(Alerta de gatilho: este texto aborda abuso sexual)
Era 30 de abril de 2011, às 17h48, quando a vida de Ariane* virou de cabeça para baixo, de uma forma que ela jamais imaginou que aconteceria em toda a sua existência. Acompanhada de sua filha mais velha, Sofia*, então com 6 anos de idade, ela chegou à Delegacia Especializada em Crimes Contra à Mulher, localizada no 2º distrito de Rio Branco (AC), para fazer uma denúncia. “Ele mexeu com a minha filha”, disse aos prantos para o delegado que a recebeu, acusando o padrasto da menina como o principal responsável.
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Ariane conheceu seu cônjuge em meados de 2006 e engataram um relacionamento. No final do ano, ela descobriu que estava grávida de sua segunda filha, Luana*, que acabou nascendo um dia antes de seu aniversário de 22 anos. A mais nova integrante da família fez com que ela fosse morar com ele na casa da sogra, acompanhada da filha mais velha, Sofia, fruto de um relacionamento com seu primo, que acabou não prosperando.
Depois de um tempo, cansada de passar por humilhações e enfrentar maus olhares da sogra, os quatro resolveram morar de aluguel em um quarteirão localizado em um bairro vizinho. Lá, eles viviam uma vida humilde, mas aparentemente harmoniosa. Bom, pelo menos até o momento em que o então marido começou a humilhar e a bater em Ariane pelo menor “motivo” que fosse, desde ciúmes banais até à janta não feita. Eram socos, tapas na cara e até cárcere privado por alguns dias ela enfrentou, proibindo-a de ir à casa dos pais. Entre idas-e-voltas que, tristemente, costumam ser comuns em relacionamentos abusivos, eles ficaram sem condições de custear o aluguel e passaram a morar em um pequeno apartamento nos fundos da casa dos pais de Ariane.
Passado um tempo, ela arrumou um emprego em uma loja de presentes e decoração, onde às vezes trabalhava até mais que o permitido por lei, porque acreditava que, fazendo isso, dificilmente perderia o trabalho que necessitava tanto. A vida passou a ser muito corrida, era das 13h às 22h trabalhando, enquanto achava que as filhas estavam sendo bem cuidadas pelo padrasto e pai.
No entanto, depois que Ariane passou a ficar mais tempo fora de casa, começou a perceber que estava acontecendo algo de estranho com a filha mais velha. Achando que era coisa de criança, acabou acreditando ser um comportamento típico para a idade de Sofia. Só que em meados de dezembro de 2010, ao chegar do trabalho, viu que a situação estava além do tolerável. “Quando eu cheguei do trabalho, tarde da noite, ela estava deitada na cama, sozinha, coberta e assim que ela ouviu minha voz, me abraçou profundamente. E eu não entendia o porquê daquilo”, falou.
E esse estranhamento não foi percebido apenas por Ariane. A avó de Sofia também começou a ficar com “uma pulga atrás da orelha”, pois era acostumada a ver a neta brincando com as outras crianças e, de repente, tinha perdido o ânimo. “Eu falava pra ela: minha filha, o que é que tá acontecendo? Por que você não quer ir brincar com os meninos? E ela só falava que não queria”, disse a avó, que disse nunca ter desconfiado de absolutamente nada, mesmo achando estranho.
No dia 30 de abril de 2011, Sofia reclamou de dor ao fazer xixi. Por conta disso, urinou na roupa duas vezes. “Coração de mãe sente muito. Eu senti que tinha alguma coisa de errado, minha mãe me falando que estava achando estranho o jeito dela, às vezes chorando pelos cantos. Mas eu não sabia, não sabia mesmo. Eu perguntava o que estava acontecendo e ela não me falava, só chorava. Ela só dizia ‘mãe, minha baratinha tá doendo’. Quando eu tirei a roupa dela para ver, (a vagina) estava cheia de bolha e eu achei que era algo relacionado ao xixi”.
