Cotidiano

Pós-isolamento e o retorno das aulas presenciais

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Por Suene Almeida e Ingrid Moura

Criar filhos nunca foi uma tarefa fácil, entretanto, na pandemia do Covid-19, essa função se tornou muito mais complexa, ganhando novos contornos. Sem rotas alternativas, sem rede de apoio, sem escola, sem amigos e tendo como único cenário possível a casa. Com o retorno das aulas presenciais, muitos alunos agora sentem na pele o receio e insegurança de voltar à rotina de conviver com a comunidade escolar.

A pandemia sobrecarregou de tantas maneiras, que ser pai/mãe exigiu ainda mais paciência, mais flexibilidade, mais atenção e mais acolhimento para lidar com as particularidades dos filhos em meio ao isolamento social. Como é o caso da pedagoga Sueli Oliveira, de 40 anos, mãe da Amanda, de 16 anos.

“Durante as aulas à distância, eu estabeleci um horário para ajudar a Amanda nas atividades, porque ela não conseguia fazer sozinha, pois não tinha aquele contato presencial com a professora. Durante as aulas online a Amanda tinha vergonha de tirar suas dúvidas, já que ela é uma menina muito tímida, e acabava que eu tinha que ajudá-la nesse processo de aprendizado. A professora mandava atividade de manhã, e, assim que ela mandava, eu tirava o horário das 9h às 10h, sentava com minha filha, ajudava a fazer as atividades; pesquisava, via textos informativos, e ajudava  todos os dias”,  conta a pedagoga. 

Durante dois anos, a rotina escolar se dividiu entre o ensino presencial e híbrido. De um lado há jovens que sentiram dificuldades em se adaptarem às aulas remotas e a repentina perda do convívio escolar;  de outro lado,  aqueles que se adaptaram muito bem com a nova realidade, e agora com o retorno presencial,  sentem receio de voltar à rotina. É o que diz Amanda, em relação à volta às aulas.

“Eu sempre tive vergonha de interagir na escola, se um professor me perguntava algo, meus colegas começavam a olhar pra mim, eu sentia que ia passar mal. Às vezes eu travava e eles riam de mim, então, eu começava a chorar. Agora estou voltando para a escola novamente, não sei bem como vai ser, mas sinto que essa timidez não passou e não vai ser legal passar por tudo isso novamente. Fiquei muito tempo sem ver meus colegas durante a pandemia, é estranho.”

Com a diminuição nos números de casos da Covid-19 e com o relaxamento das medidas de isolamento social, a rotina aos poucos vai retornando ao seu normal. No Acre, as escolas da rede municipal e estadual estão retornando gradativamente às aulas presenciais, Agora os jovens voltam a conviver nos ambientes escolares, fato que desencadeou novas incertezas. Sueli conta que a filha sempre foi introvertida e, devido ao isolamento social imposto, o fato se acentuou ainda mais.

“Para mim tem sido um desafio muito grande de conseguir fazer com que minha filha perca um pouco da timidez, ela tem dificuldade na socialização com outras pessoas. Antes da pandemia, ela tinha vergonha de apresentar trabalhos ou sequer falar em sala de aula. É bem difícil, porque ela já tem essa dificuldade, e, devido à pandemia, piorou o relacionamento dela com outras pessoas. O único contato que tivemos, a não ser com a família, foi através das redes sociais, e isso se agravou mais ainda”, pontua Sueli.

A dificuldade em se adaptar às aulas remotas e a ausência de convivência escolar mexeram com o emocional de crianças e adolescentes.  Agora, o grande desafio para os pais e toda a comunidade escolar, é identificar os sinais passados por esses jovens em um cenário inesperado e quais as alterações servem de alerta. 

A professora do ensino regular Maria José Magalhães diz que, com o retorno das aulas presenciais, é necessário que não só os pais, mas que a escola também seja responsável por acompanhar de perto o comportamento dos alunos. “É importante que os pais e os educadores, quando digo educadores me refiro a toda a comunidade escolar, estejam atentos e acompanhem de perto os filhos e alunos, para que compreendamos os comportamentos e sentimentos de cada um nesse novo recomeço. Cabe a nós proporcionar ambientes acolhedores e seguros para nossos jovens, sendo nós uma só rede de apoio, onde irão se sentir protegidos”, ressalta.

Com o fim das aulas remotas, uma das maiores preocupações dos professores tem sido a constante tarefa de relembrar o conteúdo, já que grande parte dos estudantes não conseguem recordar o que estudaram durante as aulas. “Ficou uma lacuna muito grande de aprendizagem. Nem todos os alunos tinham acesso à internet, e nós professores tivemos que elaborar apostilas enormes com conteúdos e atividades. Muitos alunos não tiveram o menor contato com o professor durante todo o ensino remoto. Agora temos que correr atrás do prejuízo e tentar recuperar a maior quantidade possível de conteúdo com nossas crianças, para que não fiquem tão prejudicadas”, aponta a docente.

A coordenadora pedagógica Daiany Carvalho cita ações que podem ajudar a sanar os impactos causados pela pandemia para o retorno das aulas presenciais. Para ela. oda a comunidade escolar deve estar envolvida no processo de retorno ao ensino presencial e importante que os alunos tenham o maior apoio possível neste momento.

“As escolas devem investir em um ambiente propício para desbloquear o potencial de oportunidades de aprendizagem para todos os estudantes. E para isso temos que contar com total apoio das famílias e das autoridades públicas, para garantir que os professores tenham acesso a capacitações e desenvolvimento profissional, transmitindo todo esse conhecimento aos nossos alunos”, destaca, a educadora.

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