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Enfrentamento do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Acre durante pandemia do Covid 19

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Por Gercineide Maia

Durante a pandemia do Covid 19 o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) de Rio Branco-Acre se adapta para realizar o Atendimento Educacional Especializado (AEE) aos alunos da educação básica

O Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Acre (NAAS/H-AC), implementado em 2006 pelo Programa do Ministério de Educação (MEC), mesmo com o isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19, se adapta à nova realidade e busca alternativas para realizar identificação e acompanhamento pedagógico aos alunos matriculados na educação básica.

De acordo com o Censo Escolar de 2020, há mais de 24 mil alunos matriculados com altas habilidades/superdotação na educação especial, um índice bem menor do que o estimado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que varia de 5% a 8% da população que poderia ser identificada, quando talentos são desperdiçados e/ou ignorados na sociedade.

Em entrevista, a técnica de enfermagem Elivânia Gonçalves, 45 anos, mãe do estudante Seillor Sanatiel, 10 anos de idade, identificado com superdotação, conta que seu filho desde pequeno já apresentava inteligência acima da média e quando procurou a Secretaria municipal de educação de Rio Branco-AC, não foi ouvida. “Na época, eu fiquei muito chateada porque eu quis me fazer ouvir, eu quis falar na escola, fui à secretaria e eles não deram atenção, disseram que iam mandar uma equipe e nunca mandaram”, declara.

Estudante Seillor Sanatiel, 10 anos de idade, em aulas remotas durante a pandemia

Gonçalves relata que poderia estar equivocada, mas sentiu muitas vezes que as pessoas não deram muita atenção pelo fato do menino ser filho de uma técnica de enfermagem pobre e negra, que pensava em saber   alguma coisa. “Eles achavam que era entusiasmo de mãe e não era, infelizmente as pessoas querem ver para crer, não pararam para me ouvir e constatar, a prova é tanto que eu queria muito que acontecesse o processo de aceleração dele na escola, mas não foi possível e só entreguei nas mãos de Deus”, relata a mãe.

“Em nenhum momento me conformei com o ocorrido e nem com a série em que meu filho foi matriculado, principalmente, quando ele começou a estudar o ensino fundamental, pois já era um autodidata, inclusive aprendeu a ler sozinho”, esclarece a técnica de enfermagem.

Segundo Gonçalves, em 2019 tudo começou a mudar quando conheceu o NAAS/H Acre, por indicação de uma professora. “Fomos bem recebidos e desde então começou o processo de investigação, um estudo que resultou em um parecer favorável em que meu filho tem superdotação”, revela com muita alegria.

Vinculado a Divisão da Educação Especial da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes – (SEE/AC), o NAAH/S, localizado em Rio Branco-AC,  já identificou desde a sua implantação mais de 600 estudantes com altas habilidades/superdotação, no ano letivo de 2021, por exemplo, atendeu 136 estudantes, afirma Taís Galdino chefe do NAAH/S -AC.

De acordo com Taís Galdino, este núcleo tem por finalidade promover políticas de educação inclusiva e o atendimento às necessidades educacionais específicas dos alunos com altas habilidades e superdotação na educação básica do estado, sendo uma referência para a comunidade educacional e para todos os municípios, principalmente no que se refere ao serviço de Atendimento Educacional Especializado (AEE) para estes estudantes.

Para atender aos alunos com essas características, o NAAS/H-AC atualmente está organizado em sua sede própria com o Atendimento Educacional Especializado em interface com às escolas e conta com o trabalho de professores de áreas específicas como Matemática, Língua Portuguesa, Ciência da Natureza, Química, Música, Artes Visuais. Além desses profissionais, “o núcleo dispõe de docentes que integram a área pedagógica, de professores que realizam formação/capacitação, elaboram e analisam o material didático específico para atendimento e acompanhamento dos estudantes”, informa a chefe do NAAS/H-AC.

Na realidade, o NAAH/S Acre é o único setor de educação do Estado que realiza o serviço de AEE em contraturno do ensino regular específico para investigação/identificação e acompanhamento pedagógico de alunos com características de altas habilidades/superdotação (AH/SD), de forma multidisciplinar e especializada em salas de recurso multifuncional específico no atendimento dos estudantes com AH/SD no prédio do referido núcleo, sendo um trabalho em conjunto com as escolas e as famílias que encontram no NAAH/S um atendimento voltado diretamente para esses alunos público-alvo da educação especial,  assegura.

Desafios enfrentados

Tanto o ensino remoto quanto o ensino híbrido trazem grandes desafios para às escolas e para os núcleos de altas habilidades/superdotação.  “O trabalho nesse período de afastamento social se apresentou de forma desafiadora em muitos aspectos e refletiu em todas as áreas na equipe do NAAS/H-AC e, consequentemente, nos alunos e suas famílias, que precisaram adaptar-se à nova realidade”, declara Taís Galdino, chefe do núcleo.

