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Mulheres mais velhas no relacionamento: ainda é um tabu?

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Por Gisele Almeida e Lucas Thadeu

O relacionamento entre uma mulher mais velha e um homem mais novo ainda carrega um grande preconceito na sociedade brasileira. Dessa forma, é muito comum mulheres mais velhas passarem por constrangimentos pelo simples fato de se relacionarem com homens mais novos. Contudo, quando o fato ocorre ao contrário, em que o homem é mais velho, as reações das pessoas são alternadas, mas há uma maior aceitação.

A reportagem realizou uma enquete com 33 pessoas, por meio de um formulário compartilhado nas redes sociais para saber mais sobre a opinião das pessoas a respeito desse tabu. No questionário, 90,9% já presenciaram algum tipo de preconceito com mulheres mais velhas no relacionamento conjugal. 

Outro dado que chama atenção é a aceitação, pois 81,8% acham normal quando o homem tem de 7 a 10 anos de diferença de idade entre a namorada ou esposa. Contudo, quando perguntado ao contrário, se é normal que uma mulher tenha essa diferença de idade, 51,5% não acham que seja normal. Por fim, 66,7% dos internautas acham que a mulher mais velha sofre mais preconceito que os homens quando o assunto é idade. 

Alcimar Souza, caseiro, de 47 anos, manteve um relacionamento com uma mulher que era 12 anos mais velha que ele por quase 10 anos. Ele relata que o preconceito esteve muito presente: “às vezes a gente ia em alguns lugares, e quando chegávamos lá perguntavam se era a minha mãe ou porque estava casado com ela. Eu ficava triste com aquela situação, pois era muito preconceito em quase todos os lugares que eu ia”, relembra. 

No atual momento, ele está com outra companheira e é 7 anos mais velho. Souza afirma que a reação das pessoas com esse relacionamento é totalmente contrária ao de antes. “Ninguém nunca comentou nada relacionado à idade, é bem tranquilo”, conclui. 

Quem também passou pela mesma situação foi a Luciana Azevedo, de 43 anos, conferente de depósito, que vive uma união estável há 10 anos e é 10 anos mais velha que o companheiro. Ela afirma que no início conseguiu o apoio da família e pessoas próximas, mas foi no trabalho que ela passou por uma situação desconfortante. “Uma vez, uma pessoa que trabalhava comigo falou assim: teu filho veio aqui. Aí eu falei: que bom, quando eu estava nascendo, eu já estava grávida dele”, relembra.

Foto: Arquivo Pessoal

Além das mulheres passarem por situações como essas citadas anteriormente, elas também podem sofrer com a não aceitação dos familiares e amigos. Diferente de Azevedo, a engenheira agrônoma Leilane Benício (28 anos), diz que sofreu com a falta de apoio no início de seu relacionamento. Ela é 9 anos mais velha que seu marido Dhomini (19 anos). “Logo no início do relacionamento foi bastante o número de pessoas que não apoiavam.”

Ela também afirmou que as pessoas sempre ficam surpresas quando descobrem a diferença de idades e que a reação muitas vezes vem em conjunto com comentários e indagações preconceituosas. “A mulher é muito julgada quando é vista com um homem mais jovem que ela. Logo de cara já falam: está querendo terminar de criar? Ou está bancando tudo?”

Voz dos especialistas 

A psicóloga e psicoterapeuta reichiana Patrícia Coube explica porque casos como esses acontecem. “Esse estranhamento, o próprio tabu, é resultado de uma educação/cultura que permanece propagando a “naturalização” de uma condição: homens mais velhos mais meninas mais novas = natural/normal, em detrimento e até ridicularização do inverso. O tabu permanece enquanto há consentimento da sociedade em manter tais padrões”, explica. 

            Além disso, ela também salienta que o Estado do Acre é um local bastante conservador, pois impera a normalização de atos que não eram para ser considerados normais. “Adultério, pedofilia, homofobia… entre outros desvios de conduta… muitas destas situações passam uma falsa ideia de um estado com mais liberdade. Aqui, ainda nos deparamos com expressões do tipo: essa é para casar, essa é para curtir. O fato de existir mulheres que se relacionam com homens mais jovens, não significa que não haja preconceito”, conclui Coube. 

