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Cultura

A música como instrumento de aprendizagem para a vida

No Acre, a música influencia na aprendizagem e interação social saudável entre pessoas de diferentes faixas etárias

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A música influencia na aprendizagem e interação social saudável entre pessoas de diferentes faixas etárias

A música aproxima pessoas de diferentes culturas e idades em prol de um mesmo objetivo. A música não é somente uma ferramenta que expressa cultura. Ela é também é um elemento que constrói pontes entre as pessoas e ajuda diretamente no desenvolvimento social e criativo.

No Brasil, abordagens educacionais por meio da música são reconhecidas por lei desde 2011 e fazem parte do currículo escolar. De autoria da então senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), a proposta alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), determinando o aprendizado de artes nos ensinos fundamental e médio, o que abriu espaço para o desenvolvimento musical como parte do processo escolar.

No Acre, o professor e pesquisador Leonardo Feichas tem buscado expandir a cultura musical através do projeto de extensão Ensino Coletivo de Cordas Friccionadas. “Pensei nesse projeto como uma colaboração para o Estado”, afirma o docente que também é doutor em Música pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e em Artes Musicais pela Universidade Nova de Lisboa (UNL) de Portugal.

Do Acre para o mundo

Atualmente, Feichas é o maior pesquisador sobre o compositor, escritor, poeta e violinista Flausino Valle. Por sua dedicação aos estudos sobre o artista, o docente da Ufac carrega consigo um dos violinos que pertenceu ao músico mineiro e que foi entregue pela família do violinista.  

Leonardo Feichas é o principal pesquisador sobre o violinista Flausino Valle na atualidade – Foto: Marxon Henrique

Portugal, Espanha, Itália, França, Suécia, Áustria e Inglaterra foram alguns dos países em que Leonardo Feichas já teve a oportunidade de vivenciar experiências musicais.  Segundo ele, nestes países tocou seu “repertório de pesquisa do repertório para violino solo brasileiro e tocando o repertório padrão do violino com padrão internacional. Eu tive a experiência de tocar com fadistas, que é algo riquíssimo. O fado é a música popular portuguesa”, relembra o docente.

Clique no play e ouça a introdução da obra musical “Devaneio”, de autoria do violinista Flausino Valle, tocada pelo professor Leonardo Feichas:

Apesar de já ter vivenciado diversos momentos na música e em diferentes países, Feichas destaca sua apresentação em Portugal como a principal de sua carreira. O recital aconteceu durante o período em que morou em Lisboa para fazer o segundo curso de doutorado. “Tive muitas oportunidades de tocar. Além disso, fui spalla, que é o principal violinista da orquestra. Fui de um grupo de música contemporânea da Escola Superior de Música de Lisboa e nessa ocasião pude tocar em palácios e castelos. Uma baita experiência em Portugal”.

Recital de violino solo apresentado pelo professor e pesquisador Leonardo Feichas, Palácio Foz em Lisboa (Portugal) – Foto: Arquivo pessoal
Apresentação com a Orquestra Contemporânea da Escola Superior de música de Lisboa, no Teatro São Carlos (Portugal) – Foto: Arquivo pessoal
Concerto de violino solo apresentado por Leonardo Feichas, na Universidade de Estocolmo (Suécia) – Foto: Arquivo pessoal

Leonardo Feichas nasceu em Minas Gerais, morou em São Paulo e em 2014 chegou no Acre, após aprovação em concurso público na Universidade Federal do Acre para o curso de Música. Na época, ele conta, que buscou entender a região e o que estava sendo desenvolvido. Foi então que percebeu a oportunidade de compartilhar seu conhecimento em aulas, projetos de pesquisa e extensão. De lá para cá já ministrou disciplinas práticas e teóricas, como também auxiliou os estudantes em trabalhos de conclusão de curso.