Naquele exato momento, ela arrumou a filha e foi até à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Tucumã. No entanto, a UPA estava sem Pediatra, o que a fez ser transferida para o Pronto Socorro de Rio Branco às 12h46, de acordo com o prontuário clínico. Ao relatar o que tinha visto na vaginada filha, até então sem entender nada, logo foi encaminhada para a ala de emergência pediátrica, onde uma equipe de profissionais lhe fez uma enxurrada de perguntas. “No decorrer disso tudo, eles deduziram que era Herpes genital, uma infecção sexualmente transmissível”. Naquele momento, todas as peças do quebra-cabeça tinham se encaixado e a ficha estava começando a cair. O comportamento estranho da filha, a raiva que ela tinha do padrasto, os abraços de medo… Então, ela perguntou para a filha se alguém tinha acariciado as partes íntimas dela.
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Com base nos questionamentos feitos a Ariane, a equipe pediátrica colocou a criança como suspeita de ter sido abusada sexualmente pelo padrasto há alguns meses, solicitou exame de sorologia para Herpes, atendimento com assistente social e encaminharam-nas imediatamente à Delegacia da Mulher, onde registraram a denúncia. A partir do depoimento de Sofia, que falou que ele chegou a colocar o dedo em suas partes íntimas umas três vezes, mostrou filmes pornográficos e as partes íntimas dele para ela, solicitaram exames de conjunção carnal, bem como testes laboratoriais de HIV/Aids, Hepatites A, B e C e outros.
“Esse dia foi um dia de inferno na minha vida”, disse Ariane.
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Diante de toda aquela situação que enfrentava junto com a filha, ela se viu em um poço de tristeza, ódio e impotência, tanto por ter confiado demais no ex-cônjuge, como por não ter protegido sua filha como gostaria. Ariane trabalhava demais para colocar o sustento na mesa. Era uma rotina intensa ganhando pouco, saindo ao meio-dia e voltando às 22h e achando que as filhas estavam sendo bem cuidadas. “Eu nunca me senti tão suja na vida. Quando eu me vi dentro de toda essa situação eu pensei em tanta besteira…”
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Em meio às idas à assistente social, psicóloga, maternidade e laboratórios, o único exame que deu positivo foi para Herpes. “Graças a Deus, ele não chegou a introduzir nada na minha filha, não chegou a tirar a virgindade dela, mas para a Justiça, aquilo (o exame) não era prova concreta de que a minha filha tinha sido molestada”.
De acordo com o relatório sentencial, Ariane chegou a contar em um dos depoimentos à Justiça que havia aparecido umas marcas semelhantes às da vagina na bochecha de Sofia aos seis meses de idade, o que acabou tendo grande influência nos autos judiciais. Contudo, ela afirmou para o processo e para essa entrevista que aquilo tinha sido uma reação alérgica desencadeada a partir de um beijo que a avó paterna tinha dado nela. “Onde ela beijou, ficou a marca do batom ‘meio vinho’ que ela usava, e foi onde deu uma alergia, devido à pele de recém-nascido ser muito sensível. Na época eu levei a Sofia no hospital, não me falaram nada de Herpes. Eu não tinha por quê inventar uma coisa dessas agora”.
Ariane disse que o acusado não fez exame para Herpes e que não acredita que a filha contraiu o vírus antes dos abusos, porque as bolhas foram notadas depois que Sofia mudou o comportamento e passou a ficar mais retraída. “Minha filha era uma criança, ela não ia contar uma história horrível dessas do nada, ninguém da minha família nunca passou por isso”. De acordo com ela, o réu não chegou a fazer o exame justamente porque colocaram em alto grau de relevância o ocorrido com a menina aos seis meses.
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A sentença foi dada no dia 17 de outubro de 2013 e inocentou o ex-marido, embasada no argumento de que a palavra da vítima, apesar de sempre se sobressair à do réu, não era clara o bastante. A pouca idade de Sofia na época justificava o nervosismo da vítima no depoimento judicial. O advogado do acusado também alegou que a criança podia ter contraído Herpes na escola, que é uma doença muito comum e de fácil transmissão.
