A Música Popular Brasileira (MPB), gênero musical que surgiu por volta dos anos 60 em meio a um momento político conturbado na história do país, e foi se tornando, para além da música, um movimento de protesto contra a ditadura militar.
Dentre as suas principais características estão o combate à censura instaurada pelos militares e o resgate a diversos aspectos da cultura nacional. Apesar da postura subversiva dos músicos, alguns consideravam o movimento um tanto elitista, já que, boa parte das pessoas que faziam parte da MPB, eram ligados às universidades ou intelectuais.
Para aqueles que não conhecem muito bem essa criação nacional, grandes artistas brasileiros fizeram parte desse movimento, como Chico Buarque e Caetano Veloso, como dois grandes expoentes desse gênero, que conta com muitos outros artistas de peso.
Entretanto, a realidade do país, assim como seus costumes, produções culturais e formas de se consumir arte, se modificaram, e, consequentemente, a MPB também sofreu alterações, o que resultou no movimento conhecido como a Nova MPB.
Hoje, o gênero se expande de maneira muito mais horizontal, abrangendo diversos estilos e gêneros diferentes, possuindo várias facetas dentro das diversas áreas, através dos seus inúmeros artistas, indo do brega nordestino até ao rap, indo de Duda Beat a Emicida (para quem duvida, basta conferir o álbum Amarelo do cantor e procurar todas as referências).
Os mais puristas dizem que o gênero foi desvirtuado, que perdeu suas raízes,; e sim, isso é verdade, o que vemos hoje é muito menos referente à a antiga bossa nova, e muito mais próximo a gêneros populares da atualidade, como o pop, o sertanejo, o rap e muitos outros, e, mesmo assim, não deixa de ser MPB, pois em essência, o movimento é uma grande batida de brasilidades em um grande liquidificador de criatividade.
Outra grande mudança dentro do gênero foram as temáticas abordadas em suas letras, o que é completamente natural, já que elas refletem sentimentos intrínsecos ao seu tempo.
Imagine você, em meio a uma ditadura, e discordando de tudo o que está acontecendo em seu país, o sentimento de revolta e protesto contra o que está sendo imposto posto é óbvio, assim como relatos pessoais do que está acontecendo.
Já a nova onda da MPB, segue o mesmo espírito, de certa maneira, entretanto, nos tempos atuais, as discussões são mais subjetivas, internas e reflexivas, com como pode ser observado na canção Masculinidade, de Tiago Iorc.
Essa diferença nos temas abordados não quer dizer que não existam existem inspirações, referências ou paralelos com a antiga MPB, e outros artistas nacionais. O próprio Iorc é caracterizado pela realização de diversas canções apenas com voz e violão, que é uma característica muito presente na obra de Chico Buarque, por exemplo.
Ponto de vista técnico
Para o professor de música Denilson Carneiro, da Escola de Música do Acre, localizada no bairro Tucumã, “definir o que é a MPB é muito difícil, dada a sua pluralidade, o que cria sonoridades muito diferentes dentro do mesmo gênero”. Além disso, ele afirma que o rótulo surgiu meramente por motivos comerciais, e que, por definição, qualquer música regional e tradicional poderia se encaixar como música popular brasileira.
“O termo MPB, seria uma forma de rótulo inventado pela indústria fonográfica para conseguir vender o que era inclassificável. Imagina que num supermercado os produtos têm seus rótulos e você sabe o que vai encontrar dentro da embalagem, tem ali escrito arroz e você sabe que vai ter arroz dentro do saco, no caso de artistas como Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, etc, você pega um disco deles e tem Rock, tem Samba, tem Bolero, Samba Reggae, Blues, Baião.”, exemplifica Denilson.
Ele também explica o motivo do gênero, – se é que podemos chamar a MPB desta forma agora -, ter ficado de lado após a explosão dos seus grandes nomes no
país. “Com o avanço da internet, essas indústrias (fonográficas) perdem força econômica, pois não se vende mais discos como antes, e eles passam a investir menos na produção do seu casting, e, inclusive, reduzem os seus castings de artistas. Isso é relevante pro surgimento de novos nomes que tivessem a mesma proporção de fama de seus nomes e trabalhos”, disse o professor.