Em 2022, Feichas recebeu um importante prêmio acadêmico da Universidade Nova de Lisboa, pelo doutorado em Portugal. Mais conhecida como insígnia, a premiação é destinada apenas para aqueles que tiveram suas pesquisas avaliadas com valor de distinção mais alto.  A entrega aconteceu durante as comemorações do aniversário de 49 anos da instituição portuguesa. Devido a impossibilidade de se deslocar até o país europeu, a premiação foi entregue à docente Terezinha Prado, da Universidade Federal de Mato Grosso, e repassada, posteriormente, a ele. 

Leonardo Feichas com o prêmio que recebeu da Universidade Nova de Lisboa, mais conhecido como insígnia – Foto: Arquivo pessoal

Um trabalho de impacto social

Entendendo que o conhecimento desenvolvido na universidade deve ser disseminado e compartilhado socialmente, o professor Leonardo Feichas tem desenvolvido o projeto de extensão Ensino Coletivo de Cordas Friccionadas em diversas escolas de Rio Branco. Além disso, o ensino coletivo de instrumentos de cordas friccionadas é benéfico para crianças, adolescentes e adultos que apreciam a música. E por se tratar de um projeto extensionista, diversos alunos têm tido a chance de aprender a tocar violino, mas também de ensinar novas pessoas.

Nágila Batista, que hoje é professora e musicista, conta como o projeto desenvolvido por Feichas contribuiu em seu dia a dia. “O projeto somou na minha vida desde minha formação inicial como musicista. Fui muito privilegiada por iniciar na música em um formato de ensino coletivo, aprender junto com outros alunos e, ao mesmo tempo, aprender a socialização”. E ela complementa: “aprender com as dificuldades dos outros, aprender repertório juntos, estar num grupo, tudo isso é o que o ensino coletivo proporciona para o aluno iniciante”.

Abaixo você pode assistir a um trecho da aula ministrada pela professora Nágila Batista, realizada no projeto de extensão Ensino Coletivo de Cordas Friccionadas:

Nágila Batista, que é fruto do projeto coordenado pelo docente Leonardo Feichas, conta como foi sua caminhada para chegar até o posto de professora de violino. “Desde cedo, o projeto de ensino coletivo teve um impacto grande em minha vida e é importante retomar. Estando, agora, do outro lado, mais ou menos 20 anos após minha formação, temos uma turma de ensino coletivo e estamos tendo a chance de causar impactos na vida dos novos alunos. É uma felicidade muito grande poder trabalhar dessa forma”.

Professora universitária e médica, Valéria Paiva conta que há 20 anos se dedicava ao piano, mas teve que priorizar a medicina quando conseguiu ingressar na graduação. Com o projeto de extensão ela conseguiu retornar para a música. “A maioria é crianças e adolescentes, e tem eu de adulta, com o violoncelo. Para mim é sensacional. Costumo dizer que é o meu momento feliz da semana, primeiro porque sou apaixonada pela música, e segundo porque o professor Leonardo Feichas, junto com a professora Letícia Porto, tem um envolvimento maravilhoso. A dedicação, a forma de ensino, é apaixonante”.

Valéria Paiva junto com os professores do projeto Ensino Coletivo de Cordas Friccionadas – Foto: Valéria Paiva

A médica compartilha que não tem pretensão de seguir carreira musical, se contentando em apenas continuar tendo contato com a música, por meio do violoncelo. “Eu não tenho pretensão de virar musicista profissional, mas já avancei muito e isso me deixa feliz. O meu engrandecimento pessoal é tocar em conjunto. É uma experiência muito melhor. Eu gosto muito de participar enquanto conjunto. Mesmo tenho pouco tempo para a música, busco cada vez mais melhorar minhas habilidades através do coletivo”.

Turma do projeto de extensão Ensino Coletivo de Cordas Friccionadas – Foto: Valéria Paiva

Além da habilidade, que melhora cada vez mais, a médica diz ainda que as práticas servem para que ela tenha um escape da rotina estressante na medicina e docência. “Me torna melhor como pessoa. A música é o meu escape, é a minha parte feliz, é o meu escape para o estresse do dia a dia do trabalho”.

