Siga a Catraia

Cotidiano

O chefe está na calçada

Publicado há

em

Bazar Chefe, comércio tradicional no Centro de Rio Branco, vende de tudo um pouco para uma clientela fiel conquistada ao longo de mais de 50 anos

Por Camila Gomes e Maria Fernanda Arival

“O chefe ‘tá’ na calçada”, diz o jornalista Washington Aquino todas as manhãs no telejornal que apresenta. Durante os últimos 50 anos, seu Tancredo Lima, mais conhecido como Seu Chefe, está à frente do seu comércio, o Bazar Chefe, localizado bem no Centro da cidade de Rio Branco, vendendo, proseando, administrando e também fazendo novos clientes.

Aos 15 anos, Seu Chefe e sua esposa, Maria José, se casaram e resolveram abrir o próprio empreendimento. Conseguiram um pequeno espaço na beira do rio onde, naquela época,  só havia barrancos e pequenas casas de madeira. Hoje o lugar é conhecido como Mercado Velho e se tornou uma das principais atrações turísticas da capital acreana. O  casal vendia vassouras de palha, que encomendavam com um amigo de Belém, no Pará; tabaco, produzido aqui mesmo, no Acre, e cigarros. Desde o primeiro dia nomearam a simples loja de Bazar Chefe.  

Onde tudo começou. A Loja Bazar Chefe teve início nessa porta, à beira do Rio Acre, na época. Foto: Camila Gomes

Aos 67 anos, Seu Tancredo conta que o nome Chefe vem desde os oito anos de idade. Seu pai o apelidou assim pois já era uma criança responsável por muitas tarefas e, enquanto o pai estava fora, ele era o homem da casa. Por ser muito obediente e dar conta dos serviços que o pai designava era considerado um pequeno grande chefe na época. 

De tudo um pouco

Quando pensaram em abrir o próprio negócio, o nome já estava pronto: “bazar” por  ser um lugar onde se vende diversos tipos de produtos e mercadorias e “chefe” por ser o apelido que o pai lhe deu quando criança. Ao longo dos anos, Seu Chefe foi percebendo que a clientela era diversa e ele prestava bastante atenção no que as pessoas procuravam no mercado. Foi aí que começou a trazer para seu estabelecimento de tudo um pouco. 

Na tradicional loja, a população de Rio Branco encontra os mais variados objetos e utensílios, desde lamparina, ferro à brasa, botas de borrachas, rádio com antenas, peças para panelas de pressão e, até mesmo, raquetes elétricas para matar os carapanãs – nome regional dos mosquitos. A gama variada de produtos é uma das principais características da loja. Cordas, pulverizadores de veneno, tábuas, vassouras, funis e muitos outros objetos fizeram a fama do estabelecimento que, para quem perguntar onde encontrar qualquer um desses artefatos tradicionais, a resposta será: “vai no Bazar Chefe, ‘maninha’, lá tu encontra”.

Os anos foram passando, o número de clientes crescendo e Seu Chefe construindo seu legado. Teve dois filhos: Cleudo José, hoje com 46 anos, e Cleide Sandra, com 41. Com a esposa, Maria José,  passou 42 anos em sua vida, mas infelizmente há sete anos ela faleceu por complicações renais.

“Meus filhos foram criados aqui. Minha esposa amava o comércio, adorava trabalhar, estava aqui no Bazar Chefe todos os dias. Gostava de vender, limpar, conversar com os clientes, ela gostava muito de tudo isso aqui. A Maria José foi a única mulher que amei na vida, era minha companheira de verdade. A última vez que nos falamos foi quando os médicos já haviam dito que não tinha mais jeito, então a olhei de longe, ela sorriu levantando o polegar dando um “legal” e eu entendi aquilo como nossas últimas palavras. O Bazar só existe hoje porque tive o apoio dela, desde o começo”, recorda.

Seu Chefe e os dois filhos, Cleudo José e Cleide Sandra. Foto: Camila Gomes

Entre os orgulhos de Seu Chefe estão a amizade construída com muitos clientes durante tantos anos de labuta e o público diversificado que conquistou. “Durante todos esses anos conquistamos uma clientela mista, do povão mesmo. Aqui na loja vem do pedreiro ao desembargador, gente dos municípios, colônia, nosso público é diversificado”, conta.

