, diferente dos curativos tradicionais, feitos à base de petróleo e nocivos ao meio ambiente. “Enquanto o band-aid serve apenas como barreira, o nosso curativo atua diretamente na regeneração do tecido exposto”, explica.
Veja abaixo o passo a passo de produção do curativo:
- Coleta da taboca na floresta amazônica;
- Transformação da fibra vegetal em carboximetilcelulose (CMC), um pó fino que forma um gel em contato com a água;
- Adição de nanopartículas de prata (com ação bactericida) e nanoemulsões de óleos essenciais de copaíba e andiroba, que têm propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes;
- Desidratação do gel em estufas, que forma uma película sólida e transparente;
- Aplicação na pele, e nesta etapa o curativo se transforma novamente em gel e é absorvido pela ferida.
Expectativas
A criação do produto também contou com a ajuda de estudantes do Ifac de Sena Madureira e, para eles, o projeto vai além da pesquisa em laboratório.
João Augusto Nascimento, que entrou no IfacC ainda no ensino médio, afirma que a experiência mudou sua forma de ver a ciência. “Mostra que a pesquisa pode nascer dentro da escola pública e gerar soluções reais a partir da Amazônia”, afirma.
Já a aluna Jordana Batista, outra integrante do grupo de pesquisa, destaca o orgulho em representar o projeto na conferência. “Ver nosso trabalho chegar à COP30 mostra que a região tem potencial para inspirar outros estudantes que se interessam por ciência’’.
Apesar do avanço, a produção em larga escala ainda depende de investimentos e de equipamentos industriais. Hoje, o grupo trabalha em nível laboratorial, mas vê na COP30 a chance de atrair investidores e parcerias.
A expectativa é de que o curativo ganhe visibilidade internacional e mostre que ciência, sustentabilidade e saúde podem caminhar juntas a partir do Acre.
Cotidiano
Mulheres tatuadoras no Acre e as histórias eternizadas na pele
Em Rio Branco, no Acre, esse processo já marca a cena local, com cada vez mais mulheres assumindo as máquinas, os estúdios e o protagonismo.
Publicado há
6 dias atrásem
8 de outubro de 2025por
Redação
Por Luanna Lins e Inayme Lobo
Desde muito antes de se tornar moda, a tatuagem já carregava significado em diferentes culturas. Entre povos indígenas, marcar a pele é rito de passagem, pertencimento. Em alguns países da Ásia, até hoje, ela ainda é envolta em restrições. E, quando a tatuagem moderna se espalhou, foi quase sempre dominada por homens.
Esse cenário começou a mudar quando algumas mulheres decidiram romper essa barreira. Entre as maiores inspirações estão Maud Wagner, artista circense considerada a primeira tatuadora dos Estados Unidos, no início do século XX, e Jessie Knight, que se destacou na Inglaterra a partir de 1921.
No Brasil, o mercado da tatuagem veio ganhar visibilidade a partir da segunda metade do século XX, também marcado pela predominância masculina. Nomes como Re Martelli – reconhecida como uma das primeiras tatuadoras do país – abriram caminho, tornando-se referência para outras que vieram a conquistar esse espaço.
Em Rio Branco, no Acre, esse processo já marca a cena local, com cada vez mais mulheres assumindo as máquinas, os estúdios e o protagonismo. Três delas, em especial, fazem parte dessa nova geração de tatuadoras: Ana Beatriz Tavares (20 anos), Gabriella Leão (21 anos), e Thayla Isla (26 anos). Cada uma com sua trajetória, mas unidas pela certeza de que a tatuagem é mais do que um desenho na pele, é identidade.
Experimentar, arriscar, confiar
Ana Tavares ainda era adolescente quando decidiu que a tatuagem seria sua profissão. No terceiro ano do ensino médio, ganhou um kit de tatuagem do pai e começou a improvisar peles artificiais para treinar em casa. “Eu chamei alguns colegas da minha turma pra poder fazer os primeiros treinos. Aí teve uma pessoa que aceitou e a partir disso eu comecei a tatuar”, lembra.