Benefícios da música na vida de crianças e adolescentes

Paulo Azevedo é pai de Asafe Meireles Azevedo e João Pedro Meireles Azevedo. Desde cedo, os dois meninos acompanham seus pais na Universidade Federal do Acre. Foi lá que eles ficaram sabendo sobre o Laboratório de Educação Musical, um projeto criado pelo curso de Música e com foco em crianças de até sete anos de idade. Os meninos se encantaram com a ideia e desde então têm se dedicado à música.

No vídeo abaixo, você assiste a um trecho de como são realizadas as aulas no Laboratório de Educação Musical:

Mostra do Laboratório de Educação Musical

Atualmente, Asafe Azevedo tem 15 anos e João Pedro Azevedo tem 13 anos, e nesse momento participam do projeto de extensão Ensino Coletivo de Cordas Friccionadas. Em entrevista, os garotos relataram que estão aprendendo coisas novas por meio do projeto e agradeceram ao pai por apoiar o aprendizado e permitir que continuem aperfeiçoando as habilidades musicais.

Asafe Azevedo destaca a importância do ensino de violino, descrevendo-o como uma “experiência agradável e divertida, em que é possível aprender novas músicas”. Enquanto isso, João Pedro Azevedo reconhece a importância de se envolver com a música, especialmente com o violino.

Paulo Azevedo, pai dos dois garotos, também entende os benefícios da música para seus filhos. Segundo ele, por meio da música, os irmãos desenvolveram habilidades importantes, como trabalho em equipe, disciplina e responsabilidade, que contribuem para fortalecer os laços familiares e melhorar o desempenho escolar.

Os relatos da família Azevedo reforçam os benefícios que a música pode trazer para a vida das crianças. Além de ser uma maneira divertida de aprender, é ainda uma forma de disciplina, foco, atenção e trabalho em equipe.

Quem também segue esses passos é Ana Joyce do Carmo Gomes, que tem 11 anos. Ela ingressou no projeto de extensão quando ainda tinha quatro anos. Ao todo, são quase sete anos vivenciando o mundo de cordas friccionadas, o que já lhe resultou em importantes momentos musicais. Exemplo disso, foi sua recente participação em uma apresentação realizada no Teatro Amazonas, em Manaus (AM).  

Ana Joyce com 5 anos e em aula no projeto Ensino Coletivo de Cordas Friccionadas – Foto: Arquivo pessoal

“A experiência no Amazonas foi maravilhosa, pois foi a primeira vez que toquei em um teatro fora do Acre. O teatro Amazonas é lindo e tem uma belíssima história. Poder tocar lá, junto com a orquestra da Câmara do Amazonas, foi sensacional”, relembra Ana Joyce.  

Ana Joyce com 11 anos em sua primeira apresentação no Teatro do Amazonas – Foto: Arquivo pessoal

Abaixo você confere a apresentação de Ana Joyce, realizada em 2022, na XI Semana Pedagógica de Música Sesc Acre, quando tocou no saxofone, a famosa música Careless Whisper, de Geroge Michael.

Mãe de Ana Joyce, Vânia do Carmo Nery, acompanhou de perto todo o caminho da filha e não imaginava que o projeto Ensino Coletivo de Cordas Friccionada faria a garota se dedicar tanto à música, que fosse disciplinada, não faltasse nenhuma aula e estudasse em casa. 

“A partir disso, começamos a investir.  Eu na questão do tempo e dedicação, e meu marido com a parte financeira. Dessa forma, ele comprou os instrumentos para ela, colocou para fazer outras aulas e comecei ficar de olho em outros projetos para também colocar ela. É uma coisa que vejo que ela gosta e a partir disso abriu-se oportunidades”, relata Vânia Nery. 

Hoje, a artista de 11 anos toca saxofone na banda mirim da Polícia Militar e na marcial do Colégio Militar Tiradentes. Devido às aulas de violão e guitarra que faz no Serviço Social do Comércio (Sesc), ela integra a orquestra experimental da instituição. Por meio dessas atividades, a mãe diz que a filha é uma musicista profissional e que já ganha os “cachêzinhos” com as experiências musicais.

