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Histórias de vida

O Chefe deixou a calçada

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Por Ludymila Maia e Beatriz Mendonça 

A pequena loja, localizada perto das margens do Rio Acre, com várias bugigangas à mostra, está há pouco mais de um ano sem a fervorosa animação e presença do seu dono. O falecimento de Tancredo Lima de Souza, ocorrido no dia 23 de agosto de 2022, aos 69 anos, deixou uma lacuna profunda naqueles que o conheceram e amaram.

Tancredo Lima de Souza veio do interior de Pernambuco para Rio Branco, com seu pai e irmãos, e logo começou a trabalhar para ajudar no sustento da casa. Como era o mais proativo, logo ganhou o apelido de Chefe. Sempre dedicado, exerceu várias profissões, dentre elas seringueiro, motorista de ônibus e táxi, mas seu coração pertenceu ao comércio. 

Começou desde jovem vendendo picolé, e, com o passar dos anos, passou a vender vassouras e tabaco. Conseguiu um ponto de vendas no Centro da cidade, trabalhou para manter sua loja junto de sua esposa, Maria José, e expandiu cada vez mais seu comércio. Virou o famoso Bazar Chefe, popular pela variedade de produtos tradicionais expostos para que todos aqueles que passam pelo local possam ver.

Começou a atrair uma grande clientela, que buscava utensílios que só o Chefe tinha e todos eram encantados pela humildade e vigor do vendedor. Assim foi construído um legado, que durou mais de 50 anos com clientes fiéis e amigos saudosos, que ainda se emocionam ao visitar a loja e não ver o Chefe no comando.

Bazar Chefe, um dos comércios mais tradicionais e populares de Rio Branco. Foto: Ludymila Maia

A saudade bate particularmente naqueles que compartilharam o privilégio de chamá-lo de pai. Segundo seus filhos, Cleudo José e Cleide Sandra, o pai sempre os incentivou para seguir seus passos e também foi um grande exemplo de honestidade, humildade e integridade. Além disso, os filhos lembram de seu coração bondoso que ajudava a todos.

Na cidade, ele era conhecido como um comerciante exemplar, alguém que deixou sua marca nas ruas e nos corações daqueles que tiveram a sorte de cruzar seu caminho. Para sua filha, ele era muito mais do que um pai, era um mentor, um guia. 

Ao falar sobre ele, a emoção na voz, pois sua jornada serviu como uma escola prática para seus filhos, uma lição de vida transmitida através das experiências do dia a dia. Seu pai, um verdadeiro mestre do comércio, ensinou não apenas a vender produtos, mas também a construir relacionamentos duradouros. 

“Ele era o meu pilar”, diz seu filho, com a voz repleta de reverência. “Ele não apenas direcionava nossos negócios, mas também na vida. Suas palavras eram um farol, estabelecendo o caminho certo a seguir”. Mesmo que sua presença física agora seja uma lembrança, o impacto de seus conselhos continua a moldar suas escolhas e ações. 

Os dois filhos do Chefe, Cleudo José e Cleide Sandra.  Foto: Ludymila Maia

“Humildade” é uma palavra que surge constantemente quando se fala dele. Ele era um homem que tratava todos com respeito e compaixão, independentemente da posição na sociedade. Sua presença calorosa e sincera deixou uma marca indelével nas pessoas com as quais interagiu e, até hoje, elas sentem sua falta. 

A voz de Francisca Lima, irmã de Tancredo, ecoa com carinho e saudade, relembrando as memórias de um homem cuja vida foi repleta de histórias e ensinamentos. “Ah, meu irmão… Como é difícil falar dele”, suspira a irmã, com os olhos cheios de emoção. “Ele era tudo para nós, um alicerce em nossa família e também na família de sua mulher. Seu coração era grande o suficiente para abraçar o mundo inteiro.”

O sepultamento de Tancredo não apenas trouxe lágrimas à sua família, mas também testemunhou o amor e o respeito que ele inspirou em toda a comunidade. “No dia em que o Chefe faleceu, ainda de madrugada, começou a chegar gente das fazendas, do interior, do seringal”, descreve sua irmã, destacando a influência imensa que ele teve. 

