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Amor de mãe

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Por Claudya Simone Oliveira, Gercineide Maia  e John Catão

Rodrigo nasceu com uma condição especial, o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que logo foi percebido pela mãe e outros familiares. Lavínia Melo, 25 anos, empreendedora, formada em Engenharia Agronômica pela UFAC, é mãe dos gêmeos Rodrigo e Murilo Barcelos, de apenas 3 anos e 2 meses. 

Para ela, ser mãe de uma criança com TEA é um aprendizado diário, ela aprende muitas coisas com seu filho ao mesmo tempo que também ensina. “O Rodrigo é uma criança extremamente metódica, então, procuram sempre mantê-lo dentro da rotina, mas em contrapartida, é um bebê muito carinhoso e brincalhão”, declara a genitora.

Melo diz que foi observando a forma de seu filho brincar que começou a perceber algumas características: muitos movimentos repetitivos, sempre rodando objetos, gostava muito de brincar sozinho e não de socializar com outras crianças, apenas com adultos. “Notei essas características e procurei ajuda profissional”, conta.

O diagnóstico

De acordo com o Ministério da Saúde, o Transtorno do Espectro Autista (TEA)¹ é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 70 milhões de pessoas no mundo vivem com alguma forma do transtorno do espectro autista e frequentemente são sujeitas à estigmatização, discriminação e violações de direitos humanos. Globalmente, o acesso aos serviços e apoio para essas pessoas ainda é inadequado.

De acordo com a Organização Panamericana de Saúde, “o TEA começa na infância e tende a persistir na adolescência e na idade adulta. Na maioria dos casos, as condições são aparentes durante os primeiros cinco anos de vida”. E uma em cada 160 crianças têm algum grau do Transtorno.

No Brasil, a estimativa é que no país existam cerca de 2 milhões de pessoas com TEA. No Acre, segundo dados da Associação Família Azul, há atualmente cerca de 10 mil autistas, incluindo crianças e adultos.

A identificação de atrasos no desenvolvimento, o diagnóstico rápido e encaminhamento para apoio de especialistas na idade mais precoce possível pode levar a melhores resultados.

Preconceito e discriminação

Em 2012 foi aprovada a Lei 12.764, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, que segundo seu  Art. 4º,  a pessoa não será submetida a tratamento desumano ou degradante, não será privada de sua liberdade ou do convívio familiar nem sofrerá discriminação por motivo da deficiência.  

Mesmo com os últimos avanços nas leis, muitas pessoas com TEA passam por  preconceito e discriminação e a falta de informação contribui para o aumento desse quadro. Melo relata que houve um caso dessa natureza ainda quando as crianças eram muito pequenas. 

 “A ex-babá usou palavras ofensivas direcionadas não somente aos filhos, mas para toda à família e isso nos deixou muito tristes”.  No momento, não temos sofrido nenhum tipo de preconceito e esperamos que isso não aconteça mais de forma alguma. Não se trata apenas de amor de mãe, mas de um amor que ultrapassa as barreiras do coração e que defende o direito de uma criança que precisa ser respeitada pela sociedade, acrescenta Melo.

Inclusão escolar

Atualmente, Rodrigo estuda na Escola Solar Kids, onde conta com acompanhamento qualificado, que procura dialogar com a família ao desenvolver atividades. “Sempre informamos as condições de nosso filho, que se dá muito bem com os coleguinhas de sua turma. Mas essa não é realidade de todas as escolas no país, afirma a mãe.

De acordo com Art. 7º da Lei 12.764, o gestor escolar, ou autoridade competente, que recusar a matrícula de aluno com transtorno do espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido com multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários-mínimos e segundo Parágrafo 1º dessa mesma lei, em caso de reincidência, apurada por processo administrativo, assegurado o contraditório e a e a ampla defesa, haverá a perda do cargo.

Lavínia Melo deixa uma mensagem para os pais que não aceitam o diagnóstico.  “É uma condição que não passa, mas fechar os olhos para isso, eu chamo até de egoísmo, porque o quanto antes você aceitar, mais cedo você poderá ajudar o seu filho a ter um estilo de vida ‘comum’ e independente”, finaliza. 