Diante disso, a equipe do núcleo procurou amenizar os impactos do distanciamento social propondo novas estratégias de atendimento.  “Dentre essas estratégias, estão as oficinas de enriquecimento curricular de forma remota por área de interesse, o que estimulou mais a participação dos estudantes, bem como possibilitou realizar o agrupamento de estudantes por áreas afins, a troca de conhecimento e novas aprendizagens”, ressalta Galdino.

“Sob orientação da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE), em meados de outubro de 2021, o NAAS/H passa também a realizar o   acompanhamento pedagógico de seus alunos forma híbrida”, explica.

 Segundo Jeane Machado, professora de elaboração e análise de material didático específico para o atendimento e acompanhamento dos alunos e apoio aos professores de AEE do NAAH/S, com a pandemia da covid 19, o núcleo de atividades teve que se adequar ao atendimento processo de identificação e avaliação com os alunos para esse novo formato.

“O ensino remoto é mantido para atender boa parte dos alunos que optou, por uma série de motivos, por esse atendimento através de plataformas digitais, que chega também aos municípios e o ensino no modelo híbrido que contempla uma outra parcela de alunos que são acompanhados diretamente no núcleo”, ressalta.

Marcia Helena Leão, professora do Atendimento Educacional Especializado para Altas Habilidades/Superdotação, disse que nesse período todos tiveram que adquirir novas competências para darem continuidade ao atendimento dos alunos.  “Não foi algo fácil, porém, hoje vemos a importância do atendimento, mesmo que remoto, aos nossos alunos com AH/SD”, acrescenta a professora.  

“Iniciamos com a adequação dos nossos instrumentos de triagem e avaliação, que foram transformados em material digital. Desde a indicação, matrícula e atendimento, passamos a utilizar plataformas digitais para comunicação e disponibilização dos conteúdos aos alunos”, exemplifica a professora Márcia Helena Leão.

Segundo a professora, os atendimentos individuais e em grupo são agendados com a família do aluno pelo whatsApp. “Os atendimentos em grupos de enriquecimento, por exemplo, foram ofertados por meio de oficinas de curiosidades que envolveram assuntos atuais e de interesse dos alunos. Nesses atendimentos foi possível perceber a criatividade, o envolvimento com a tarefa e habilidade acima da média dos estudantes em processo de identificação”, conclui.

O domínio dos conceitos trabalhados nos módulos e uso das tecnologias da informação e comunicação empregadas durante as oficinas de curiosidades pelas crianças durante a pandemia foi o que mais chamou a atenção da professora Geciane Martins.  “Os alunos trabalham com inovação, são muito observadores, questionadores, interagem bastante, são responsáveis, pontuais, capricham nas tarefas, querem mostrar o que produzem e ver o desenvolvimento deles me deixa muito feliz enquanto profissional”, declara a professora.

De acordo com a professora, “a pandemia ao passo que trouxe vários desafios também trouxe inovação e para o aluno que é autodidata foi muito benéfica, porque com o uso da tecnologia, eles voaram, se desenvolveram consideravelmente”.

Para Martins, é importante que os pais acompanhem o desenvolvimento de seus filhos para que eles se sintam seguros.  Durante esse processo, disse que criou um laço, um vínculo muito grande com a família de seus alunos.  “Consegui me conectar com os alunos com os pais e mães também e todos eles gostam muito de mim. Respeitando os protocolos, fui à casa deles deixar e buscar tarefas”, finaliza a professora.

Maiores dificuldades enfrentadas

A falta  de acesso aos recursos tecnológicos, da necessidade de domínio das ferramentas digitais por parte dos alunos, disponibilidade de alguns estudantes devido as atividades da escola regular; problemas familiares e de saúde, devido a esse momento, ineficiência e lentidão dos meios de comunicação (rede telefônica e internet), resistência e o desânimo de alguns alunos em receber o atendimento nesse período e realizar atividades práticas à distância, foram umas das dificuldades enfrentadas pelo NAAS/H-AC nesse período de pandemia, relata Taís Galdino, chefe do núcleo.

Para Taís Galdino, apesar de todos as dificuldades, o núcleo buscou alternativas para a eficiência no trabalho, tendo consciência de que vários fatores interferem e fogem do alcance da gestão nesse período de pandemia. Um exemplo que pode ser citado é que foi realizada a impressão do material para os alunos que não tinham acesso à internet e em alguns casos ocorreu a visita na casa do estudante com os devidos cuidados, seguindo protocolos, normas de higienização e distanciamento.