“Ela guarda o dinheiro na poupança e tem tido a oportunidade de conhecer outras pessoas. Acredito que a música e a  disciplina a ajudou nas oportunidades, como a viagem para outro estado. A música é uma porta para ela. Uma porta para poder desenvolver e aprender mais”, finaliza Vânia Nery. 

A música é efetiva no desenvolvimento humano. A musicoterapia é exemplo disso, pois uma terapia que utiliza a música como meio de comunicação e expressão para ajudar pessoas que estão enfrentando desafios no cotidiano, sejam eles físicos, emocionais, cognitivos ou sociais. O terapeuta utiliza técnicas musicais específicas para ajudar o paciente a atingir seus objetivos terapêuticos.

A especialista em musicoterapia, Larissa Grotti, diz que música é benéfica no desenvolvimento do ser humano. “Além de ser utilizada como forma de lazer e relaxamento, a música ajuda na tensão e concentração, ela tem a capacidade de desenvolver o foco maior na aprendizagem”.

Novas parcerias

Em 2022, o projeto Ensino Coletivo de Cordas Friccionadas ganhou um reforço: a Escola de Música do Acre (Emac). De acordo com o professor Leonardo Feichas, a parceria foi possível graças ao trabalho conjunto que já realizada com a docente da Emac, Nágila Batista.

“É um trabalho relevante e desmistifica a ideia de que os instrumentos de cordas friccionados, como violino, violoncelo, viola e contrabaixo acústico, são exclusivos para pessoas que têm mais poder aquisitivo. Na verdade, não são e a parceria tem ajudado na desmistificação da eruditização em relação a esses instrumentos”, explica o coordenador geral da Emac, Afonso Portela. 

Portela também destaca o desenvolver dos alunos e a formação de futuros profissionais da música. “É um passo que está sendo dado agora, para daqui a alguns anos termos grupos profissionais de alto nível, orquestras que possam fazer concertos pela cidade, que sejam da própria escola de música, da Ufac ou do teatro daqui de Rio Branco. Eu diria que este projeto tem uma função motivadora, não só no âmbito educacional, mas também social”, acrescenta.

Ainda de acordo com o coordenador da Escola de Música do Acre, a parceria “futuramente, se tornará um ciclo, pois vão sair os frutos daqui que vão retornar pra cá, mas não mais como alunos, e sim como professores”, finaliza Afonso Portela.

Coordenador geral da Emac, Afonso Portela – Foto: Arquivo pessoal

Texto: Gabrielle Mandu, Gisele Almeida, Lucas Thadeu Lins, Maylla Oliveira e Melícia Moura

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Cotidiano

Do papel às telas: a transição do jornal impresso acreano para o digital

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Por Ana Luiza Pedroza, Ádrya Miranda, Daniel de Paula e Wellington Vidal

 

O jornal impresso, símbolo histórico e cultural no Acre, começa a se despedir lentamente do cotidiano da população. A era digital assume o protagonismo, apostando em novos formatos de levar acesso à informação, no entanto, sem apagar o legado construído pelo impresso na história acreana.

Apesar dos esforços para reinventar o jornalismo local, a transição do impresso para o digital trouxe grandes desafios. No Acre, essa movimentação ocorreu de forma tardia, mas com a contribuição de jornalistas que se desdobram diariamente para acompanhar as mudanças no modo de noticiar, mantendo o compromisso social com a população.

Entre os obstáculos, a pandemia de Covid-19 foi um dos que aceleraram o declínio dos jornais impressos em todo o país, e no Acre não foi diferente. O A Gazeta, um dos veículos mais populares do estado, foi diretamente impactado.

