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Realidades Paralelas: acreanos adotam novos hábitos no ambiente virtual durante a pandemia

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O crescimento no uso de aparelhos eletrônicos durante a pandemia de Covid-19 fez com que a sociedade migrasse a uma realidade paralela, mas que trouxe reflexos na vida real

Por Guilherme Limes, Renato Menezes e Gabriel Vercoza Alves

Quem nunca deu uma stalkeada em alguma rede social e, quando se deu conta, viu que aquela olhadinha custou um tempo que, simplesmente, voou? Durante este período de pandemia ocasionada pela Covid-19, o isolamento social provocado pelo vírus fez com que este tipo de prática se intensificasse ainda mais, justamente porque as pessoas procuravam outras formas de se distrair dentro da própria casa.

No entanto, a mudança não foi somente neste hábito. O home office, as aulas na modalidade de ensino à distância, as compras online e tantas outras atribuições que tiveram de ser reformuladas para os moldes virtuais, fizeram com que as pessoas se inserissem, de forma ainda mais intensa, em uma cultura de telas onde as luzes artificiais nos fazem ficar vidrados em frente aos aparelhos eletrônicos, tanto para fins profissionais, como para se esquivarem da realidade.

De acordo com dados do mês de março de 2021 emitidos pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), são mais de 240 milhões de telefones celulares no Brasil, sendo quase 113 celulares para cada 100 habitantes. Somente em Rio Branco (AC), são 475.779 unidades, o que dá uma média de 115 aparelhos para cada 100 pessoas.

Dados relacionados ao uso de telefones celulares em Rio Branco (AC). Foto: Printscreen/Teleco.

Com relação ao tráfego de usuários na Internet, a Anatel registrou um aumento entre 40 a 50% neste período de pandemia pelo fato de as pessoas começarem a usar a ferramenta para fins de estudo, trabalho, compras e entretenimento de forma ainda mais intensa. Na prática, houveram picos 11 terabytes por segundo em 2020, o que é quase o triplo da média registrada em 2019, que configura 4,69 terabytes.

Tais relatórios mostram o quão as telas e os conteúdos que elas transmitem têm atuado como um método bastante eficaz para realizar qualquer tipo de coisa, principalmente quando há restrições de deslocamento. Porém, fatores como estresse, compulsividade, vício em redes sociais, falta de concentração e baixa autoestima são alguns dos prejuízos que vêm acompanhado da facilidade e dinamicidade dos aparelhos eletrônicos e aplicativos, e que podem refletir no bem estar e em relações interpessoais.

PANDEMIA E COMPRAS ONLINE

Apesar de o e-commerce não ser uma novidade, o percentual de pessoas que passaram a aderir às compras online cresceu de forma considerável. Segundo um levantamento feito pela Ebit/Nielsen divulgado em 2021, 13 milhões de brasileiros passaram a aderir ao comércio eletrônico em 2020, o que configura um aumento de 23% de consumidores com relação ao ano anterior. No total, foram 17,9 milhões de consumidores a mais do que em 2019. Além disto, foram movimentados mais de R$ 87 bilhões em vendas nesta modalidade, justamente por conta do fechamento das lojas físicas devido à pandemia.

Pesquisa mostra que sites, aplicativos e redes sociais foram os principais caminhos para buscas de produtos na internet . Foto: Renato Menezes.
 

A estudante Meline Melo começou a fazer compras online através dos aplicativos desde 2017, porém, com mais intensidade em 2020. Ela contou que é, praticamente, um vício ficar olhando os produtos diariamente e que, apesar de não ser possível experimentar ou ver o produto físico, o preço e a variedade de itens acabam influenciando no ato de comprar.

“A pandemia intensificou este estilo de compra porque teve um certo momento em que todas as lojas estavam fechadas. Então, as pessoas tiveram que recorrer às compras online, e também acaba sendo mais cômodo. Eu, por exemplo, não encontro nada relacionado a k-pop no estado, mas na internet é mais fácil achar”, enfatizou.