“Eu preferi não ver o Chefe”, admite ela, uma vez que a perda ainda é difícil de aceitar. “Ele foi nosso pai e nossa mãe, desde muito cedo ele assumiu as responsabilidades, sempre cuidou muito da gente, era tudo para nós, lembro de quando eu e minha irmã ficamos mocinhas ele comprava até batom para gente só porque sabia que nós gostávamos.” 

Uma paixão peculiar pela culinária emerge nos relatos da irmã, que com um sorriso afetuoso diz: “Lembro que meu irmão adorava peixe, ele gostava muito, sempre comia tambaqui até dizer chega.” Era na simplicidade da vida que o famoso Chefe do Novo Mercado Velho encontrou sua alegria, seja vendendo picolés nas ruas, ou incansavelmente juntando centavos para sua primeira banquinha. Nunca teve vergonha de sua história e  se orgulhava de seu passado. Apesar de não ter terminado seus estudos, foi um grande aprendiz da vida e também um grande professor para aqueles que o conheceram.

Histórias de vida

Rua do Trapiche

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Por Andriny Silva

Hoje chamada rua Ricardo Campelo, outrora rua do Trapiche, recebeu esse nome pois, de acordo com quem mora lá, há alguns anos a população precisava andar por cima de estruturas de madeira, os chamados trapiches, pois havia muita lama.

Esta rua fica localizada no bairro Boa Vista, na Baixada da Sobral, uma ampla região que abriga 18  bairros, assim como diversos comércios, escolas, órgãos públicos, entre outros tipos de estabelecimentos. A região é como se fosse uma outra cidade dentro de Rio Branco.

Também chamada “Baixada do Sol’’, esse nome foi criado para evitar que chamassem de “Sobral’’ todos os diferentes bairros que são cortados pela estrada de mesmo nome. É um espaço que abriga muitas pessoas que vieram de outros municípios e, assim como o sol, nasceu para  todos.

Antigamente a região era bem diferente do que é hoje, era uma fazenda e, pouco a pouco, casas foram construídas e formando diversos bairros e ruas. Nesse tempo, havia muita lama, contrastando com a visão atual, em que a maioria das ruas são cobertas por asfalto ou pelos  tradicionais tijolos. 

A dona de casa Luziete Mesquita da Costa, de 43 anos, é uma entre as diversas pessoas que saíram de seus locais de origem e hoje tem como lar a Baixada da Sobral, sendo  moradora dessa região há quase 30 anos. 

Ela vivia na zona rural mas,aos 14 anos, começou a morar com a irmã mais velha, Izalete, que já era residente do bairro João Paulo. O objetivo de Luziete era estudar, porém, a vida tomou outro rumo e ela acabou estudando apenas até a oitava série. 

Quando ela chegou, ainda existiam os trapiches e muita lama, assim como a vida, que é cheia de mudanças, ela viu a rua feita de lama se transformar em tijolos. E a rua também  acompanhou as mudanças de sua vida, viu quando conheceu seu primeiro esposo, o  nascimento de seus três primeiros filhos,viu o seu divócio, e o nascimento dos dois  outros filhos que vieram depois., e até hoje vê os sonhos de Luziete, que almeja terminar de reformar sua  casa e ver seus filhos formados, se realizando. E a rua segue vendo,  a cada dia, todo o trajeto da vida de Luziete e de outros moradores. 

A vendedora de doces regionais Andressa da Costa Silva tem 27 anos e mora na região há 17, sendo  12 deles  como moradora da rua Ricardo Campelo.  Ela tinha apenas dez anos de idade quando seus pais resolveram se separar e metade  de sua família, da parte materna, morava espalhada pela região da Baixada da Sobral. 

Na época em que chegou, muitas ruas ainda eram de trapiche e a área era   conhecida como periférica, Sua vida foi, praticamente, toda na Sobral, nas regiões de Boa Vista  e João Paulo,chegando a morar em várias ruas por conta das muitas mudanças. 

