O mundo de uma mulher acreana, de 37 anos, virou de cabeça para baixo ao receber o diagnóstico de câncer de mama, do tipo triplo negativo, em 2023. Nesta reportagem ela será chamada de Ana, e foi um pedido da mesma não ter sua identidade e informações pessoais divulgadas, uma vez que ela teme que o marido vá embora de vez.
Ana é moradora do município de Feijó, distante 363 quilômetros da capital do Acre. Ela estava casada há quatro anos, mãe de uma menina e vivia bem com o marido, mas o diagnóstico e inicio do tratamento começaram a escancarar e acentuar problemas na relação do casal, que iniciou um ciclo de crises.
“Ele vive terminando e voltando comigo. Fiz a primeira parte da quimioterapia e a cirurgia nesse vai e volta. Não tenho forças para ficar totalmente sozinha nesse momento, mas também não consigo colocar um ponto final, para não maltratar”, conta Ana.
Ela está entre as 70% das pacientes oncológicas que lidam com o abandono do parceiro, neste momento, segundo dados da Sociedade Brasileira de Mastologia. No Acre, 135 novos casos foram registrados, sendo que 35% destes foram entre mulheres de 50 a 69 anos e um caso em um homem, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre). Em 2022, a produção de mamografias no Sistema Único de Saúde (SUS) no estado incluiu cinco mil exames de rastreamento e 836 exames diagnósticos, conforme os dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Ano passado, o câncer voltou em Ana, do mesmo lado e agora ela repete a quimioterapia, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e se prepara para realizar um procedimento cirúrgico denominado “esvaziamento de axila”, uma vez que segunda ela, desta vez a doença voltou com metástase.
“São dias muitos difíceis, a gente não tem nem força pra lutar direito”, revela a paciente.
Na contramão desse dado triste em que Ana se enquadra, vive a enfermeira e diretora de gerenciamento de Unidades Próprias, Celene Prado. Ela foi diagnosticada com câncer de mama, em setembro de 2024, aos 60 anos. Casada há 39 anos com o servidor público federal Epaminondas Maia, ela conta que o apoio do marido, das filhas e da família foram fundamentais para o bom andamento do seu tratamento.
“Enfrentar e tratar um câncer é um sofrimento muito grande, só sabe quem passa. Eu mesmo sendo uma profissional da área da saúde não imaginava que fosse tão difícil, cansativo e desafiador. Contei com bons profissionais, acesso a bons tratamentos, o apoio, o amor e a ajuda, do meu marido, minhas filhas, netas, sobrinhas, irmãs, enfim, amigos e família”, disse.
Mês de outubro é dedicado à campanha de prevenção do câncer de mama. Foto: Danna Anute/Secom
Uma pesquisa publicada no Journal of the Psychological, Social and Behavioral Dimensions of Cancer, mostrou que mulheres que contaram com o apoio do parceiro, filhos ou outros membros da família sofreram menos com ansiedade e depressão durante o tratamento do câncer de mama.
A médica oncologista, Dra Lyvia Bessa, responsável pelo Centro de Prevenção, Tratamento e Pesquisa do Câncer do Acre, explica que o apoio das famílias, e no caso das mulheres, o apoio de seu companheiro é fundamental para o sucesso do tratamento. “A família, o companheiro é como um pilar que funciona ajudando o paciente a vencer os diversos desafios do tratamento, físicos e emocionais. Esse apoio ajuda a reduzir o estresse, a ansiedade e melhora a adesão ao tratamento”, relata.