Estudante de nutrição costuma comprar livros pela internet. Foto: Arquivo pessoal.

A youtuber Luz Clarita Araújo também destacou a comodidade como um fator decisivo na hora de comprar. Ela começou a pedir produtos durante a pandemia e falou que nunca tinha feito isso antes por medo de dar errado ou de não receber o pedido.

“Eu sempre tive vontade, mas não tinha coragem. Comecei comprando presente de aniversário em maio e fui continuando. Hoje eu não posso ver uma oferta que já quero comprar”, falou.

CRESCIMENTO DO TIK TOK

A extensão das telas não se limitou apenas ao e-commerce. O aplicativo TikTok, por exemplo, virou um fenômeno na quarentena. De acordo com o relatório emitido pela empresa App Annie, que monitora o desempenho de aplicativos, o crescimento absurdo de downloads fez com que esta tecnologia chinesa figurasse como o mais baixado do ano de 2020. O tempo gasto pelos mais de 1 bilhão de usuários ativos no app cresceu 325% ano a ano, com uma média de 5h por mês, superando o Facebook pela primeira vez.

Ainda de acordo com o monitoramento, o motivo que indica o crescimento do TikTok foi a pandemia, que fez com que as pessoas migrassem a uma rede social que promovesse diversão, criação de conteúdo e socialização com outros usuários.

Dados mais recentes dos desempenhos de aplicativos divulgados pela consultoria Sensor Tower, mostram que o Brasil foi o país que mais inseriu usuários na plataforma no mês de abril de 2021, com 7,6 milhões de novos membros de um total de quase 60 milhões de downloads no mundo.

O aplicativo da empresa ByteDance cresceu de forma absurda em 2020, e traz propostas similares de interação promovidas pelo antigo Vine e Snapchat. Foto: Logomarca do app.

A FEBRE DA GERAÇÃO Z

A estudante de direito Luísa Longo foi uma das que aderiu ao app do momento. Ela conta com mais de 35 mil seguidores no TikTok e disse que começou no aplicativo de forma despretensiosa, apenas como um passatempo na quarentena e sem intenção de postar e gravar vídeos, por ter vergonha.

O primeiro vídeo dela que viralizou foi de quando coloriu o cabelo sozinha em casa. Apesar de o conteúdo ter sido sendo postado sem áudio sem querer, isso não foi um problema, visto que conseguiu mais de 2 milhões de views e quase 300 mil curtidas. O segundo foi exatamente com o mesmo vídeo, mas dessa vez com áudio, que obteve repercussão similar.

Tiktoker acreana faz vídeos baseados em sua rotina diária e conquistou grande número de seguidores. Foto: Printscreen/perfil @luznts. 

Ela falou que em 2020 estava muito viciada em assistir os vídeos da plataforma e costumava usar por horas, afetando os afazeres diários, principalmente durante as aulas online que necessita de atenção. “Se eu abro o aplicativo, eu vejo um vídeo. Aí eu vou ver, já tem passado 30 minutos e eu estou rolando a timeline, meu for you, e continuo assistindo”.

Para a estudante, o TikTok virou um fenômeno porque ele formula conteúdos muito específicos para cada pessoa, a partir da aba “for you”, que significa “para você”. 

“O algoritmo é muito específico, então acho que esta questão de poder se conectar com as coisas que você gosta e com as pessoas que curtem as mesmas coisas que você, assistir coisas que estão ligadas ao seu estilo de vida, etc., foi uma das coisas que levaram a esta febre”, ressaltou.

Luisa conta que ficou surpresa com a repercussão dos vídeos e que isso fez ela produzir mais conteúdo para seus seguidores. Foto: Printscreen/vídeo.
 

A influenciadora digital Bia Araújo também viu sua conta disparar no período de pandemia. Atualmente, ela acumula 2,4 milhões de seguidores no TikTok e disse que começou a gravar vídeos, de forma despretensiosa, sobre customização, não imaginando a dimensão que tomaria.