Não deixe que a desinformação contribuía para o aumento do preconceito e discriminação!

Falando com um especialista

O Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo a psicóloga, Drª Marina Almeida, é uma condição de saúde que se caracteriza por um dano em três áreas muito importantes para o desenvolvimento do ser humano, que são: as habilidades socioemocionais, a atenção compartilhada e a linguagem. “Nos dias atuais, a ciência nos fala de muitos tipos de autismo, e não apenas um, como se imaginava, o qual se manifesta de forma única em cada pessoa” informa a psicóloga. 

A pandemia e a obrigatoriedade do distanciamento social ocasionaram grandes mudanças nas rotinas das crianças com autismo e seus familiares. “Quem convive com um autista, já sabe que a rotina é muito importante para eles, independente do grau diagnosticado. E a interrupção dessa rotina se transforma em um grande desafio para a continuidade do tratamento”, acrescenta.

Marina Almeida nos fala que o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é clínico, devendo ser feito conforme os critérios impostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), “fazendo-se uma observação direta do comportamento do paciente, e uma entrevista com os pais e/ou cuidadores”. Esse diagnóstico requer uma avaliação completa por todos os profissionais que fazem parte da equipe, para orientar o tratamento adequado.

Conforme a psicóloga, “existem alguns sinais que podem alertar os pais e professores quanto à possibilidade do TEA, sinais esses que devemos nos ater, com muita atenção, como um comportamento atípico e um desenvolvimento diferente ao que se espera para aquela faixa etária”. Ela explica que as crianças com TEA possuem certa dificuldade em olhar no olho das pessoas, costumam andar na pontinha dos pés, geralmente apresentam atrasos ou ausência da fala. 

Segundo Marina Almeida, esses sinais geralmente se apresentam antes dos 3 anos de idade. E mesmo sendo comum aos pais notarem algumas alterações no desenvolvimento dos filhos antes dos 2 anos, eles tardam a procurar por uma ajuda especializada. Mas vale ressaltar que a atenção básica é fundamental para a identificação inicial dos sinais e sintomas de risco para o portador do TEA.

Olhar nos olhos é uma estratégia comunicacional, facilita uma melhor compreensão da fala do outro, passando também a impressão de atenção, respeito e confiança. “Mas, no caso de crianças com TEA, isso não tem a menor importância, pois dão maior atenção à fala, perdendo, dessa forma, de aprender e entender os significados das expressões faciais”, explica  a psicóloga.

“A explicação para essa dificuldade de olhar no olho parece estar relacionada à forma como o cérebro dessas crianças se organiza, eles percebem o mundo de um jeito diferente, que é só dele. E essa é uma das primeiras formas de tratamento para o TEA (Transtorno do Espectro Autista), que é o fortalecimento da comunicação através do contato olho no olho”, esclarece.

Quando a criança com TEA tem um comportamento que não é adequado, esses podem ser moldados para que diminuam ou, até mesmo, deixem de existir. Para isso, têm-se à disposição a Terapia Comportamental, que trabalha visando melhorar a inserção social da criança ao meio que está inserida, ajudando também os familiares a conviver melhor com essas questões. Muitas dúvidas ainda pairam sobre possibilidades de cura, mas esta é uma condição permanente, a criança nasce e torna-se um adulto com TEA . 

Apesar de todo avanço da Ciência com pesquisas, ainda não foi possível encontrar uma cura, mas o tratamento costuma diminuir dificuldades encontradas, favorecendo o desenvolvimento e a interação social de cada pessoa.

Associação Família Azul do Acre

O grupo surgiu após 30 mães de autistas reunirem-se todos os meses para tratar algum assunto relacionado à saúde, educação, suas angústias do dia a dia, compartilhar terapias, segundo Heloneida da Gama, presidente da Associação. A partir disso, em 2014, houve o entendimento de formalizar a associação juridicamente, para que a causa pelos direitos e necessidades dos autistas se tornassem mais eficazes.

