Cultura

No mês do Orgulho, Pabllo Vittar lança álbum que celebra a alegria do Brasil profundo

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Por Carlos Alexandre

Uma palavra que resume bem o quarto álbum de estúdio da artista Pabllo Vittar é orgulho. Batidão Tropical foi lançado dia 24 de Junho, na última quinta-feira do nosso mês do orgulho LGBTQIA+, uma celebração do amor de Pabllo por sua região de origem. A artista nasceu em São Luís, lugar onde cresceu ouvindo as músicas que agora se permitiu revitalizar em seu mais novo trabalho.

No álbum, Vittar decide exaltar sua cultura tomando pra si canções já consagradas ao mesmo tempo em que exalta a sua origem, jogando luz ao trabalho de artistas de gêneros como calypso, forró e tecnobrega que são populares no Norte e Nordeste, porém ainda desconhecidos e pouco valorizados pelo resto do país.

Antes de tudo, a melhor maneira de Pabllo Vittar enaltecer o tipo de som que é feito em sua terra natal é se inspirando e criando a partir dela, e foi o que ela fez. As três primeiras faixas que compõem o Batidão Tropical são inéditas. Brincando com os ritmos que foram presentes em sua formação e dando sua interpretação de como se faz um forró de qualidade na faixa “Ama Sofre Chora”, carro chefe da nova era, Vittar canta a temática da desilusão amorosa, um dos temas mais utilizados nas composições do gênero.

Já “Triste com T” é uma música que tranquilamente vai se encontrar no meu repeat, impactante desde a sua primeira frase, descritiva e construindo todo seu cenário na mente do ouvinte, ela dá continuidade a narrativa estabelecida na faixa anterior.

E toda essa história é acompanhada de visuais de excelência, onde ela serve figurinos estonteantes e coreografias engajantes, que podem facilmente serem relacionadas com o empenho que é fácil de ser encontrado em danças de grupos de K-POP como Blackpink. O bailarino Flávio Verne é o responsável pela coreografia, acompanhando a artista há anos e dividindo a direção dos dois clipes que ilustram a atual fase de Pabllo Vittar.

Videoclipe oficial de “Triste com T” da Pabllo Vittar

Também temos “A Lua”, que foi escrita por Vittar e Alice Caymmi, onde ela se permite tornar pessoal e relatar na música uma situação que vivenciou, algo que é intrínseco ao gênero que ela se volta. E é palpável sentir a contribuição de Alice à música, dá pra sentir na maneira que a música é cantada, uma semelhança com outras da sua própria carreira.

A banda Companhia do Calypso foi bem representada por Vittar em seu novo trabalho, repaginando várias músicas do extenso repertório. Cantando o Calypso, gênero musical criado no Pará nos anos 90, que mescla o regional brega com ritmos caribenhos como o calipso e o reggae. Fusão que nasce como consequência geográfica, com essa cultura chegando do Caribe ao Pará através da fronteira dos estados com as guianas. O gênero também é conhecido como brega pop, sempre acelerado, com uma forte presença de acorde de guitarras e carregado de narrativas românticas.

A Companhia do Calypso foi um dos maiores expoentes do gênero, criada em 2002 e em atuação até hoje. Passou por várias fases e formações diferentes, mas não há dúvidas que Mylla Karvalho foi a mais marcante. Cantora que foi fundamental na criação do grupo e por muitos anos foi a pessoa que representava, dando sua voz aos maiores sucessos. Um exemplo de sua importância é ter sido uma das grandes inspirações de Pabllo Vittar, que cresceu ouvindo suas canções e agora é uma das maiores artistas do nosso país.

“Bang Bang” foi a que mais me marcou ao encontrar no álbum, uma música que reconheço de ouvir na infância. Morando no Norte do Brasil desde que nasci, não foi difícil me deparar com essa e outras músicas da banda que fez história no país. “Ânsia” eZap Zum” são outras músicas da coletânea de sucessos da banda paraense que Pabllo regravou.

Desde que entrou em cena em 2017, Pabllo Vittar deixou bem claro que seu objetivo era representar o Brasil e regravar sucessos da banda paraense é prova disso

Uma grata surpresa foi ouvir “Ultra Som”, uma música que conversa muito com o estilo de som que escuto no meu dia-a-dia, o hit é uma explosão de sons que cria uma sensação de velocidade. Pabllo Vittar é consciente de onde veio, sempre trazendo a regionalidade que lhe acompanha desde o nascimento e é visionária ao mesclar essa riqueza nacional com uma maneira diferente de se fazer música pop.

Ultra Som é uma música da banda Ravelly, que foi muito ouvida pela cantora e em sua mão pode ser considerada como o mais novo produto fruto do hyper pop, movimento musical que é reconhecido por ser  exagerado, eclético e pesado no som, seja com vozes distorcidas ou melodias fortes e estridentes. Um tipo de som que é muito querido pela cantora e por parte de seu público jovem.

A dançante “Apaixonada” é conhecida pela banda Batidão e, a canção “Não é Papel de Homem”, é da banda Kassikó. Esta última é reconhecida pela artista como uma letra que envelheceu bem e é atual até hoje. É inegável o amor de Pabllo por esses artistas e como eles foram importantes para a sua formação como a grande performer que é hoje. Artistas regionais que podem se orgulhar muito de como seus trabalhos inspiraram e foram representados pela maior drag queen do Brasil.

A nova obra da artista é divertida e escapista em um momento tão difícil de ser brasileiro, onde vivemos numa pandemia que parece não ter fim e estamos em constante luto por mais de 511 mil do nosso povo. É necessário termos Pabllo Vittar existindo, cantando sua música e nos representando em um país que necessita de bons exemplos.

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