O longa-metragem acreano “Noites Alienígenas” ganhou, no último dia 29 de janeiro, o prêmio de melhor roteiro pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). O filme do cineasta Sérgio de Carvalho recebeu destaque nacional em agosto do ano passado, quando venceu o Festival de Cinema de Gramado, levando cinco troféus e uma menção honrosa, sendo assim considerado o melhor longa brasileiro do ano. Logo em seguida, participou do Festival de Cannes, na França, e na sequência entrou em exibição nas salas de cinema do Brasil e do mundo, servindo como pauta de matérias e críticas especializadas.
A obra é ambientada na cidade de Rio Branco e conta a história de um rapper e grafiteiro chamado Rivelino, que por ironia do destino acaba se envolvendo com traficantes. Os outros personagens de destaque são o casal Paulo e Sandra, que enfrentam dificuldades por causa da dependência química de seu filho. O elenco conta com Gabriel Knox (Rivelino), Gleici Damasceno (Sandra), Adalino (Paulo) e o ator Chico Díaz (Alê).
Cinema acreano em destaque
Nem todos sabem que o cinema acreano tinha destaque em festivais no Brasil desde os anos 70. Nos anos 80 e 90 teve uma série de produções que também circularam por festivais nacionais e locais.
Durante estes 50 anos, o cinema acreano continua ativo, impulsionadopor duas instituições criadas para representar o cinema no estado, o Estúdio Cinematográfico Amador de Jovens Acreanos (Ecaja Filmes), fundado em 16 de março de 1973, e a Associação Acreana de Cinema (Asacine), criada em junho de 1983.
Essas instituições, que perduram até os dias de hoje, promoveram festivais de cinema em todo o estado, e também cursos, oficinas e palestras no segmento do audiovisual. Em 2021, a Asacine criou o FestCineMulher, evento que promove o cinema da mulher acreana, que já se encontra na sua terceira edição.
Incentivo às produções
“Uma conquista do cinema acreano foram as pautas que levamos ao Palácio Rio Branco desde os anos de 1980, visando a criação de mecanismos de incentivo a produções artísticas no Estado, que resultaram na criação da Fundação Garibaldi Brasil (FGB) e Fundação Elias Mansour (FEM), instituições que na atualidade formulam editais para financiar trabalhos nas diversas linguagens das artes, dentre elas o cinema”, comenta Adalberto Queiroz, considerado um dos pioneiros do cinema no Acre.
Na atualidade, Rio Branco conta com dois mecanismos de apoio ao audiovisual: uma lei municipal e outra lei estadual de incentivo. Estes dois instrumentos de apoio ao cinema e outras linguagens das artes acabam sendo uma maneira para alavancar as produções.
Segundo o cineasta Guilherme Francisco, “estas leis de incentivo são o único bem que temos para financiar os nossos trabalhos. E agora vai ficar melhor com a Lei Paulo Gustavo, pois o cinema amazônico, cujo custo se torna caro, terá uma oportunidade única quando receber do governo federal uma injeção financeira bastante quantitativa, que não só vai movimentar a economia local, mas dar uma qualidade significativa em nossas produções” comenta ele, considerado um dos primeiros a produzir filmes em VHS.
História nos festivais
A história do cinema acreano tem início nos anos de 1970, em plena ditadura militar, quando três jovens liderados pelo compositor João Batista Marques de Assunção (Teixeirinha do Acre) se juntam com o vendedor de bananas Adalberto Queiroz e o trabalhador de olaria Antônio Evangelista (Tonivan) para produzir o primeiro longa-metragem intitulado Fracassou meu Casamento. A produção foi polêmica, considerando o momento político pelo qual o Brasil estava passando, tanto que, segundo Adalberto Queiroz, foi apreendido pela Polícia Federal.
“Nós fomos lançar o filme Fracassou meu Casamento, filmado em Super 8 milímetros, na praça do Município de Brasiléia, com a participação de muita gente da comunidade. Quando terminamos a estreia, já fomos convidados para lançar a película na Bolívia. Mas, infelizmente, quando estávamos atravessando a fronteira, a Polícia Federal prendeu o nosso filme.” Ele conta que a apreensão foi por falta de um documento exigido pelos órgãos fiscalizadores do governo da época, o “Certificado de Censura” da obra. “Isso aconteceu porque nós éramos produtores bastante imaturos com relação a estas atividades burocráticas ligadas ao audiovisual durante aqueles tempos de muita repressão”, explicou Adalberto Queiroz.