Rotativa, máquina utilizada na impressão dos jornais A Gazeta. Foto: Ádrya Miranda

Fundado em 1985, sob direção de Silvio Martinello e Elson Martins, o jornal se destacou pelo jornalismo investigativo e de cunho social, sendo pioneiro em projetos editoriais gráficos com diagramação no impresso acreano. Foi por meio de suas páginas que os acreanos acompanharam coberturas históricas, como o assassinato do sindicalista Chico Mendes.

Em 1998, tornou-se o primeiro jornal a circular em cores no estado, com até 3.500 exemplares vendidos em dias movimentados, segundo Silvio. Apesar das inovações com o jornal impresso, o veículo enfrentou as adaptações tecnológicas do século 21. O portal online, criado ainda nessa fase, tinha estrutura simples, servindo apenas para replicar, de forma reduzida, as notícias do jornal físico.

À esquerda, Maíra Martinello; ao fundo, Paula Martinello; e à direita, Silvio Martinello. Foto: Arquivo pessoal

A edição impressa teve o seu fim em 2021, após uma expressiva queda nas vendas. Paula Martinello, jornalista do A Gazeta do Acre, relata que a migração definitiva para o digital foi desafiadora e impulsionada pela pandemia. “Foi um processo muito gradativo, porque o trabalho online não é fácil. É muita concorrência, é um outro tipo de público e perfil de consumo da notícia”, comenta.

Para os jornalistas do A Gazeta, hoje, A Gazeta do Acre, o desafio não foi apenas adaptar-se ao ambiente online, mas reinventar a rotina de produção jornalística sem abrir mão da credibilidade construída. Segundo Maíra Martinello, foram necessárias estratégias para garantir a sobrevivência e a relevância no meio digital, que exige mais agilidade, versatilidade e presença em todas as plataformas.

“A gente foi entrando nesse mundo online, digital. Claro que tem pontos positivos, como o custo mais baixo, a praticidade e a democratização do acesso à informação. Mas a era digital exige muito mais do jornalista, que hoje precisa escrever, gravar vídeo, áudio, editar, usar várias ferramentas ao mesmo tempo”, explica.

A transição da notícia do impresso para o ambiente digital, embora tenha sido impactante para todo o campo jornalístico, foi recebida de maneira diferente por cada veículo, conforme suas particularidades. Outro nome importante da imprensa acreana, como o jornal O Rio Branco, também enfrentou esses momentos de transformação.

Portal de notícias oriobranco.net. Foto: Ádrya Miranda

Mendes também reforça a necessidade dos jornalistas manterem seu compromisso social, mesmo diante das mudanças impostas pela era digital. “Se vocês forem jornalistas e pretenderem ser responsáveis, não esperem que a notícia chegue até vocês. Vocês têm que ir atrás da notícia”, conclui.

Essa transformação também é percebida por leitores que acompanharam de perto o auge das edições impressas no Acre. “Porque o jornal é um documento, então ele vai ficar ali para sempre”, comenta o jornalista e leitor assíduo Gleilson Miranda, de 55 anos, ao destacar que o jornal impresso carrega um valor que vai além da notícia do dia, mas também a documentação de histórias.

Segundo ele, com o jornal impresso era possível encontrar experiências afetivas, que marcavam seu momento de leitura.

“O jornal é impresso, tem esse charme, tem essa coisa de você sentar, tomar um café e folhear as páginas, lendo as principais notícias. Isso era muito bom para a época. Hoje você tem essa notícia mais rápida. Notícia que chega muito rápido”, afirmou Gleilson, ao relembrar as sensações que os impressos lhe proporcionaram.

A transição dos jornais impressos para os portais digitais no Acre marca uma mudança profunda no modo de fazer e consumir jornalismo. Conhecer a história da imprensa local, com a contribuição das edições do A Gazeta e O Rio Branco, é essencial para entender o papel que esses veículos tiveram na formação da identidade e da memória do estado.

Edição impressa O Rio Branco. Foto: Arquivo Espaço Cultural Palhukas

Para Narciso Mendes, atual proprietário da TV Rio Branco, o impresso no Acre carrega o legado de muitas figuras marcantes da história local. No entanto, a migração do jornal impresso O Rio Branco para o meio online não teve o mesmo peso como teve para os demais veículos.