Denilson ainda comenta sobre a incapacidade de se comparar artistas das duas épocas, visto que são mercados, formas de se consumir, e também de se vender, completamente diferentes.
“Na época do Chico Buarque existiam algumas poucas rádios e canais de televisão, e na época do Tiago Iorc existe o YouTube e as plataformas de streaming, apesar do Tiago ter tido uma certa expressividade, eu considero que são contextos muito diferentes, inclusive musicais”, explica Denilson.
Outro ponto que ele destaca, sobre a dificuldade de compará-los, são as influências que construíram o estilo musical de ambos os artistas citados, já que Iorc certamente teve influências muito distintas de Chicho, mesmo que o segundo tenha influenciado também o primeiro.
“Os trabalhos são muito diferentes, o que tocava na época do Chico Buarque que foi influência musical pra ele, não toca na época do Tiago Iorc, e talvez o Chico seja uma influência pro Tiago, só que o Chico condensa muita coisa, e o Tiago tem outras influências musicais que na época do Chico nem existiam ainda”, finalizou ele.
Liquidificador de referências
Apesar dos apontamentos feitos pelo professor Denilson Carneiro, é impossível, na prática, não fazer essa comparação entre velhos e novos artistas, alguns têm influências claras na antiga MPB e também em outros gêneros.
Dizer que os contextos de ambos são diferentes é uma realidade, mas no campo das ideias, pensar no “e se…”, abre um enorme leque de possibilidades., como por exemplo: Como seria o trabalho do jovem em ascensão Jão, com suas músicas que relatam um amor e suas desilusões, por vezes de maneira exagerada, se ele tivesse produzido suas músicas na década de 80?
Certamente diversos nomes seriam levantados como forma de traçar uma proximidade lírica e sonora. E se o contrário fosse proposto? Comparar essas situações, refletir sobre as produções e seus contextos podem nos ajudar a entender de onde a música veio, onde ela está e para onde ela está indo. Já que a cada segundo que passa, devido à grande facilidade em se consumir arte na atualidade, os novos músicos, cantores e compositores, são cada vez mais um grande liquidificador de referências.
As brasileiras Caroline Trentini e Isabeli Fontana foram destaque na semana de moda de Paris.
Por Felipe Souza
A temporada outono/inverno 2024 tem sido um prato cheio para os amantes da moda “vintage” e das grandiosas modelos. Além de peças que remetem à época, as supermodelos dos anos 2000 retornaram com tudo nas passarelas de Nova York, Londres, Milão e Paris.
Muitas eras de modelos se encontraram em um curto período de tempo em que ocorreram as Semanas de Moda. Das brazilian bombshells às doll faces, os rostos mais conhecidos pela comunidade fashion mundial apareceram e brilharam nas cidades mais badaladas do mundo.
Não importava em qual desfile você assistia. Do mais ‘fashion’ ao mais comercial, as poderosas das passarelas dos anos 2000 estavam lá. Claro que o Brasil esteve presente, considerando que a maioria das grandes modelos no início do século era brasileira.
A gaúcha Caroline Trentini, por exemplo, representou o país nas passarelas da Schiaparelli, Carolina Herrera, Michael Kors e Max Mara. Além de Caroline, a paranaense Isabeli Fontana cruzou a Balenciaga e Alessandra Ambrósio, a icônica angel da Victoria’s Secret, fechou o desfile do estilista Elie Saab.
Mas não foi só de brazilian bombshells que a moda dos anos 2000 viveu. A norte-americana Frankie Rayder também cruzou, assim como Fontana, as passarelas da Balenciaga. Rayder foi uma das favoritas de Donatella Versace na era de ouro da italiana ‘Versace’.