Bia Araújo (@magicardb) está há 1 ano e 6 meses no TikTok. Foto: Printscreen/@magicardb

Para a tiktoker, a plataforma se tornou um fenômeno e conquistou os brasileiros por falta de entretenimento neste período de pandemia. Ela também falou que costuma fazer conteúdos voltados à culinária e que pode ter sido isto que a fez conquistar um público grande, já que é mais comum ver vídeos de dança.

“A plataforma é um meio fácil de se crescer porque qualquer vídeo pode viralizar. Mas o que me fez conquistar seguidores foi meu conteúdo ‘diferente’, por não ser algo tão normal no app no começo, e também a constância porque muitos começam, mas acham que não vai dar certo e desistem”, pontuou.

A criadora de conteúdo digital falou que já foi mais viciada no aplicativo, mas que atualmente costuma usar de forma mais controlada. Foto: Printscreen/@magicardb

“NO TRABALHO, CONSIGO RENDER MAIS”

As rotinas de trabalho também foram afetadas durante a pandemia. No Núcleo Telessaúde Acre que atua com serviços de saúde à distância, a cirurgiã-dentista e coordenadora de campo, Caroline Oliveira, conta que algumas atribuições que, anteriormente, eram realizadas de forma presencial, tiveram de ser concentradas nos moldes virtuais. Reuniões e webpalestras que costumavam acontecer e ser transmitidas no próprio Núcleo, precisaram ser replanejadas para garantir a segurança dos palestrantes.

“Por se tratar de um ambiente em que temos que fazer divulgações, gravações e documentações, normalmente se torna um pouco mais cansativo. Fisicamente, a gente percebe que temos algumas delimitações físicas e, às vezes, até mentais de sobrecarga de trabalho. No final do dia, a gente sempre sente uma ardência na vista, mal estar, dor na colunae na cabeça”.

A cirurgiã-dentista conta também que se vê muito assídua quando o assunto é redes sociais, além de achar que estes instrumentos atuam como ferramentas que vieram para facilitar e simplificar funções mais burocráticas. Porém, acredita também que elas trazem alguns problemas, principalmente em questões de concentração.

“Eu acho que no trabalho presencial eu consigo render mais. Em casa, às vezes, tem outras coisas que nos tiram do foco, seja uma tarefa doméstica, um parente que chega, e até as próprias redes sociais mesmo quando a gente pega para olhar”, pontuou.

Cirurgiã dentista diz que o trabalho se tornou mais cansativo por ele ter se concentrado apenas dentro da tela de um computador
Foto: Arquivo pessoal.

FADIGA NO ENSINO À DISTÂNCIA

Estresse e cansaço também são alguns dos problemas vivenciados pelo professor de português, Rodrigo Marques, que agora dá aulas em ensino remoto. De acordo com ele, é necessário adaptações constantes para que o ensino não se torne exaustivo para ambos os lados, já que há um sobrecarregamento de demandas que não condizem com a realidade atual.

“A experiência não tem sido fácil. Os obstáculos, que não são poucos, tem feito com que a gente tenha que se reinventar todo dia, além de uma maior carga de trabalho, de gastos extras com o nosso próprio recurso, da busca ativa aos alunos, e de trabalhar com ferramentas não democráticas e, muitas vezes, inacessíveis”, complementa.

Professor de Língua Portuguesa considera necessário se reinventar para que os alunos não se cansem de assistir aulas na modalidade online. Foto: Arquivo pessoal.

“ESTUDAR EM CASA TEM SIDO UMA VANTAGEM E UMA DESVANTAGEM” 

Para os estudantes, a realidade não foi diferente. Mesmo com a possibilidade de tirar dúvidas mais pontuais com os professores, a estudante do terceiro ano do ensino médio, Elis Vitória de Lima, disse que as aulas se tornaram “desafiadoras, vantajosas e desvantajosas”.