Administradora e especialista em gerontologia, que é o estudo dos fenômenos fisiológicos, psicológicos e sociais relacionados ao envelhecimento do ser humano, Marizete Melo destaca outro fato que pode agregar nesse tabu. “As mulheres sofrem mais por conta de uma visão estereotipada das pessoas, a causa disso é o machismo.”

Outro aspecto ressaltado é a supervalorização da juventude associada à beleza presente na sociedade, o que afeta as mulheres maduras. “Além das alterações no corpo feminino em seu envelhecimento, também contribuem para o fator da insegurança e baixa estima. A mulher se sente com uma estima um pouco abalada por conta de seu corpo não ser o mesmo”, explica.

Mulher mais nova no relacionamento

        E quando a situação ocorre com a mulher sendo mais jovem? Então, a psicóloga Coube afirma que não é porque a mulher é mais nova que não irá sofrer algum tipo de preconceito. Como a jornalista, Camila Holsbach, de 33 anos, que é 16 anos mais nova que o marido, Márcio Bleiner, de 49. Eles estão juntos há quase 15 anos, se conheceram por meio da rádio em que ele trabalhava, era radialista, e ela o ouvia todos os dias. 

A jornalista relembra que no início do relacionamento as pessoas ficavam criticando-a, por ela ter 19 anos e ele 35. “Tinha gente que falava pro Bleiner que ele precisa de uma mulher de verdade, não de uma “menina”. Diziam que eu não ia dar conta, que quando ele precisasse de verdade de uma companheira eu sairia fora. Bem… todos equivocados! Estamos, há quase 15 anos, firmes e fortes – e vencendo”, destaca. 

Foto: Arquivo pessoal

O casal tem quatros filhos, um do relacionamento deles e os outros três são do relacionamento anterior do seu marido. Apesar da diferença de idade, isso nunca foi um empecilho para Holsbach. 

“Acho que a diferença de idade foi uma das principais coisas que me fez gostar ainda mais dele. Nunca gostei de me relacionar com pessoas da minha faixa etária, então, pra mim, foi tranquilo. Mas havia os “olhares tortos”.” Ela conta, rindo, que algumas vezes se considera “mais velha” do que ele. “Continuamos nos dando muito bem e achando que a diferença de idade nunca foi um empecilho, mas um fator que contribuiu muito para termos dado tão certo”, concluiu.

Pontas de esperança

Apesar das evidências de um preconceito estrutural em muitas sociedades, existem casais que podem contar uma história diferente, como é o caso do jornalista Márcio Souza, que é 6 anos mais jovem que a esposa Emanuele Souza. Eles não relataram vivências de preconceito em relação à diferença de idade, e consideram que boa parte dos preconceitos sociais decorre de uma estrutura educacional familiar, pois a educação e respeito ao próximo vêm de casa.

“Acreditamos que depende muito da criação. Parafraseando um velho ditado: comentários de casa vão à rua. Se existe preconceito, machismo, homofobia, racismo no dia a dia da família (breves comentários, frases, palavras cheias de estereótipos, por exemplo) sem dúvida isso vai refletir no comportamento fora. Por isso, tentamos ser o mais didáticos possível e libertos desses estereótipos ao responder uma pergunta para nossa filha,” diz Souza.

Foto: Arquivo Pessoal 

Eles contam que a idade em nenhum momento foi um tabu, seus amigos e familiares nunca os criticaram por isso. “Não sofremos ou enfrentamos preconceito de ninguém do nosso ciclo de amizade. Os familiares, no entanto, pensaram que a Manu estava grávida, por causa da rapidez”, diz ele sobre o namoro rápido antes do casamento. “No mais, só comentários como “o leite tá caro” ou “melhor comprar leite do que remédio”.”

No caso da professora Katianny Andrade (14 anos mais velha que seu parceiro), ela conta que não encontrou problema de opinião preconceituosa das pessoas, mas que ela em si teve receios. “De início eu fui bem sincera de que eu não queria me relacionar com ele. Eu que tinha preconceito… Nós mulheres ligamos muito pra vaidade”, concluiu. 

Foto: Arquivo Pessoal

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