A Associação Família Azul do Acre (Afac) tem  por  finalidade  defender  os  direitos  e  interesses  das  pessoas  com  o Transtorno do Espectro Autista – TEA, devendo, para tanto, promover, apoiar e incentivar a realização de todas as ações necessárias para esse fim, podendo ainda desenvolver programas de adaptação e inclusão social das pessoas com TEA e apoio a seus familiares.

A presidente Gama deixa claro que a Afac presta assistência social às famílias que têm filhos com autismo por meio da execução direta de projetos, palestras, acolhimentos de pessoas, orientações escolares e familiares, terapias psicossociais, treinamentos a profissionais da saúde, educação, programas ou planos de ações. “Esta associação também conta com parceiros, pessoas que se disponibilizam a ajudar, doar um sacolão ou um remédio. A maior dificuldade, acredito, é que não temos uma sede própria, um espaço para receber, acolher as famílias. Não temos um profissional da psicologia ou da assistência social que nos ajude”, destaca a presidente.

A Afac possui uma página no Instagram: @afac.familia_azul, uma página no Facebook: Autismo no Acre – AFAC. 

As Instituições que atendem no momento são:

  • CER III (Estadual), com especialidade em fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional;
  • Centro Municipal de Autismo, especialidades em fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia, terapia ocupacional, equoterapia, que segundo a Associação Nacional de Equoterapia – ANDE, trata-se de um método terapêutico e educacional, que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem multidisciplinar e interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais;
  • APAE, especialidades fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia. 

Lei Romeo Mion

Sancionada com vetos em 2020, a Lei Nº 13.977 – conhecida como Lei Romeo Mion – estabelece a emissão de uma Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Seu nome foi inspirado no adolescente Romeo, de 16 anos, que é filho do apresentador de televisão Marcos Mion e tem TEA. 

A Lei Romeo Mion cria a Carteira de Identificação da Pessoa com TEA – CipTEA em sua versão abreviada – ou seja, garante a todos aqueles com o diagnóstico de autismo um documento que possa ser apresentado para informar a condição do indivíduo. Além disso, ela altera dispositivos da Lei 12.764/2012, a Lei Berenice Piana.

Garantias e benefícios da Lei Romeo Mion

Além da documentação que facilita a identificação de uma pessoa no espectro autista, a Lei Romeo Mion ainda oferece outros benefícios aos usuários. Alguns deles são: 

  • Atenção integral;
  • Pronto atendimento e prioridade no atendimento e acesso aos serviços públicos e privados (em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social).

Documentos necessários para emitir a carteirinha

A CipTEA pode ser emitida por órgãos estaduais, distritais e municipais que executam a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Ao solicitar o documento, a família deve apresentar os seguintes dados:

  • Requerimento; 
  • Relatório médico com a indicação do código da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde (CID).

O requerimento deve conter dados como: 

  • Nome completo;
  • Filiação;
  • Local e data do nascimento;
  • Número da carteira de identidade;
  • Número do CPF;
  • Tipo sanguíneo;
  • Endereço residencial e telefone;
  • Foto 3×4;
  • Assinatura ou impressão digital do interessado.

Da pessoa cuidadora são exigidos: 

  • Nome completo;
  • Documento de identificação;
  • Endereço residencial;
  • Número de telefone e e-mail.

Com validade de cinco anos, a legislação ainda exige que a família mantenha os dados cadastrais atualizados e que, sempre que a carteira for renovada, o número de identificação seja mantido. Isso porque ele permite a contagem das pessoas com TEA no território nacional.

Redação

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Saúde

As dores silenciosas das mulheres com endometriose

Para a Sociedade Brasileira de Endometriose, o diagnóstico da doença ainda é um desafio. Foto: Reprodução

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Por Beatriz Mendonça

Um momento significativo para todas as meninas é o dia do seu primeiro período menstrual. É o marco da mudança de fases, da infância para adolescência, e, por isso, se torna uma memória que permanece na mente por muitos e muitos anos. Naturalmente, não é algo fácil, sair da inocência infantil para a intensidade dos anos de adolescência, com muitos questionamentos e hormônios à flor da pele. 