Fora das redes sociais

Ao começar o negócio, Seu Chefe não imaginava crescer e ganhar todo esse reconhecimento com o Bazar. Hoje, o comércio não faz uso de nenhuma rede social para promover a loja. Cleudo José, filho mais velho do Seu Chefe, explica que até já tentaram introduzir a loja no mundo virtual, mas não é algo que deu retorno. “Meu pai tem a clientela há mais de 50 anos e é uma clientela fiel, o comércio tem um nome na praça. Ele é bem atualizado, mas não tanto para trilhar nesse caminho das redes sociais, ele prefere da forma tradicional mesmo”, diz.

Cleudo José acrescenta que o pai tem a propaganda do comércio em apenas um lugar, que é no programa do jornalista Washington Aquino, que alcança até hoje não só as pessoas da zona urbana, como também da zona rural. “Tem muita gente que vem de outros municípios dizendo que ouviu sobre o Bazar Chefe no programa e pedem até pra tirar foto com o pai, então, ele vê que assim continua dando resultados e prefere que continue nesse formato. Se fossemos um comércio que começou há dez anos, por exemplo, realmente seria crucial o uso da internet, das redes sociais e tudo que esse mundo virtual oferece, mas são 50 anos de história e um nome conhecido no Estado”, comenta o filho do Seu Chefe.

Seu Chefe, proprietário. Foto: Camila Gomes

Negócio de família

Cleudo José, filho mais velho de seu Chefe, conta que começou a ajudar no Bazar desde pequeno, tanto ele quanto a irmã sempre o ajudaram a cuidar da loja.  Após começar a  faculdade de Educação Física, curso que não concluiu, percebeu que queria mesmo era estar ali no comércio, no meio das vendas e dos negócios da família.

Já a irmã, Cleide Sandra, concluiu o curso de Psicologia. Sempre esteve no Bazar Chefe, observando os pais trabalhando, fazendo clientes e crescendo no mercado, e com o passar do tempo começou a trabalhar também. Como seu único contrato foi ali, Sandra quis experimentar algo novo e sua paixão era a Psicologia, foi aí que entrou na faculdade, concluiu o curso, mas percebeu que amava mesmo era estar ali no comércio. Então decidiu se especializar, cursou Administração de Empresas e aos 41 anos é responsável por outra loja da família. 

“A loja fica aqui na frente do Bazar Chefe, também vende todo tipo de coisa. Eu continuo amando a Psicologia, mas meu coração é aqui no comércio, com os clientes, vendendo mesmo. Ver meus pais trabalhando juntos me fez ter gosto por isso, um dava suporte para o outro. É vocação e prática, não adianta chegar aqui e ter um currículo cheio de especializações e cursos, mas não ter amor por isso. Até hoje aprendo com meu pai, o comércio é uma caixinha de surpresas e eu gosto de descobrir algo novo todos os dias”.

Para a filha caçula, a internet é uma mão na roda, muito necessária nos dias de hoje, mas eles vendem e fazem clientes diariamente sem o uso do mundo virtual. Os anos de experiência e nome no mercado fazem do Bazar Chefe uma empresa diferente, com legado, histórias e fama que passa de geração em geração no estado do Acre.

Dona Dorisneide, mais conhecida como Neide, é funcionária do Bazar há 12 anos e afirma que mesmo com o mundo mergulhado na internet, no Bazar Chefe não tem disso. Para ela,  o Bazar Chefe é realmente um comércio diferente e a utilização da internet para promover a loja não seria algo que faria tanta diferença. “Aqui é tudo no modo tradicional: o cliente chega, pergunta o preço, realizamos a venda e pronto, lá se vai mais uma pessoa satisfeita”, destaca.

Dona Neide, funcionária mais antiga do estabelecimento. Foto: Camila Gomes

A vendedora Neide relembra a dificuldade que enfrentou assim que começou a trabalhar no Bazar Chefe. “Assim que cheguei aqui, com 30 anos de idade, estranhei bastante, porque tinha de tudo pra vender e tive uma certa dificuldade em memorizar o preço de cada objeto, mas depois de um mês eu já estava acostumada e sabia o preço de cada produto”. 