Ela relatou que já está se preparando para o vestibular e que vem se adaptando da maneira que pode durante este momento, apesar das desvantagens de precisar se esforçar para manter o foco e de não se dispersar durante as aulas. Para ela, a maior vantagem de estudar dentro de casa é a possibilidade de se preparar e de absorver os conteúdos dentro de seu próprio ritmo. 

“Estudar em casa tem sido uma vantagem e uma desvantagem. Consigo procurar recursos que podem me ajudar e auxiliar durante esse processo, como os cursos online para os vestibulares, além de videoaulas que vem ajudando muito a compreender melhor que antes algumas disciplinas, principalmente para tirar algumas das minhas dúvidas mais frequentes”, explicou.

Se preparando para realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), estudante diz que a distração em casa acontece com mais frequência. Foto: Arquivo pessoal.

A CULTURA DA INSEGURANÇA

Sobre os impactos psicológicos que a cultura de telas, potencializada pela pandemia, teve na vida das pessoas, o psicólogo clínico e educacional, Álef Costa, disse que muitos pacientes dele desenvolveram transtornos de ansiedade, depressão e síndrome do pânico em decorrência dos conteúdos que consumiam nas redes sociais.

“Pessoas com depressão geralmente tem a crença de que não é capaz, de que não pode, de que é inferior a outros e imaginando um mundo do perfeccionismo, das pessoas perfeitas, do casal perfeito, do melhor emprego do mundo, e assim por diante, mas a gente sabe que na vida real não é assim”.

Ele falou que muitos usuários acabam usando as redes sociais como válvulas de escape para mostrar algo que não condiz com a realidade por fatores envolvendo insegurança e medo. Para isso, ele recomenda que a pessoa procure ajuda de um profissional.

“É importante trabalhar a insegurança e a autossabotagem na terapia. Se você está internalizando estes pensamentos, é necessário tratar isso na psicoterapia”.

Psicólogo afirma que as mulheres em sua maioria sofrem com comparações em redes sociais por conta da falsa estética da perfeição que muitos pregam. Foto: Arquivo Pessoal.

Sobre este assunto, os estudantes de jornalismo Renato Menezes, Guilherme Limes e Gabriel Verçoza convidaram a criadora de conteúdo Agatha Rosa e a modelo Isna Fernanda para um bate-papo sobre autoestima e redes sociais na pandemia em um podcast exclusivo para esta reportagem. Para conferir o bate-papo.

Histórias de vida

Mulheres que fazem acontecer: a força do trabalho manual no empreendedorismo acreano

Elas não apenas produzem: elas plantam, moldam, carregam, vendem e resistem. Em um cenário onde empreender não é só uma escolha, mas uma forma de sobrevivência, mulheres do Acre estão transformando o que têm — terra, cimento, fruta, memória — em renda, autonomia e permanência. Muitas fazem isso com as próprias mãos. Outras, com apoio da família. Mas todas compartilham algo em comum: a decisão de permanecer criando.

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Por Thaynar Moura

Elas não apenas produzem: elas plantam, moldam, carregam, vendem e resistem. Em um cenário onde empreender não é só uma escolha, mas uma forma de sobrevivência, mulheres do Acre estão transformando o que têm — terra, cimento, fruta, memória — em renda, autonomia e permanência. Muitas fazem isso com as próprias mãos. Outras, com apoio da família. Mas todas compartilham algo em comum: a decisão de permanecer criando.

Da colheita ao pote: Lucilene e a trajetória de um doce feito com raízes

Foto: Thaynar Moura

Lucilene Nonata, de 58 anos, vive com o marido em um sítio no interior do Acre. Foi ali que, há cerca de duas décadas, ela decidiu começar a fazer doces com frutas do próprio quintal. “Meus filhos estavam entrando na adolescência e eu queria fazer algo meu, que também ajudasse na renda da casa”, conta.