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Cultura

Chico’s Rock Bar: conheça a história por trás de uma das casas de show mais famosas de Rio Branco

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Por Diogo José, Letícia Zimmer, Liz Melo e Vitória Messias

 

Por muito tempo, o Chico’s Rock Bar foi sinônimo de encontro entre amigos, boas conversas, drinks autorais e, claro, muita música. De 2013 até seu fechamento em 2019, o espaço se tornou ponto de encontro para quem buscava um ambiente alternativo em Rio Branco. Com a promessa de trazer novas histórias e um clima de nostalgia às noites da capital, o bar volta neste mês de junho.

 

Para Gabriela Pantoja, de 28 anos, antiga frequentadora da cena noturna da capital, o bar era mais do que um local de diversão. “Eu costumava ir nesse bar, no Emporium e no Loft. Era sempre movimentado, com bastante gente, inclusive na frente do bar, e o atendimento era tranquilo, sempre fui bem atendida lá”, relembra.

 

Uma memória afetiva, e, de certa forma, coletiva, foi criada devido ao clima underground e intimista do lugar. “Tenho boas lembranças desse tempo, era um dos poucos lugares da cidade com esse estilo mais alternativo, então a gente acabava sempre se encontrando por lá”, completa Pantoja.


O espaço não era apenas um lugar de conforto para o público, mas também para os artistas que o frequentavam. Segundo a cantora e compositora Duda Modesto, o Chico’s tem um significado especial: foi o primeiro palco de sua carreira. “Conheci muitos amigos ali, o que causava aquela sensação de reencontrar na noite as pessoas da nossa bolha de pertencimento. Por isso, tô ansiosa pelo retorno do bar e também porque aumentam nossas opções de espaços para frequentar na cidade”, conta.

 

Agora, em junho deste ano, o Chico’s está de volta, com cara nova, mas com a mesma essência. O proprietário, Ricardo Melo, conta que o retorno foi motivado pelo desejo de reviver o local, agora, com uma proposta personalizada e acolhedora. “Acreditei em um modelo de negócio personalizado, onde já havia uma clientela fiel e que necessitava de um ambiente mais reservado, longe de aglomerações e situações de paqueras ou assédio, principalmente para as mulheres”.

 

Segundo Ricardo, o bar funcionará com atendimento exclusivo feito por ele mesmo, desde a preparação dos pratos até o serviço. A reabertura acontecerá de forma restrita, com previsão de abertura de 10 vagas semanais para o público geral e turistas. “A comida é feita por mim e servida na mesa ou balcão. A restrição de público é porque não consigo atender muitas pessoas”, explica.

 

O nome do bar, originalmente inspirado no pai do proprietário, Francisco Sá de Souza, também sofrerá uma leve mudança. “Fiz uma homenagem a quem me deu a base do empreendedorismo. O nome passará por uma alteração. Por não poder registrar o nome ‘Chico’s’ no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), será alterado apenas a forma de escrever”

 

O fechamento em 2019, segundo Ricardo, foi reflexo direto das limitações econômicas e da baixa movimentação cultural da cidade. “A renda da capital do Acre, Rio Branco, é 80% do funcionalismo público. Temos o mesmo público para consumir nos empreendimentos que tentam se reinventar todas as horas, dias, meses e anos. A falta de incentivo através de políticas públicas do município e do Estado também contribuem para que o comércio não se desenvolva”

 

Além disso, o empresário destaca a escassez de eventos relevantes no calendário cultural da cidade: “Temos um calendário anual reduzido com cinco grandes eventos: Natal, Réveillon, Carnaval, enchentes e Expoacre”

 

Dificuldades enfrentadas por bares e casas de show em Rio Branco

 

A reabertura do Chico’s reacende uma discussão necessária sobre os desafios enfrentados por bares e casas de show em Rio Branco. Em meio ao fechamento de diversos espaços culturais, como a Confraria, alguns estabelecimentos resistem. O Studio Beer, por exemplo, é um dos poucos que ainda consegue operar com regularidade.

