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Depois de Dora volta aos palcos

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Por Bianca Alexandre Cabanelas

A peça escrita e dirigida por Nolram Rocha traz uma reflexão sobre a valorização e desvalorização da vida e foi responsável por levar mais de trezentas pessoas de volta ao teatro em sua primeira temporada do ano, em junho.  Com todos os cuidados possíveis como o uso do álcool em gel, obrigatoriedade da máscara e a distancia necessária, Depois de Dora foi sucesso de público e estreia sua segunda temporada do ano em 9 de julho, as 19h30, na Usina de Artes, com entrada gratuita.

A vida Depois de Dora não é a mesma nem para os personagens, nem para o público. A arte da peça está na reflexão sobre a vida real. A vida imita a arte tanto quanto a arte imita a vida. Depois de Dora é realidade encenada.

“O tempo todo a peça fala sobre como você é frágil e te questiona o porquê você ta perdendo tempo com coisa que você não gosta, que você não ama, sendo que você pode estar aqui em um momento e depois não mais. Imagina se você tem a data da sua morte, o que mudaria na sua vida?” O questionamento é levantado pelo diretor da montagem ao ser questionado sobre a história da peça.

Cena de Deopois de Dora com os atores Jhony Carvalho e Jaqueline Chagas (Foto: Mag Araújo)

Sobre o sucesso de público, Nolram conta que já havia percebido nos ensaios que a peça iria ser um sucesso. “Eu mesmo fico rindo e chorando com a história. Eu assisto desde novembro e continuo rindo. Ver que esse público veio, gostou e chamou mais gente, foi uma experiência sensacional. Teve gente que veio cinco vezes”. O último dia da peça lotou tanto que a equipe teve que fechar os portões mais cedo. “Ficamos muito animados. Saímos extasiados. No último dia, a gente teve que mandar gente para casa porque já estava lotado.”

Sobre as expectativas para a próxima temporada, o diretor espera que o público continue indo ao teatro. “A expectativa é de muito público. Estamos fazendo adaptações para deixar a peça ainda mais atraente.” Nolram faz ainda um convite: “É uma oportunidade única no meio de uma pandemia encontrar um grupo de dezoito jovens artistas fazendo teatro com amor. No meio de um momento que não tem nada para fazer e assistir, tem gente fazendo teatro.” 

Nolram Rocha e o Candeeiro.

Nolram Rocha escreveu e dirigiu Depois de Dora. (Foto: Bianca Cabanelas)

Nascido em Rio Branco, Nolram Rocha diz que cresceu no mundo. Viveu na cidade apenas entre 2016, ano em que criou o grupo Teatro Candeeiro e Continente do Teatro, e 2018, ano que foi convidado para fazer parte de uma companhia de teatro de São Paulo. Lá, conseguiu perceber todo um novo mundo que envolvia as artes e chegou a apresentar no Teatro Municipal do estado. “Eu recebi cachê que eu não imaginava receber, conheci pessoas que eu não imaginava encontrar. A diferença dos grandes centros para cá é a quantidade de material para você ver, a quantidade de público que frequenta a obra que você faz.”

O diretor voltou para Rio Branco por conta da pandemia e foi então que começou o planejamento para levar Depois de Dora novamente para os palcos. Financiada pela lei Aldir Blanc, a peça foi uma grande oportunidade para Nolram realizar seu desejo de “receber para fazer teatro, receber pelo texto que você criou, comprar as coisas que desejo para a peça, de chamar uma galera jovem e pagar pelo trabalho.”

Cenário montado de uma das cenas de Depois de Dora (Foto: Mag Araújo)

Apesar da ansiedade para a estreia, a peça foi adiada por conta da pandemia. A montagem deveria estrear em fevereiro, mas acabou estreando apenas meses depois. “Chamei dois amigos de São Paulo, eles vieram para cá para trabalhar comigo e aí estávamos com data de estreia marcada e mudou para bandeira vermelha. Aí o teatro fechou. Bar aberto, teatro fechado, sabe? A gente queria estrear em fevereiro. Imagina segurar uma equipe de 18 pessoas esse tempo todo. As pessoas vão conseguindo emprego, as passagens de volta já estavam compradas. Então eu falei ‘a primeira oportunidade que abrir, eu vou estrear isso’.”

O jovem diretor escreveu o texto de Depois de Dora inicialmente para um trabalho de faculdade e o processo aconteceu de uma maneira natural, mas a inspiração veio mesmo quando viu uma matéria de uma moça que ao se formar ficou tão feliz que morreu, e isso despertou algo dentro dele. Apesar de estar na terceira temporada da peça, o texto ainda passa por mudanças.  “Eu sempre reescrevo o texto. Para mim, as palavras são construídas. Eu vou mudando, vou riscando, vou refazendo, vou construindo. É como se fosse uma obra.  Ele está em constante mudança.”

Arte oficial do grupo Teatro Candeeiro que nasceu em 2016

Fundador do Teatro Candeeiro, Depois de Dora não é primeira peça de Nolram Rocha e do grande grupo de artistas, composto por, agora, dezoito pessoas. Mas nem sempre esse número foi tão grande. O projeto, que nasceu no bairro Manoel Julião em 2016, com o diretor e o professor de teatro, Micael Cortes, contava, inicialmente, com apenas seis pessoas, e possui uma pequena lista, porém bem sucedida, de 3 obras já apresentadas. “Na época, a gente pensou ‘vamos montar um grupo de teatro que a gente experimente todos os tipos de estéticas teatrais’. Existia o desejo de ter um grupo de teatro nosso, com amigos próximos e sair pelo mundão. Desde então, a gente nasceu.”

A primeira peça apresentada pelo grupo foi em 2016, mas logo veio a necessidade de expandir o projeto para além da universidade. “O projeto foi ganhando corpo.”. Depois de Dora é o terceiro projeto do grupo Candeeiro e já está na terceira temporada de apresentações. Simultaneamente ao nascimento do Candeeiro, Nolram também criou o grupo “Continente de teatro” com as mesmas pessoas. “Tinha algumas pessoas em artes cênicas que não me recebiam muito bem, mas a maioria da turma eu conseguia unir para fazer teatro. E aí um dia eu disse ‘ah, aquele pessoal é só uma ilha, a gente é um continente de teatro.’ O Candeeiro de certa forma estava dentro do continente.”.

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