A boa relação com os clientes é um dos motivos que faz Neide gostar muito de trabalhar no Bazar Chefe. “Também tenho meus clientes, alguns de outros municípios.  Eles me ligam pra saber se chegou alguma mercadoria específica ou se tem algum produto que eles estão precisando. Se tem, eu já deixo separado para virem buscar, tem outros que já chegam aqui perguntando: “cadê a Neide?”. Eu gosto de trabalhar aqui, conheço tudo: mercadoria nova, preços, é o que eu sei fazer de melhor, vender”. 

Pandemia

Como em grande parte do comércio, a pandemia de Covid 19 foi um desafio para Seu Chefe e o Bazar. “Foi um momento que deixou o comércio ‘baqueado’ e quando veio o lockdown foi uma grande preocupação, tivemos altos e baixos durante esse período, mas hoje estamos nos recuperando”, diz.

Loja se tornou tradicional em Rio Branco, capital do Acre. Foto: Camila Gomes

A paixão pelo comércio faz com que Seu Chefe peça para encerrar esta matéria com uma mensagem aos jovens.“Vejo muitos jovens desistindo do comércio muito rápido. É complicado mesmo, mas o comércio é um bom negócio. Hoje em dia é mais difícil, tudo é mais complicado e requer atenção, tem que ser esperto, ter uma cabeça estruturada, não é fácil, mas perseverando e persistindo, dará bons frutos. Tem que usar muito da internet hoje, aproveitar o que dá retorno e fazer dar certo”, finaliza.

*Esta reportagem foi produzida no primeiro semestre letivo de 2021.

Redação

Continue lendo
1 Comment

1 Comments

  1. Pingback: Há 20 anos contando histórias, A Catraia inicia nova fase celebrando o passado e mirando no futuro – A Catraia

Deixe sua mensagem

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Cotidiano

Uma matéria sobre uma outra matéria

Os acreanos realmente migraram para outros estados em busca de emprego e qualidade de vida? Foto: Odair Leal/Secom

Publicado há

em

por

Por Victor Manoel

A Catraia publicou, em janeiro de 2022, uma matéria sobre “um número significativo de acreanos que estaria migrando para outros estados, em busca de melhores condições de vida”. Caso você já tenha participado de alguma das aulas de Ética do curso de jornalismo na Universidade Federal do Acre, deve ter ouvido falar dela. Essa narrativa, alimentada por relatos pessoais e sem dados precisos, encontrou eco nas aulas da professora Franciele Modesto, revelando desafios da apuração jornalística.

O que chamava a atenção era que “naqueles anos, esse assunto estava em alta. A gente ouvia muito frases como: ‘minha amiga se mudou para outro estado’ ou ‘muita gente está se mudando para outros lugares’”, relata Carolina Torres, a universitária e, agora, assessora de imprensa, que assinou o texto. 

Para Modesto, professora do curso de Bacharelado em Jornalismo, o profissional precisa conferir se as informações procedem e, ao divulgar dados oficiais, se as interpretações são pertinentes. Quando há dúvida, o caminho é consultar outros profissionais que possam auxiliar na discussão e análise do assunto.

Na região Norte, o Acre e Amapá exibiram taxas líquidas negativas de -2,86% e -2,40%, respectivamente. Quando observados os dados da principais UF de residência, as UF do Norte registraram fluxo migratórios significativos direcionado à Região Sul, bem como migração interna na própria macrorregião. O destaque foi para Santa Catariana e Paraná, os principais destinos de emigração de todos os estados do Norte, com exceção do Tocantins. O Acre registrou 23,1% dos seus emigrantes para Rondônia, 13,9% para Santa Catarina e 10,1% para o Amazonas.

Os perigos da desinformação

Segundo o Instituto Locomotiva, cerca de 90% da população brasileira admite ter acreditado em conteúdos falsos reproduzidos em redes sociais. Gisele Almeida, editora-chefe do site AGazeta.net, aponta para alguns “sinais” de que uma matéria pode carecer de apuração: 

“Quando aquele material não tem outras fontes, é o material muitas vezes só com uma fonte ou aquele material que foi só escrito pelo próprio jornal, eu já desconfio, né? Eu fico cadê a fonte oficial, cadê a fonte X a fonte Y?”. 