 

Organizador de eventos e filho dos proprietários da casa, Bala Padula, afirma que manter o negócio é um constante exercício de adaptação e resistência. “Acredito que o maior problema que todos nós da noite enfrentamos é o poder público; são muitas taxas, impostos, exigências que, não todas, são desnecessárias. Pagamos a taxa de música ao vivo para a Polícia Militar e não ao artista, isso é uma ofensa a toda classe. São muitos fatores que trabalham contra a cultura”.

 

Para ele, um dos segredos da sobrevivência do Studio Beer é o trabalho colaborativo com artistas e a ausência de custos com aluguel. “Se você tem os artistas como parceiros e amigos, as chances da apresentação se tornar um espetáculo é muito maior. O mercado imobiliário de Rio Branco é absurdamente caro”.

 

A ausência de políticas públicas voltadas para o setor também é motivo de alerta para o vice-presidente da Câmara Municipal e presidente da Associação de Bares e Restaurantes e Promotores de Eventos do Acre, Leôncio Castro. Segundo ele, a situação do entretenimento local é crítica.

 

“Não existe no momento nenhum tipo de política pública para tentar ajudar o entretenimento local. Meu gabinete está levantando algumas alternativas, inclusive com propostas de mudança de horário”, afirma.

 

Castro ainda destaca que a crise no setor é nacional, mas em estados como o Acre, os efeitos são ainda mais severos. “No Brasil, uma parte do setor está trabalhando no vermelho. No Acre acredito que seja uma estimativa ainda maior. O comportamento do cliente mudou pós-pandemia, as pessoas pararam de ter vida noturna”.

 

O retorno do Chico’s Rock Bar, portanto, é mais do que a reabertura de um espaço físico: é um respiro em meio ao sufoco vivido por quem insiste em manter viva a cultura da noite acreana.

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Cultura

Mostra de cinema coloca em destaque obras cinematográficas produzidas por mulheres da Região Norte

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Por Gabriela Costa, Jhon Christophe, Laura Vilhena, Luiza Mariano e Maria Mariana Mota

De 1 a 5 de abril, o Cine Teatro Recreio será o cenário do cinema feminino amazônico, com a realização da primeira edição da Mostra “Norte Delas”. O  evento apresenta filmes que expõem perspectivas de identidade, religião, afetos e meio-ambiente, tornando o cinema uma via de acesso à cultura, lazer e interação social para a população, a partir do olhar feminino.

O evento gratuito realizado pela Seiva Colab Amazônica com o apoio da Prefeitura de Rio Branco, dará visibilidade às realizadoras audiovisuais nortistas e exibirá curtas, médias e longas-metragens de todos os sete estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Dentre as produções selecionadas estão obras premiadas como “O Barulho da Noite” de direção da tocantinense Eva Pereira e estrelado por Emanuelle Araújo (vencedor do Festival de Cinema Brasileiro de Los Angeles) e estreias como a do documentário “Osmarina”, da jornalista e cineasta acreana Juliana Machado, diretora de produção da mostra.

Para Juliana, a mostra nasce do desejo de ser um manifesto feminino para que se possa valorizar a diversidade criativa e cultural das mulheres do Norte, já que a representatividade no cinema enfrenta desafios agravados também pelo isolamento regional”.

Foto: divulgação do filme “Juliana”

Além das sessões que se iniciam todos os dias das 18h às 20h, a programação também conta com workshops de formação em direção artística, figurino e processo criativo na direção cinematográfica, nos dias 02 e 03 das 14h às 17h, as inscrições são gratuitas e feitas no instagram @mostranortedelasdecinema, onde também está disponível a lista completa dos filmes a serem exibidos.

*Texto produzido na disciplina Fundamentos do Jornalismo sob supervisão do professor Wagner Costa

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