Mas para algumas mulheres, esse é o início de uma vida com dores e sintomas que afetam suas vidas negativamente. Esse é o caso de Vanderleia Dias e Tácita Muniz, ambas diagnosticadas com endometriose e que começaram a sentir os sintomas, principalmente as dores de cólicas intensas, desde os primeiros ciclos menstruais. “Além de fluxo intenso, os primeiros dias eram de muita dor, inchaço, enjoo, dor nas pernas e, mais nova, muitos desmaios por conta da queda de pressão”, relata Tácita Muniz.

Nascida em Cruzeiro do Sul, Tácita Muniz é jornalista e foi diagnosticada com endometriose aos 24 anos, após seus sintomas ficarem mais graves: “Chegou ao ponto de ir várias vezes ao pronto atendimento e tomar Tramal na veia pra tentar aliviar. Isso começou a afetar diretamente meu trabalho e minha vida pessoal”, conta.

O caminho até o diagnóstico foi longo e teve início quando a jornalista fazia uma reportagem sobre mulheres que sonhavam em engravidar. Ela identificou seus sintomas com os de uma das mulheres, que tinha o diagnóstico de endometriose.

A partir daí, Tácita enfrentou um desafio comum entre as mulheres que compartilham a condição, o de conseguir o diagnóstico. “Fiz todo exame que você imaginar e não dava nada. Endoscopia, de sangue, raio-X, e ainda ouvia algumas vezes que era muito estranho eu relatar uma dor tão forte e não aparecer nada nos exames”, relembra.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Endometriose, ainda é um desafio o diagnóstico da doença, estudos revelam que há uma grande demora entre o início dos sintomas e o resultado oficial. 

Tradicionalmente, em textos ou livros, é considerado que a investigação é feita através de cirurgia e biópsia para o estudo do caso. Porém, atualmente, com o histórico ginecológico e análise dos sintomas é possível saber se a pessoa possui a doença ou não. Exames de imagem, como ressonância magnética, também podem auxiliar nesse processo.

Afinal, o que é endometriose?

No filme “Endometriose, a minha dor não é normal”, da diretora Marcia Paraiso, os médicos Claudio Crispi e Kárin Rossi explicam que é necessário entender a endometriose como uma doença inflamatória. Ela ocorre devido ao crescimento do tecido do endométrio – camada interna da cavidade uterina – crescer fora do útero, e afetar outros órgãos como ovários, tubas, intestino, bexiga, rins e entre outros. “Fora do seu habitat natural, ele é um corpo estranho, e o seu organismo então passa a brigar com ele, ele não pode estar ali. E esta briga dos nossos anticorpos com esse corpo estranho passa a dar uma reação inflamatória”, explica Claudio Crispi.

Segundo o Ministério da Saúde, ainda não são compreendidas as causas da endometriose, mas as hipóteses levantam fatores genéticos, hormonais e imunológicos. Já os principais sintomas da doença são cólicas menstruais intensas, bem como dor crônica na pelve, dores durante a relação sexual e problemas intestinais e urinários.

O tratamento é feito de acordo com fatores como a gravidade de sintomas, idade, extensão e localização da doença e entre outros. Dentre as opções estão o uso de anticoncepcionais, medicamentos para alívio dos sintomas, implante do DIU hormonal e, em alguns casos, procedimento cirúrgico. 

Mesmo com a perspectiva de melhora, o tratamento também é um processo desafiador. “Tive muitos efeitos colaterais. Desde o aumento de peso, miopia pelo uso excessivo do hormônio, perda de cálcio e eu fiquei muito inchada. Muito mesmo”, conta Tácita. Além do seu acompanhamento com o médico ginecologista, ela defende que é um tratamento que necessita ser feito com uma equipe multidisciplinar, como psicólogos e nutricionistas. “Eu passei por muitas fases. O sobrepeso, e eu ter que me reconhecer em outro corpo, por questões estéticas e também funcionais. É uma doença que só quem convive sabe. Então, é difícil você explicar o motivo de não estar bem. E os acompanhamentos médicos, dietas, são cansativos”, completa.