Amantes da sétima arte, os três jovens continuaram com suas produções com o longa-metragem Rosinha, a rainha do sertão, filmado também em Super 8 milímetros. Este longa participou em 1978 do XI Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, junto a filmes como Chuvas de Verão, do cineasta Arnaldo Jabor, e Esta noite encarnarei no teu cadáver, do cineasta José Mojica Marins (Zé do Caixão). Segundo Queiroz, nesse Festival o filme Rosinha, a rainha do sertão foi o mais aplaudido, recebendo elogios de cineastas e críticos de cinema renomados.
No ano seguinte, em 1979 A Luta em busca do Amor, participou do VII Super Festival de Cinema de São Paulo, onde João Batista ganhou o prêmio de melhor ator, por interpretar o personagem Jacó.
Matéria publicada no Jornal O Rio Branco mostra o cineasta Adalberto Queiroz no set de gravação do filme A Luta em Busca do Amor produzido em 1976.
Na edição do Festival Acreano de Vídeos que aconteceu em 1992, promovido pela Fundação Elias Mansour / Governo do Acre e realizado na Filmoteca da Biblioteca Pública, o filme Marcas (1988), de Laurencio Lopes, foi agraciado com o prêmio de melhor filme. O longa é considerado a primeira produção da era VHS e contou no elenco com Guilherme Francisco, Socorro Neves, Inêz de Andrade, Romeu Luna, Reginaldo Gomes, Welington Silva e outros. A película teve a equipe de suporte composta pelos cineastas Adalberto Queiroz e João Batista Marques de Assunção.
Folder do II Festival Acreano de vídeos realizado pela Asacine, Fundação de Cultura e com o apoio da Universidade Federal do Acre (Ufac)
“Neste festival, o Marcas, que destaca a força do coronelismo no Acre, concorreu com filmes nacionais, dentre eles podemos destacar o filme “O Ovo”, cujo elenco é composto pelas atrizes Lucélia Santos e Carla Camurati. Os jurados foram compostos por cineastas oriundos de outros estados brasileiros e mesmo assim meu filme foi vitorioso”, conta emocionado o cineasta Laurencio Lopes, roteirista do filme.
Capa do filme Marcas (1988), do cineasta Laurencio Lopes, é considerado o primeiro filme acreano rodado em VHS.
Outro momento importante do cinema acreano foi a participação do documentário Revolução Acreana no II Festival de Varginha em Minas Gerais, em 2002, quando ganhou o prêmio de melhor filme na sua estreia nacional.
Recorte do jornal Página 20 destacando a vitória do documentário Revolução Acreana do cineasta Adalberto Queiroz no Festival de Varginha em Minas Gerais
Os filmes acreanos Revolução Acreana, Rosinha, a Rainha do Sertão, Caravana Verde e Filhos da Rua foram exibidos e bastante aplaudidos no I Festival Internacional de Lisboa, realizado em 2010.
Matéria publicada no periódico O Rio Branco da participação dos cineastas Adalberto Queiroz, Antônio Evangelista (Tonivan) e João Batista Marques de Assunção no Festival de Cinema de Fortaleza.
Entre o vai e vem das águas do rio Acre, Antônio Viana encontrou na catraia mais que um sustento: encontrou um novo rumo para a vida. Há 25 anos, depois de perder o comércio, ver portas se fecharem e a tristeza quase vencer, foi no balanço das águas, com o remo nas mãos e a tradição da família no coração, que ele se reergueu. Hoje, mesmo com pontes, carros e aplicativos de transporte ocupando o espaço de antes, Antônio segue firme: “Eu amo o que faço. É honesto, é tradição. Não tenho vergonha de dizer para ninguém que sou catraieiro.”
O ano era 2000 quando a vida de Antônio parecia encalhada. O comércio que sustentava a família havia quebrado, as dívidas se acumulavam e a situação quase o empurrou para a depressão. Foi então que um amigo lhe estendeu a mão e o convidou para trabalhar como catraieiro. O serviço era duro, das cinco da manhã às seis da tarde, por apenas oito reais ao dia. Às vezes o pagamento atrasava, outras vezes nem vinha. Mas a vida, aos poucos, voltou a se movimentar. “Eu passei um tempo difícil, quase peguei depressão. Mas foi aqui, na catraia, que eu achei um rumo de novo. Peguei gosto pelo trabalho e nunca mais larguei”, conta.