Quando,  enfim, se instalou na rua Ricardo Campelo, não tinha saneamento básico, havia muito  mato e esgoto a céu aberto, entretanto, hoje em dia o local está mais valorizado, e ganhou melhor estrutura, como a mudança da rua de trapiche para tijolos

A rua Ricardo Campelo já foi conhecida como rua das flores. Também foi conhecida por ser muito perigosa, lar de confrontos entre facções. Atualmente, porém, a onda de  violência reduziu. 

Luziete e Andressa, de formas particulares, possuem uma boa relação com seus vizinhos. Andressa, conversa, se dá bem e acha os vizinhos super harmoniosos. Luziete, por outro lado, não é de ficar conversando, mas não tem nenhum problema com seus  vizinhos. Ela acredita que cada um vive sua vida tranquilamente, sem problema nenhum, se dá super bem com todos, mas com cada qual no seu canto. 

Luziete gosta do local onde mora e não pretende mudar. Andressa, por outro lado, gosta  do seu bairro em geral, gosta da facilidade em questão de transporte público e gosta do  fato de andar pouco e logo encontrar padarias, açougues, frutarias, escolas e paradas de  ônibus, porém, apesar de gostar de onde mora, acredita que a vida é repleta de mudanças  e ela pretende se mudar futuramente. 

Para conhecer a região:

TORRES, Gilmar. Conheça a Baixada da Sobral. Blog fala baixada, Rio Branco, 2018.  Disponível em: <http://falabaixada.blogspot.com/p/conheca-baixada-do-sol_30.html>.  Acesso em: 01 set. 2022 de Setembro.

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Histórias de vida

Os 60 anos do Quinari: entre história, estórias e fofocas

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Por Felipe Souza

Uma cidade pequena, vizinha da capital acreana, com pouco mais de 22 mil habitantes e muitas histórias para contar. Considerado por muitos um local pacato, já foi uma vila antes de receber o título de município, pela Constituição Estadual de 01 de março de 1963, completando 60 anos em 2023.

A cidade leva o nome de José Guiomard dos Santos, um político mineiro que atuou  no Acre. Ele foi governador do território entre 1946 e 1950, e eleito deputado federal logo em seguida, em 1951, quando apresentou o projeto de lei para elevar o Acre de território federal a Estado, medida concretizada em 1962. No mesmo ano, foi eleito senador.

No entanto, o município até os dias de hoje ainda é conhecido pelo nome enquanto vila: Quinari. Por muitos, visto como um lugar sem futuro, por outros, como lar e aconchego. Cidades pequenas podem, muitas vezes, te laçar e criar uma ligação eterna, que te faz ficar preso lá. Senador Guiomard pode ser, e é, uma dessas cidades.

Imagem: Felipe Souza

Crianças brincando na rua, pessoas passeando com animais, estudantes saindo ou indo para a escola, um certo trânsito de veículos – talvez grande o suficiente para a existência de um semáforo, o que realmente veio a acontecer recentemente, são coisas comuns de se verem por lá.

Pela falta de entretenimento, a população sempre faz as mesmas coisas: tomar açaí na El Shaday local, comer pastel em uma lanchonete ao lado, ir à pracinha situada no Centro da cidade, e, aos finais de semana, para quem gosta, ouvir pagode no ‘Deck Quinari’.

Imagem: Felipe Souza

Reclamações são frequentes por lá, tanto das ruas sem pavimentação, quanto da vizinhança fofoqueira (ou seria a cidade inteira?). Uma cidade pequena pode ter dessas coisas; pessoas que você nunca viu sabem mais de sua vida do que você mesmo.

Imagem: Felipe Souza

Com um único hospital, o Ary Rodrigues, a população geralmente enfrenta grandes filas para um atendimento. Apesar disso, as Unidades Básicas de Saúde estão em abundância por lá, com cerca de 12, contando zona urbana e rural, assim como as farmácias, que são pelo menos oito no pequeno território.