Com apenas 10 anos de idade e uma desenvoltura incrível na comunicação, Seillor Sanatiel aprova o ensino híbrido. “Eu acho que o ensino híbrido foi pelo menos a salvação, porque durante o ensino virtual a essência é perdida, a gente se sente mais desmotivado”. 

“Dentro da sala de aula, por exemplo, se uma criança que não quer fazer uma atividade na aula presencial, ela terá que fazer porque no próximo dia já terá aula de novo, só que na aula virtual a pessoa pode não mandar. No caso, a professora cuida de muitas coisas para poder ter tempo para encarregar-se de atividade específica de uma criança e isso faz com que a criança não se desenvolva”, analisa.

Referente ao que conseguiu produzir durante os estudos nesse período, Sanatiel ressalta que se sentiu bem em saber que enviou suas produções, ter aprendido e entendido o que a professora havia dado, o que lhe causou uma boa sensação. 

Além disso, acrescenta que não teve dificuldades em realizar as atividades, pois já produzia textos, poemas e agora experimenta produzir textos em inglês para melhorar as suas habilidades.

Professora Márcia Helena Leão disse que apesar das dificuldades como o acesso à tecnologia pelos alunos em processo de identificação, dentre outros fatores, o que mais chamou a sua atenção nesse período foi a capacidade de utilização das ferramentas de mídia e informática nas áreas investigadas como o inglês, música, desenho digital, dentre outros componentes curriculares.

Como ocorre a identificação, avaliação e acompanhamento

A indicação dos estudantes para o processo de investigação das características de AH/SD pode ocorrer pela autoindicação, indicação das escolas, indicação pela família e indicação de amigos/conhecidos.

O núcleo disponibiliza um link de indicação no qual podem solicitar a investigação e o acompanhamento com esses estudantes na fase escolar (educação básica). Pela escola a indicação ocorre via ofício, a família e o estudante podem também solicitar o atendimento para o processo de identificação das características na sede do núcleo.

 Formulário de Indicação para o processo de identificação em AH/SD – https://encurtador.com.br/dlrRX

Após receber a indicação a equipe do núcleo entra em contato com a família e a escola para iniciar o processo de investigação das características de AH/SD, que pode durar de seis meses a um ano ou mais.

O aluno Seillor Sanatiel, por exemplo, iniciou o processo de identificação no mês de setembro de 2019 e recebeu o parecer em agosto de 2021 na área criativa produtiva, tem domínio e amplo conhecimento em várias áreas. “Destaca-se na linguagem e comunicação, além da facilidade de aprendizagem de outras línguas, em especial, o inglês, que está aprendendo através de conversa on-line em jogos e aplicativos”, afirma a professora Márcia Helena do Atendimento Educacional Especializado do NAAS/H.

“Sanatiel quando chegou no NAAS/H já apresentava facilidade em comunicação, desenvoltura e conhecimento em várias áreas e a partir do processo de identificação ele apresentou outras características como aprendizagem rápida, facilidade de expor os conhecimentos adquiridos de forma dinâmica (divertida) e o uso da língua estrangeira (inglês)”, enfatiza.

Para o estudante Seillor, o NAAS/H-AC é uma escola só que melhor e que se tivesse que optar, escolheria estudar neste núcleo. “Em geral, ele trabalha várias habilidades que não são trabalhadas na escola em si, é mais interativo do que a escola normal e se eu fosse estudar tudo, seria melhor no NAAS/H do que na minha escola normal, sinceramente”, acrescenta.

Depois que eu descobri que tenho habilidades, eu melhorei em certas partes. No NAAS/H você passa a si valorizar e a ser valorizado, reconhece.

“É maravilhoso falar de um aluno que você identificou com altas habilidades, pois ele passou muitas vezes desapercebido na escola, e hoje você vê um potencial incrível de conhecimento que necessita apenas de incentivo, de investimento”, declara a professora Márcia Helena Leão.

O papel da família

A família exerce um papel de fundamental importância no desenvolvimento da superdotação ou talentos. “Contribui com as informações para a realização do processo de investigação das características de AH/SD, incentivando estudante a participar das atividades e acompanhamento realizado pelo núcleo, proporcionando um ambiente estimulador para o reconhecimento das dos filhos e sendo um parceiro do NAAH/S nas atividades propostas”, afirma Taís Galdino, chefe do NAAS/H-AC.

Professora Jeane Machado fala que no NAAS/H todo o processo de investigação também é feito com a família e defende o quanto é de fundamental importância que esta esteja disposta a participar.  “Se não houver essa parceria, não há como acontecer o processo de investigação e isso dificulta bastante fazer a orientação do aluno também identificado”, acrescenta.

“A família é a base para tudo, por isso é importantíssimo o seu envolvimento, pois fazemos apenas uma parte de toda uma vida futura”, declara Márcia Helena.