Aos 20 anos, Ana já possui um extenso portfólio e vem conquistando cada vez mais clientes. Foto: Inayme Lobo/A Catraia
NoO começo foi autodidata. Sem cursos presenciais disponíveis em Rio Branco, recorreu à internet. “Pesquisei cursos na internet, comecei a fazer, estudava por lá. Até o ano passado, quando participei de um workshop aqui na cidade, com um profissional da área. Então, a maior parte eu aprendi sozinha”.
Hoje, ela trabalha principalmente com o fine line e o blackwork, mas também defende as tatuagens coloridas, mesmo com pouca procura. “Muitas pessoas pensam que a cor não vai ficar tão legal depois que cicatrizar, talvez por conta do tom da pele. Mas isso é mito. As tatuagens coloridas têm contraste diferente, mas não deixam de ter a mesma qualidade”.
O que diferencia seu trabalho, segundo ela, é o incentivo ao autoral. “Normalmente, quem vem comigo, traz tatuagens já prontas, com referências da internet. Mas eu sempre indico fazer uma coisa diferente, que vai ser só pra pessoa, que ninguém vai poder copiar”.
Tavares trabalha principalmente com os estilos fine line e o blackwork. Foto: cedida
Ainda este ano, Ana abriu seu primeiro estúdio próprio, após um período tatuando em casa e em um estúdio colaborativo. Para ela, o maior desafio não vem necessariamente do fato de ser mulher, mas da competitividade no meio. “Acredito que haja ainda uma rivalidade entre os tatuadores daqui. A ideia é que é um lugar pequeno, então o público é pouco e se divide.” Ao mesmo tempo, ela reconhece que ser mulher influencia nas clientes que conquistou. “Eu confio muito no meu trabalho. Sei que dá certo porque também recebo muitas outras mulheres que querem tatuar comigo”.
No coletivo, ninguém tatua sozinha
A trajetória de Gabriella Leão (Gab Tattoo) tem um tom quase profético. “Na escola, eu falava, de forma muito despretensiosa: “ah, eu vou virar tatuadora mesmo”. Eu não sabia de nada, não tinha ido atrás de nada. E eu sempre falava isso, sabe? De uma forma espontânea. Manifestei literalmente tudo”, conta, rindo.
Gabriella encontrou na coletividade dos estúdios um espaço para crescer. Foto: cedida
Foram os amigos que abriram a porta definitiva. Ela já desenhava desde criança, influenciada pela irmã mais velha, mas foi ao conhecer Gabriel (Amaterasu), hoje colega de estúdio, que ganhou o empurrão inicial. “Ele me deu dicas de máquina, de material, de onde comprar tudo isso. Foi o pontapé que eu tava precisando”.
Depois de um mês treinando sozinha em peles artificiais, Gabriella conseguiu uma vaga de aprendiz. E ali entendeu que a vivência valia mais do que qualquer curso. “Apesar de eu estar consumindo muito conteúdo, vendo cursos gratuitos na internet, o que de fato me fez aprender foi estar ali cercada de profissionais, sempre ter o tatuador ao lado para auxiliar. Isso realmente me ajudou”.
Hoje, com um ano e sete meses de carreira, já passou por três estúdios, todos colaborativos. “Eu sempre gostei muito, porque dá pra ter uma troca de conhecimento e experiência constante. A gente tá sempre aprendendo e, consequentemente, evoluindo juntos. Eu gosto muito dessa ideia de trabalhar em equipe”.
Conhecida por Gab Tattoo, a tatuadora se destaca pelo estilo irreverente. Foto: cedida
Em relação a estilos, Gabriella não se limita, mas tem dois favoritos: o old school e o black work. “Pra mim são tatuagens que não têm erro. Tanto no quesito resultado quanto na aplicação, é muito satisfatório fazer”.