O caso da migração acreana, segundo Modesto, revela “análises equivocadas de dados que induzem a opinião pública a pensar que não é uma boa decisão morar no Acre porque as condições de vida, de modo geral, são ruins”. Por conta disso, ela apontava criticamente o texto. Apesar do texto ser fruto de um fenômeno social que estava em alta, como afirma a ex-discente do curso que redigiu a matéria.

“A hipótese é que sim, caso não haja políticas públicas eficientes de emprego decentes, segurança, infraestrutura urbana, saneamento básico, atividades de lazer e cultural no estado para que a essa população, em especial a juventude, possa querer permanecer no estado”, disserta o Prof. Dr. José Alves do curso de Geografia da Ufac, sobre se houve ou não um ciclo de migração.

Modesto cita a notícia do “A Catraia” de 2022, que em seu lead afirmava a saída de acreanos por “falta de segurança pública, ausência de emprego e qualidade de vida”, sem apresentar números ou pesquisas que comprovassem a dimensão ou as causas da migração, mas com base na fala de pessoas que fizeram o processo descrito.

É preciso apurar

Em casos extremos, a falta de checagem pode ter impactos devastadores, como a exposição e até a morte de pessoas inocentes, como ocorreu no caso de uma mulher na Cidade do Povo, linchada por conta de uma fake news, mencionado por Almeida, em 2025. A resposta da redação, quando há suspeita de erro, deve ser “imediata”: 

“A gente arquiva aquele material e vai apurar onde está essas informações erradas”. Para Almeida, preza-se pela “veracidade” e pela “ética”.

Carolina Torres, responsável pela matéria inicial do “A Catraia”, admite que a primeira abordagem foi mais focada apenas nos relatos de pessoas próximas, muito se devendo ao tempo apertado que envolve conciliar vida profissional e a próxima avaliação do semestre: 

“Naquele momento, não utilizamos dados, queríamos apenas relatar os motivos que levavam as pessoas a partir”, diz. Ela explica que a pauta surgiu em um contexto pós-pandemia, com demissões, fechamento de empresas e crise no Sistema Único de Saúde, o que reforçava a percepção de que muitas pessoas queriam sair do Acre.

“Uma cidade que não consegue manter bons níveis de saneamento básico, ausência de atividades de lazer para a juventude, programas efetivos de empregabilidade e geração de renda, certamente funciona muito mais como local de expulsão de população do que atração de mão de obra qualificada”. Para o professor Alves, essa realidade pode ser observada nas condições de transporte, trafegabilidade e manutenção das vias públicas, e não se restringe a execução dos governos municipais,  pois os investimentos dependem das parcerias desses com os governos estadual e federal, revela.

Uma outra matéria

Com o tempo, a percepção de Carolina Torres mudou, e sua relação com o tema se aprofundou. “Na primeira matéria, o enfoque era mais no relato; na segunda, trouxemos dados concretos”, afirma.

A segunda matéria, que ela cita, foi publicada pela Agência de Notícias do Acre em 28 de julho de 2025 e foi justamente para “explicar dados do IBGE e desmentindo, a partir de dados, que os acreanos, nos últimos anos, se mudaram em grande quantidade para SC”, declara Torres.

Redação

Continue lendo

Cotidiano

Outubro Rosa

Mulheres são a maioria das pacientes abandonadas pelo companheiro após diagnóstico de câncer. Foto: Reprodução/Internet

Publicado há

em

por

Paula Amanda e Thaynar Moura

O mundo de uma mulher acreana, de 37 anos, virou de cabeça para baixo ao receber o diagnóstico de câncer de mama, do tipo triplo negativo, em 2023. Nesta reportagem ela será chamada de Ana, e foi um pedido da mesma não ter sua identidade e informações pessoais divulgadas, uma vez que ela teme que o marido vá embora de vez. 

Ana é moradora do município de Feijó, distante 363 quilômetros da capital do Acre. Ela estava casada há quatro anos, mãe de uma menina e vivia bem com o marido, mas o diagnóstico e inicio do tratamento começaram a escancarar e acentuar problemas na relação do casal, que iniciou um ciclo de crises.

“Ele vive terminando e voltando comigo. Fiz a primeira parte da quimioterapia e a cirurgia nesse vai e volta. Não tenho forças para ficar totalmente sozinha nesse momento, mas também não consigo colocar um ponto final, para não maltratar”, conta Ana.