Ser catraieiro, para Antônio, é mais que uma profissão, é herança. Seu tio e até parentes distantes que foram figuras históricas da família, como o poeta e pintor Hélio Melo, também viveram do remo. A catraia foi, durante décadas, o elo que ligava margens, pessoas, mercadorias e sonhos. Antes das pontes, era nas pequenas embarcações que a cidade respirava os famosos portos. “Antigamente o porto era cheio de movimento, vinha peixe, banana, melancia, jerimum. Os ribeirinhos desciam com os batelões cheios. Hoje, o que a gente vê são só umas duas, três canoas”, afirma.
Foto: Autores
As pontes chegaram, os carros e as motos tomaram espaço, os aplicativos de transporte mudaram a rotina da cidade e a catraia perdeu seu público. O que antes era a principal forma de atravessar o Acre hoje é quase peça de museu, viva apenas nas margens onde o tempo ainda passa mais devagar. “Tem gente que diz que prefere pagar um Uber do que pagar três reais para atravessar. Mas aqui, se você chegar sem um centavo, eu levo do mesmo jeito. Quero ver se o Uber faz isso”, diz Antônio, com o orgulho de quem sabe o valor que seu trabalho carrega, mesmo quando a sociedade parece esquecer.
Mesmo com os dias de baixa, com o corpo já cansado e a saúde exigindo cuidados, Antônio insiste em permanecer. Para ele, não é apenas sobre ganhar dinheiro, é sobre significado, sobre amor àquilo que construiu sua história. “Tem gente que tem vergonha do que faz. Eu, não. Eu digo com orgulho: sou catraieiro. Tudo o que eu tenho, construí aqui, com o remo na mão e a cabeça erguida.”
Foto: Autores
Ao olhar o rio, Antônio vê um tempo que já não existe, mas que insiste em permanecer, mesmo que só na memória de quem viveu. Vê as corridas de catraieiros no 7 de setembro, os passageiros leais, a amizade que atravessa as margens junto com as embarcações. Vê também o risco de tudo isso desaparecer, engolido pelo silêncio e pela pressa de uma cidade que olha pouco para o próprio passado.
“A catraia é tradição. Podem fazer dez, cem pontes aqui, que ainda vai ter gente atravessando com a gente. O pessoal gosta, mesmo os poucos que restaram. E enquanto Deus me der força, eu continuo aqui.”
Foto: Autores
O remo corta a água devagar, levando mais um passageiro ao outro lado. Para quem olha de fora, pode parecer só uma travessia, para Antônio, é a reafirmação de uma vida inteira dedicada ao rio, ao trabalho honesto, à história de um Acre que começou sobre as águas e que, apesar de tudo, ainda respira nelas.
Música e identidade: jovens acreanos se constroem através dos ritmos
Do forró e reggae de fronteira ao trap, funk e MPB, a juventude do Acre encontra na música uma forma de expressão, pertencimento e resistência. Foto: cedida
A música que escolhemos ouvir não é apenas uma questão de gosto. Ela carrega nossas histórias, desejos, pertencimentos e até nossas contradições. No Acre, a juventude tem construído sua identidade a partir de uma combinação singular de ritmos, que vão desde gêneros tradicionais até influências contemporâneas e internacionais.
Os jovens acreanos transitam entre o forró, o brega romântico e o sertanejo universitário, estilos que, historicamente, marcaram a cena local, e novos gêneros como o funk, o trap e até o K-pop refletem tanto suas raízes regionais quanto suas conexões com fenômenos culturais globais.
Outro estilo marcante é o chamado “reggae de fronteira”, típico das regiões próximas ao Peru e à Bolívia. Embora menos visível nos meios digitais, esse gênero ainda ressoa em festas e encontros culturais, compondo a memória afetiva de muitos jovens. Essa convivência entre o tradicional e o moderno mostra como a identidade musical juvenil no Acre é múltipla, viva e em constante transformação.
A música, nesse contexto, se transforma em ferramenta de expressão pessoal e coletiva, reafirmando a identidade desses jovens em múltiplos espaços, do bairro às plataformas globais. Paula Amanda, jornalista, cantora e já jurada de festivais de música em Rio Branco, destaca que espaços como o Mercado Velho, a Expoacre e os festivais locais ainda têm papel fundamental na formação cultural.
“A gente percebe a predominância dos jovens nesses espaços. É um lugar que influencia, sim, na identidade, porque eles estão tendo acesso de ouvir aquele repertório, ouvir aquele estilo musical e de conhecer outras pessoas que também consomem aquele estilo. Isso é de grande importância dentro dessa construção de identidade, porque eles têm alguém para se espelhar, para ter como referência”, afirma Paula Amanda.