O suporte no tratamento

De acordo com a Sociedade Brasileira de Endometriose, 1 em cada 10 mulheres sofrem com endometriose no Brasil. Os números do Sistema Único de Saúde (SUS) revelam que de 2022 para 2024, houve um aumento de 76,24% no número de atendimentos de atenção primária relacionados ao diagnóstico de endometriose, contabilizando 145.744 atendimentos em 2024. Isso mostra um avanço recente no diagnóstico da doença, principalmente através da rede pública.

Vanderleia Dias, de 32 anos, relata como começou a ter sintomas muito cedo, com um fluxo menstrual muito intenso e as dores de cólicas intensas. Apesar dos anos com os sintomas, ela só veio ter o diagnóstico dois anos atrás. “Como a maioria dos brasileiros, a gente vai seguindo a vida de acordo com o fluxo da correria da vida, vai levando. Quando sente aquilo no mês, diz ‘eu vou me consultar’, vou atrás, mas isso acaba nunca acontecendo”, comenta. Mesmo com o diagnóstico, Vanderleia ainda não iniciou o tratamento, principalmente pelo valor elevado, em torno de 5 a 6 mil reais por ano.

No Acre, um ambulatório especializado em endometriose foi inaugurado em abril de 2025, na Fundação Hospitalar Governador Flaviano Melo (Fundhacre). A iniciativa partiu da médica especializada Fernanda Bardi, que também coordena o ambulatório, frente às queixas observadas pelas pacientes diagnosticadas com a doença. A proposta recebeu prontamente apoio da gestão do hospital e da Secretaria de Saúde do Estado (Sesacre), e em poucas semanas o projeto foi efetivado.

Conforme orientações da Sesacre, para ter acesso ao serviço é necessário o encaminhamento obtido em uma unidade básica de saúde (UBS), que avalia os sinais e sintomas da endometriose e direciona a paciente para o tratamento na Fundação Hospitalar. Nos 5 meses de funcionamento desde a inauguração, mais de 100 pessoas foram atendidas pelo serviço. “Esse número mostra a importância desse espaço, que garante diagnóstico e tratamento adequado para mulheres que, muitas vezes, sofrem em silêncio com dores intensas. Nosso compromisso é ampliar cada vez mais esse cuidado, oferecendo acolhimento e qualidade de vida às pacientes”, declara Soron Steiner, presidente da Fundhacre.

Sobre a implantação do ambulatório, Vanderleia e Tácita concordam: é um grande avanço. “Eu achei fundamental. Além de toda a dificuldade, é um tratamento bem caro, porque os exames, medicamentos, enfim, tudo, é bem caro. Além disso, amplia o debate sobre a doença e faz com que mais pessoas conheçam e consigam identificar os sintomas”, afirma a jornalista. 

Redação

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Saúde

Quem cuida de quem cuida? 

A realidade invisível dos cuidadores de idosos no Acre

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Por Raquel de Paula, Elis Caetano e Tales Gabriel

O envelhecimento da população já é uma realidade que impacta a rotina das famílias e a estrutura social brasileira. No Acre, segundo dados do Censo Demográfico 2022 do IBGE, entre 2010 e 2022 o número de pessoas com 65 anos ou mais no estado cresceu 64,9%, passando de 31.706 (4,3% da população) para 52.297 idosos, que hoje representam 6,3% dos acreanos. 

No mesmo período, a proporção de crianças até 14 anos recuou de 33,7% para 26,6%,com isso, o índice de envelhecimento, que mede o número de idosos para cada 100 crianças, chegou a 23,8 em 2022, quase o dobro do registrado em 2010.

Esse crescimento no número de idosos, embora menos acelerado que em outras regiões do país, indica um aumento na demanda por cuidados e uma redução no número de jovens disponíveis para desempenhar essa função, o que amplia a sobrecarga de quem exerce essa atividade.

Nesse cenário, está a história de Juliette Silva, cuidadora formada em um curso de três meses, que deixou Rio Branco há dois anos e se mudou para Goiânia em busca de melhores condições de trabalho. 

“A minha rotina diária como cuidadora hoje é uma carga horária 12/36 diurno, trabalho autônomo para uma agência de cuidadores aqui em Goiânia. Vim em busca de ganhar um valor melhor, pois em Rio Branco a profissão é mais desvalorizada”, afirma. 