Ela está entre as 70% das pacientes oncológicas que lidam com o abandono do parceiro, neste momento, segundo dados da Sociedade Brasileira de Mastologia. No Acre, 135 novos casos foram registrados, sendo que 35% destes foram entre mulheres de 50 a 69 anos e um caso em um homem, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre). Em 2022, a produção de mamografias no Sistema Único de Saúde (SUS) no estado incluiu cinco mil exames de rastreamento e 836 exames diagnósticos, conforme os dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Ano passado, o câncer voltou em Ana, do mesmo lado e agora ela repete a quimioterapia, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e se prepara para realizar um procedimento cirúrgico denominado “esvaziamento de axila”, uma vez que segunda ela, desta vez a doença voltou com metástase. 

“São dias muitos difíceis, a gente não tem nem força pra lutar direito”, revela a paciente. 

Na contramão desse dado triste em que Ana se enquadra, vive a enfermeira e diretora de gerenciamento de Unidades Próprias, Celene Prado. Ela foi diagnosticada com câncer de mama, em setembro de 2024, aos 60 anos. Casada há 39 anos com o servidor público federal Epaminondas Maia, ela conta que o apoio do marido, das filhas e da família foram fundamentais para o bom andamento do seu tratamento. 

“Enfrentar e tratar um câncer é um sofrimento muito grande, só sabe quem passa. Eu mesmo sendo uma profissional da área da saúde não imaginava que fosse tão difícil, cansativo e desafiador. Contei com bons profissionais, acesso a bons tratamentos, o apoio, o amor e a ajuda, do meu marido, minhas filhas, netas, sobrinhas, irmãs, enfim, amigos e família”, disse.

Mês de outubro é dedicado à campanha de prevenção do câncer de mama. Foto: Danna Anute/Secom

Uma pesquisa publicada no Journal of the Psychological, Social and Behavioral Dimensions of Cancer, mostrou que mulheres que contaram com o apoio do parceiro, filhos ou outros membros da família sofreram menos com ansiedade e depressão durante o tratamento do câncer de mama. 

A médica oncologista, Dra Lyvia Bessa, responsável pelo Centro de Prevenção, Tratamento e Pesquisa do Câncer do Acre, explica que o apoio das famílias, e no caso das mulheres, o apoio de seu companheiro é fundamental para o sucesso do tratamento. “A família, o companheiro é como um pilar que funciona ajudando o paciente a vencer os diversos desafios do tratamento, físicos e emocionais. Esse apoio ajuda a reduzir o estresse, a ansiedade e melhora a adesão ao tratamento”, relata.

Redação

Continue lendo

Cotidiano

Malabarismo entre estudo e trabalho

A rotina dos jornalistas em formação que buscam qualidade nas produções e lidam com a sobrecarga das demandas. Foto: Reprodução/Internet

Publicado há

em

por

Por Fernanda Maia, Gabriel Vitorino e Jhenyfer Souza

O cotidiano dos estudantes de Jornalismo da Universidade Federal do Acre (Ufac) é marcado por uma realidade presente não só no estado do Acre, mas em todo o cenário nacional: a necessidade de conciliar formação acadêmica e experiência prática em um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo. 

Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais  (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego, aproximadamente 35% dos estudantes de Comunicação Social, das áreas de Publicidade ou Jornalismo, já realizam estágios e possuem vínculos empregatícios formais antes de se formar, seja com carteira de trabalho ou como pessoa jurídica.

A formação acadêmica em Jornalismo oferece os fundamentos teóricos e o pensamento crítico necessário para o exercício da profissão. Enquanto nas salas de aula, os estudantes compreendem o papel social da imprensa e aprendem sobre apuração, redação jornalística e ética profissional de forma predominantemente teórica, no mercado de trabalho eles têm que lidar diretamente com a prática da profissão. 

Os estágios ou empregos, que possuem regras fixas e impõem prazos curtos para entrega de matérias e demandas, permitem que os futuros jornalistas entendam as demandas do trabalho e tenham noção da realidade da profissão em que estão inseridos. Segundo uma pesquisa do Perfil do Jornalista Brasileiro (Fenaj, 2021), 62% dos profissionais afirmam que o estágio foi decisivo e essencial para suas formações como profissionais.