Paula Amanda é jornalista e cantora. Foto: cedida
Ela reforça ainda que cada geração encontra na música um reflexo do seu tempo. “A geração antes de nós tinha um gênero musical que gostava e hoje os adolescentes também têm um estilo, uma identidade, um jeito de se vestir e algo para ouvir. Cada geração tem seu espaço no mundo para consumir o que gosta.”
A forma como essa música é consumida também revela muito sobre os hábitos e dinâmicas culturais dessa juventude. Segundo dados da pesquisa Cultura nas Capitais, realizada pela JLeiva Cultura & Esporte com 600 pessoas em Rio Branco entre 19 de fevereiro e 17 de maio de 2025, o celular é hoje o principal meio de acesso à música, sendo utilizado por 85% dos entrevistados. Em seguida, aparecem o som portátil (75%), o carro (41%), o rádio (33%), o computador (27%), o CD ou DVD (16%) e, ainda, o vinil (3%).
Além dos dispositivos, o uso de plataformas digitais é expressivo: 68% escutam música pelo YouTube, 44% usam o Spotify e 34% recorrem ao TikTok. Esses dados indicam que os jovens não apenas ouvem música, mas a consomem de maneira interativa. Eles compartilham faixas, criam conteúdos, remixam sons e participam ativamente das tendências que surgem nas redes sociais.
Plataformas digitais e novos sons
Abigail Sunamita, cantora, jornalista e assessora de comunicação, explica que os aplicativos mudaram completamente o acesso. “Antigamente, pra você ouvir uma música, era pela rádio, CD ou fita. Hoje, com um simples clique no Spotify ou no YouTube, a pessoa consegue acessar aquela música, colocar na playlist e o mundo inteiro pode ouvir. Isso é de grande importância porque os jovens têm o celular na mão e o acesso é imediato”, explica.
Abigail fala sobre suas experiências na música.Foto: cedida
Sobre os estilos em alta, Sunamita destaca a influência das trends digitais. “Os jovens acreanos estão sendo muito bombardeados pelas trends do TikTok. Essas músicas do auge, de gêneros diversos, muitas vezes resgatadas de tempos antigos, acabam voltando. Mas um gênero que eu percebo muito intenso na vida dos jovens é o funk, o trap e até a MPB, que tem tido um resgate muito forte”, comenta.
Rap como resistência e pertencimento
Além do entretenimento, a música também é ferramenta de resistência e de voz para os jovens, especialmente nas periferias. Kaemizê, rapper e beatmaker de Rio Branco, conta que começou ainda na escola. “A música entrou na minha vida por volta de 2014, quando ouvi ‘Linhas Tortas’, do Gabriel, o Pensador. A partir dali, senti que podia fazer rap. Foi uma grande inspiração”, explica o rapper.
Para ele, o rap cumpre uma função social importante. “Através da música eu li meu primeiro livro. O rap me trouxe essa responsabilidade de cantar algo que eu vivia, mas de forma consciente para quem está ouvindo. Isso me faz refletir até hoje sobre a mensagem que passo”, relata.
Kaemizêreforça papel social do hip-hop. Foto: cedida
O rapper também lembra que o estilo musical influencia diretamente no comportamento e na moda. “Hoje a moda streetwear faz parte da identidade do hip hop. Quando você vai numa escola fazer apresentação e o moleque te vê com uma calça larga, um tênis, isso impacta na vida de quem vê”, conclui Kaemizê.
Música Huni Kuin: ancestralidade e resistência na juventude indígena
Para os jovens indígenas do Acre, como Yubé-Warderson Rodrigues Domingos Kaxinawá, estudante de música da Universidade Federal do Acre (Ufac) e membro do povo Huni Kuin, a música é mais do que arte: é uma ponte para a ancestralidade, um espaço de resistência e uma ferramenta para ocupar espaços na sociedade.
Ele explica como a música indígena, especialmente a Huni Kuin, contribui para a construção da identidade dos jovens e dialoga com outros estilos musicais sem perder sua essência. “A música Huni Kuin ajuda a gente a ser reconhecido, respeitado e a ocupar espaços na arte e na música”, afirma Yubé-Warderson.
Ele destaca que os 17 povos indígenas do Acre possuem tradições musicais diversas, cada uma com sua força cultural. “Não é só o Huni Kuin. Temos referências como o Mapu, que está na mídia, gravando com artistas famosos e participando de novelas, mas há outros povos e artistas que também fortalecem nossa identidade através da música”, comenta.
