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Acre: um Estado sexagenário com muitas histórias para contar

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Por Marcos Jorge Dias

Não há como escrever sobre o Estado do Acre sem pensar nas estórias que  minha avó contava nas noites iluminadas por lamparinas. Seu olhar lacrimoso e  distante, refletido nas chamas bruxuleantes, nos conduzia ao passado com os  nossos ancestrais. Os homens mortos nas “correrias” e as mulheres caçadas a  dente de cachorro, amansadas e estupradas, para procriar mão de obra para os  seringais. Lembranças que a cada dia se diluem na fumaça das queimadas.

O Território se fez Estado… com muita luta!

Mapa do estado do Acre/Fonte: guiageo.com/acre.htm

O Acre era um pedaço esquecido e isolado do Brasil. O Tratado de Petrópolis,  aprovado por Lei federal de 25 de fevereiro de 1904 e regulamentada por decreto  presidencial de 7 de abril de 1904, incorporou o Acre como território brasileiro.  “O Movimento Autonomista começou imediatamente com a criação do Território  do Acre. O próprio assassinato do Plácido de Castro foi um resultado dessa  disputa”, conta o historiador Marcos Vinícius das Neves. As insatisfações geradas contra a  União fizeram com que os acreanos se revoltassem, dando início a insurreições. A luta pela autonomia acreana não se deu só por conquista dos direitos políticos  de seus cidadãos, mas também, pela possibilidade do desenvolvimento  econômico e qualidade de vida dos acreanos. Até que em 15 de Junho de 1962 foi sancionada pelo Presidente da República  João Goulart a Lei 4.070, que elevou o Acre à categoria de Estado. Em outubro de 1962 foi eleito o primeiro governador do Estado do Acre, José Augusto de  Araújo. 

E aí chegaram os “paulistas”

Nas décadas de 70 e 80 do século passado a região foi cenário das grandes  disputas pela posse da terra entre seringueiros e os chamados “paulistas”. Hoje,  nas margens da Rodovia, que requer constante manutenção pelo DNIT, estão  consolidadas as grandes fazendas de gado, plantios de milho e de cana-de açúcar, que já estão sendo substituídas pela soja. 

Durante os 20 anos (1999-2019) em que o Partido do Trabalhadores governou  o Acre, foram feitos grandes investimentos estruturais na região: Zona de  Processamento de Exportação-ZPE (Senador Guiomard); Usina Álcool Verde  (Capixaba); Fábrica de preservativos NATEX, indústria de beneficiamento de  madeiras e polo moveleiro (Xapuri); polo moveleiro de Epitaciolândia; Fábrica de  ração, frigorífico Dom Porquito, abatedouro Acreaves e pousada Ecológica  (Brasiléia), entre outros investimentos na área de produção, conservação  ambiental e desenvolvimento sustentável na Reserva Extrativista Chico Mendes  que abrange 4 municípios da região. Há época foi construído um projeto político  que deu base ao sonhado desenvolvimento sustentável. 

Contudo, vários problemas de gerenciamento nos complexos projetos que  envolviam: estrutura, gestão de pessoal, administração financeira e etc.,  acrescidos com a arrogância e vaidade de alguns “reis e faraós” que assumiram  as chefias do governo e do partido, contribuíram para o fracasso das iniciativas  que consumiram milhões em recursos humanos e financeiros, nacionais e  estrangeiros. 

Atualmente, passados 60 anos de elevação à condição de Estado, o Acre vive momentos de profundas incertezas e continua na busca de um modelo de  desenvolvimento econômico que atenda as demandas das suas diferentes  camadas sociais. Enquanto isso… a boiada vai passando! 

No começo… Havia o cantar dos pássaros, o assobio do vento, o piar das corujas, o estalar das  sementes, o gotejar da chuva nas folhas, o barulho da água correndo por meio dos grotões. O  vento trazia da floresta os sons dos invisíveis. Quando a tarde ia caindo – levando o sol no rumo  do oriente – tinha o banho no rio, a lua nascendo brilhante. E começava a noite. Passava a rasga mortalha, gritava o gogó de sola na beira da mata. E na roda em volta da fogueira, sob a luz  azulada da lua, as estórias eram contadas. 

Foi no tempo em que a terra não tinha dono, não tinha fronteiras e os rios corriam cheios na época das chuvas e fazia praia no tempo da friagem. O povo que vivia na mata não tinha doença  e não brigava entre si. Os papagaios comiam no mesmo barreiro que o caititu. Os brabos vinham  em bandos. Subindo a correnteza em ubá grande que roncava sem parar. Espantavam as araras  das ingazeiras da beira do rio e matavam tudo que viam. Socó, quatipuru e jaçanã quem nem  serve para comer, virava embiara. E assim começou o fim.

