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Cultura em foco: a importância do incentivo à cultura

Apoiar a cultura é contribuir para o desenvolvimento social, econômico e intelectual de uma cidade

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Por: Jaqueline Brasil

A cultura brasileira é bastante rica, somos uma grande mistura de vários povos, costumes e tradições. Por isso, não faltam produções culturais, mas existem grandes obstáculos para isso no Brasil. A democratização cultural, vem sendo discutida ao longo dos anos, é nítida como a desigualdade social e os baixos investimentos tornaram quase inacessível produzir cultura no país

No Brasil, existem leis voltadas exclusivamente para o incentivo à produção de cultura. As leis mais conhecidas são Lei Rouanet e a Lei do Audiovisual, as duas passam pelo critério de seleção e aprovação à nível governamental. Além dessas, durante a pandemia, foram criadas as leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo, as duas “nasceram” para financiar projetos no período pandêmico.  Para o projeto de lei Aldir Blanc, foram destinados cerca de R$3 bilhões de reais, valor que foi distribuído entre as capitais brasileiras.O Estado do Acre, recebeu 16,428 milhões de reais, sendo dividido em editais voltados para o audiovisual, arte e patrimônio, povos originários e apoio à música. Entre os critérios para participação estão, ser pessoa física maior de 18 anos, pessoa jurídica de direito privado, ser Microempreendedor Individual (MEI) ou grupos informais (sem constituição jurídica).

Em relação à lei Paulo Gustavo, o valor previsto no repasse é de R$3,86 bilhões de reais, distribuídos aos estados e municípios para projetos culturais, por meio de editais, chamamentos públicos, prêmios e audiovisual. Está previsto a chegada de R$30 milhões de reais, em Rio Branco foram realizadas consultas públicas para definir como os recursos serão utilizados. O município de Cruzeiro do Sul foi o primeiro do estado a publicar edital com os repasses recebidos pela lei Paulo Gustavo, esse ano os artistas, produtores culturais, fazedores de cultura terão R$715 mil para projetos culturais.

Em nosso estado, temos uma grande movimentação para a produção cultural desenvolvida por cantores, escritores, compositores, poetas e dançarinos. Neste grupo, existem aqueles que conseguiram ser contemplados com alguma lei voltada para produção artística, como a Lei Aldir Blanc.

O cantor e compositor acreano, Pedro Lucas Lima, ressalta a importância dessa lei para seu projeto musical.

“A lei Aldir Blanc, assim como todas as leis de incentivo público, é de suma importância tanto para o fortalecimento da cena cultural local como para o desenvolvimento de novos artistas. O projeto “Por um Fio” foi contemplado na 1° fase da lei, sendo meu primeiro trabalho profissional registrado em estúdio. Durante a pandemia, muitos artistas sofreram fortemente com a quarentena, sem poder trabalhar, assim como outros segmentos artísticos.”  comentou.

De acordo com Pedro Lucas, as leis criadas em caráter emergencial, ajudaram cantores a continuarem produzindo seus trabalhos.

“A lei emergencial de cultura surge em um momento delicado, onde muitos artistas foram contemplados e puderam prosseguir seu trabalho. Tenho extrema gratidão e a certeza de que todos os artistas precisam de incentivo público, tendo em vista as dificuldades do ser e do fazer artístico. Outro ponto sempre positivo do incentivo é a consolidação de artistas e o nascimento de novos trabalhos, tanto musicais quanto dos demais segmentos. “explicou.

Capa do álbum intitulado “Por um Fio”. (Imagem: Leo Lage/ Reprodução: Instagram)

Podemos destacar,  alguns fatores problemáticos com o fazer cultura em nosso país. Os fatores financeiros, burocráticos e desvalorização, são apenas alguns exemplos. É fundamental entender que a cultura está ligada a preservação das tradições, a cultura é a celebração e preservação da identidade de um povo.

Segundo Bismarck Moura, coordenador da quadrilha junina Malucos na Roça, as questões financeiras e de localização dificultam os processos culturais. “Nosso estado é muito distante, a gente, por morar longe, muitas coisas não têm aqui, e temos que pedir de fora, até o produto chegar os valores estão exorbitantes, por causa dos impostos. Tentamos conseguir patrocínio com empresários, em troca de divulgação, mas eles não são muito adeptos a isso, não é algo cultural do nosso estado.” explicou

Apresentação Junina. (Foto: Kássia Moura/Reprodução: Instagram)

Entretanto, para várias pessoas o acesso à cultura tornou-se algo feito para elite, como lembrado pela escritora, Vitória Saraiva. “O processo cultural no Brasil, para muitos é vista como elitizada, mas existem programações culturais gratuitas em nosso estado. Entendo que mesmo assim, muitos ainda não tem acesso ou desconhecem isso, a cultura deve ser feita para todos, e infelizmente até o momento não conseguimos alcançar.” explicou

O Casarão, berço da cultura do nosso estado. (Foto: Governo do Estado)

Os programas de incentivo à cultura, como subsídios, bolsas e apoio aos espaços culturais, podem ajudar na remoção das barreiras financeiras e auxiliar artistas e grupos culturais, nos seus projetos. O investimento não é apenas para artistas, mas promove o enriquecimento na cultura local e na sociedade.

A Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM) e a Fundação Municipal de Cultura Garbaldi Brasil (FGB), estão sempre publicando em seus sites editais para o apoio à cultura, esporte e lazer. Nas suas redes sociais, são divulgados os eventos culturais que ocorreram durante a semana no estado. Vale ressaltar, que em nosso estado existem espaços destinados à cultura. A Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), vem trabalhando para conseguir revitalizar os espaços destinados às práticas culturais. O estado, possui um total de 42 espaços culturais utilizados para eventos musicais ou exposições artísticas, O Casarão, localizado no centro de Rio Branco, é um belo exemplo disto.

Redação

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Cultura

Rabada do Toinho: 35 anos de história

Ao manter viva a culinária típica do Acre, cozinheiro conquista turistas e moradores com sua famosa rabada no tucupi.

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Por Felipe Salgado e Leticia Vale

Ao manter viva a culinária típica do Acre, cozinheiro conquista turistas e moradores com sua famosa rabada no tucupi.

No Mercado do Bosque, um prato típico do Acre ganhou status de tradição: a rabada. Preparada há mais de três décadas por Antônio Felinto Alves,, eleviu seu nome atrelado à rabada, além de ser também o Toinho do Tacacá.

A iguaria se tornou referência gastronômica para acreanos e turistas.
Seu Antônio iniciou sua trajetória aprendendo com Dora, uma cozinheira tradicional também muito conhecida pelos acreanos. Com o tempo, decidiu seguir carreira solo e consolidar seu próprio negócio. Hoje, acumula 35 anos de experiência e 18 certificados na área gastronômica.

“Quanto mais a gente se aprofunda nos temperos, no jeito de preparar, melhor fica. O segredo da rabada perfeita é cozinhar com carinho e amor, não apenas vender por vender”, afirma.
Mesmo com décadas de tradição, Toinho também se adaptou às modernidades. O iFood tornou-se parte fundamental do negócio. “Nos tempos de friagem, chegamos a 90 ou 100 pedidos por dia. Nosso ponto forte é no aplicativo”, explica.

A fama atravessa fronteiras. Segundo ele, os turistas que chegam ao Acre procuram diretamente por seus pratos. “O pessoal, quando vem aqui, me fala que vai levar rabada para Brasília, Goiânia, Santa Catarina. Nosso sabor viaja junto com eles”, relata com orgulho.

Para o comerciante, o segredo do sucesso é manter a fé e a dedicação:“Quando o pessoal diz que está ruim, eu não concordo. Se você tem saúde e acorda enxergando, já é motivo para agradecer a Deus. O resto a gente corre atrás.”

Redação

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Cultura

A dor em palavra: Gabe Alódio prepara “A Casa de Vidro”

Após a estreia visceral com Fogo em Minha Pele, autora acreana lança novo romance que mistura silêncio, fragilidade e arquitetura emocional. Foto: Rafaela Rodrigues

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Por Bruno Medim e Carlos Alexandre Silva

O segundo livro de um autor, na maioria dos casos, revela muito mais do que o primeiro. 

Se a estreia é a urgência de se apresentar ao mundo, a obra seguinte já nasce sob a consciência de que o público, e a própria autora, esperam algo. É nesse momento que Gabe L. Alódio, escritora acreana de 29 anos, se encontra com “A Casa de Vidro”, romance que será lançado em setembro e lançado em Rio Branco no dia 16 de outubro, às 19h, no Cine Teatro Recreio.

O título não é literal. Trata-se de uma metáfora clara, assumida pela autora, para a fragilidade e a exposição do ego. A casa é moderna, cercada por vidro, mas cada detalhe arquitetônico foi mentalmente desenhado antes da primeira frase. Ela descreve: “Sei onde a luz atravessa os cômodos, onde a vista se abre e onde qualquer pedra provocaria a primeira rachadura. Vejo a Casa de Vidro como uma metáfora para a própria escrita, transparente na linguagem, mas vulnerável na exposição dos temas abordados”.