Suas atividades diárias incluem administrar medicações via oral, dar banho, cuidar da higiene, trocar fraldas, fornecer alimentação e garantir o banho de sol. Mesmo com formação técnica, ela avalia que “mudaria nossa vida a valorização do nosso trabalho. Que pudéssemos ter nossos direitos trabalhistas reconhecidos como profissionais que somos. Infelizmente, nossa profissão é registrada em carteira como uma função doméstica. Isso é muito injusto.”

Juliette considera o cuidado com idosos uma missão, mas destaca o custo emocional envolvido, que afeta diretamente a saúde física e mental de quem cuida. “Nossa profissão é linda, vai além de uma profissão. Eu costumo dizer que é uma missão. Mas, infelizmente, existem muitos cuidadores que são explorados por famílias, que desviam as funções e sobrecarregam o cuidador, pedindo para fazer outras tarefas além de cuidar do idoso.”.

O relato de Juliette reflete a rotina de muitos cuidadores, marcada por jornadas extensas, múltiplas responsabilidades, baixa segurança trabalhista e vulnerabilidade emocional. Grande parte atua como autônomo ou é formalmente enquadrada como empregado doméstico, o que reduz direitos como jornada regulamentada, descanso remunerado, FGTS e contribuição para aposentadoria.

Embora o Estatuto da Pessoa Idosa estabeleça direitos como assistência à saúde e à dignidade, o cuidador, figura essencial nesse processo, ainda carece de políticas públicas específicas. O Ministério da Saúde oferece cursos e capacitações por meio da UNA-SUS, mas a abrangência dessas ações para cuidadores familiares ou autônomos, especialmente no interior do Acre, é limitada.

Sobrecarga

A ausência de uma rede de apoio estruturada tem reflexos diretos na saúde física e emocional de quem cuida. A psicóloga e psicanalista Sara Saraiva destaca que os impactos sobre a saúde mental dos cuidadores já estão implícitos na própria pergunta que norteia este trabalho: “Quem cuida de quem cuida?”. Segundo ela, é comum que esses profissionais, e também familiares que assumem a função, acabem esquecendo de cuidar de si mesmos.

“Surge aquela sensação de: Se eu não fizer, quem vai fazer? Mas também é preciso pensar: E quem faz por mim?”, afirma.

Essa dedicação exclusiva, explica Saraiva, pode gerar estresse e um sentimento de culpa excessiva por não se permitir descansar, por sentir-se cansado ou, até mesmo, por não querer cuidar em determinados momentos.

“Muitos acabam se perdendo de si e passam a viver quase que integralmente a vida da pessoa assistida”, acrescenta.

De acordo com a psicanalista, essa sobrecarga emocional e física, quando acumulada, pode desencadear crises de estresse intenso, quadros de ansiedade e até depressão. Para ela, prevenir o adoecimento exige a atuação conjunta da família, da sociedade e do poder público.

“No caso de cuidadores familiares, é fundamental dividir tarefas e responsabilidades. Também é necessário oferecer suporte psicológico e acompanhamento dentro da rede pública de saúde. A prevenção começa com a conscientização: entender que, embora cuide do outro, essa pessoa também precisa de cuidado, acolhimento e de olhar para si, lembrando que sua vida não se resume àquele que ela assiste”, conclui.

Rede de apoio

Além de profissionais autônomos, o Acre também conta com iniciativas coletivas que tentam suprir a carência de apoio. É o caso do Anjos do Cuidado, grupo fundado por Benedita do Anjos Silva, que hoje reúne mais de 200 cuidadoras e técnicos. Ela conta que a ideia nasceu de forma espontânea e cresceu rapidamente.

“Eu criei esse grupo porque, depois que me formei como técnica, fui trabalhar em uma família e, com o tempo, as pessoas foram conhecendo meu trabalho e me chamando para cuidar de outros pacientes. Chegou um momento em que eu não conseguia dar conta sozinha, então comecei a convidar colegas”, explica. 