A escolha pelo doce não foi aleatória: os pais de Lucilene já faziam compotas com frutas temporãs, e o marido, cearense, também gostava de preparar receitas simples. “Foi natural. Começamos com o que a gente tinha: cupuaçu, mamão, banana. O leite vinha do vizinho.”

Foto: Arquivo pessoal  
Foto: Arquivo pessoal

Hoje, mesmo com o pomar envelhecido e parte da matéria-prima comprada de produtores vizinhos, o processo segue artesanal. Tudo é feito por Lucilene e o esposo, desde a limpeza até o ponto do doce. A venda acontece em feiras e comércios locais, e o contato com o público é parte do valor do produto. “As pessoas perguntam se é a gente mesmo que faz. Criamos laços. Muitos viram amigos.”

A formalização veio com apoio do Sebrae, que orientou desde o registro como MEI até a criação dos rótulos e da tabela nutricional. “O Sebrae foi nosso primeiro e melhor parceiro. Nos abriu portas e deu acesso a linhas de crédito, cursos e assistência técnica”, relata.

Foto: Thaynar Moura

Apesar dos avanços, o desafio é constante: o alto custo dos insumos e a concorrência com produtos industrializados. “É difícil competir. Nosso estado não é rico. Mas a gente vai atravessar essa fase também”, afirma Lucilene. E para outras mulheres que pensam em empreender, ela é direta: “Somos guerreiras. Se cada dia traz um leão, que venham os leões.”

Concreto, família e criação: a arte que resiste com Elizabete e Maria Eliane

Elizabete Monteiro tem 25 anos e voltou ao Acre em 2025, depois de concluir a graduação em Curitiba. Junto com a mãe, Maria Eliane, de 61, criou o negócio “Arte em Concreto”, voltado à produção manual de peças decorativas feitas a partir de cimento, areia, pedrita e moldes reaproveitados.

Foto: Arquivo Pessoal

“O gosto pelo artesanal sempre veio da minha mãe. Quando ela ia passar um tempo comigo, ficava procurando o que fazer com as mãos”, lembra Elizabete. A dupla começou estudando técnicas no YouTube e fazendo testes em casa, até descobrir formas de agregar valor às peças — como a inclusão de plantas e o uso criativo do concreto na decoração.

O trabalho é familiar. Elizabete e a mãe cuidam da produção. O pai ajuda nas feiras. A irmã apoia na divulgação digital. “É algo muito em família, e cada um colabora do seu jeito”, afirma.

Entre os maiores desafios, Elizabete destaca o início do processo. “É preciso vencer o medo de começar. Mostrar o que você faz e lidar com o marketing exige constância.”Atualmente, participa da associação “Elas Fazem Acontecer”, formada por mulheres empreendedoras que organizam feiras e dão suporte às expositoras. “Faz diferença. A gente se sente parte de algo.”

Foto: Arquivo pessoal

A empresa começou a vender peças há cerca de um mês, e uma das metas de Elizabete é investir mais na divulgação pelo Instagram. “Hoje, se você quer saber de algo de uma loja, já vai direto no Instagram. Quero turbinar as postagens.”

Para ela, o mercado de decoração artesanal está crescendo. “As pessoas querem peças com identidade, que sejam únicas.” E para outras mulheres que sonham empreender: “Persistam. Se você ama o que faz, o retorno vem. Mas é preciso estar atenta às novidades e criar com propósito.”

Arte, dedicação e persistência: de uma conversa entre amigas ao ateliê em casa – o sonho de Adriana 

Adriana Balica, 32 anos, é proprietária da FazerArt Personalizados, um ateliê montado na própria casa, onde ela cuida de tudo: do atendimento à criação das artes e à embalagem personalizada. “A FazerArt nasceu numa conversa entre amigas, juntando minha paixão pelo trabalho manual. Hoje, faço tudo sozinha,” conta.