A professora expõe que, neste período de atendimento remoto e híbrido, foi essencial a participação da família, pois todo o planejamento e execução das atividades são realizadas por meio da consulta e autorização dos responsáveis.

Existe uma parceria do NAAS/H-AC com família que se sente orientada e acolhida. “Nós nos sentimos muito acolhidos e consideramos muito importante a participação da família nesse processo e esse núcleo de altas habilidades/superdotação se tornou referência para nós”, afirma Elivânia Gonçalves.

“A professora Márcia, por exemplo, passou a ser um membro da família e o NAAS/H-AC representa uma esperança de que o nosso filho Seillor vai conquistar algo importante, porque é através desse núcleo que eu vejo as portas se abrindo para ele, se não fosse núcleo de atividades de altas habilidades/superdotação eu não saberia nem o que fazer em relação a esse conhecimento que ele tem”, declara a mãe.

Serviços ofertados

O Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Acre (NAAS/H-AC), oferta os seguintes serviços:

  • Atendimento educacional Especializado específico aos alunos com características de AH/SD na educação básica, preferencialmente da rede pública do estado;
  • Formação específica na área das AH/SD aos profissionais da educação através de cursos, palestras, oficinas;

A título de informação, no Acre, a formação inicial e continuada para os profissionais da educação básica e comunidade na área de altas habilidades/superdotação e apoio pedagógico às escolas também é ofertado pelo Núcleo de Atividades de Altas Habilidades e Superdotação – NAAS/H, de Cruzeiro do Sul que integra o Centro Apoio à Inclusão Said Almeida Filho.

Este núcleo atende   aos municípios vizinhos como Porto Walter, Marechal Thaumaturgo, Tarauacá, Rodrigues Alves, Mâncio Lima, Feijó e Jordão, conforme o documento orientador do MEC e orientação da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE-AC)

Após decreto governamental o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação retornou as atividades de forma presencial e continua com o atendimento remoto para atender os municípios do Estado. O NAAS/H-AC funciona em dois turnos, na Estrada Alberto Torres, 825, Conjunto Mariana, Rio Branco–AC/CEP: 69.919-202/TEL: 3227-2994/E-mail: naahsacre2@gmail.com

Você também pode encontrá-lo nas Redes Sociais:

Blog: www.naahsacre.blogspot.com,

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Cotidiano

Malabarismo entre estudo e trabalho

A rotina dos jornalistas em formação que buscam qualidade nas produções e lidam com a sobrecarga das demandas. Foto: Reprodução/Internet

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Por Fernanda Maia, Gabriel Vitorino e Jhenyfer Souza

O cotidiano dos estudantes de Jornalismo da Universidade Federal do Acre (Ufac) é marcado por uma realidade presente não só no estado do Acre, mas em todo o cenário nacional: a necessidade de conciliar formação acadêmica e experiência prática em um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo. 

Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais  (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego, aproximadamente 35% dos estudantes de Comunicação Social, das áreas de Publicidade ou Jornalismo, já realizam estágios e possuem vínculos empregatícios formais antes de se formar, seja com carteira de trabalho ou como pessoa jurídica.

A formação acadêmica em Jornalismo oferece os fundamentos teóricos e o pensamento crítico necessário para o exercício da profissão. Enquanto nas salas de aula, os estudantes compreendem o papel social da imprensa e aprendem sobre apuração, redação jornalística e ética profissional de forma predominantemente teórica, no mercado de trabalho eles têm que lidar diretamente com a prática da profissão. 

Os estágios ou empregos, que possuem regras fixas e impõem prazos curtos para entrega de matérias e demandas, permitem que os futuros jornalistas entendam as demandas do trabalho e tenham noção da realidade da profissão em que estão inseridos. Segundo uma pesquisa do Perfil do Jornalista Brasileiro (Fenaj, 2021), 62% dos profissionais afirmam que o estágio foi decisivo e essencial para suas formações como profissionais.

Para muitos, essa rotina dividida entre aulas, trabalhos acadêmicos, estágios e empregos é enriquecedora, constrói boas experiências e aprendizados, mas também é vista como um desafio. Algumas vezes esse acúmulo acaba testando limites físicos e emocionais durante os quatros anos da faculdade. 

No Acre, onde a imprensa é concentrada em poucos veículos midiáticos, estudantes de Comunicação destacam que a desvalorização da profissão, a pressão por qualificação, exigência de serem multitarefas e a concorrência com influenciadores digitais são vistos como alguns dos obstáculos enfrentados no cotidiano de quem busca estudar e construir uma carreira no jornalismo local.

Em entrevista, Ludymila Maia, 22 anos, assessora de comunicação da OCA, destacou a importância desse trabalho duplo, mas também as dificuldades encontradas: “Conciliar o trabalho e os estudos é de fato uma dificuldade, porque em certos momentos a gente acaba tendo que priorizar um e deixando o outro em segundo plano”.