Numa noite em que a lua não veio e o povo dormia na sacupema da grande samaúma ouviu-se  um espoco e depois o clarão na mata escura. Depois as cargas quentes de chumbo, entrando  nas carnes dos que dormiam sem saber o que estava acontecendo. 

Os brabos naquela noite mataram todos os guerreiros, velhos, curumins, e as mulheres que não  conseguiram amarrar. O cheiro de sangue misturado com pólvora correu a mata. Os que  puderam correram para o centro e se esconderam. Mas os brabos tinham pau de fogo que matava de longe. Tinham sede de sangue e do leite que descia da seringueira quando era  cortada. Mas isso foi num tempo que ficou pra trás. Dias, Marcos Jorge. “Estórias do Aquiry & Outros Mundos”, Editora Xapuri, 2017. Literatura, Mitos e Lendas

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Histórias de vida

Mulheres que fazem acontecer: a força do trabalho manual no empreendedorismo acreano

Elas não apenas produzem: elas plantam, moldam, carregam, vendem e resistem. Em um cenário onde empreender não é só uma escolha, mas uma forma de sobrevivência, mulheres do Acre estão transformando o que têm — terra, cimento, fruta, memória — em renda, autonomia e permanência. Muitas fazem isso com as próprias mãos. Outras, com apoio da família. Mas todas compartilham algo em comum: a decisão de permanecer criando.

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Por Thaynar Moura

Elas não apenas produzem: elas plantam, moldam, carregam, vendem e resistem. Em um cenário onde empreender não é só uma escolha, mas uma forma de sobrevivência, mulheres do Acre estão transformando o que têm — terra, cimento, fruta, memória — em renda, autonomia e permanência. Muitas fazem isso com as próprias mãos. Outras, com apoio da família. Mas todas compartilham algo em comum: a decisão de permanecer criando.

Da colheita ao pote: Lucilene e a trajetória de um doce feito com raízes

Foto: Thaynar Moura

Lucilene Nonata, de 58 anos, vive com o marido em um sítio no interior do Acre. Foi ali que, há cerca de duas décadas, ela decidiu começar a fazer doces com frutas do próprio quintal. “Meus filhos estavam entrando na adolescência e eu queria fazer algo meu, que também ajudasse na renda da casa”, conta.

A escolha pelo doce não foi aleatória: os pais de Lucilene já faziam compotas com frutas temporãs, e o marido, cearense, também gostava de preparar receitas simples. “Foi natural. Começamos com o que a gente tinha: cupuaçu, mamão, banana. O leite vinha do vizinho.”

Foto: Arquivo pessoal  
Foto: Arquivo pessoal

Hoje, mesmo com o pomar envelhecido e parte da matéria-prima comprada de produtores vizinhos, o processo segue artesanal. Tudo é feito por Lucilene e o esposo, desde a limpeza até o ponto do doce. A venda acontece em feiras e comércios locais, e o contato com o público é parte do valor do produto. “As pessoas perguntam se é a gente mesmo que faz. Criamos laços. Muitos viram amigos.”

A formalização veio com apoio do Sebrae, que orientou desde o registro como MEI até a criação dos rótulos e da tabela nutricional. “O Sebrae foi nosso primeiro e melhor parceiro. Nos abriu portas e deu acesso a linhas de crédito, cursos e assistência técnica”, relata.

Foto: Thaynar Moura

Apesar dos avanços, o desafio é constante: o alto custo dos insumos e a concorrência com produtos industrializados. “É difícil competir. Nosso estado não é rico. Mas a gente vai atravessar essa fase também”, afirma Lucilene. E para outras mulheres que pensam em empreender, ela é direta: “Somos guerreiras. Se cada dia traz um leão, que venham os leões.”

Concreto, família e criação: a arte que resiste com Elizabete e Maria Eliane

Elizabete Monteiro tem 25 anos e voltou ao Acre em 2025, depois de concluir a graduação em Curitiba. Junto com a mãe, Maria Eliane, de 61, criou o negócio “Arte em Concreto”, voltado à produção manual de peças decorativas feitas a partir de cimento, areia, pedrita e moldes reaproveitados.