No início, era um grupo de WhatsApp com três ou quatro pessoas, atualmente são 232 profissionais prestando serviços em hospitais e domicílios. São atendidos pacientes que precisam de ajuda para se locomover, acompanhar consultas ou até viajar. “Tudo começou pequeno, mas virou uma rede de apoio muito importante”, afirma a técnica.

Para Benedita dos Anjos, um dos maiores desafios é a falta de planejamento das famílias.“Muitos só pensam em contratar um cuidador quando o idoso já está debilitado ou quando a família já está emocionalmente sobrecarregada. Se houvesse essa contratação preventiva, o cuidado seria melhor para todos”.

Apesar da rotina intensa e da pouca valorização profissional, cuidadores também precisam de atenção e cuidado, como mostram as iniciativas que apostam em solidariedade e compreensão.

Redação

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Saúde

Aumento da busca por dietas radicais levanta alertas sobre os riscos à saúde

Nos últimos anos, a busca por dietas radicais para emagrecimento rápido tem se intensificado, principalmente com o impacto das redes sociais, onde promessas de perda de peso acelerada ganham visibilidade. Essas dietas, muitas vezes extremamente restritivas, podem levar a resultados imediatos, mas, segundo especialistas, podem acarretar sérios riscos à saúde. Em busca de um corpo magro em um curto espaço de tempo, muitas pessoas optam por eliminar tipos de alimentos ou reduzir drasticamente a ingestão calórica, sem considerar as consequências a longo prazo.

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Por Raquel de Paula e Antônia Liz 

Nos últimos anos, a busca por dietas radicais para emagrecimento rápido tem se intensificado, principalmente com o impacto das redes sociais, onde promessas de perda de peso acelerada ganham visibilidade. Essas dietas, muitas vezes extremamente restritivas, podem levar a resultados imediatos, mas, segundo especialistas, podem acarretar sérios riscos à saúde. Em busca de um corpo magro em um curto espaço de tempo, muitas pessoas optam por eliminar tipos de alimentos ou reduzir drasticamente a ingestão calórica, sem considerar as consequências a longo prazo.

O nutricionista Ítalo Oliveira alerta que as dietas radicais podem causar uma série de efeitos colaterais negativos. “O indivíduo pode apresentar fraqueza, tontura, dores de cabeça, cansaço, mau humor, indisposição, dificuldade de concentração e até desmaios. Além disso, essas dietas sobrecarregam órgãos como fígado e rins e podem resultar em carências nutricionais graves, como anemia”, afirma. 

As dietas radicais representam um perigo cada vez maior. Foto: Reprodução

O especialista destaca ainda que a redução drástica de calorias desacelera o metabolismo, prejudicando a produção de hormônios essenciais, como T3 e leptina, que regulam o controle do peso e a sensação de fome. “Isso pode levar à perda de massa muscular e, consequentemente, ao efeito sanfona, no qual o peso perdido é rapidamente recuperado, muitas vezes com aumento de gordura corporal maior”, completa o nutricionista.

Além dos danos físicos, a saúde mental também pode ser severamente afetada pelas dietas restritivas. Ítalo Oliveira ressalta que a falta de carboidratos, por exemplo, impacta a serotonina, o hormônio responsável pelo bem-estar, gerando mudanças de humor, ansiedade e até transtornos alimentares. 

“Dietas radicais aumentam os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, o que pode causar compulsões alimentares, irritabilidade e perda de foco, prejudicando também o desempenho físico, principalmente no esporte”, explica.

Magreza extrema é tema de debates na atualidade. Foto: Reprodução

O especialista alerta que a solução para uma perda de peso saudável deve ser baseada na reeducação alimentar aliada à prática regular de exercícios físicos, evitando métodos extremos. A chave é adotar um déficit calórico moderado e ajustável, sem eliminar grupos alimentares essenciais.

 “A ingestão de proteínas deve ser priorizada para preservar a massa muscular, enquanto carboidratos e gorduras precisam ser distribuídos estrategicamente para garantir energia e equilíbrio hormonal. O treinamento de força, combinado com atividades aeróbicas, deve ser ajustado de acordo com as necessidades individuais”, conclui. 

Redação

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