“Como não tinham provas mais firmes de que ele havia introduzido alguma coisa na vagina da minha filha, eles acabaram arquivando o caso. O que eles queriam era um exame carnal, algo mais concreto. E a gente não tinha mais nada o que fazer porque ela foi ouvida, e eles talvez pensaram que era coisa de criança, algo do tipo. Isso me revolta muito até hoje, porque ele ficou como o inocente na história”, desabafou Ariane. Ela acredita que o estupro propriamente dito não aconteceu porque moravam, praticamente, na mesma casa de seus pais, e corria o risco de Sofia fazer algum escândalo e todo mundo acabar escutando.
Ariane tem certeza que de inocente ele não tem nada. Primeiro, porque ela jamais vai duvidar da palavra da filha frente a um homem que já bateu, xingou e a maltratou em diversas ocasiões. Segundo, porque ele fugiu para a casa da mãe assim que soube que elas tinham ido ao hospital por tal motivo.
“Quando eu acompanhei a Ariane na UPA e depois, no Pronto Socorro, os médicos que viram a situação não deixaram a gente sair de lá até que chegasse a assistência social, porque já imaginavam o que era. Se eu não me engano, minha outra irmã, na tentativa de não piorar a situação mais do que já tava, ligou escondida para ele e disse para ele sumir de lá (apartamento onde moravam nos fundos da casa dos pais de Ariane), pois se essa história chegasse primeiro nos ouvidos do meu pai, ele seria capaz de matá-lo com o terçado que tinha”, disse a irmã de Ariane, complementando que hoje enxerga a ligação como um livramento de Deus, pois tinha certeza que iria acontecer uma tragédia muito maior, com gente morta e presa. “Meu pai é um homem trabalhador, muito simples e batalhador desde sempre. Ele não merecia sujar as mãos dele com o sangue de um *&%$# (palavrão)”.
O acusado, após a sentença, ainda passou os anos subsequentes perseguindo e rodeando a família, inclusive gerando vários processos: pedido de guarda da filha biológica, baixa no valor da pensão, acusação de calúnia e difamação por parte do pai de Ariane, que acabou se alterando em várias discussões e xingou-o de palavras de baixo calão ao vê-lo parado em frente à sua residência.
“A gente tinha uma medida protetiva que impedia ele de circular por perto da nossa casa. Mesmo assim desrespeitava, porque queria ver a filha nos dias que não eram os dele, mas eu não deixava de jeito nenhum. Ele até hoje nunca pagou pensão para a Luana, mesmo eu tendo ido na justiça diversas vezes. Parece que ele tinha prazer de desestabilizar a gente”, irrita-se Ariane.
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Ao relembrar toda a situação caótica, Ariane diz que se revolta até hoje com o arquivamento do processo, pois ficou parecendo que ela e a filha estavam mentindo.
Ela contou que é impossível esquecer o que ela e as filhas passaram com tão pouca idade. “Em uma das inúmeras discussões, tempos depois da sentença, ele olhou para mim e esbravejou, com um ódio enorme, que eu nunca mais ia ser feliz na minha vida. Claro que eu não internalizo isso, mas às vezes quando eu estou muito triste, fico realmente pensativa se ele jogou alguma praga em mim”.
Atualmente, ela continua com a guarda de suas duas meninas em sua casa própria e disse que desde meados de 2019 ele não procurou mais pela filha biológica. “E eu espero que continue assim pro resto da vida. Graças a Deus minha filha não sente nenhum pingo de falta dele e não faz mais questão de manter o mínimo de contato”. Hoje, Luana tem 13 anos.
Sobre Sofia, que está com 17 anos, Ariane disse que hoje ela é bem mais aberta para falar sobre as coisas, mas que ainda tem prejuízos psicológicos e gatilhos pessoais disso tudo. “Hoje ela é uma pessoa totalmente diferente, mas claro que com algumas sequelas. Quando ela fica muito calada, eu já fico muito preocupada e já sento para conversar… são marcas que eu sei que nunca vão passar”.
Se você conhece ou sabe de alguma criança ou adolescente que está enfrentando situações de abuso ou exploração sexual, não hesite em denunciar ligando para o 180. A ligação é gratuita, anônima, sigilosa e você pode contribuir para que estas vítimas sejam assistidas e os envolvidos, devidamente responsabilizados.