Para muitos, essa rotina dividida entre aulas, trabalhos acadêmicos, estágios e empregos é enriquecedora, constrói boas experiências e aprendizados, mas também é vista como um desafio. Algumas vezes esse acúmulo acaba testando limites físicos e emocionais durante os quatros anos da faculdade. 

No Acre, onde a imprensa é concentrada em poucos veículos midiáticos, estudantes de Comunicação destacam que a desvalorização da profissão, a pressão por qualificação, exigência de serem multitarefas e a concorrência com influenciadores digitais são vistos como alguns dos obstáculos enfrentados no cotidiano de quem busca estudar e construir uma carreira no jornalismo local.

Em entrevista, Ludymila Maia, 22 anos, assessora de comunicação da OCA, destacou a importância desse trabalho duplo, mas também as dificuldades encontradas: “Conciliar o trabalho e os estudos é de fato uma dificuldade, porque em certos momentos a gente acaba tendo que priorizar um e deixando o outro em segundo plano”.

Ela explica que algumas demandas fogem dos horários agendados e acabam tomando um tempo de foco nos estudos ou em sala de aula. “Sempre deixei a faculdade como primeiro plano, mas teve momentos que eu tive que trazer essa prioridade para o trabalho, por diversas questões”, disse.

Ela destacou que o conhecimento adquirido na universidade e a experiência prática do mercado de trabalho são enriquecedores, mas que existe uma falta de sincronia entre os dois muitas vezes, devido à dificuldade de realizar algumas das questões práticas nas salas de aula. 

“Eu sinto que a gente ainda está um pouco defasado em questões práticas dentro da universidade e essas partes práticas eu só fui aprender mesmo quando eu cheguei a trabalhar profissionalmente dentro de uma redação, dentro de uma assessoria.” No entanto, apesar das dificuldades encontradas em sua rotina, Maia afirma que em nenhum momento pensou em desistir do curso.

“Nunca cogitei trancar ou desistir, mesmo com esses momentos de dificuldade. Eu acho que o jornalismo deve ser levado muito a sério, e a questão acadêmica é essencial para a nossa construção profissional”, relatou Maia.

Sobrecarga

Para jornalistas que conciliam o estudo com o seu trabalho, as multitarefas, e o acúmulo de funções, junto com a cobrança de prazos curtos, uma das dificuldades apontadas é a a sobrecarga. 

Isabelle Magalhães, 20 anos, estagiária no site A Gazeta do Acre, contou que possui tempo para os estudos, mas que já se sentiu sobrecarregada ao perceber a intensidade do trabalho jornalístico. Mas sua paixão pelo curso a manteve na formação acadêmica, mesmo percebendo a contradição entre jornadas exaustivas e certa desvalorização da profissão.

“Acredito que todo estudante, em algum momento da vida acadêmica, já pensou em trancar o curso e comigo não foi diferente. Já considerei essa possibilidade, tanto pela sobrecarga quanto pela percepção de como o trabalho do jornalista é intenso e, muitas vezes, pouco valorizado. Isso pode ser bastante desmotivador”, comentou.

Enquanto na universidade os prazos permitem que apurações e textos sejam feitos com mais calma e dedicação, nas redações jornalísticas a pressão por entregar demandas em prazos curtos está presente na rotina. Profissionalmente este é um fator determinante e apurações precisam ser feitas rapidamente, mas com boa qualidade, o que muitas vezes causa insegurança nos iniciantes. 

Isabelle Magalhães percebe essa diferença entre a faculdade e o mercado de trabalho: “A rotina dentro da redação, muitas vezes, não permite que eu desenvolva uma matéria com o mesmo nível de aprofundamento e elaboração que um trabalho da faculdade exige”, disse.

Gisele Almeida, de 25 anos, é editora-chefe do site Agazeta.net, formada em Jornalismo pela Ufac e hoje mestranda em Letras,  e vive uma rotina ainda mais intensa. Ela realiza plantões, faz coberturas de última hora para seu trabalho e precisa conciliar essas funções com suas leituras de mestrado. Ela admite que também já pensou em desistir dos estudos por conta do trabalho mas, apesar das dificuldades, ela ressalta que esse tipo de conhecimento a enriquece profissionalmente.

