Cotidiano

Enfrentamento do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Acre durante pandemia do Covid 19

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Por Gercineide Maia

Durante a pandemia do Covid 19 o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) de Rio Branco-Acre se adapta para realizar o Atendimento Educacional Especializado (AEE) aos alunos da educação básica

O Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Acre (NAAS/H-AC), implementado em 2006 pelo Programa do Ministério de Educação (MEC), mesmo com o isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19, se adapta à nova realidade e busca alternativas para realizar identificação e acompanhamento pedagógico aos alunos matriculados na educação básica.

De acordo com o Censo Escolar de 2020, há mais de 24 mil alunos matriculados com altas habilidades/superdotação na educação especial, um índice bem menor do que o estimado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que varia de 5% a 8% da população que poderia ser identificada, quando talentos são desperdiçados e/ou ignorados na sociedade.

Em entrevista, a técnica de enfermagem Elivânia Gonçalves, 45 anos, mãe do estudante Seillor Sanatiel, 10 anos de idade, identificado com superdotação, conta que seu filho desde pequeno já apresentava inteligência acima da média e quando procurou a Secretaria municipal de educação de Rio Branco-AC, não foi ouvida. “Na época, eu fiquei muito chateada porque eu quis me fazer ouvir, eu quis falar na escola, fui à secretaria e eles não deram atenção, disseram que iam mandar uma equipe e nunca mandaram”, declara.

Estudante Seillor Sanatiel, 10 anos de idade, em aulas remotas durante a pandemia

Gonçalves relata que poderia estar equivocada, mas sentiu muitas vezes que as pessoas não deram muita atenção pelo fato do menino ser filho de uma técnica de enfermagem pobre e negra, que pensava em saber   alguma coisa. “Eles achavam que era entusiasmo de mãe e não era, infelizmente as pessoas querem ver para crer, não pararam para me ouvir e constatar, a prova é tanto que eu queria muito que acontecesse o processo de aceleração dele na escola, mas não foi possível e só entreguei nas mãos de Deus”, relata a mãe.

“Em nenhum momento me conformei com o ocorrido e nem com a série em que meu filho foi matriculado, principalmente, quando ele começou a estudar o ensino fundamental, pois já era um autodidata, inclusive aprendeu a ler sozinho”, esclarece a técnica de enfermagem.

Segundo Gonçalves, em 2019 tudo começou a mudar quando conheceu o NAAS/H Acre, por indicação de uma professora. “Fomos bem recebidos e desde então começou o processo de investigação, um estudo que resultou em um parecer favorável em que meu filho tem superdotação”, revela com muita alegria.

Vinculado a Divisão da Educação Especial da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes – (SEE/AC), o NAAH/S, localizado em Rio Branco-AC,  já identificou desde a sua implantação mais de 600 estudantes com altas habilidades/superdotação, no ano letivo de 2021, por exemplo, atendeu 136 estudantes, afirma Taís Galdino chefe do NAAH/S -AC.

De acordo com Taís Galdino, este núcleo tem por finalidade promover políticas de educação inclusiva e o atendimento às necessidades educacionais específicas dos alunos com altas habilidades e superdotação na educação básica do estado, sendo uma referência para a comunidade educacional e para todos os municípios, principalmente no que se refere ao serviço de Atendimento Educacional Especializado (AEE) para estes estudantes.

Para atender aos alunos com essas características, o NAAS/H-AC atualmente está organizado em sua sede própria com o Atendimento Educacional Especializado em interface com às escolas e conta com o trabalho de professores de áreas específicas como Matemática, Língua Portuguesa, Ciência da Natureza, Química, Música, Artes Visuais. Além desses profissionais, “o núcleo dispõe de docentes que integram a área pedagógica, de professores que realizam formação/capacitação, elaboram e analisam o material didático específico para atendimento e acompanhamento dos estudantes”, informa a chefe do NAAS/H-AC.