Foto: Arquivo Pessoal

“O gosto pelo artesanal sempre veio da minha mãe. Quando ela ia passar um tempo comigo, ficava procurando o que fazer com as mãos”, lembra Elizabete. A dupla começou estudando técnicas no YouTube e fazendo testes em casa, até descobrir formas de agregar valor às peças — como a inclusão de plantas e o uso criativo do concreto na decoração.

O trabalho é familiar. Elizabete e a mãe cuidam da produção. O pai ajuda nas feiras. A irmã apoia na divulgação digital. “É algo muito em família, e cada um colabora do seu jeito”, afirma.

Entre os maiores desafios, Elizabete destaca o início do processo. “É preciso vencer o medo de começar. Mostrar o que você faz e lidar com o marketing exige constância.”Atualmente, participa da associação “Elas Fazem Acontecer”, formada por mulheres empreendedoras que organizam feiras e dão suporte às expositoras. “Faz diferença. A gente se sente parte de algo.”

Foto: Arquivo pessoal

A empresa começou a vender peças há cerca de um mês, e uma das metas de Elizabete é investir mais na divulgação pelo Instagram. “Hoje, se você quer saber de algo de uma loja, já vai direto no Instagram. Quero turbinar as postagens.”

Para ela, o mercado de decoração artesanal está crescendo. “As pessoas querem peças com identidade, que sejam únicas.” E para outras mulheres que sonham empreender: “Persistam. Se você ama o que faz, o retorno vem. Mas é preciso estar atenta às novidades e criar com propósito.”

Arte, dedicação e persistência: de uma conversa entre amigas ao ateliê em casa – o sonho de Adriana 

Adriana Balica, 32 anos, é proprietária da FazerArt Personalizados, um ateliê montado na própria casa, onde ela cuida de tudo: do atendimento à criação das artes e à embalagem personalizada. “A FazerArt nasceu numa conversa entre amigas, juntando minha paixão pelo trabalho manual. Hoje, faço tudo sozinha,” conta.

Para Adriana, empreender é uma jornada que exige atenção constante. “Empreender é uma tarefa extremamente difícil, pois temos que dominar um pouquinho de cada coisa e estar sempre atenta a todos os detalhes. Há dias e dias, há altos e baixos, assim como a nossa vida”, reflete.

Foto: Thaynar Moura

Assim como as outras mulheres desta reportagem, Balica destaca o apoio do Sebrae. “O Sebrae sempre esteve de portas abertas pra ajudar, tirar dúvidas, oferecer cursos, palestras e concursos. Sempre que posso, participo.”

E sobre tecnologia? Ela brinca: “Não uso nenhuma tecnologia avançada, eu acho, kkk.”

Para quem pensa em empreender, Adriana tem um conselho: “Lute! Lute pelos seus sonhos. Deus não coloca sonho no nosso coração que a gente não possa alcançar. É difícil, cansativo, cheio de desafios, mas vale a pena! ”

Onde termina o produto, começa a história

Fonte: DataSebrae (Relatórios trimestrais de Empreendedorismo Feminino, 2022–2024)

As histórias de Lucilene, Elizabete e Adriana, não são exceções. Elas representam milhares de mulheres no Brasil e no Acre que vivem daquilo que fazem, cultivam ou aprendem. Os dados mais recentes reforçam o que as histórias contam: empreender, para muitas mulheres, é uma decisão moldada pela necessidade, mas sustentada pela criatividade e pelo trabalho diário.  Que trabalham com o corpo, com a memória e com o tempo.

No Acre, o número de mulheres à frente de negócios oscilou nos últimos três anos. Segundo dados do DataSebrae, em 2022, eram 23.564 empreendedoras no estado. Em 2023, esse número caiu para 20.453, representando 23,7% do total de donos de negócios. No entanto, em 2024, houve uma leve recuperação: 21.350 mulheres atuavam como donas de negócio no estado no 4º trimestre, o que representa  25,1% dos empreendedores locais.

Fonte: DataSebrae – Relatórios trimestrais 2023–2024 

Esse avanço percentual, frente aos 23,7% registrados no ano anterior, revela uma retomada gradual da presença feminina no mercado.

Em números nacionais, 42% dos empregadores ou trabalhadoras por conta própria no Brasil são mulheres — um universo de 10,4 milhões de empreendedoras que movimentam a economia com pequenos negócios, muitas vezes construídos no quintal, na sala de casa ou em uma feira.

O aumento na participação percentual indica que as mulheres seguem ocupando espaço, criando soluções e sustentando seus negócios com o que têm – seja terra, concreto ou papel.