Para Adriana, empreender é uma jornada que exige atenção constante. “Empreender é uma tarefa extremamente difícil, pois temos que dominar um pouquinho de cada coisa e estar sempre atenta a todos os detalhes. Há dias e dias, há altos e baixos, assim como a nossa vida”, reflete.

Foto: Thaynar Moura

Assim como as outras mulheres desta reportagem, Balica destaca o apoio do Sebrae. “O Sebrae sempre esteve de portas abertas pra ajudar, tirar dúvidas, oferecer cursos, palestras e concursos. Sempre que posso, participo.”

E sobre tecnologia? Ela brinca: “Não uso nenhuma tecnologia avançada, eu acho, kkk.”

Para quem pensa em empreender, Adriana tem um conselho: “Lute! Lute pelos seus sonhos. Deus não coloca sonho no nosso coração que a gente não possa alcançar. É difícil, cansativo, cheio de desafios, mas vale a pena! ”

Onde termina o produto, começa a história

Fonte: DataSebrae (Relatórios trimestrais de Empreendedorismo Feminino, 2022–2024)

As histórias de Lucilene, Elizabete e Adriana, não são exceções. Elas representam milhares de mulheres no Brasil e no Acre que vivem daquilo que fazem, cultivam ou aprendem. Os dados mais recentes reforçam o que as histórias contam: empreender, para muitas mulheres, é uma decisão moldada pela necessidade, mas sustentada pela criatividade e pelo trabalho diário.  Que trabalham com o corpo, com a memória e com o tempo.

No Acre, o número de mulheres à frente de negócios oscilou nos últimos três anos. Segundo dados do DataSebrae, em 2022, eram 23.564 empreendedoras no estado. Em 2023, esse número caiu para 20.453, representando 23,7% do total de donos de negócios. No entanto, em 2024, houve uma leve recuperação: 21.350 mulheres atuavam como donas de negócio no estado no 4º trimestre, o que representa  25,1% dos empreendedores locais.

Fonte: DataSebrae – Relatórios trimestrais 2023–2024 

Esse avanço percentual, frente aos 23,7% registrados no ano anterior, revela uma retomada gradual da presença feminina no mercado.

Em números nacionais, 42% dos empregadores ou trabalhadoras por conta própria no Brasil são mulheres — um universo de 10,4 milhões de empreendedoras que movimentam a economia com pequenos negócios, muitas vezes construídos no quintal, na sala de casa ou em uma feira.

O aumento na participação percentual indica que as mulheres seguem ocupando espaço, criando soluções e sustentando seus negócios com o que têm – seja terra, concreto ou papel.

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Por meio do NAI, Ufac avança em inclusão e acessibilidade para estudantes com necessidades específicas

Estudantes com necessidades específicas enfrentam constantes desafios nas universidades brasileiras. Na Universidade Federal do Acre (Ufac), o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) foi criado para desempenhar um papel fundamental no processo de inclusão, garantindo que esses acadêmicos tenham acesso à educação com as adaptações necessárias para sua permanência e desenvolvimento na instituição.

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Buscando garantir um ambiente com mais acessibilidade, a universidade implementa adaptações e suporte para estudantes autistas e com outras necessidades.

Por Niélia Magalhães, Sérgio Henrique Corrêa e Gabriela Queiroz Mendonça

Estudantes com necessidades específicas enfrentam constantes desafios nas universidades brasileiras. Na Universidade Federal do Acre (Ufac), o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) foi criado para desempenhar um papel fundamental no processo de inclusão, garantindo que esses acadêmicos tenham acesso à educação com as adaptações necessárias para sua permanência e desenvolvimento na instituição.

Criado em 2008, o NAI procura executar políticas de inclusão e acessibilidade, oferecendo suporte pedagógico e promovendo ações de ensino, pesquisa e extensão voltadas para estudantes com deficiência e neurodivergência. 