Nos últimos anos, desde a eleição de 2020, com a gestão atual, muitos eventos passaram a acontecer na localidade. Eventos que não aconteciam há muito tempo como, por exemplo, a Expoquinari, uma versão mais modesta da Expoacre, para a população “quinariense”.

Até mesmo histórias (ou estórias) de terror assolam a pequena cidade acreana. Há boatos que, em determinada curva próxima à entrada da cidade, existe um fantasma de uma mulher viúva, que vaga em busca de seu marido. Há relatos de que, sim, ela existe e gosta de assombrar os caminhoneiros, que passam por ali à noite. A “assombração”  é conhecida como Mulher de Branco.

Apesar de tudo, Senador Guiomard é, para muitos, lar, aconchego e casa. De reclamações não pode se safar, até porque seres humanos habitam lá. E quem sabe, possa comemorar muitas outras décadas com gente “presepeira”, pois, segundo os moradores, Quinari é Hollywood.

Imagem: Felipe Souza

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Histórias de vida

Uma vida entre rios

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Por Sarah Helena e Tácila Matos

No bairro Tucumã, entre dois dos 11 filhos, mora a grandiosa matriarca de 1,50 cm da família Brito. Ela leva uma vida tranquila e sossegada, aproveita a idade avançada para fazer o que gosta: cuidar de suas tão queridas plantas, ir à igreja cultivar sua fé e desfrutar da família que tanto ama. Hoje, é grata pela paz e estabilidade de sua vida, mas quem vê essa senhorinha tão calada e serena não imagina todas as dificuldades que ela já viveu e superou.

Essa é Helena Soares de Brito, ou melhor, Dona Irene, como é chamada desde pequena e conhecida por todos; mas ao ser perguntada sobre o mistério dos dois nomes, ela diz “Meu bem, aí é uma resposta que eu não sei nem responder”. Mas com certeza esse nome lhe serve bem, visto que Irene, do Grego, significa “a Pacificadora”, encaixando muitíssimo com sua personalidade calma e singela.

A Trajetória – Do Rio Irú a Rio Branco

Ela nasceu em uma comunidade às margens do Rio Irú, próximo a cidade de Eirunepé, no Amazonas, no ano de 1936. E aí começou a trajetória de adversidades da pequena Irene. Apesar de ser relutante em se abrir sobre a infância, ela afirma em voz baixa, quase que num sussurro, que o início de sua vida foi muito difícil. “Perdi meu pai muito cedo”, por volta dos cinco anos de idade, diz. E emociona-se por não ter memórias com ele. Pouco tempo depois, a mãe, chamada Francisca Soares de Lima, casou-se novamente, levando Irene e suas irmãs, Regina e Maria, para morar no Seringal Aurora, no Vale do Juruá, agora adentrando o estado do Acre.

Desde muito pequena aprendeu a trabalhar em roçados para ajudar a família, mesmo assim, a mãe encontrava dificuldades para criar as três filhas. Então, aos 8 anos de idade, Irene e suas irmãs mudaram-se e foram morar com famílias distintas, por decisão da mãe. Situação comum para a época, na qual os pais “davam” os filhos para serem criados por outras pessoas, devido à difícil situação financeira. 

Assim, Irene seguiu o fluxo do Rio Juruá, chegando ao Seringal Três Bocas, onde morou com Francisco Regino de Brito e Idalina Mendes Guimarães, donos do local, e seus filhos, durante o restante de sua infância e toda a adolescência. Dentre os 11 filhos do casal, Rui Guimarães de Brito foi escolhido para casar-se com Irene, com quem construiu sua família.

Quando se casou com Rui, ele era dono da chamada Colocação das Gaivotas, ou seja, uma propriedade dentro do Seringal Três Bocas, que pertencia a seu pai. Dessa forma, lá estabeleceram-se: Rui, sendo o patrão dos negócios de extração da seringa e produção da borracha, e Irene, continuando com o trabalho no roçado e criação de animais. O casal teve ao todo 13 filhos, mas dois faleceram ainda durante a infância.