Na realidade, o NAAH/S Acre é o único setor de educação do Estado que realiza o serviço de AEE em contraturno do ensino regular específico para investigação/identificação e acompanhamento pedagógico de alunos com características de altas habilidades/superdotação (AH/SD), de forma multidisciplinar e especializada em salas de recurso multifuncional específico no atendimento dos estudantes com AH/SD no prédio do referido núcleo, sendo um trabalho em conjunto com as escolas e as famílias que encontram no NAAH/S um atendimento voltado diretamente para esses alunos público-alvo da educação especial,  assegura.

Desafios enfrentados

Tanto o ensino remoto quanto o ensino híbrido trazem grandes desafios para às escolas e para os núcleos de altas habilidades/superdotação.  “O trabalho nesse período de afastamento social se apresentou de forma desafiadora em muitos aspectos e refletiu em todas as áreas na equipe do NAAS/H-AC e, consequentemente, nos alunos e suas famílias, que precisaram adaptar-se à nova realidade”, declara Taís Galdino, chefe do núcleo.

Diante disso, a equipe do núcleo procurou amenizar os impactos do distanciamento social propondo novas estratégias de atendimento.  “Dentre essas estratégias, estão as oficinas de enriquecimento curricular de forma remota por área de interesse, o que estimulou mais a participação dos estudantes, bem como possibilitou realizar o agrupamento de estudantes por áreas afins, a troca de conhecimento e novas aprendizagens”, ressalta Galdino.

“Sob orientação da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE), em meados de outubro de 2021, o NAAS/H passa também a realizar o   acompanhamento pedagógico de seus alunos forma híbrida”, explica.

 Segundo Jeane Machado, professora de elaboração e análise de material didático específico para o atendimento e acompanhamento dos alunos e apoio aos professores de AEE do NAAH/S, com a pandemia da covid 19, o núcleo de atividades teve que se adequar ao atendimento processo de identificação e avaliação com os alunos para esse novo formato.

“O ensino remoto é mantido para atender boa parte dos alunos que optou, por uma série de motivos, por esse atendimento através de plataformas digitais, que chega também aos municípios e o ensino no modelo híbrido que contempla uma outra parcela de alunos que são acompanhados diretamente no núcleo”, ressalta.

Marcia Helena Leão, professora do Atendimento Educacional Especializado para Altas Habilidades/Superdotação, disse que nesse período todos tiveram que adquirir novas competências para darem continuidade ao atendimento dos alunos.  “Não foi algo fácil, porém, hoje vemos a importância do atendimento, mesmo que remoto, aos nossos alunos com AH/SD”, acrescenta a professora.  

“Iniciamos com a adequação dos nossos instrumentos de triagem e avaliação, que foram transformados em material digital. Desde a indicação, matrícula e atendimento, passamos a utilizar plataformas digitais para comunicação e disponibilização dos conteúdos aos alunos”, exemplifica a professora Márcia Helena Leão.

Segundo a professora, os atendimentos individuais e em grupo são agendados com a família do aluno pelo whatsApp. “Os atendimentos em grupos de enriquecimento, por exemplo, foram ofertados por meio de oficinas de curiosidades que envolveram assuntos atuais e de interesse dos alunos. Nesses atendimentos foi possível perceber a criatividade, o envolvimento com a tarefa e habilidade acima da média dos estudantes em processo de identificação”, conclui.

O domínio dos conceitos trabalhados nos módulos e uso das tecnologias da informação e comunicação empregadas durante as oficinas de curiosidades pelas crianças durante a pandemia foi o que mais chamou a atenção da professora Geciane Martins.  “Os alunos trabalham com inovação, são muito observadores, questionadores, interagem bastante, são responsáveis, pontuais, capricham nas tarefas, querem mostrar o que produzem e ver o desenvolvimento deles me deixa muito feliz enquanto profissional”, declara a professora.

De acordo com a professora, “a pandemia ao passo que trouxe vários desafios também trouxe inovação e para o aluno que é autodidata foi muito benéfica, porque com o uso da tecnologia, eles voaram, se desenvolveram consideravelmente”.

Para Martins, é importante que os pais acompanhem o desenvolvimento de seus filhos para que eles se sintam seguros.  Durante esse processo, disse que criou um laço, um vínculo muito grande com a família de seus alunos.  “Consegui me conectar com os alunos com os pais e mães também e todos eles gostam muito de mim. Respeitando os protocolos, fui à casa deles deixar e buscar tarefas”, finaliza a professora.