As Slavas, sem sombras de dúvidas, estavam em peso também. O maior nome da temporada foi Natasha Poly, a mais bem-sucedida russa. Poly desfilou para Max Mara, Ferrari, Dolce & Gabbana, Fendi, Mugler e, majestosamente, fechou a coleção da Acnes Studio.
Ainda representando as Slavas, a lendária ucraniana Carmen Kass e – segunda maior modelo dos anos 2000, apenas atrás de Gisele Bündchen -, e a russa Natalia Vodianova, juntas, receberam todos os holofotes da plateia presente no show da Vetements.
Hana Soukupova, com seus 1,85 metros, também fez um retorno com maestria e cruzou a francesa Balmain e ainda brilhou com um outfit todo preto do Elie Saab.
Uma menção mais que honrosa: Gemma Ward para Max Mara. A doll face original, com seus cabelos loiros e olhos azuis, por muito tempo brilhou nas maiores grifes do mundo. Hoje, reclusa das câmeras, faz trabalhos selecionados e no outono 2024 foi escolhida para encerrar o desfile, além de ter reencontrado as amigas de longa data.
O coletivo artístico Errantes, existente a poucos meses, está se consolidando na cena artística da Universidade Federal da Ufac e de Rio Branco.
Por Tacila Muniz
Fundado em outubro de 2023 pelos estudantes de história licenciatura da Universidade Federal do Acre (UFAC) Diego Fontenele, Jhonatas Nathan e José Lucas, o grupo apresenta desenhos que consistem em estilos ligados às referências de interesse de cada artista como o surrealismo, exploração de aspectos anatômicos e de cultura pop.
Sua origem e identidade estão intrinsecamente ligadas à universidade. O projeto que primeiramente uniu os colegas de curso foi a última edição da Semana Acadêmica de História, realizada em outubro do ano passado, onde puderam expor seus materiais pessoais. O stand chamou atenção de professores da Associação de Docentes da Ufac (ADUFAC) como a presidente Letícia Mamed, que firmou uma parceria.
Os estudantes sentiram a necessidade de se apresentarem como um grupo e não só como artistas individuais parceiros. Dessa forma criaram o coletivo, sendo sua primeira exposição como grupo, denominado “Devaneios”, realizada em 23 de novembro de 2023, na sede na ADUFAC.
A partir daí oportunidades surgiram e novos artistas foram inseridos como João Victor e Franciele Feittosa. Além disso, uma equipe de apoio foi montada, sendo Mariana Maia e Débora Fontinele como comunicação, Lucas Nobre, Jardel França e Débora Tacana no editorial e curadoria e por fim uma equipe pedagógica, ainda em desenvolvimento, mas que já conta com João Pedro.
“É uma junção de pessoas da periferia que estão ocupando um espaço que naturalmente não é nosso”
Os integrantes falam que a ideia das últimas exposições e o que dá o tom dentro do coletivo é a possibilidade de democratizar a arte, “a arte não precisa ser cara, ela não precisa de muitos estudos, várias técnicas específicas. Cada um de nós tem técnicas diferentes, estilos diferentes, querendo passar mensagens diferentes, e ainda assim todos nós somos autodidatas e nenhum de nós representa alguma escola”, afirma José Lucas.
O coletivo também traz cada vez mais em sua identidade a utilização de materiais utilizados como tela, como pedaços de madeira e ferro avulsos, usados tanto para suprimir gastos quanto também para reciclar materiais que serviriam como lixo.
Além do ambiente universitário, para eles, a origem periférica é um grande ponto de referência para refletir sobre a prática de cada artista, mas também como o grupo pode atingir mais indivíduos em vulnerabilidade social.
“É uma junção de pessoas da periferia que estão ocupando um espaço que naturalmente não é nosso,” acrescenta Fontenele. Por esse motivo o grupo planeja montar materiais educacionais auxiliares na prática e conhecimento artístico voltado a crianças e jovens de escolas localizadas em bairros não centrais de Rio Branco.