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Olhares

Por meio do NAI, Ufac avança em inclusão e acessibilidade para estudantes com necessidades específicas

Estudantes com necessidades específicas enfrentam constantes desafios nas universidades brasileiras. Na Universidade Federal do Acre (Ufac), o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) foi criado para desempenhar um papel fundamental no processo de inclusão, garantindo que esses acadêmicos tenham acesso à educação com as adaptações necessárias para sua permanência e desenvolvimento na instituição.

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Buscando garantir um ambiente com mais acessibilidade, a universidade implementa adaptações e suporte para estudantes autistas e com outras necessidades.

Por Niélia Magalhães, Sérgio Henrique Corrêa e Gabriela Queiroz Mendonça

Estudantes com necessidades específicas enfrentam constantes desafios nas universidades brasileiras. Na Universidade Federal do Acre (Ufac), o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) foi criado para desempenhar um papel fundamental no processo de inclusão, garantindo que esses acadêmicos tenham acesso à educação com as adaptações necessárias para sua permanência e desenvolvimento na instituição.

Criado em 2008, o NAI procura executar políticas de inclusão e acessibilidade, oferecendo suporte pedagógico e promovendo ações de ensino, pesquisa e extensão voltadas para estudantes com deficiência e neurodivergência. 

A Ufac conta, atualmente, com 100 estudantes cadastrados no banco de dados do NAI. O suporte oferecido inclui adaptações acadêmicas, como tempo maior para realização de avaliações, provas em locais silenciosos, enunciados mais objetivos e intervalos em avaliações longas. Alunos que necessitam de assistência extra podem contar com monitores selecionados via edital, embora muitos prefiram somente ajustes no ambiente acadêmico.

“Cada estudante neurodivergente tem suas particularidades, portanto, o que é adotado para um pode não ser necessário para outro. O importante é garantir que cada um tenha suas necessidades respeitadas”, explica Carla Simone, coordenadora do NAI.

Segundo a coordenadora, a universidade avançou na instalação de pisos táteis, rampas, elevadores e banheiros adaptados, além da implementação de intérpretes de Libras e recursos audiovisuais para alunos com deficiência auditiva ou visual.

“Apesar dos avanços, um dos principais desafios enfrentados pelos alunos com TEA na Ufac ainda é a falta de conhecimento da comunidade acadêmica sobre o transtorno. Frases como ‘mas você não tem cara de autista’ impactam diretamente a experiência dos estudantes, levando muitos a adiar a busca por suporte por medo de julgamentos e falta de empatia”, enfatiza Carla Simone.

Para estudantes autistas, um avanço importante foi a criação da Sala Aquário, um espaço no Restaurante Universitário reservado para refeições em um ambiente mais silencioso e confortável. “Essa foi uma conquista do Coletivo Autista, garantindo um espaço adequado para os alunos que sofrem com sobrecarga sensorial”, destaca a coordenadora.

No entanto, Carla Simone enfatiza que a inclusão é um processo contínuo e que ainda há muito a ser feito. “O essencial é garantir que os estudantes com deficiência que ingressam na universidade tenham condições de acessar, permanecer e concluir seus cursos com dignidade”, afirma.

Capacitação e conscientização

Um dos pontos de atenção do NAI é a formação da comunidade acadêmica. Atualmente, o núcleo já realiza capacitação para monitores que atuam diretamente no suporte aos estudantes, mas ainda não há um programa estruturado para professores e servidores.

A partir do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2025-2029, a Ufac pretende implementar treinamentos para docentes e técnicos, promovendo maior sensibilização sobre a inclusão e as necessidades dos estudantes neurodivergentes.

O NAI trabalha em parceria com diversos setores da universidade e instituições externas para encaminhar alunos a serviços assistenciais, previdenciários e de saúde, além de organizar palestras e eventos sobre acessibilidade e inclusão.

Arte: Agência Câmara

O futuro da inclusão na UFAC

Quando questionada sobre os próximos passos do NAI, Carla Simone aponta que as principais metas incluem:

  • Atendimento eficaz e de qualidade aos estudantes com deficiência;
  • Criação de um laboratório de tecnologia assistiva;
  • Promoção de formações continuadas para docentes, técnicos e estudantes;
  • Ampliação das ações já existentes, garantindo um impacto maior na universidade.

A coordenadora também reforça que a construção de um ambiente acadêmico mais inclusivo não depende apenas da gestão institucional. “Ter um olhar mais humanizado para todos, independentemente de cor, raça, religião, gênero ou deficiência, é essencial. A universidade precisa ser um espaço acolhedor para todos os diferentes”, conclui.