Ela explica que algumas demandas fogem dos horários agendados e acabam tomando um tempo de foco nos estudos ou em sala de aula. “Sempre deixei a faculdade como primeiro plano, mas teve momentos que eu tive que trazer essa prioridade para o trabalho, por diversas questões”, disse.

Ela destacou que o conhecimento adquirido na universidade e a experiência prática do mercado de trabalho são enriquecedores, mas que existe uma falta de sincronia entre os dois muitas vezes, devido à dificuldade de realizar algumas das questões práticas nas salas de aula. 

“Eu sinto que a gente ainda está um pouco defasado em questões práticas dentro da universidade e essas partes práticas eu só fui aprender mesmo quando eu cheguei a trabalhar profissionalmente dentro de uma redação, dentro de uma assessoria.” No entanto, apesar das dificuldades encontradas em sua rotina, Maia afirma que em nenhum momento pensou em desistir do curso.

“Nunca cogitei trancar ou desistir, mesmo com esses momentos de dificuldade. Eu acho que o jornalismo deve ser levado muito a sério, e a questão acadêmica é essencial para a nossa construção profissional”, relatou Maia.

Sobrecarga

Para jornalistas que conciliam o estudo com o seu trabalho, as multitarefas, e o acúmulo de funções, junto com a cobrança de prazos curtos, uma das dificuldades apontadas é a a sobrecarga. 

Isabelle Magalhães, 20 anos, estagiária no site A Gazeta do Acre, contou que possui tempo para os estudos, mas que já se sentiu sobrecarregada ao perceber a intensidade do trabalho jornalístico. Mas sua paixão pelo curso a manteve na formação acadêmica, mesmo percebendo a contradição entre jornadas exaustivas e certa desvalorização da profissão.

“Acredito que todo estudante, em algum momento da vida acadêmica, já pensou em trancar o curso e comigo não foi diferente. Já considerei essa possibilidade, tanto pela sobrecarga quanto pela percepção de como o trabalho do jornalista é intenso e, muitas vezes, pouco valorizado. Isso pode ser bastante desmotivador”, comentou.

Enquanto na universidade os prazos permitem que apurações e textos sejam feitos com mais calma e dedicação, nas redações jornalísticas a pressão por entregar demandas em prazos curtos está presente na rotina. Profissionalmente este é um fator determinante e apurações precisam ser feitas rapidamente, mas com boa qualidade, o que muitas vezes causa insegurança nos iniciantes. 

Isabelle Magalhães percebe essa diferença entre a faculdade e o mercado de trabalho: “A rotina dentro da redação, muitas vezes, não permite que eu desenvolva uma matéria com o mesmo nível de aprofundamento e elaboração que um trabalho da faculdade exige”, disse.

Gisele Almeida, de 25 anos, é editora-chefe do site Agazeta.net, formada em Jornalismo pela Ufac e hoje mestranda em Letras,  e vive uma rotina ainda mais intensa. Ela realiza plantões, faz coberturas de última hora para seu trabalho e precisa conciliar essas funções com suas leituras de mestrado. Ela admite que também já pensou em desistir dos estudos por conta do trabalho mas, apesar das dificuldades, ela ressalta que esse tipo de conhecimento a enriquece profissionalmente.

“Eu falei para o meu orientador: Eu vou desistir, talvez eu nem seja para isso, talvez o mestrado nem é algo para mim”, por constatar o quanto é difícil, mas afirma que vai persistir até o final. “Quando eu coloquei isso na minha cabeça. de terminar, acho que isso me deu mais força. O programa é muito bom, tem excelentes professores, são conteúdos riquíssimos, então, é uma coisa que tá valendo muita pena para mim como pessoa e como profissional”, desabafou.

Amor pela profissão

A desregulamentação da profissão, o avanço de influenciadores nas mídias e o excesso de fake news são temas que impactam diretamente a rotina desses profissionais e preocupam tanto os estudantes quanto os jornalistas que já exercem a sua profissão. Algumas funções antes exercidas por jornalistas acabam sendo saturadas por pessoas que não tem compromisso e responsabilidade com conteúdos que produzem e profissionais da área ficam desvalorizados.

Com esperança de que a área da Comunicação continue se expandindo, Maia  também se preocupa com a manutenção da boa qualidade oferecida. “A gente vê hoje em dia que todo mundo acha que se pegou um celular e uma lapela na mão, automaticamente você se torna jornalista ou comunicador. E pra mim não é assim que funciona”, criticou.

A estudante-assessora defende a volta da obrigatoriedade do diploma para ser jornalista, pois para ela a formação garante a qualidade das apurações e a responsabilidade ética ao publicar informações. 