Dona Irene sempre manteve uma grande preocupação sobre o futuro dos seus filhos, queria que estudassem e adquirissem uma educação para terem a possibilidade de uma vida melhor, tendo em vista toda a dificuldade que passou durante a infância no seringal. Mas sua apreensão era voltada de modo especial às filhas: “eu dizia pras meninas, pra elas estudarem pra nunca serem dependentes de marido, porque não é todo marido que quer dividir o dinheiro dele com a mulher”.

Portanto, tomou a decisão de mandar os filhos para Cruzeiro do Sul, cidade do Alto Juruá, no Acre, para que estudassem e, assim, pudessem conquistar uma vida melhor e mais estável. Quem a apoiou durante esse processo foi o cunhado Romeu e sua esposa Magali, que tinham estabilidade e já moravam na cidade. Assim, a primeira filha levada foi Hilma, a mais velha, aos sete anos de idade. E aos poucos, um por um, os demais filhos também mudaram-se para a casa dos tios a fim de começar os estudos. Eles retornavam apenas nas férias.

Quando, enfim, restavam apenas os caçulas, Irene tomou a decisão de também sair do Seringal e acompanhar os filhos na cidade. Apoiada novamente por Romeu, ela partiu com as crianças de navio, enquanto Rui permaneceu na Colocação das Gaivotas para conseguir recursos para construir uma casa na nova morada.

Em Cruzeiro do Sul, trabalhou como costureira, ofício que aprendeu ainda criança fazendo roupas para suas bonecas, além da permanência no roçado. E dessa forma ajudou no sustento da família. Logo mais, seus filhos, já maiores, começaram a trabalhar como babá, em construções, vendendo comidas, etc.

Apesar das diversas dificuldades que passou na vida, ela se sente muito feliz de ver todos seus filhos bem. E afirma que o que a manteve “de pé” durante sua trajetória difícil foi a fé.

”Eu vi Nossa Senhora”

Por volta dos 12 anos, Irene foi morar com uma das filhas de Francisco Regino e Idalina, Riselda,que casou-se e saiu do “barracão” onde a família vivia para morar com o marido em uma casa pequena, de apenas um cômodo, que ficava mais distante da instalação principal. O marido de Riselda acordava todas as madrugadas para tomar café e a jovem devia se levantar mais cedo para fazê-lo. 

Numa madrugada, como de costume, levantou-se, acendeu o fogo, fez o café e depois que o cunhado havia bebido, ele voltou a deitar-se,  apagou o fogo e voltou para sua rede. De repente, uma luz intensa clareou a casa inteira, Irene olhou e viu uma mulher em pé ao lado de sua rede olhando para ela, vestida com um vestido branco e um manto azul. Imediatamente a jovem a reconheceu como Nossa Senhora das Graças. 

“Eu não fiquei com medo”, ela diz sobre a aparição, experiência que só intensificou sua fé. Em cada um de seus trabalhos de parto, ela pedia as bênçãos de Nossa Senhora para lhe ajudar, numa época onde não havia qualquer acompanhamento médico para gestantes.

Vivendo o sonho

Dona Irene, depois de ver seus filhos terminando o colegial, viu-os também, um por um, deixarem a cidade de Cruzeiro do Sul e chegarem à Rio Branco em busca de ensino superior. Aos poucos, foram formando suas próprias famílias e se estabeleceram na capital. Dessa forma, a mãe não via mais sentido em permanecer no interior, longe dos filhos e enfim chegou à Rio Branco.

Aos poucos a família cresceu, foram chegando cada vez mais netos e bisnetos. Hoje, a senhorinha de 88 anos leva uma vida muito feliz, rodeada pela família e afirma que seu sonho foi concedido. “Quando eu morava no seringal, o que eu mais pedia era sair de lá e ter uma velhice sossegada”, desejo que, enfim, conquistou.

Dona Irene, Rui e os 11 filhos, 2012. Foto: Arquivo Pessoal

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