Ser mulher, para ela, também faz diferença na clientela. “Recebo muita tatuagem mais delicada, mesmo meu nicho não sendo focado nisso. Principalmente vindo de outras mulheres, em regiões mais íntimas. Acredito que, por eu ser mulher, elas se sentem mais confortáveis”.
Nesse meio, Gabriella conta que já passou por situações em que sua capacidade foi colocada em dúvida apenas por ser mulher. “Eu já passei por situações desagradáveis, como não ter voz dentro de um estúdio, duvidarem da minha capacidade sem conhecerem meu trabalho… Mas nunca deixei isso me abalar. Felizmente, o cenário da tatuagem tá mudando. Cada dia que passa vãoai surgindo mais mulheres tatuando por aqui. Eu fico feliz demais!”, resume a tatuadora.
Entre a tradição e a reinvenção
Thayla Isla (La Isla Tattoo) tinha 22 anos quando tatuou a própria pele pela primeira vez. Foi em 2021, experiência que abriu um caminho inesperado. “Desde sempre eu tive gosto por desenhar e pintar. Era um momento pessoal, no qual eu me ocupava e me encontrava. Em 2021, fiz minha primeira tatuagem e, a partir dali, passei a conhecer mais profundamente essa arte e a desenvolver uma paixão por esse universo”.
Isla atua em estúdio próprio, com clientela diversificada. Foto: cedida
O empurrão veio do colega Lean Costa, artista plástico e tatuador, que se tornou também mentor. “Ele me inspirou, me orientou e me deu todo o suporte necessário para seguir nessa caminhada que hoje é a minha vida”.
Autodidata, Isla se consolidou no old school e no tradicional americano, além de se destacar com flash tattoos em eventos. “Meu público hoje é bastante variado: atendo desde jovens até pessoas mais velhas, tanto homens quanto mulheres. Muitos clientes já chegam com o desenho pronto, mas sempre ofereço minha opinião profissional para sugerir ajustes ou melhorias desde que o cliente esteja de acordo”.
A tatuadora é especialista em old school e tradicional americano. Foto: cedida
Assim como Ana e Gabriella, também começou de forma improvisada. “As primeiras tatuagens foram feitas na casa de amigos, onde eu adaptava o espaço para trabalhar. Aos poucos, fui reunindo recursos para comprar os móveis e montar meu próprio estúdio”.
No mercado local, Isla afirma ter encontrado acolhimento. “No ramo da tatuagem no Acre, acredito que o espaço é aberto para todos. Eu, particularmente, nunca enfrentei rejeição ou cancelamento por ser mulher, pelo contrário, sempre recebi incentivo dos colegas e também muita procura de outras mulheres”, explica.
Um espaço que não para de crescer
Apesar das diferenças de trajetórias, as três tatuadoras compartilham pontos em comum. Todas vieram do desenho, todas aprenderam de forma autodidata e todas enfrentaram o desafio de conquistar credibilidade em um mercado majoritariamente masculino. Entre elas, há uma certeza: o número de mulheres tatuando está crescendo. No Acre, os estúdios de tatuagem não são mais apenas território masculino.
Na experiência delas, muitas clientes relatam que se sentem mais à vontade ao tatuar com mulheres, sobretudo em sessões que exigem expor partes do corpo. Mas o crescimento dessa procura não se explica apenas pelo conforto e acolhimento: ele também reflete a qualidade do trabalho de Ana, Gabriella, Isla, e tantas outras tatuadoras que consolidaram estilos próprios e conquistaram reconhecimento por meio de técnica e experiência.
No fim, quem procura uma tatuagem possui diferentes motivações. Há quem busque a estética, um desenho que harmonize com o corpo. Outros enxergam mais significado: homenagens, lembranças, momentos especiais. E há também quem veja na tatuagem uma forma de expressão, identidade ou simplesmente de eternizar na pele aquilo que lhe representa. Seja qual for a razão, cada tatuagem é única – assim como as histórias de quem as faz e de quem as recebe.

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