“Eu acho que jornalistas e comunicadores devem partir de dentro da academia, de dentro de faculdades de jornalismo, de propaganda e publicidade. Isso é muito importante. Não é à toa que hoje em dia não existe a obrigatoriedade do diploma pra você ser considerado jornalista e eu acho que isso é praticamente um crime pra nossa área”, comentou.

Assim como ela, Gisele Almeida compartilha do mesmo pensamento, e acredita que jornalistas merecem mais reconhecimento, inclusive financeiro, levando em consideração as  sobrecargas que tem no trabalho. 

“O que eu espero da profissão é a obrigatoriedade do diploma, pois eu acho que jornalista tem que ter diploma e ponto, para mim isso é extremamente importante. E que a gente seja mais valorizado financeiramente, o nosso salário é muito ruim, péssimo. E também que a gente não tenha tanta sobrecarga de trabalho. O jornalista acaba trabalhando em feriados, acaba trabalhando no sábado e domingo”, disse.

Apesar das críticas às dificuldades em conciliar o mercado de trabalho com os estudos acadêmicos na rotina dos jornalistas, as estudantes reconhecem a importância da Ufac em suas formações, e valorizam o aprendizado recebido por meio de aulas, estágios e trabalhos acadêmicos. 

“A vontade de saber, aprender e conhecer é essencial para um jornalista, especialmente no mercado de trabalho. Sempre fui uma pessoa muito curiosa, e o curso de jornalismo intensificou ainda mais esse lado em mim”, afirmou Isabelle Magalhães, que recomenda humildade para aprender.

Independente da rotina, que muitas vezes pode ser difícil, os estudantes acreditam que o jornalismo ainda tem o poder de transformar a sociedade, já que, por trás das dificuldades da profissão, eles também conseguem fazer a diferença ao informar a sociedade. 

“Dentro do jornalismo eu percebi uma grande paixão que eu tenho por contar histórias, por ouvir histórias, por de alguma forma ajudar um cidadão, a população que tá precisando de uma informação.E que essa informação chegue com qualidade, de uma forma simples para que todos entendam, sem grandes burocracias”, comentou Maia.

Conciliar as exigências acadêmicas e as demandas do mercado de trabalho pode muitas vezes ser desafiador, principalmente quando se trabalha com prazos curtos para a entrega de matérias, dificuldade de contatar fontes, equipes pequenas. E mantendo a responsabilidade ética e a apuração aprofundada. No entanto, toda experiência é importante e faz parte do desenvolvimento profissional do jornalista.

“Eu sou muito realista, porque não é uma profissão fácil, mas eu sempre falo, é uma profissão apaixonante, é uma profissão que você tem que ter paixão para fazer. E graças a Deus eu sou muito apaixonada pelo meu trabalho e pela pela área que eu escolhi, mas tendo consciência”, finaliza Almeida.

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Cada vez menos sombra e água fresca

Embora necessária para equilíbrio ambiental, novas construções podem diminuir arborização na zona urbana de Rio Branco. Foto: Amanda Silva

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Por Francisca Samiele e Amanda Silva

Você já parou para pensar na importância das árvores para a cidade? Pequenas, médias ou grandes, elas têm grandes contribuições para a qualidade de vida e para a paisagem urbana, mas é curioso perceber como, apesar de estarem por toda parte, muitas vezes passam despercebidas. 

Mais do que um elemento estético, a arborização é essencial para melhorar a qualidade do ar, ajudar a controlar a temperatura e ainda trazer mais bem-estar para quem vive por aqui. Elas também se tornam pontos de referências da cidade, como afirma o arquiteto Eduardo Vieira. 

Segundo o panorama do Censo de 2022, cerca de 57% da área urbana no estado do Acre não possui arborização, sendo  85% de vias pavimentadas, como avenidas e ruas, por exemplo.

A moradora do bairro Custódio Freire, Maria Auxiliadora, de 68 anos, lamenta o desmatamento e comenta que sem as árvores não conseguiremos sobreviver. “O pessoal derruba muito. Mas as árvores são muito importantes, dá frieza, sombra, e é uma riqueza, tudo é favorável. Vá embaixo de uma árvore para ver a frieza e a beleza lá embaixo. É ótimo”.  

Já Maria Aparecida Santiago, moradora do mesmo bairro, conta que quando sai da cidade para sua chácara percebe o clima diferente, e que o ar que parece saudável. “É um clima muito bom. Quando você vai chegando na chácara, respira outro clima, suave”, exclama. 