*Nomes fictícios para preservar a identidade das vítimas
Obs.: O nome da pessoa que foi acusada não é citado pois a lei o julgou como inocente e o processo foi arquivado por falta de provas contundentes.
A pequena loja, localizada perto das margens do Rio Acre, com várias bugigangas à mostra, está há pouco mais de um ano sem a fervorosa animação e presença do seu dono. O falecimento de Tancredo Lima de Souza, ocorrido no dia 23 de agosto de 2022, aos 69 anos, deixou uma lacuna profunda naqueles que o conheceram e amaram.
Tancredo Lima de Souza veio do interior de Pernambuco para Rio Branco, com seu pai e irmãos, e logo começou a trabalhar para ajudar no sustento da casa. Como era o mais proativo, logo ganhou o apelido de Chefe. Sempre dedicado, exerceu várias profissões, dentre elas seringueiro, motorista de ônibus e táxi, mas seu coração pertenceu ao comércio.
Começou desde jovem vendendo picolé, e, com o passar dos anos, passou a vender vassouras e tabaco. Conseguiu um ponto de vendas no Centro da cidade, trabalhou para manter sua loja junto de sua esposa, Maria José, e expandiu cada vez mais seu comércio. Virou o famoso Bazar Chefe, popular pela variedade de produtos tradicionais expostos para que todos aqueles que passam pelo local possam ver.
Começou a atrair uma grande clientela, que buscava utensílios que só o Chefe tinha e todos eram encantados pela humildade e vigor do vendedor. Assim foi construído um legado, que durou mais de 50 anos com clientes fiéis e amigos saudosos, que ainda se emocionam ao visitar a loja e não ver o Chefe no comando.
A saudade bate particularmente naqueles que compartilharam o privilégio de chamá-lo de pai. Segundo seus filhos, Cleudo José e Cleide Sandra, o pai sempre os incentivou para seguir seus passos e também foi um grande exemplo de honestidade, humildade e integridade. Além disso, os filhos lembram de seu coração bondoso que ajudava a todos.
Na cidade, ele era conhecido como um comerciante exemplar, alguém que deixou sua marca nas ruas e nos corações daqueles que tiveram a sorte de cruzar seu caminho. Para sua filha, ele era muito mais do que um pai, era um mentor, um guia.
Ao falar sobre ele, a emoção na voz, pois sua jornada serviu como uma escola prática para seus filhos, uma lição de vida transmitida através das experiências do dia a dia. Seu pai, um verdadeiro mestre do comércio, ensinou não apenas a vender produtos, mas também a construir relacionamentos duradouros.
“Ele era o meu pilar”, diz seu filho, com a voz repleta de reverência. “Ele não apenas direcionava nossos negócios, mas também na vida. Suas palavras eram um farol, estabelecendo o caminho certo a seguir”. Mesmo que sua presença física agora seja uma lembrança, o impacto de seus conselhos continua a moldar suas escolhas e ações.
“Humildade” é uma palavra que surge constantemente quando se fala dele. Ele era um homem que tratava todos com respeito e compaixão, independentemente da posição na sociedade. Sua presença calorosa e sincera deixou uma marca indelével nas pessoas com as quais interagiu e, até hoje, elas sentem sua falta.
A voz de Francisca Lima, irmã de Tancredo, ecoa com carinho e saudade, relembrando as memórias de um homem cuja vida foi repleta de histórias e ensinamentos. “Ah, meu irmão… Como é difícil falar dele”, suspira a irmã, com os olhos cheios de emoção. “Ele era tudo para nós, um alicerce em nossa família e também na família de sua mulher. Seu coração era grande o suficiente para abraçar o mundo inteiro.”
O sepultamento de Tancredo não apenas trouxe lágrimas à sua família, mas também testemunhou o amor e o respeito que ele inspirou em toda a comunidade. “No dia em que o Chefe faleceu, ainda de madrugada, começou a chegar gente das fazendas, do interior, do seringal”, descreve sua irmã, destacando a influência imensa que ele teve.