Maiores dificuldades enfrentadas

A falta  de acesso aos recursos tecnológicos, da necessidade de domínio das ferramentas digitais por parte dos alunos, disponibilidade de alguns estudantes devido as atividades da escola regular; problemas familiares e de saúde, devido a esse momento, ineficiência e lentidão dos meios de comunicação (rede telefônica e internet), resistência e o desânimo de alguns alunos em receber o atendimento nesse período e realizar atividades práticas à distância, foram umas das dificuldades enfrentadas pelo NAAS/H-AC nesse período de pandemia, relata Taís Galdino, chefe do núcleo.

Para Taís Galdino, apesar de todos as dificuldades, o núcleo buscou alternativas para a eficiência no trabalho, tendo consciência de que vários fatores interferem e fogem do alcance da gestão nesse período de pandemia. Um exemplo que pode ser citado é que foi realizada a impressão do material para os alunos que não tinham acesso à internet e em alguns casos ocorreu a visita na casa do estudante com os devidos cuidados, seguindo protocolos, normas de higienização e distanciamento.

Com apenas 10 anos de idade e uma desenvoltura incrível na comunicação, Seillor Sanatiel aprova o ensino híbrido. “Eu acho que o ensino híbrido foi pelo menos a salvação, porque durante o ensino virtual a essência é perdida, a gente se sente mais desmotivado”. 

“Dentro da sala de aula, por exemplo, se uma criança que não quer fazer uma atividade na aula presencial, ela terá que fazer porque no próximo dia já terá aula de novo, só que na aula virtual a pessoa pode não mandar. No caso, a professora cuida de muitas coisas para poder ter tempo para encarregar-se de atividade específica de uma criança e isso faz com que a criança não se desenvolva”, analisa.

Referente ao que conseguiu produzir durante os estudos nesse período, Sanatiel ressalta que se sentiu bem em saber que enviou suas produções, ter aprendido e entendido o que a professora havia dado, o que lhe causou uma boa sensação. 

Além disso, acrescenta que não teve dificuldades em realizar as atividades, pois já produzia textos, poemas e agora experimenta produzir textos em inglês para melhorar as suas habilidades.

Professora Márcia Helena Leão disse que apesar das dificuldades como o acesso à tecnologia pelos alunos em processo de identificação, dentre outros fatores, o que mais chamou a sua atenção nesse período foi a capacidade de utilização das ferramentas de mídia e informática nas áreas investigadas como o inglês, música, desenho digital, dentre outros componentes curriculares.

Como ocorre a identificação, avaliação e acompanhamento

A indicação dos estudantes para o processo de investigação das características de AH/SD pode ocorrer pela autoindicação, indicação das escolas, indicação pela família e indicação de amigos/conhecidos.

O núcleo disponibiliza um link de indicação no qual podem solicitar a investigação e o acompanhamento com esses estudantes na fase escolar (educação básica). Pela escola a indicação ocorre via ofício, a família e o estudante podem também solicitar o atendimento para o processo de identificação das características na sede do núcleo.

 Formulário de Indicação para o processo de identificação em AH/SD – https://encurtador.com.br/dlrRX

Após receber a indicação a equipe do núcleo entra em contato com a família e a escola para iniciar o processo de investigação das características de AH/SD, que pode durar de seis meses a um ano ou mais.

O aluno Seillor Sanatiel, por exemplo, iniciou o processo de identificação no mês de setembro de 2019 e recebeu o parecer em agosto de 2021 na área criativa produtiva, tem domínio e amplo conhecimento em várias áreas. “Destaca-se na linguagem e comunicação, além da facilidade de aprendizagem de outras línguas, em especial, o inglês, que está aprendendo através de conversa on-line em jogos e aplicativos”, afirma a professora Márcia Helena do Atendimento Educacional Especializado do NAAS/H.

“Sanatiel quando chegou no NAAS/H já apresentava facilidade em comunicação, desenvoltura e conhecimento em várias áreas e a partir do processo de identificação ele apresentou outras características como aprendizagem rápida, facilidade de expor os conhecimentos adquiridos de forma dinâmica (divertida) e o uso da língua estrangeira (inglês)”, enfatiza.