“Eu falei para o meu orientador: Eu vou desistir, talvez eu nem seja para isso, talvez o mestrado nem é algo para mim”, por constatar o quanto é difícil, mas afirma que vai persistir até o final. “Quando eu coloquei isso na minha cabeça. de terminar, acho que isso me deu mais força. O programa é muito bom, tem excelentes professores, são conteúdos riquíssimos, então, é uma coisa que tá valendo muita pena para mim como pessoa e como profissional”, desabafou.

Amor pela profissão

A desregulamentação da profissão, o avanço de influenciadores nas mídias e o excesso de fake news são temas que impactam diretamente a rotina desses profissionais e preocupam tanto os estudantes quanto os jornalistas que já exercem a sua profissão. Algumas funções antes exercidas por jornalistas acabam sendo saturadas por pessoas que não tem compromisso e responsabilidade com conteúdos que produzem e profissionais da área ficam desvalorizados.

Com esperança de que a área da Comunicação continue se expandindo, Maia  também se preocupa com a manutenção da boa qualidade oferecida. “A gente vê hoje em dia que todo mundo acha que se pegou um celular e uma lapela na mão, automaticamente você se torna jornalista ou comunicador. E pra mim não é assim que funciona”, criticou.

A estudante-assessora defende a volta da obrigatoriedade do diploma para ser jornalista, pois para ela a formação garante a qualidade das apurações e a responsabilidade ética ao publicar informações. 

“Eu acho que jornalistas e comunicadores devem partir de dentro da academia, de dentro de faculdades de jornalismo, de propaganda e publicidade. Isso é muito importante. Não é à toa que hoje em dia não existe a obrigatoriedade do diploma pra você ser considerado jornalista e eu acho que isso é praticamente um crime pra nossa área”, comentou.

Assim como ela, Gisele Almeida compartilha do mesmo pensamento, e acredita que jornalistas merecem mais reconhecimento, inclusive financeiro, levando em consideração as  sobrecargas que tem no trabalho. 

“O que eu espero da profissão é a obrigatoriedade do diploma, pois eu acho que jornalista tem que ter diploma e ponto, para mim isso é extremamente importante. E que a gente seja mais valorizado financeiramente, o nosso salário é muito ruim, péssimo. E também que a gente não tenha tanta sobrecarga de trabalho. O jornalista acaba trabalhando em feriados, acaba trabalhando no sábado e domingo”, disse.

Apesar das críticas às dificuldades em conciliar o mercado de trabalho com os estudos acadêmicos na rotina dos jornalistas, as estudantes reconhecem a importância da Ufac em suas formações, e valorizam o aprendizado recebido por meio de aulas, estágios e trabalhos acadêmicos. 

“A vontade de saber, aprender e conhecer é essencial para um jornalista, especialmente no mercado de trabalho. Sempre fui uma pessoa muito curiosa, e o curso de jornalismo intensificou ainda mais esse lado em mim”, afirmou Isabelle Magalhães, que recomenda humildade para aprender.

Independente da rotina, que muitas vezes pode ser difícil, os estudantes acreditam que o jornalismo ainda tem o poder de transformar a sociedade, já que, por trás das dificuldades da profissão, eles também conseguem fazer a diferença ao informar a sociedade. 

“Dentro do jornalismo eu percebi uma grande paixão que eu tenho por contar histórias, por ouvir histórias, por de alguma forma ajudar um cidadão, a população que tá precisando de uma informação.E que essa informação chegue com qualidade, de uma forma simples para que todos entendam, sem grandes burocracias”, comentou Maia.

Conciliar as exigências acadêmicas e as demandas do mercado de trabalho pode muitas vezes ser desafiador, principalmente quando se trabalha com prazos curtos para a entrega de matérias, dificuldade de contatar fontes, equipes pequenas. E mantendo a responsabilidade ética e a apuração aprofundada. No entanto, toda experiência é importante e faz parte do desenvolvimento profissional do jornalista.

“Eu sou muito realista, porque não é uma profissão fácil, mas eu sempre falo, é uma profissão apaixonante, é uma profissão que você tem que ter paixão para fazer. E graças a Deus eu sou muito apaixonada pelo meu trabalho e pela pela área que eu escolhi, mas tendo consciência”, finaliza Almeida.

Redação

Continue lendo

Mais Lidas