A Ufac conta, atualmente, com 100 estudantes cadastrados no banco de dados do NAI. O suporte oferecido inclui adaptações acadêmicas, como tempo maior para realização de avaliações, provas em locais silenciosos, enunciados mais objetivos e intervalos em avaliações longas. Alunos que necessitam de assistência extra podem contar com monitores selecionados via edital, embora muitos prefiram somente ajustes no ambiente acadêmico.

“Cada estudante neurodivergente tem suas particularidades, portanto, o que é adotado para um pode não ser necessário para outro. O importante é garantir que cada um tenha suas necessidades respeitadas”, explica Carla Simone, coordenadora do NAI.

Segundo a coordenadora, a universidade avançou na instalação de pisos táteis, rampas, elevadores e banheiros adaptados, além da implementação de intérpretes de Libras e recursos audiovisuais para alunos com deficiência auditiva ou visual.

“Apesar dos avanços, um dos principais desafios enfrentados pelos alunos com TEA na Ufac ainda é a falta de conhecimento da comunidade acadêmica sobre o transtorno. Frases como ‘mas você não tem cara de autista’ impactam diretamente a experiência dos estudantes, levando muitos a adiar a busca por suporte por medo de julgamentos e falta de empatia”, enfatiza Carla Simone.

Para estudantes autistas, um avanço importante foi a criação da Sala Aquário, um espaço no Restaurante Universitário reservado para refeições em um ambiente mais silencioso e confortável. “Essa foi uma conquista do Coletivo Autista, garantindo um espaço adequado para os alunos que sofrem com sobrecarga sensorial”, destaca a coordenadora.

No entanto, Carla Simone enfatiza que a inclusão é um processo contínuo e que ainda há muito a ser feito. “O essencial é garantir que os estudantes com deficiência que ingressam na universidade tenham condições de acessar, permanecer e concluir seus cursos com dignidade”, afirma.

Capacitação e conscientização

Um dos pontos de atenção do NAI é a formação da comunidade acadêmica. Atualmente, o núcleo já realiza capacitação para monitores que atuam diretamente no suporte aos estudantes, mas ainda não há um programa estruturado para professores e servidores.

A partir do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2025-2029, a Ufac pretende implementar treinamentos para docentes e técnicos, promovendo maior sensibilização sobre a inclusão e as necessidades dos estudantes neurodivergentes.

O NAI trabalha em parceria com diversos setores da universidade e instituições externas para encaminhar alunos a serviços assistenciais, previdenciários e de saúde, além de organizar palestras e eventos sobre acessibilidade e inclusão.

Arte: Agência Câmara

O futuro da inclusão na UFAC

Quando questionada sobre os próximos passos do NAI, Carla Simone aponta que as principais metas incluem:

  • Atendimento eficaz e de qualidade aos estudantes com deficiência;
  • Criação de um laboratório de tecnologia assistiva;
  • Promoção de formações continuadas para docentes, técnicos e estudantes;
  • Ampliação das ações já existentes, garantindo um impacto maior na universidade.

A coordenadora também reforça que a construção de um ambiente acadêmico mais inclusivo não depende apenas da gestão institucional. “Ter um olhar mais humanizado para todos, independentemente de cor, raça, religião, gênero ou deficiência, é essencial. A universidade precisa ser um espaço acolhedor para todos os diferentes”, conclui.

Entendendo o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O TEA afeta o neurodesenvolvimento, impactando a comunicação, linguagem, interação social e comportamento. O diagnóstico precoce é essencial para estimular a independência e melhorar a qualidade de vida. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma rede de cuidados para o atendimento integral das pessoas com TEA.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam 70 milhões de pessoas com autismo no mundo. No Brasil, a estimativa é de que 2 milhões de pessoas possuam algum grau do transtorno.

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Geração Z: um desafio para o mercado de trabalho

A geração Z, as pessoas nascidas entre 1990 e 2012, chegam ao mercado de trabalho trazendo mudanças em alguns dos padrões antes estabelecidos. Os integrantes da geração millennial, ou seja, os nascidos entre 1980 e 1990, são os que mais se mostram resistentes a enfrentar os desafios apresentados por esses novos profissionais.