Para o estudante Seillor, o NAAS/H-AC é uma escola só que melhor e que se tivesse que optar, escolheria estudar neste núcleo. “Em geral, ele trabalha várias habilidades que não são trabalhadas na escola em si, é mais interativo do que a escola normal e se eu fosse estudar tudo, seria melhor no NAAS/H do que na minha escola normal, sinceramente”, acrescenta.

Depois que eu descobri que tenho habilidades, eu melhorei em certas partes. No NAAS/H você passa a si valorizar e a ser valorizado, reconhece.

“É maravilhoso falar de um aluno que você identificou com altas habilidades, pois ele passou muitas vezes desapercebido na escola, e hoje você vê um potencial incrível de conhecimento que necessita apenas de incentivo, de investimento”, declara a professora Márcia Helena Leão.

O papel da família

A família exerce um papel de fundamental importância no desenvolvimento da superdotação ou talentos. “Contribui com as informações para a realização do processo de investigação das características de AH/SD, incentivando estudante a participar das atividades e acompanhamento realizado pelo núcleo, proporcionando um ambiente estimulador para o reconhecimento das dos filhos e sendo um parceiro do NAAH/S nas atividades propostas”, afirma Taís Galdino, chefe do NAAS/H-AC.

Professora Jeane Machado fala que no NAAS/H todo o processo de investigação também é feito com a família e defende o quanto é de fundamental importância que esta esteja disposta a participar.  “Se não houver essa parceria, não há como acontecer o processo de investigação e isso dificulta bastante fazer a orientação do aluno também identificado”, acrescenta.

“A família é a base para tudo, por isso é importantíssimo o seu envolvimento, pois fazemos apenas uma parte de toda uma vida futura”, declara Márcia Helena.

A professora expõe que, neste período de atendimento remoto e híbrido, foi essencial a participação da família, pois todo o planejamento e execução das atividades são realizadas por meio da consulta e autorização dos responsáveis.

Existe uma parceria do NAAS/H-AC com família que se sente orientada e acolhida. “Nós nos sentimos muito acolhidos e consideramos muito importante a participação da família nesse processo e esse núcleo de altas habilidades/superdotação se tornou referência para nós”, afirma Elivânia Gonçalves.

“A professora Márcia, por exemplo, passou a ser um membro da família e o NAAS/H-AC representa uma esperança de que o nosso filho Seillor vai conquistar algo importante, porque é através desse núcleo que eu vejo as portas se abrindo para ele, se não fosse núcleo de atividades de altas habilidades/superdotação eu não saberia nem o que fazer em relação a esse conhecimento que ele tem”, declara a mãe.

Serviços ofertados

O Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Acre (NAAS/H-AC), oferta os seguintes serviços:

  • Atendimento educacional Especializado específico aos alunos com características de AH/SD na educação básica, preferencialmente da rede pública do estado;
  • Formação específica na área das AH/SD aos profissionais da educação através de cursos, palestras, oficinas;

A título de informação, no Acre, a formação inicial e continuada para os profissionais da educação básica e comunidade na área de altas habilidades/superdotação e apoio pedagógico às escolas também é ofertado pelo Núcleo de Atividades de Altas Habilidades e Superdotação – NAAS/H, de Cruzeiro do Sul que integra o Centro Apoio à Inclusão Said Almeida Filho.

Este núcleo atende   aos municípios vizinhos como Porto Walter, Marechal Thaumaturgo, Tarauacá, Rodrigues Alves, Mâncio Lima, Feijó e Jordão, conforme o documento orientador do MEC e orientação da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE-AC)

Após decreto governamental o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação retornou as atividades de forma presencial e continua com o atendimento remoto para atender os municípios do Estado. O NAAS/H-AC funciona em dois turnos, na Estrada Alberto Torres, 825, Conjunto Mariana, Rio Branco–AC/CEP: 69.919-202/TEL: 3227-2994/E-mail: naahsacre2@gmail.com

Você também pode encontrá-lo nas Redes Sociais:

Blog: www.naahsacre.blogspot.com,

Instagram:  naahsacre

Facebook: naahs.acre

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