Cerca de 57% da área urbana do Acre não possui arborização. Foto: Francisca Samiele

Possíveis problemas

Para entender melhor os efeitos da cobertura da vegetação, o arquiteto Eduardo Vieira explica como a ausência de árvores pode causar problemas nas cidades. “Uma cidade com grandes áreas impermeáveis está mais sujeita a alagações, à reflexão e aumento do calor, bem como a criação de ambientes áridos, inadequados ao convívio humano”, afirmou. 

Os efeitos mencionados pelo arquiteto já são perceptíveis na região, que nos últimos dois anos tem enfrentado situações como alagamentos intensos em períodos de chuva e a seca acentuada do Rio Acre durante os meses mais quentes. 

O engenheiro florestal Paulo Trazzi explica que as árvores podem ajudar a evitar alguns eventos extremos, pois suas raízes formam uma estrutura no solo que melhora a infiltração da água e permite o controle do fluxo nos rios, canais e corpos d’água: “Evita assoreamento, perda de água no solo, também melhora a qualidade da água.”

Além de manter o ar mais fresco nas cidades, o engenheiro florestal reforça que preservar árvores nativas é fundamental para conservar a biodiversidade local. 

Segundo especialista, presença de árvores na cidade pode evitar eventos climáticos extremos. Foto: Francisca Samiele

A derrubada de uma árvore, muitas vezes, é feita para abrir espaço para uma nova construção. A chefe da Divisão de Meio Ambiente e Cidades da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Esmilia Medeiros, fala que serão feitas novas construções na cidade de Rio Branco, em que será necessário a retirada de árvores.

Mas a entrevistada destaca que na capital “o corte de árvores em áreas públicas e privadas é regulamentado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente [Semeia] através da Instrução Normativa nº 001/2021 e outras resoluções.”

Esse conjunto de normas também estabelece procedimentos de autorização para retirada de vegetação, incluindo critérios para compensação ambiental por impactos causados, que podem envolver o plantio de árvores, recuperação de áreas degradadas ou outras medidas que visem mitigar os impactos ambientais. 

Mesmo com normas que regulamentam a derrubada, Rio Branco ainda enfrenta desafios relacionados ao assunto. Cada árvore cortada que não é compensada por um novo plantio pode trazer consequências para o equilíbrio do meio ambiente. E para a qualidade de vida de todos nós.

É importante lembrar que desmatar sem autorização é crime. Cortar árvores sem seguir as regras pode resultar em multas e outras penalidades, conforme a Lei nº 2.422/2022.Para obter informações detalhadas sobre o processo de licenciamento, consulta de legislação e demais procedimentos, recomenda-se entrar em contato com a Semeia ou consultar o site da Prefeitura de Rio Branco

Redação

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As alternativas para demandas afetivas

Humanização de animais e objetos podem representar uma busca por conexões emocionais em tempos de solidão

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Por Pedro Amorim e Ana Paula Melo

Em um mundo cada vez mais conectado pela tecnologia, mas marcado pela solidão, muitas pessoas têm encontrado conforto em animais de estimação e objetos, tratando-os como membros da família ou até como filhos.

No Brasil, a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) estima que existam mais de 55 milhões de cães, com 80% dos tutores vendo-os como parte da família.

Um estudo da DogHero mostra que 66% dos donos tratam seus pets como filhos. Esse carinho impulsiona um mercado que, segundo o Instituto Pet Brasil, movimentou R$78,2 bilhões em 2024, com a maior parte gasta em alimentação, além de serviços como saúde e estética.

Porém, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por meio de um estudo, alerta que tratar animais como humanos pode causar problemas como ansiedade, comportamentos compulsivos e até obesidade nos bichos.

Outro exemplo marcante é o fenômeno dos bebês reborn, bonecas hiper-realistas adotadas para coleção ou terapia. O mercado global dessas bonecas, avaliado em US$ 1,2 bilhão em 2023 pela Pesquisa de Mercado Allied, cresce entre colecionadores e pessoas que buscam apoio emocional. 

No Brasil, reportagens da Folha de São Paulo e do g1 relatam casos curiosos, como pessoas levando essas bonecas ao Sistema Único de Saúde (SUS), além de debates sobre os benefícios terapêuticos. 

A vida em família

Para ilustrar como essa humanização se manifesta no dia a dia, conversamos com Lucas Lins, um médico de 24 anos, que trata a cachorra pug, Jurema Josefina, como uma verdadeira filha. “A Jurema é a nossa cachorrinha da raça pug, uma companheirinha que chegou pra encher a casa de amor, alegria e um toque de bagunça também”, conta Lins, rindo. 

Cadela ama piscinas e possui roupas. Foto: Lucas Lins/acervo pessoal

Desde filhote, Jurema tem uma rotina digna de princesa: roupinhas, brinquedos, cama fofinha e até festas de aniversário com bolo, vela e balões. “Fizemos tudo isso quando ela completou 1 aninho. E claro que ela usou a famosa roupinha da Minnie, toda orgulhosa”, diz, com entusiasmo.