Entendendo o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O TEA afeta o neurodesenvolvimento, impactando a comunicação, linguagem, interação social e comportamento. O diagnóstico precoce é essencial para estimular a independência e melhorar a qualidade de vida. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma rede de cuidados para o atendimento integral das pessoas com TEA.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam 70 milhões de pessoas com autismo no mundo. No Brasil, a estimativa é de que 2 milhões de pessoas possuam algum grau do transtorno.

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Geração Z: um desafio para o mercado de trabalho

A geração Z, as pessoas nascidas entre 1990 e 2012, chegam ao mercado de trabalho trazendo mudanças em alguns dos padrões antes estabelecidos. Os integrantes da geração millennial, ou seja, os nascidos entre 1980 e 1990, são os que mais se mostram resistentes a enfrentar os desafios apresentados por esses novos profissionais.

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Por Andriw Yago, João Marcelo, Pedro Henrique e Wayllo Cardozo*

A geração Z, as pessoas nascidas entre 1990 e 2012, chegam ao mercado de trabalho trazendo mudanças em alguns dos padrões antes estabelecidos. Os integrantes da geração millennial, ou seja, os nascidos entre 1980 e 1990, são os que mais se mostram resistentes a enfrentar os desafios apresentados por esses novos profissionais.

Ana Cristina Vale,  33 anos, psicóloga e atuante na área de Recursos Humanos durante 12 anos, diz que a geração Z enxerga o trabalho como algo passageiro, já a geração anterior não, é uma geração que quer construir uma carreira sólida, naquele ambiente que se encontra: “São pessoas que se esforçam, têm iniciativa, comprometimento, desenvolvem perfis e habilidades todos os dias, já a geração atual não”, complementa. 

No Relatório de Tendência de Gestão de Pessoas 2025, desenvolvido pelo Ecossistema GPTW e Great People, dentre os participantes, 76% apontaram a geração Z como o maior desafio para a gestão de pessoas. Segundo a revista Forbes, entre os profissionais da geração Z, 58% querem trabalhar de forma híbrida ou remota e recusariam ofertas de emprego ou promoções que os fizessem trabalhar presencialmente todos os dias. Além disso, 15% destacam a questão dos processos, planejamento e foco estratégico e desejam ter lideranças inspiradoras, tratamento mais humano e reconhecimento. 

Estudante de Jornalismo, Diogo José, de 19 anos, é estagiário há um ano em um site local e diz priorizar em suas escolhas profissionais o ambiente de trabalho: “O ambiente é primordial, pois não vou ficar em um local que eu não tenha os mesmos ideais ou que as pessoas desse ambiente não pensem da mesma forma que eu”. 

Sobre as diferenças entre a geração millennial e a geração Z no ambiente de trabalho, Diogo observa que não há como negar que há uma diferença discrepante. Eles vão ser priorizados pois já estão contratados na empresa, e por atuarem no mercado há mais tempo eles têm mais noção, e quando o estagiário se dá bem com essa galera, acaba criando um vínculo de aprendizado que é muito importante:

“Atualmente tenho uma relação muito boa em meu ambiente de trabalho, e isso é graças aos meus supervisores, que são muito comunicativos, perguntam se estou entendendo e se estão ajudando, então toda essa questão do diálogo me ajuda muito”.

Camila Holsbach, 36 anos, é editora-chefe de um site jornalístico onde as duas gerações estão em constante interação e cita que a relação entre ambas vai além das obrigações do trabalho, já que sempre vai existir a troca de experiência de vida entre os millenials e a geração Z.

“Nossa relação com a turma da geração z na redação é bem tranquila. Não se limita somente ao trabalho pelo trabalho, é uma relação de troca de informações e aprendizado, todo mundo ensina e todo mundo aprende, não existe um “detentor de todo o saber”. Acredito que a cada geração que nasce, nasce também a necessidade de mudanças e adaptações. O mundo não é o mesmo que o de uma década atrás, e não será o mesmo que o de hoje daqui a 10 anos “, completa.

A gestora de RH, Ana Cristina Vale, ressalta que iniciar no mercado de trabalho não é fácil, porque você vai sair de uma zona de conforto e entrar numa área que de fato exige muito.

“É onde você vai criar hábitos responsáveis e conhecer outras pessoas que possam também abrir outras portas. Eu acredito que é levar a sério até o último dia, para que você saia de lá deixando a sua marca, e assim as pessoas sempre ao falar de você vão ter a memória do bom profissional que você foi”, finaliza.

*Texto produzido na disciplina Fundamentos do Jornalismo sob supervisão do professor Wagner Costa

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