Como perspectiva, o grupo tem como norte continuar a prática dos ideais citados, mas também institucionalizar o coletivo na Ufac, podendo impulsionar pesquisas envolvendo cultura e arte dentro e fora dos muros da universidade,
“É fazer um programa que vai ficar além de nós. Quando a gente sair daqui a gente quer deixar o coletivo para as gerações que vão entrar como algo dos estudantes”, explica Nobre.
Apesar do pouco tempo de existência, o grupo reflete sobre o que já foi possível construir e mantém a confiança de conquistar ainda mais, para nós, a quatro meses atrás era totalmente impensado. É muito doido você imaginar que os moleques da quebrada de Rio Branco, estão indo simplesmente expor lá no (museu) Juvenal Antunes sendo convidado. E a ideia é que a gente consiga abrir portas para que outras pessoas da quebrada também consigam fazer isso”.
Projeto no seguimento do audiovisual foi apresentado no edital da Lei Paulo Gustavo e a autora aguarda resultado para seguir na sua produção
Por Enilson Amorim
A cineasta e historiadora acreana Kelen Gleysse Maia dirigirá o documentário “Amor Bandido”, que abordará a história de mulheres envolvidas em crimes motivados pela influência de seus companheiros. Segundo a autora, o projeto está em fase inicial, mas as pesquisas para a realização do filme estão bem avançadas. “Para você ter uma ideia, o Brasil possui a terceira maior população carcerária do mundo, conforme uma pesquisa nacional realizada em 2022. No Acre, dados oficiais indicam um aumento gradual no número de mulheres reclusas, totalizando 231, sendo 193 em Rio Branco, 17 em Cruzeiro do Sul e 21 em Tarauacá, sem contar aquelas em que estão em regime aberto e semiaberto, sob Monitoramento Eletrônico Penitenciário”, comenta a cineasta e pesquisadora.
Kelen Gleysse Maia Andrade acumula experiência em pesquisa com grupos silenciados desde seus estudos de história até o mestrado em linguagens e identidades pela Universidade Federal do Acre (Ufac). “Já realizei diversos trabalhos com comunidades isoladas em seringais distantes e outros grupos esquecidos pelo Estado. Minhas incursões nas temáticas voltadas para as mulheres começaram com meu primeiro trabalho no audiovisual, chamado ‘Mulheres Lavandeiras’, exibido no Segundo FestCineMulher – edição 2022 realizado pela Associação Acreana de Cinema (Asacine). A partir desses trabalhos audiovisuais, surgiu a ideia de realizar o documentário ‘Amor Bandido’.”
No roteiro do novo documentário, a cineasta pretende denunciar as dificuldades e a negligência do poder público em relação a essas mulheres encarceradas, destacando que muitas são esposas, mães de família pobres que foram separadas de seus filhos e enfrentam diversos tipos de preconceitos dentro dos presídios. “São donas de casa que se veem largadas nos presídios, frequentemente sem garantias de saúde, higiene e proteção, violando seus direitos fundamentais e humanos.”
A cineasta planeja revelar também que essas mulheres, frequentemente sem instrução acadêmica e estrutura familiar adequada, são alojadas em presídios insalubres, escuros e malcheirosos, sem condições mínimas de higiene nas celas e com uma alimentação precária. Elas acabam nesses presídios por influência de seus companheiros, que, direta ou indiretamente, as levam ao crime devido à dependência emocional e financeira.
O documentário não busca justificar práticas criminosas, mas sim abrir espaço para novas perspectivas, estimulando discussões na sociedade e promovendo a reflexão sobre a vulnerabilidade social vivenciada pelas mulheres encarceradas atualmente. Acima de tudo, pretende assegurar que as vozes dessas mulheres não sejam silenciadas. “Este curta-metragem se compromete a dar voz a elas e influenciar o poder público a adotar uma abordagem mais humanista em relação à causa das mulheres encarceradas no Acre e no Brasil. E, principalmente, alertar outras mulheres a não entrarem no mundo do tráfico e destacar que o crime não compensa”, conclui a pesquisadora e cineasta.