Da intensidade ao silêncio 

Em Fogo em Minha Pele (2024), livro de estreia, Gabe apresentou uma poesia narrativa marcada pela intensidade física e emocional, algo que remete à lírica confessional e a um certo intimismo da tradição modernista. 

Já em A Casa de Vidro, essa energia se desloca para o silêncio e para a construção de atmosfera. A autora se aproxima de estratégias de escritores como Marguerite Duras ou Joan Didion, que sabem que a ausência pode ser mais expressiva que a presença. 

A protagonista, Sophia, vive isolada com o marido numa casa que funciona como personagem. A narrativa gira em torno da tensão entre manter e perder o controle. Como descreve a própria Gabe, é como equilibrar crises carregando uma bandeja cheia de xícaras empilhadas.

Publicado em 2024, Fogo em Minha Pele apresentou a escrita visceral e confessional de Gabe, marcada por desejo, corpo e memória. Foto: divulgação

Referências cruzadas 

O material visual que a autora preparou para orientar a capa é revelador. A arquitetura modernista da Casa Samambaia, de Lota de Macedo Soares, convive com as aranhas de Louise Bourgeois, símbolos de criação e aprisionamento. Há também Maria Callas, figura que sintetiza glória e abandono, e a presença de Dionísio, que remete à ligação entre vinho, prazer e destruição. É uma curadoria imagética que mostra a amplitude de referências da autora, em diálogo com artes visuais, música e mitologia. 

Entre o fogo e o vidro 

Se o primeiro livro era fogo, ardente e direto, marcado por desejo e paixão, o segundo é vidro: calculado, transparente, mas pronto para quebrar e cortar fundo. Essa mudança revela maturidade narrativa, sem perder a visceralidade que caracteriza a autora. 

O desafio agora será ver como A Casa de Vidro dialoga com o leitor. Como diz Gabe: ˜Escrever é fácil, viver é difícil”. Talvez este novo livro seja justamente um gesto de habitar esse difícil, transformando-o mais uma vez em palavra. 

Redação

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Cultura

Uma luta por poesia e sentimento

Batalha da Ufac reúne jovens e fortalece cultura do rap em Rio Branco. Foto: Felipe Salgado

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A cada segunda-feira, o campus da Universidade Federal do Acre (Ufac) vira palco para a Batalha da Ufac. Criada por um grupo de idealizadores da cena local, entre eles o estudante de Psicologia Davi Nogueira, a batalha é um espaço aberto para jovens expressarem suas histórias e críticas sociais por meio do rap.


O formato das batalhas de rap no Brasil surgiu no início dos anos 2000, inspirado por movimentos internacionais, e se consolidou em grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo. 

Em Rio Branco, os eventos vem ganhando força desde a Batalha do Palácio, considerada a mais antiga da cidade, que era realizada às sextas-feiras na praça do Palácio Rio Branco. 

Hoje o cenário local conta com eventos como a Batalha da Pista, do Santa Cruz e, principalmente, a Batalha da Ufac, que acontece no Teatro de Arena, conhecido como Coliseu, ao lado do Centro de Convivência.


Davi Nogueira destaca que o objetivo da batalha na universidade é democratizar o acesso à arte e trazer a comunidade para dentro do campus. 

“Muita gente achava que não podia entrar aqui. O Coliseu da Ufac é o lugar ideal, com estrutura e visibilidade para um evento cultural”, explica.


Para os participantes, o evento é muito mais que uma disputa de rimas. Apache Shaft, MC que frequenta a batalha, conta que o encontro representa um espaço seguro para trocar experiências, fazer amizades e fortalecer a cultura local. “É meu abrigo nas segundas-feiras. Quanto mais rap, mais cultura, menos crime”, afirma.


Entre o público, o humorista e influenciador Rafael Barbosa valoriza o clima acolhedor da batalha e ressalta a necessidade de maior apoio para o evento crescer. “Aqui tem muita poesia e sentimento, mas faltam som adequado e divulgação do poder público”, sugere.

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Momento em que os artistas fazem as batalhas. Foto: Felipe Salgado

Mais do que um show de talentos, a Batalha da Ufac é um importante instrumento de transformação social. Ao abrir as portas da universidade para a periferia, o evento reforça a ideia de que a cultura hip hop pode mudar vidas e fortalecer a autoestima de jovens, muitas vezes marginalizados.


Realizada de forma independente, a batalha conta com apoios voluntários e busca parceiros para ampliar sua estrutura. Na primeira edição, o evento lotou o Coliseu e conquistou mais de mil seguidores nas redes sociais antes mesmo de acontecer: um marco para o rap acreano.

Redação

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