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Por Andriw Yago, João Marcelo, Pedro Henrique e Wayllo Cardozo*

A geração Z, as pessoas nascidas entre 1990 e 2012, chegam ao mercado de trabalho trazendo mudanças em alguns dos padrões antes estabelecidos. Os integrantes da geração millennial, ou seja, os nascidos entre 1980 e 1990, são os que mais se mostram resistentes a enfrentar os desafios apresentados por esses novos profissionais.

Ana Cristina Vale,  33 anos, psicóloga e atuante na área de Recursos Humanos durante 12 anos, diz que a geração Z enxerga o trabalho como algo passageiro, já a geração anterior não, é uma geração que quer construir uma carreira sólida, naquele ambiente que se encontra: “São pessoas que se esforçam, têm iniciativa, comprometimento, desenvolvem perfis e habilidades todos os dias, já a geração atual não”, complementa. 

No Relatório de Tendência de Gestão de Pessoas 2025, desenvolvido pelo Ecossistema GPTW e Great People, dentre os participantes, 76% apontaram a geração Z como o maior desafio para a gestão de pessoas. Segundo a revista Forbes, entre os profissionais da geração Z, 58% querem trabalhar de forma híbrida ou remota e recusariam ofertas de emprego ou promoções que os fizessem trabalhar presencialmente todos os dias. Além disso, 15% destacam a questão dos processos, planejamento e foco estratégico e desejam ter lideranças inspiradoras, tratamento mais humano e reconhecimento. 

Estudante de Jornalismo, Diogo José, de 19 anos, é estagiário há um ano em um site local e diz priorizar em suas escolhas profissionais o ambiente de trabalho: “O ambiente é primordial, pois não vou ficar em um local que eu não tenha os mesmos ideais ou que as pessoas desse ambiente não pensem da mesma forma que eu”. 

Sobre as diferenças entre a geração millennial e a geração Z no ambiente de trabalho, Diogo observa que não há como negar que há uma diferença discrepante. Eles vão ser priorizados pois já estão contratados na empresa, e por atuarem no mercado há mais tempo eles têm mais noção, e quando o estagiário se dá bem com essa galera, acaba criando um vínculo de aprendizado que é muito importante:

“Atualmente tenho uma relação muito boa em meu ambiente de trabalho, e isso é graças aos meus supervisores, que são muito comunicativos, perguntam se estou entendendo e se estão ajudando, então toda essa questão do diálogo me ajuda muito”.

Camila Holsbach, 36 anos, é editora-chefe de um site jornalístico onde as duas gerações estão em constante interação e cita que a relação entre ambas vai além das obrigações do trabalho, já que sempre vai existir a troca de experiência de vida entre os millenials e a geração Z.

“Nossa relação com a turma da geração z na redação é bem tranquila. Não se limita somente ao trabalho pelo trabalho, é uma relação de troca de informações e aprendizado, todo mundo ensina e todo mundo aprende, não existe um “detentor de todo o saber”. Acredito que a cada geração que nasce, nasce também a necessidade de mudanças e adaptações. O mundo não é o mesmo que o de uma década atrás, e não será o mesmo que o de hoje daqui a 10 anos “, completa.

A gestora de RH, Ana Cristina Vale, ressalta que iniciar no mercado de trabalho não é fácil, porque você vai sair de uma zona de conforto e entrar numa área que de fato exige muito.

“É onde você vai criar hábitos responsáveis e conhecer outras pessoas que possam também abrir outras portas. Eu acredito que é levar a sério até o último dia, para que você saia de lá deixando a sua marca, e assim as pessoas sempre ao falar de você vão ter a memória do bom profissional que você foi”, finaliza.

*Texto produzido na disciplina Fundamentos do Jornalismo sob supervisão do professor Wagner Costa

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