A humanização vai além: Jurema tem até um Instagram criado especialmente para ela, embora pouco usado. O médico descreve rituais diários, como banhos com shampoo, condicionador e colônia, que geravam reclamações do pai, pela despesa. “Como todo pug, a Jurema solta muito pêlo! Teve uma vez que compramos um tira-pelos e nos assustamos com a quantidade absurda que saiu. Achamos que tinha algo errado, mas era só mais um ‘presente’ clássico da raça”, brinca ele.

Jurema também tem preferências e manias humanizadas: come de tudo, menos banana, que rejeita com uma virada de focinho. Na infância, era um “furacão” que roía móveis como um castor, mas agora é “uma moça calma e comportada”, destaca o tutor.

Jurema possui uma carteira de identidade. Imagem: cedida

A esperteza inclui escapar de coleiras como uma “ninja canina” e aventuras como fugir pela rua em dia de chuva, obrigando a família a uma caçada molhada. “Hoje a gente lembra disso rindo, mas na hora foi puro desespero”, admite Lins. E para completar, Jurema ama piscinas, e nada semanalmente, sob supervisão constante.

Histórias como a de Jurema mostram como pets se tornam “filhos substitutos”, especialmente entre jovens adultos solteiros, casais sem filhos ou idosos, o que fortalece vínculos afetivos e impulsiona o mercado pet.

Desde filhote, Jurema tem uma rotina digna de princesa. Foto: Lucas Lins/acervo pessoal

Benefícios, riscos e limites

Para entender o que motiva essa projeção de sentimentos humanos em animais ou objetos, consultamos a psicóloga e neuropsicóloga Samara Pinheiro, docente universitária e coordenadora da seção Acre do Conselho de Psicologia, com abordagem em psicanálise.

Segundo ela, o fenômeno está ligado a projeções afetivas inconscientes, baseadas em conceitos como objetos transicionais, inspirados em teorias como a de Winnicott. “As pessoas projetam algo naquele objeto, que elas gostariam muito que fosse com elas. Por exemplo, eu projeto um carinho, um amor com um animal de uma forma que eu gostaria de ser tratado ali por figuras que cuidaram de mim”, explica Pinheiro.

Esses objetos, sejam animais, bebês reborn ou IAs como o ChatGPT,  funcionam como substitutos para relações frustrantes na infância, oferecendo segurança e consolo sem medo de rejeição. 

“Desde crianças, criamos vínculos com objetos transicionais, como um cobertor ou brinquedo, que dão segurança quando o cuidador se ausenta. Na vida adulta, isso se substitui por animais, bonecos ou interações com IA, representando um espaço seguro onde a pessoa pode amar, cuidar e ser compreendida sem conflito”, enfatiza a especialista.

Entre os benefícios, ela destaca o apoio emocional, proporcionando conforto, segurança e sensação de companhia. “Pode reduzir ansiedade, depressão ou estresse, auxiliando na regulação psíquica”, destaca.

Além disso, facilita elaborações simbólicas, servindo como ponte entre o mundo interno e externo, ajudando a lidar com perdas ou transições. Para pets, há um retorno real de carinho, diferentemente de objetos inanimados. Experiências de cuidado também reforçam capacidades afetivas, como proteger e preocupar-se.

No entanto, os riscos são evidentes. “Pode levar a um empobrecimento relacional, onde as pessoas evitam relações humanas por medo de frustração e imprevisibilidade”, alerta a psicóloga. Isso pode resultar em isolamento social, fixação narcísica (onde o afeto é unilateral) e dificuldade em elaborar conflitos reais. “O animal pode dar devolutiva, mas objetos como o ChatGPT não oferecem manejo clínico genuíno”, pontua.

Perigo do isolamento

A humanização deixa de ser saudável quando perde sua função transicional e vira fuga da realidade. “Quando a pessoa se isola, evitando contatos humanos como defesa contra o sofrimento, cai em um mundo fantasioso sem conflitos, perdendo a capacidade de lidar com o real”, esclarece a psicóloga.

Pinheiro atribui o estímulo social a fatores como solidão moderna, “vínculos líquidos” e influência do mercado. “O mercado oferece alternativas para demandas afetivas, como animais tratados como filhos ou assistentes virtuais, promovendo afeição sem conflito. Redes sociais, com curtidas no Instagram, também reforçam isso”, comenta.

Sobre preencher carências emocionais, ela nota: “Sim, servem como reparação e tentativa de controle, vindos de faltas na infância como rejeição. Mas preencher não é elaborar. Se o afeto não se desloca para vínculos reais, o vazio permanece adormecido, podendo explodir em crises quando o ‘objeto’ falha”, conclui a especialista.

Redação

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