“Eu preferi não ver o Chefe”, admite ela, uma vez que a perda ainda é difícil de aceitar. “Ele foi nosso pai e nossa mãe, desde muito cedo ele assumiu as responsabilidades, sempre cuidou muito da gente, era tudo para nós, lembro de quando eu e minha irmã ficamos mocinhas ele comprava até batom para gente só porque sabia que nós gostávamos.”
Uma paixão peculiar pela culinária emerge nos relatos da irmã, que com um sorriso afetuoso diz: “Lembro que meu irmão adorava peixe, ele gostava muito, sempre comia tambaqui até dizer chega.” Era na simplicidade da vida que o famoso Chefe do Novo Mercado Velho encontrou sua alegria, seja vendendo picolés nas ruas, ou incansavelmente juntando centavos para sua primeira banquinha. Nunca teve vergonha de sua história e se orgulhava de seu passado. Apesar de não ter terminado seus estudos, foi um grande aprendiz da vida e também um grande professor para aqueles que o conheceram.
Hoje chamada rua Ricardo Campelo, outrora rua do Trapiche, recebeu esse nome pois, de acordo com quem mora lá, há alguns anos a população precisava andar por cima de estruturas de madeira, os chamados trapiches, pois havia muita lama.
Esta rua fica localizada no bairro Boa Vista, na Baixada da Sobral, uma ampla região que abriga 18 bairros, assim como diversos comércios, escolas, órgãos públicos, entre outros tipos de estabelecimentos. A região é como se fosse uma outra cidade dentro de Rio Branco.
Também chamada “Baixada do Sol’’, esse nome foi criado para evitar que chamassem de “Sobral’’ todos os diferentes bairros que são cortados pela estrada de mesmo nome. É um espaço que abriga muitas pessoas que vieram de outros municípios e, assim como o sol, nasceu para todos.
Antigamente a região era bem diferente do que é hoje, era uma fazenda e, pouco a pouco, casas foram construídas e formando diversos bairros e ruas. Nesse tempo, havia muita lama, contrastando com a visão atual, em que a maioria das ruas são cobertas por asfalto ou pelos tradicionais tijolos.
A dona de casa Luziete Mesquita da Costa, de 43 anos, é uma entre as diversas pessoas que saíram de seus locais de origem e hoje tem como lar a Baixada da Sobral, sendo moradora dessa região há quase 30 anos.
Ela vivia na zona rural mas,aos 14 anos, começou a morar com a irmã mais velha, Izalete, que já era residente do bairro João Paulo. O objetivo de Luziete era estudar, porém, a vida tomou outro rumo e ela acabou estudando apenas até a oitava série.
Quando ela chegou, ainda existiam os trapiches e muita lama, assim como a vida, que é cheia de mudanças, ela viu a rua feita de lama se transformar em tijolos. E a rua também acompanhou as mudanças de sua vida, viu quando conheceu seu primeiro esposo, o nascimento de seus três primeiros filhos,viu o seu divócio, e o nascimento dos dois outros filhos que vieram depois., e até hoje vê os sonhos de Luziete, que almeja terminar de reformar sua casa e ver seus filhos formados, se realizando. E a rua segue vendo, a cada dia, todo o trajeto da vida de Luziete e de outros moradores.
A vendedora de doces regionais Andressa da Costa Silva tem 27 anos e mora na região há 17, sendo 12 deles como moradora da rua Ricardo Campelo. Ela tinha apenas dez anos de idade quando seus pais resolveram se separar e metade de sua família, da parte materna, morava espalhada pela região da Baixada da Sobral.
Na época em que chegou, muitas ruas ainda eram de trapiche e a área era conhecida como periférica, Sua vida foi, praticamente, toda na Sobral, nas regiões de Boa Vista e João Paulo,chegando a morar em várias ruas por conta das muitas mudanças.
Quando, enfim, se instalou na rua Ricardo Campelo, não tinha saneamento básico, havia muito mato e esgoto a céu aberto, entretanto, hoje em dia o local está mais valorizado, e ganhou melhor estrutura, como a mudança da rua de trapiche para tijolos
A rua Ricardo Campelo já foi conhecida como rua das flores. Também foi conhecida por ser muito perigosa, lar de confrontos entre facções. Atualmente, porém, a onda de violência reduziu.
