Você já deve ter se deparado com um comentário nas redes sociais que achou estar fora de contexto. O que parece ser apenas uma questão de interpretação, na verdade pode revelar um problema mais profundo: o analfabetismo funcional.
O analfabetismo funcional se refere a pessoas que, embora consigam ler e escrever de forma básica, têm dificuldades de interpretar ou compreender textos ou resolver situações cotidianas. Essa condição afeta o desenvolvimento pessoal, social e profissional de 1 a cada 3 brasileiros entre 15 e 64 anos.
Dados apresentados pelo Departamento da Educação de Jovens e Adultos do Acre (EJA) mostram que, de acordo com o Censo Demográfico de 2022, o índice de pessoas analfabetas no estado é 12,1%.
O recorte utilizado é de pessoas com mais de 15 anos, isto é, quem não foi alfabetizado ou quem não concluiu este processo. Neste contexto, quase 50% dessa população teve o primeiro contato com a escola, mas desistiu, não concluindo o ensino infantil e fundamental.
O chefe do EJA, Jessé Dantas, explica que o maior índice se concentra na zona rural, especialmente entre a população ribeirinha, e que os desafios estão em fazer com que esses jovens e adultos apliquem o aprendizado em situações do dia a dia.
“Na EJA a gente procura colocar o que eles estão aprendendo em atividades práticas, situações rotineiras. Coisas que são necessárias para que eles compreendam o mundo em que vivem. Por exemplo, ler uma notícia e conseguir compreender qual o tema central, o que está se discutindo”, frisou.
Jessé Dantas destaca os desafios de fazer educação para jovens e adultos no Acre. Foto: Paula Amanda
Dona Eliete Cruz é uma dessas pessoas que se superou e voltou a sonhar depois da alfabetização. Aos 74 anos ela decidiu mudar sua vida e buscar a escolarização, pois o seu grande sonho é fazer uma faculdade.
“Tenho irmãos e sobrinhos que são professores e eles me incentivaram muito, e eu me dediquei, fiz as provas e passei. Agora estou fazendo o pré-enem e quero muito fazer o Enem e cursar artes cênicas”, contou.
Aos 74 anos, Eliete Cruz agora sonha em fazer Artes Cênicas. Foto: arquivo pessoal
No Brasil mais da metade dos analfabetos têm mais de 60 anos
Dados levantados pelo IBGE mostram que em 2024 existiam 5,1 milhões de analfabetos com 60 anos ou mais no país. Isso corresponde à 14,9% do total dos idosos no Brasil e mais da metade da totalidade de analfabetos.
Já entre os mais jovens, os percentuais diminuem progressivamente: 9,1% entre pessoas com 40 anos ou mais, 6,3% entre aquelas com 25 anos ou mais e 5,3% na população com 15 anos ou mais.
Confira as taxas de analfabetismo por estado do Brasil:
Alagoas – 14,3%
Piauí – 13,8%
Paraíba – 12,8%
Ceará – 11,7%
Maranhão – 11,4%
Sergipe – 10,8%
Rio Grande do Norte – 10,4%
Pernambuco – 10,1%
Bahia – 9,7%
Acre – 9,3%
Rondônia – 5,1%
Tocantins – 6,6%
Pará – 6,5%
Amapá – 5,4%
Amazonas – 4,9%
Minas Gerais – 4,4%
Roraima – 4%
Espírito Santo – 3,9%
Mato Grosso – 3,8%
Mato Grosso do Sul – 3,7%
Goiás – 3,6%
Paraná – 3,5%
Rio Grande do Sul – 2,4%
São Paulo – 2,3%
Rio de Janeiro – 2%
Santa Catarina – 1,9%
Distrito Federal – 1,8%
O Acre registrou, em 2022, a maior taxa de analfabetismo da região Norte entre pessoas de 15 anos ou mais: 12,1% ou seja 73.835 pessoas que não sabem ler nem escrever.
Embora a taxa de analfabetismo funcional tenha caído no ano de 2024, registrando cerca de 64,8 mil pessoas, equivalente a 9,3% da população, o Acre ainda lidera a maior taxa de analfabetos da região Norte, o que evidencia que saber ler e escrever formalmente não é o mesmo que interpretar e aplicar no dia a dia.