Yubé-Wardersondestaca importância da música para os jovens. Foto: cedida
Para ele, a música indígena carrega uma espiritualidade única, conectada aos antepassados e à floresta. “Nossas músicas falam dos elementos da natureza, pedem cura, força e paz. Não é como outras músicas que falam, por exemplo, da beleza de uma pessoa. É algo sagrado, com uma história e uma ancestralidade por trás”, destaca.
Como estudante de música na Ufac, Yubé-Warderson reflete sobre o aprendizado formal e a riqueza da música indígena. “Na universidade, aprendemos sobre ritmo, melodia, o que é considerado música no contexto ocidental. Mas, para nós, a música indígena é diferente. Ela está nos rituais, nas dietas, nos batismos, nos cantos dos anciãos e especialistas das aldeias. Nossa inspiração vem dos mais velhos, da nossa origem, não apenas de quem está na mídia”, enfatiza o estudante.
Sobre a integração da música indígena com outros estilos, ele acredita que a adaptação é natural e não compromete a força cultural. “No mundo atual, tudo se transforma, até a música indígena. Podemos usar instrumentos ocidentais, mas a essência permanece. As letras continuam espirituais. É uma criatividade que fortalece nossa resistência, porque mostramos quem somos em novos espaços, sem perder nossa história”, esclarecer.
Yubé-Warderson também destaca a importância de valorizar os artistas que vivem nas aldeias, muitas vezes invisibilizados pela mídia. “Nossa maior inspiração vem dos anciãos, dos nossos pais e tios, que cantam nas comunidades. Eles são a base da nossa música, mesmo que não apareçam na mídia. É de lá, do nosso território, que tiramos força para levar nossa cultura adiante”, destaca.
Desafios da cena musical acreana
Spartakus MC, rapper, historiador e membro do Centro Acreano de Hip-Hop, complementa a análise ao falar sobre os obstáculos de produzir música no Acre.
“A primeira dificuldade sempre foi a falta de acesso à tecnologia: estúdios, softwares, computadores. Isso era surreal há 15 ou 20 anos. Hoje melhorou, mas os equipamentos de qualidade ainda são muito caros. A gente consegue fazer muito com muito pouco”, alega o historiador.
Ele também aponta a carência de incentivo público. “Os apoios vêm por meio de editais, e nem todos conseguem chegar. O poder público incentiva pouco, e até o próprio público consome pouco o que é local”, conclui. Para ele, muitas vezes o que vem de fora é mais valorizado. E, com isso, nem todos reconhecem o valor e a qualidade da música e dos grupos locais que acompanham gerações de acreanos.
Ao manter viva a culinária típica do Acre, cozinheiro conquista turistas e moradores com sua famosa rabada no tucupi.
No Mercado do Bosque, um prato típico do Acre ganhou status de tradição: a rabada. Preparada há mais de três décadas por Antônio Felinto Alves,, eleviu seu nome atrelado à rabada, além de ser também o Toinho do Tacacá.
A iguaria se tornou referência gastronômica para acreanos e turistas. Seu Antônio iniciou sua trajetória aprendendo com Dora, uma cozinheira tradicional também muito conhecida pelos acreanos. Com o tempo, decidiu seguir carreira solo e consolidar seu próprio negócio. Hoje, acumula 35 anos de experiência e 18 certificados na área gastronômica.
“Quanto mais a gente se aprofunda nos temperos, no jeito de preparar, melhor fica. O segredo da rabada perfeita é cozinhar com carinho e amor, não apenas vender por vender”, afirma. Mesmo com décadas de tradição, Toinho também se adaptou às modernidades. O iFood tornou-se parte fundamental do negócio. “Nos tempos de friagem, chegamos a 90 ou 100 pedidos por dia. Nosso ponto forte é no aplicativo”, explica.
A fama atravessa fronteiras. Segundo ele, os turistas que chegam ao Acre procuram diretamente por seus pratos. “O pessoal, quando vem aqui, me fala que vai levar rabada para Brasília, Goiânia, Santa Catarina. Nosso sabor viaja junto com eles”, relata com orgulho.
Para o comerciante, o segredo do sucesso é manter a fé e a dedicação:“Quando o pessoal diz que está ruim, eu não concordo. Se você tem saúde e acorda enxergando, já é motivo para agradecer a Deus. O resto a gente corre atrás.”