Luziete e Andressa, de formas particulares, possuem uma boa relação com seus vizinhos. Andressa, conversa, se dá bem e acha os vizinhos super harmoniosos. Luziete, por outro lado, não é de ficar conversando, mas não tem nenhum problema com seus vizinhos. Ela acredita que cada um vive sua vida tranquilamente, sem problema nenhum, se dá super bem com todos, mas com cada qual no seu canto.
Luziete gosta do local onde mora e não pretende mudar. Andressa, por outro lado, gosta do seu bairro em geral, gosta da facilidade em questão de transporte público e gosta do fato de andar pouco e logo encontrar padarias, açougues, frutarias, escolas e paradas de ônibus, porém, apesar de gostar de onde mora, acredita que a vida é repleta de mudanças e ela pretende se mudar futuramente.
Para conhecer a região:
TORRES, Gilmar. Conheça a Baixada da Sobral. Blog fala baixada, Rio Branco, 2018. Disponível em: <http://falabaixada.blogspot.com/p/conheca-baixada-do-sol_30.html>. Acesso em: 01 set. 2022 de Setembro.
Uma cidade pequena, vizinha da capital acreana, com pouco mais de 22 mil habitantes e muitas histórias para contar. Considerado por muitos um local pacato, já foi uma vila antes de receber o título de município, pela Constituição Estadual de 01 de março de 1963, completando 60 anos em 2023.
A cidade leva o nome de José Guiomard dos Santos, um político mineiro que atuou no Acre. Ele foi governador do território entre 1946 e 1950, e eleito deputado federal logo em seguida, em 1951, quando apresentou o projeto de lei para elevar o Acre de território federal a Estado, medida concretizada em 1962. No mesmo ano, foi eleito senador.
No entanto, o município até os dias de hoje ainda é conhecido pelo nome enquanto vila: Quinari. Por muitos, visto como um lugar sem futuro, por outros, como lar e aconchego. Cidades pequenas podem, muitas vezes, te laçar e criar uma ligação eterna, que te faz ficar preso lá. Senador Guiomard pode ser, e é, uma dessas cidades.
Crianças brincando na rua, pessoas passeando com animais, estudantes saindo ou indo para a escola, um certo trânsito de veículos – talvez grande o suficiente para a existência de um semáforo, o que realmente veio a acontecer recentemente, são coisas comuns de se verem por lá.
Pela falta de entretenimento, a população sempre faz as mesmas coisas: tomar açaí na El Shaday local, comer pastel em uma lanchonete ao lado, ir à pracinha situada no Centro da cidade, e, aos finais de semana, para quem gosta, ouvir pagode no ‘Deck Quinari’.
Reclamações são frequentes por lá, tanto das ruas sem pavimentação, quanto da vizinhança fofoqueira (ou seria a cidade inteira?). Uma cidade pequena pode ter dessas coisas; pessoas que você nunca viu sabem mais de sua vida do que você mesmo.
Com um único hospital, o Ary Rodrigues, a população geralmente enfrenta grandes filas para um atendimento. Apesar disso, as Unidades Básicas de Saúde estão em abundância por lá, com cerca de 12, contando zona urbana e rural, assim como as farmácias, que são pelo menos oito no pequeno território.
Nos últimos anos, desde a eleição de 2020, com a gestão atual, muitos eventos passaram a acontecer na localidade. Eventos que não aconteciam há muito tempo como, por exemplo, a Expoquinari, uma versão mais modesta da Expoacre, para a população “quinariense”.
Até mesmo histórias (ou estórias) de terror assolam a pequena cidade acreana. Há boatos que, em determinada curva próxima à entrada da cidade, existe um fantasma de uma mulher viúva, que vaga em busca de seu marido. Há relatos de que, sim, ela existe e gosta de assombrar os caminhoneiros, que passam por ali à noite. A “assombração” é conhecida como Mulher de Branco.
Apesar de tudo, Senador Guiomard é, para muitos, lar, aconchego e casa. De reclamações não pode se safar, até porque seres humanos habitam lá. E quem sabe, possa comemorar muitas outras décadas com gente “presepeira”, pois, segundo os moradores, Quinari é Hollywood.